SAMUEL ADAMS — Me diga. O que exatamente você quer falar, Verônica? Não enrola! — Digo sem paciência. Só de ouvir o nome da Jules e daquele cara na mesma frase, fiquei irritado. — É que eu os vi no restaurante, jantando juntos — diz, com certo receio. — Ela está trabalhando com ele, isso é normal. — Samuel, você não está entendendo. — O que eu não estou entendendo, Verônica? Seja mais clara, não enrole! — falei pausadamente, enquanto bato com os dedos na mesa, deixando bem evidente que estou chegando ao limite. — Samuel, eu sei que eu não deveria me meter nisso, mas é que você sabe que a Sarah é minha amiga e eu não quero vê-la sofrer. Como eu disse, eu vi a Jules e o Edu jantando juntos e a Sarah também viu, mas ela só viu o Edu. Acontece que depois que a Sarah decidiu ir para casa, eu voltei ao restaurante e, eles continuavam lá jantando. — E onde fica o problema nisso? — É melhor você ver com seus próprios olhos — ela desbloqueia o telefone e me entrega. — Olha aí, isso nã
— Eu tenho ódio dessa porra toda, de tudo que aconteceu! — falou finalmente, soltando um longo suspiro antes de continuar — Sabe, eu sempre quis fazer a coisa certa e ser um cara justo. — Ele começa a falar —Meus pais sempre me ensinaram que o dinheiro que tínhamos não valia nada se o dono do dinheiro não tivesse caráter. Que o nome e a imagem são mais importantes que o saldo na conta bancária. — Te ensinaram bem— digo, quando ele faz uma pausa. — Naquela época, quando a Sarah começou a estudar na escola, nós acabamos nos aproximando quando ficamos em dupla no trabalho que a professora passou. Eu estava acostumado a conviver com as pessoas do mesmo ciclo social que eu, que eram em sua maioria pessoas fúteis e que não tinham muita experiência para trocar, foi por isso que acabei gostando de conversar com a Sarah. Ela era uma garota incrível, não era mimada e não tinha um papo fútil, era legal trocar ideias com ela. — Foi essa aproximação que levou a Jules a implicar com a minha irm
— Eu tive a sensação de estar sendo observado, mas ignorei… — ele começa a falar e só pelo seu tom, percebe-se que ele está com sede de devolver seus péssimos momentos a quem fez isso. — Até que cheguei de um jantar, me pegaram no estacionamento. Eles me colocaram para dormir e eu acordei em um depósito. — O depósito fica aqui na cidade mesmo? — pergunto. — É. Aqueles filhos da puta nem se preocuparam em se esconder direto, achavam que eu não escaparia. Se eu já achava aquele velho um pedaço de merda antes, agora…— De que velho você está falando? É o Marcos Montreal? — Arqueio a sobrancelha. — É esse desgraçado mesmo — responde com os dentes cerrados. — Marcos Montreal — O Edu arqueia a sobrancelha —, mas esse não era…— Era não, é — interrompi-o — ele está vivo. Sua expressão muda de confuso para incrédulo. — Mas como? Ele não morreu no acidente três anos atrás? — Não. Aquele filho da puta forjou a própria morte para escapar da prisão. E como você sabe que é ele? Eles entrega
JULES MONTEZAssim que entrei na recepção do hospital, vi o Léo com algumas sacolas na mão, ele está conversando com um médico, e sua cara, como sempre, está sem nenhuma emoção. — Oi! — Aproximo-me dele — Onde a Marina está? — encarou-me estreitando os olhos, senti até um arrepio com a raiva que vi neles. Ele se despede do médico e aponta o corredor à nossa frente. — Você já sabe da novidade, certo? É claro que sabe, vocês duas sempre compartilham seus segredinhos. — Léo, a Marina descobriu isso hoje de manhã, ela não estava escondendo nada de você. — Não estava escondendo nada de mim? Jules, eu não sou nenhum idiota! — rosnou friamente — aquela porra, está fugindo de mim desde ontem, e eu só a encontrei porque deixei os funcionários encarregados de me avisar, caso ela aparecesse lá na casa dos meus pais. — Claro que ela estava fugindo! Você está sempre intimidando ela, nunca deixa ela se explicar…— Explicar?! — interrompeu-me — Como ela vai explicar algo tão óbvio e que todos v
