— O que você está fazendo? — Pergunto, quando ele empurra-me para uma porta, fechando-a no trinco.— Só estou tentando falar direito com minha esposa, isso é errado? — falou com ironia. — Eu já disse que é ex-esposa e eu não tenho nada para falar com você! — É sério? — segura meu outro braço — Que pena, eu achei que você ao menos me diria que sentiu saudades. Você não sentiu saudades de mim, Jules? — sua voz rouca faz cócegas no meu ouvido, enquanto ele me encosta na parede. — O que você quer aqui, rir da minha situação? Apreciar o resultado da sua vingança? — pergunto, tentando empurrá-lo. Ele ri, e isso me deixa com mais raiva ainda, o deboche e a frieza dele são visíveis. — Jules, você não facilita mesmo as coisas, né! Eu disse que você não precisava fazer nada disso, no entanto, você está aqui se desfazendo das suas coisas. Você quer me desafiar, é isso!? — agora é sua raiva que se sobressai.Ele está com raiva? Ele, que conseguiu tudo o que queria, me destruiu ao ponto de me
SAMUEL ADAMS — Inferno! — Soco a parede assim que bato a porta atrás de mim. Eu não estou mais me vingando, mas essa mulher insiste em continuar com suas acusações, pior é que ela está mal e nem mesmo quis responder o que tem. Mas tudo bem, quando esse circo terminar, ela terá que vir comigo até um hospital, querendo ou não. Respiro fundo e volto para o salão.— Que cara de réu é essa? — O Daniel pergunta assim que aproximo-me. — Nada. — Não minta para mim, não esqueça que conheço você e muito bem. Deixa eu adivinhar, isso é por causa da Jules? — Se você já sabe, porque pergunta! — respondi impaciente. — Ei, não venha descontar em mim se você levou um fora. A Jules aparece alguns minutos depois, olhando aquele rosto pálido e ela forçando sorrisos ao receber os convidados, só aumenta minha raiva. O tal leilão não demorou muito para começar. Mesmo tentando mostrar firmeza, é visível que tanto a mãe quanto a filha estão mal, não deve ter sido fácil escolher essas coisas para se de
— Finalmente o herói acordou — o homem, que acabou de entrar, diz com deboche. — Herói? Estou mais para um prisioneiro de guerra, não acha? — respondi, também debochando. Mas a minha vontade é encher o filho da puta de porrada. — Olha só, ainda quer parecer brincalhão — aproxima-se, me acertando um soco.— Ahhh! — o grito da Jules ecoa pela sala— Não faz isso, por favor! — implora chorando. — Gostou do tratamento que os prisioneiros de guerra recebem? — pergunta, ao me ver cuspir o sangue que saiu do corte que fez na minha boca. — Não! Eu prefiro ficar na posição de algoz — respondi calmamente e o homem arqueia a sobrancelha. — É — encarou-me, ainda rindo — bem que falaram que você é engraçadinho, mas sabe, eu adoro os engraçadinhos, é mais legal depois que tiramos o sorrisinho — assim que termina de falar, desfere mais um soco. Sinto minha cabeça, que mal parou de doer, latejar, fico tonto e quase perco a consciência, mas ao ouvir o choro da Jules e sua voz desesperada, mantenh
Olho a Jules, que está respirando com dificuldade, mas pelos movimentos que faz, ela está tentando se manter firme. Estou tirando a atenção do homem e assim dando espaço a ela para acalmar-se, fico mais tranquilo vendo que funcionou. Também estou orgulhoso por vê-la mais resistente do que quando descobriu sobre mim e a Sarah. Ela levanta o olhar e foca no meu. — Então… — sua voz soa baixa e fraca — o meu pai não morreu? Eu balanço minha cabeça, negando, e sua cabeça cai novamente. Cerro os punhos e os dentes também, sinto tanta raiva de não poder abraçá-la e ampará-la agora, ficar amarrado aqui, vendo-a desabar bem na minha frente, sinto-me tão fraco e impotente. Seus soluços baixos se transformam em um choro alto, descontrolado, e antes que eu, ou o maldito desgraçado fale alguma coisa, ela vomita. — Não está vendo o estado dela, porra! Faz alguma coisa! Ou o seu maldito chefe é tão nojento que não sente pena nem da própria filha!? — Rosno ainda mais nervoso que antes. O homem v
— Você está bem? — Ela pergunta, após me olhar por um tempo. — Já estive melhor — respondi, sorrindo. A verdade é que gostei de ver sua preocupação comigo. — O que exatamente eles disseram a você? — questiono e ouço seu suspiro pesado. É visível o quanto isso tudo está sendo difícil para ela, mais até do que foi a farsa da morte. Acho que para qualquer filho é complicado descobrir que o homem a quem você considera um herói, seu espelho, não passa de um bandido mentiroso. Um bandido que não pensou duas vezes antes de abandonar esposa e filha, para fugir com sua amante e filha. — Não foi muito, só me confirmaram que o meu pai está vivo e que você e seus amigos o pegaram — fala calmamente, calma até demais e isso é bem estranho se tratando da situação. — Você não está curiosa para saber o porquê eu e meus amigos o pegamos? Ela negou com a cabeça.— Samuel, eu sei há muito tempo que meu pai não era nenhum santo, não achei que ele fosse capaz de ir tão baixo, mais até do que eu fui.
