JULES MONTEZAssim que entrei na recepção do hospital, vi o Léo com algumas sacolas na mão, ele está conversando com um médico, e sua cara, como sempre, está sem nenhuma emoção. — Oi! — Aproximo-me dele — Onde a Marina está? — encarou-me estreitando os olhos, senti até um arrepio com a raiva que vi neles. Ele se despede do médico e aponta o corredor à nossa frente. — Você já sabe da novidade, certo? É claro que sabe, vocês duas sempre compartilham seus segredinhos. — Léo, a Marina descobriu isso hoje de manhã, ela não estava escondendo nada de você. — Não estava escondendo nada de mim? Jules, eu não sou nenhum idiota! — rosnou friamente — aquela porra, está fugindo de mim desde ontem, e eu só a encontrei porque deixei os funcionários encarregados de me avisar, caso ela aparecesse lá na casa dos meus pais. — Claro que ela estava fugindo! Você está sempre intimidando ela, nunca deixa ela se explicar…— Explicar?! — interrompeu-me — Como ela vai explicar algo tão óbvio e que todos v
— O leilão, é isso que estamos planejando, certo? — Mamãe, eu conheço bem a senhora e a senhora também me conhece bem, então não tente me excluir das coisas.— Eu não estou te excluindo de nada, isso…— Não? —interrompi-a — Mãe, desde aquele dia que a senhora voltou da rua com os olhos vermelhos e rosto inchado de tanto chorar, a senhora está estranha. Eu sei que está tentando me proteger, mas eu não sou criança, eu tenho que participar das coisas também. Não me trata como uma inútil, por favor!— Jules, não é nada disso! — puxa-me para sentar ao seu lado — Não estou tentando te deixar de fora e nem acho você inútil, jamais! Eu sei da sua força e sei o quanto é capaz, mas eu não quero atropelar as coisas, só preciso de tempo e, na hora certa, vou acertar o que precisa e te falo tudo. Não me pressione, ok.Agora eu tenho certeza que está acontecendo algo e é muito sério, a testa excessivamente franzida da minha mãe enquanto falava, deixou isso muito claro. Nessa noite eu não dormi di
— O que você está fazendo? — Pergunto, quando ele empurra-me para uma porta, fechando-a no trinco.— Só estou tentando falar direito com minha esposa, isso é errado? — falou com ironia. — Eu já disse que é ex-esposa e eu não tenho nada para falar com você! — É sério? — segura meu outro braço — Que pena, eu achei que você ao menos me diria que sentiu saudades. Você não sentiu saudades de mim, Jules? — sua voz rouca faz cócegas no meu ouvido, enquanto ele me encosta na parede. — O que você quer aqui, rir da minha situação? Apreciar o resultado da sua vingança? — pergunto, tentando empurrá-lo. Ele ri, e isso me deixa com mais raiva ainda, o deboche e a frieza dele são visíveis. — Jules, você não facilita mesmo as coisas, né! Eu disse que você não precisava fazer nada disso, no entanto, você está aqui se desfazendo das suas coisas. Você quer me desafiar, é isso!? — agora é sua raiva que se sobressai.Ele está com raiva? Ele, que conseguiu tudo o que queria, me destruiu ao ponto de me
SAMUEL ADAMS — Inferno! — Soco a parede assim que bato a porta atrás de mim. Eu não estou mais me vingando, mas essa mulher insiste em continuar com suas acusações, pior é que ela está mal e nem mesmo quis responder o que tem. Mas tudo bem, quando esse circo terminar, ela terá que vir comigo até um hospital, querendo ou não. Respiro fundo e volto para o salão.— Que cara de réu é essa? — O Daniel pergunta assim que aproximo-me. — Nada. — Não minta para mim, não esqueça que conheço você e muito bem. Deixa eu adivinhar, isso é por causa da Jules? — Se você já sabe, porque pergunta! — respondi impaciente. — Ei, não venha descontar em mim se você levou um fora. A Jules aparece alguns minutos depois, olhando aquele rosto pálido e ela forçando sorrisos ao receber os convidados, só aumenta minha raiva. O tal leilão não demorou muito para começar. Mesmo tentando mostrar firmeza, é visível que tanto a mãe quanto a filha estão mal, não deve ter sido fácil escolher essas coisas para se de