— O leilão, é isso que estamos planejando, certo? — Mamãe, eu conheço bem a senhora e a senhora também me conhece bem, então não tente me excluir das coisas.— Eu não estou te excluindo de nada, isso…— Não? —interrompi-a — Mãe, desde aquele dia que a senhora voltou da rua com os olhos vermelhos e rosto inchado de tanto chorar, a senhora está estranha. Eu sei que está tentando me proteger, mas eu não sou criança, eu tenho que participar das coisas também. Não me trata como uma inútil, por favor!— Jules, não é nada disso! — puxa-me para sentar ao seu lado — Não estou tentando te deixar de fora e nem acho você inútil, jamais! Eu sei da sua força e sei o quanto é capaz, mas eu não quero atropelar as coisas, só preciso de tempo e, na hora certa, vou acertar o que precisa e te falo tudo. Não me pressione, ok.Agora eu tenho certeza que está acontecendo algo e é muito sério, a testa excessivamente franzida da minha mãe enquanto falava, deixou isso muito claro. Nessa noite eu não dormi di
— O que você está fazendo? — Pergunto, quando ele empurra-me para uma porta, fechando-a no trinco.— Só estou tentando falar direito com minha esposa, isso é errado? — falou com ironia. — Eu já disse que é ex-esposa e eu não tenho nada para falar com você! — É sério? — segura meu outro braço — Que pena, eu achei que você ao menos me diria que sentiu saudades. Você não sentiu saudades de mim, Jules? — sua voz rouca faz cócegas no meu ouvido, enquanto ele me encosta na parede. — O que você quer aqui, rir da minha situação? Apreciar o resultado da sua vingança? — pergunto, tentando empurrá-lo. Ele ri, e isso me deixa com mais raiva ainda, o deboche e a frieza dele são visíveis. — Jules, você não facilita mesmo as coisas, né! Eu disse que você não precisava fazer nada disso, no entanto, você está aqui se desfazendo das suas coisas. Você quer me desafiar, é isso!? — agora é sua raiva que se sobressai.Ele está com raiva? Ele, que conseguiu tudo o que queria, me destruiu ao ponto de me
SAMUEL ADAMS — Inferno! — Soco a parede assim que bato a porta atrás de mim. Eu não estou mais me vingando, mas essa mulher insiste em continuar com suas acusações, pior é que ela está mal e nem mesmo quis responder o que tem. Mas tudo bem, quando esse circo terminar, ela terá que vir comigo até um hospital, querendo ou não. Respiro fundo e volto para o salão.— Que cara de réu é essa? — O Daniel pergunta assim que aproximo-me. — Nada. — Não minta para mim, não esqueça que conheço você e muito bem. Deixa eu adivinhar, isso é por causa da Jules? — Se você já sabe, porque pergunta! — respondi impaciente. — Ei, não venha descontar em mim se você levou um fora. A Jules aparece alguns minutos depois, olhando aquele rosto pálido e ela forçando sorrisos ao receber os convidados, só aumenta minha raiva. O tal leilão não demorou muito para começar. Mesmo tentando mostrar firmeza, é visível que tanto a mãe quanto a filha estão mal, não deve ter sido fácil escolher essas coisas para se de
— Finalmente o herói acordou — o homem, que acabou de entrar, diz com deboche. — Herói? Estou mais para um prisioneiro de guerra, não acha? — respondi, também debochando. Mas a minha vontade é encher o filho da puta de porrada. — Olha só, ainda quer parecer brincalhão — aproxima-se, me acertando um soco.— Ahhh! — o grito da Jules ecoa pela sala— Não faz isso, por favor! — implora chorando. — Gostou do tratamento que os prisioneiros de guerra recebem? — pergunta, ao me ver cuspir o sangue que saiu do corte que fez na minha boca. — Não! Eu prefiro ficar na posição de algoz — respondi calmamente e o homem arqueia a sobrancelha. — É — encarou-me, ainda rindo — bem que falaram que você é engraçadinho, mas sabe, eu adoro os engraçadinhos, é mais legal depois que tiramos o sorrisinho — assim que termina de falar, desfere mais um soco. Sinto minha cabeça, que mal parou de doer, latejar, fico tonto e quase perco a consciência, mas ao ouvir o choro da Jules e sua voz desesperada, mantenh