— Finalmente o herói acordou — o homem, que acabou de entrar, diz com deboche. — Herói? Estou mais para um prisioneiro de guerra, não acha? — respondi, também debochando. Mas a minha vontade é encher o filho da puta de porrada. — Olha só, ainda quer parecer brincalhão — aproxima-se, me acertando um soco.— Ahhh! — o grito da Jules ecoa pela sala— Não faz isso, por favor! — implora chorando. — Gostou do tratamento que os prisioneiros de guerra recebem? — pergunta, ao me ver cuspir o sangue que saiu do corte que fez na minha boca. — Não! Eu prefiro ficar na posição de algoz — respondi calmamente e o homem arqueia a sobrancelha. — É — encarou-me, ainda rindo — bem que falaram que você é engraçadinho, mas sabe, eu adoro os engraçadinhos, é mais legal depois que tiramos o sorrisinho — assim que termina de falar, desfere mais um soco. Sinto minha cabeça, que mal parou de doer, latejar, fico tonto e quase perco a consciência, mas ao ouvir o choro da Jules e sua voz desesperada, mantenh
Olho a Jules, que está respirando com dificuldade, mas pelos movimentos que faz, ela está tentando se manter firme. Estou tirando a atenção do homem e assim dando espaço a ela para acalmar-se, fico mais tranquilo vendo que funcionou. Também estou orgulhoso por vê-la mais resistente do que quando descobriu sobre mim e a Sarah. Ela levanta o olhar e foca no meu. — Então… — sua voz soa baixa e fraca — o meu pai não morreu? Eu balanço minha cabeça, negando, e sua cabeça cai novamente. Cerro os punhos e os dentes também, sinto tanta raiva de não poder abraçá-la e ampará-la agora, ficar amarrado aqui, vendo-a desabar bem na minha frente, sinto-me tão fraco e impotente. Seus soluços baixos se transformam em um choro alto, descontrolado, e antes que eu, ou o maldito desgraçado fale alguma coisa, ela vomita. — Não está vendo o estado dela, porra! Faz alguma coisa! Ou o seu maldito chefe é tão nojento que não sente pena nem da própria filha!? — Rosno ainda mais nervoso que antes. O homem v
— Você está bem? — Ela pergunta, após me olhar por um tempo. — Já estive melhor — respondi, sorrindo. A verdade é que gostei de ver sua preocupação comigo. — O que exatamente eles disseram a você? — questiono e ouço seu suspiro pesado. É visível o quanto isso tudo está sendo difícil para ela, mais até do que foi a farsa da morte. Acho que para qualquer filho é complicado descobrir que o homem a quem você considera um herói, seu espelho, não passa de um bandido mentiroso. Um bandido que não pensou duas vezes antes de abandonar esposa e filha, para fugir com sua amante e filha. — Não foi muito, só me confirmaram que o meu pai está vivo e que você e seus amigos o pegaram — fala calmamente, calma até demais e isso é bem estranho se tratando da situação. — Você não está curiosa para saber o porquê eu e meus amigos o pegamos? Ela negou com a cabeça.— Samuel, eu sei há muito tempo que meu pai não era nenhum santo, não achei que ele fosse capaz de ir tão baixo, mais até do que eu fui.