JULES MONTEZ Nada é tão ruim, que não possa piorar. Essa é uma boa forma de descrever os últimos acontecimentos da minha vida. Sabe aquele momento em que você acha que achou a luz no fim do túnel, mas quando se aproxima percebe que tudo não passou de uma ilusão? Pois bem, é exatamente essa minha situação neste exato momento. Eu fecho meus olhos, conto até dez e abro-os, esperando que tudo isso seja apenas um pesadelo, mas não, não é um pesadelo, é real. — Não! — grito novamente e continuo repetindo: — Não. Não. Não… — Está… tudo bem… vai ficar tudo bem…— ele diz com a voz fraca. — Por quê?… Por que você fez isso? — Questionei, olhando-o, ainda sem acreditar… Ele realmente levou uma bala por mim? Justo eu que destruí a vida da irmã dele, eu que fiz absolutamente tudo errado. — Samuel! Samuel! — Chamo-o, mas mesmo se esforçando, ele não consegue manter os olhos abertos — Por favor, não faça isso! Fica comigo! — imploro, deitando meu corpo sobre o dele. — Samuel! Acorda! — grito, m
— Finalmente você acordou, minha filha — a voz embargada e ansiosa da minha mãe, entra pelos meus ouvidos, agora claramente. Pisco os olhos até me acostumar com a claridade e conseguir abri-los completamente. Minha mãe me abraça e seus soluços baixos deixam-me triste, eu não gosto de vê-la sofrendo. — Eu estou bem, mãe, não me machuquei — murmuro baixo. — Eu sei. Eu sei. Mas é que eu fiquei tão preocupada. Todos nós ficamos — olha, avaliando-me minuciosamente. — Jules, eu não sei o que eu faria, se eles tivessem machucado você. — Mas não machucaram, mãe, eu estou bem, está vendo? Eu estou bem — segurei sua mão, acalmando-a. — O Samuel, ele me salvou. Como ele está? Quando chegamos, eles… ele estava…— Calma! — interrompeu-me — ele já está estabilizado. Passou por uma cirurgia e agora está na UTI, mas não corre mais risco de vida. Ele vai ficar bem, Jules — sorri, confortando-me. — A senhora está falando sério? Ele está mesmo bem, vai ficar bem de verdade? — pergunto com a voz emb
— Desculpa, Jules, você não deveria saber assim desse jeito — ouço a voz arrependida da Marina, enquanto ainda me recupero da surpresa. — Eu e minha boca grande! — bufou, revirando os olhos. — Ainda bem que você sabe — o Léo concordou, deixando a coitada ainda pior. Esses dois não tem jeito, quero só ver quando o Léo souber dos planos da Marina. — Está tudo bem — digo com minha voz tremida pela emoção — Isso não importa agora, eu estou feliz por vocês estarem aqui comigo. Obrigada, Marina por ser essa amiga, ou melhor, irmã do coração, tão especial. Você também, Leo, obrigada por estar aqui apoiando a gente. E mãe, eu… — paro de falar quando minha voz falha, respiro fundo, depois continuo: — Eu sou muito, muito grata por ter a senhora como mãe, nem tenho palavras para agradecer por tudo que tem feito por mim e agora por nós dois — toco na minha barriga. Sinto meu espaço pessoal sendo invadido novamente e agora por dois abraços, minha mãe e a Marina, quando olho na direção do Léo, v