JULES MONTEZ Nada é tão ruim, que não possa piorar. Essa é uma boa forma de descrever os últimos acontecimentos da minha vida. Sabe aquele momento em que você acha que achou a luz no fim do túnel, mas quando se aproxima percebe que tudo não passou de uma ilusão? Pois bem, é exatamente essa minha situação neste exato momento. Eu fecho meus olhos, conto até dez e abro-os, esperando que tudo isso seja apenas um pesadelo, mas não, não é um pesadelo, é real. — Não! — grito novamente e continuo repetindo: — Não. Não. Não… — Está… tudo bem… vai ficar tudo bem…— ele diz com a voz fraca. — Por quê?… Por que você fez isso? — Questionei, olhando-o, ainda sem acreditar… Ele realmente levou uma bala por mim? Justo eu que destruí a vida da irmã dele, eu que fiz absolutamente tudo errado. — Samuel! Samuel! — Chamo-o, mas mesmo se esforçando, ele não consegue manter os olhos abertos — Por favor, não faça isso! Fica comigo! — imploro, deitando meu corpo sobre o dele. — Samuel! Acorda! — grito, m
— Finalmente você acordou, minha filha — a voz embargada e ansiosa da minha mãe, entra pelos meus ouvidos, agora claramente. Pisco os olhos até me acostumar com a claridade e conseguir abri-los completamente. Minha mãe me abraça e seus soluços baixos deixam-me triste, eu não gosto de vê-la sofrendo. — Eu estou bem, mãe, não me machuquei — murmuro baixo. — Eu sei. Eu sei. Mas é que eu fiquei tão preocupada. Todos nós ficamos — olha, avaliando-me minuciosamente. — Jules, eu não sei o que eu faria, se eles tivessem machucado você. — Mas não machucaram, mãe, eu estou bem, está vendo? Eu estou bem — segurei sua mão, acalmando-a. — O Samuel, ele me salvou. Como ele está? Quando chegamos, eles… ele estava…— Calma! — interrompeu-me — ele já está estabilizado. Passou por uma cirurgia e agora está na UTI, mas não corre mais risco de vida. Ele vai ficar bem, Jules — sorri, confortando-me. — A senhora está falando sério? Ele está mesmo bem, vai ficar bem de verdade? — pergunto com a voz emb
— Desculpa, Jules, você não deveria saber assim desse jeito — ouço a voz arrependida da Marina, enquanto ainda me recupero da surpresa. — Eu e minha boca grande! — bufou, revirando os olhos. — Ainda bem que você sabe — o Léo concordou, deixando a coitada ainda pior. Esses dois não tem jeito, quero só ver quando o Léo souber dos planos da Marina. — Está tudo bem — digo com minha voz tremida pela emoção — Isso não importa agora, eu estou feliz por vocês estarem aqui comigo. Obrigada, Marina por ser essa amiga, ou melhor, irmã do coração, tão especial. Você também, Leo, obrigada por estar aqui apoiando a gente. E mãe, eu… — paro de falar quando minha voz falha, respiro fundo, depois continuo: — Eu sou muito, muito grata por ter a senhora como mãe, nem tenho palavras para agradecer por tudo que tem feito por mim e agora por nós dois — toco na minha barriga. Sinto meu espaço pessoal sendo invadido novamente e agora por dois abraços, minha mãe e a Marina, quando olho na direção do Léo, v
— Ele vai acordar em breve, mas não foi agora — a médica, que está cuidando do Samuel, diz, fazendo-me tomar um balde de água fria — mas pode ficar tranquila, ele está bem, irá acordar logo. — Eu balanço minha cabeça em positivo e ela continua: — A cirurgia foi um sucesso, mas ele ainda está sob efeito da anestesia, o que é normal.— Tudo bem, obrigada. Desculpe pela minha comoção exagerada — digo, realmente envergonhada. Eu, literalmente, saí da sala gritando e causei toda uma cena aqui dentro, foram enfermeiros e médicos correndo para salvar o paciente, que pela minha ação, acharam que estava morrendo. — Você ainda tem dez minutos — diz e eu balanço a cabeça concordando. Depois que a médica saiu, eu apenas fiquei olhando o homem enorme, deitado lá. A minha cabeça está uma completa bagunça. A minha vida está uma bagunça, e agora, com essa história do meu pai estar vivo e ser um bandido de fato, eu não faço ideia de como será tudo de agora em diante. Olho novamente o Samuel e vendo-
É claro que ela merece uma explicação. E eu queria muito dar a ela essa explicação, mas eu não faço ideia do que dizer. De como dizer. Respiro fundo, fecho os olhos, mantendo-os fechados por um tempo. — Sarah… não importa o motivo que me levou a fazer o que eu fiz, isso não vai mudar o fato de que eu ferrei com tudo — suspiro profundamente — Eu ferrei com a sua vida, com a vida da sua família, eu ferrei com a minha própria vida, e tudo por um motivo fútil, idiota. — Você está dizendo que não importa o porquê, já que isso já passou? — pergunta com a voz um pouco alterada pela irritação. — Não é isso que eu disse, Sarah, eu só… eu estou tentando dizer que eu não tive um motivo para tudo isso — falei, soltando um suspiro cansado. — No começo quando você começou a conversar com o Edu e fazê-lo rir e te elogiar, eu fiquei com ciúmes e comecei a implicar com você.— Então foi tudo por ciúmes? — ri nervosa. — No começo sim, foi porque eu fiquei com ciúmes, mas depois… — suspiro profundam