— Finalmente o herói acordou — o homem, que acabou de entrar, diz com deboche. — Herói? Estou mais para um prisioneiro de guerra, não acha? — respondi, também debochando. Mas a minha vontade é encher o filho da puta de porrada. — Olha só, ainda quer parecer brincalhão — aproxima-se, me acertando um soco.— Ahhh! — o grito da Jules ecoa pela sala— Não faz isso, por favor! — implora chorando. — Gostou do tratamento que os prisioneiros de guerra recebem? — pergunta, ao me ver cuspir o sangue que saiu do corte que fez na minha boca. — Não! Eu prefiro ficar na posição de algoz — respondi calmamente e o homem arqueia a sobrancelha. — É — encarou-me, ainda rindo — bem que falaram que você é engraçadinho, mas sabe, eu adoro os engraçadinhos, é mais legal depois que tiramos o sorrisinho — assim que termina de falar, desfere mais um soco. Sinto minha cabeça, que mal parou de doer, latejar, fico tonto e quase perco a consciência, mas ao ouvir o choro da Jules e sua voz desesperada, mantenh
Olho a Jules, que está respirando com dificuldade, mas pelos movimentos que faz, ela está tentando se manter firme. Estou tirando a atenção do homem e assim dando espaço a ela para acalmar-se, fico mais tranquilo vendo que funcionou. Também estou orgulhoso por vê-la mais resistente do que quando descobriu sobre mim e a Sarah. Ela levanta o olhar e foca no meu. — Então… — sua voz soa baixa e fraca — o meu pai não morreu? Eu balanço minha cabeça, negando, e sua cabeça cai novamente. Cerro os punhos e os dentes também, sinto tanta raiva de não poder abraçá-la e ampará-la agora, ficar amarrado aqui, vendo-a desabar bem na minha frente, sinto-me tão fraco e impotente. Seus soluços baixos se transformam em um choro alto, descontrolado, e antes que eu, ou o maldito desgraçado fale alguma coisa, ela vomita. — Não está vendo o estado dela, porra! Faz alguma coisa! Ou o seu maldito chefe é tão nojento que não sente pena nem da própria filha!? — Rosno ainda mais nervoso que antes. O homem v
— Você está bem? — Ela pergunta, após me olhar por um tempo. — Já estive melhor — respondi, sorrindo. A verdade é que gostei de ver sua preocupação comigo. — O que exatamente eles disseram a você? — questiono e ouço seu suspiro pesado. É visível o quanto isso tudo está sendo difícil para ela, mais até do que foi a farsa da morte. Acho que para qualquer filho é complicado descobrir que o homem a quem você considera um herói, seu espelho, não passa de um bandido mentiroso. Um bandido que não pensou duas vezes antes de abandonar esposa e filha, para fugir com sua amante e filha. — Não foi muito, só me confirmaram que o meu pai está vivo e que você e seus amigos o pegaram — fala calmamente, calma até demais e isso é bem estranho se tratando da situação. — Você não está curiosa para saber o porquê eu e meus amigos o pegamos? Ela negou com a cabeça.— Samuel, eu sei há muito tempo que meu pai não era nenhum santo, não achei que ele fosse capaz de ir tão baixo, mais até do que eu fui.
JULES MONTEZ Nada é tão ruim, que não possa piorar. Essa é uma boa forma de descrever os últimos acontecimentos da minha vida. Sabe aquele momento em que você acha que achou a luz no fim do túnel, mas quando se aproxima percebe que tudo não passou de uma ilusão? Pois bem, é exatamente essa minha situação neste exato momento. Eu fecho meus olhos, conto até dez e abro-os, esperando que tudo isso seja apenas um pesadelo, mas não, não é um pesadelo, é real. — Não! — grito novamente e continuo repetindo: — Não. Não. Não… — Está… tudo bem… vai ficar tudo bem…— ele diz com a voz fraca. — Por quê?… Por que você fez isso? — Questionei, olhando-o, ainda sem acreditar… Ele realmente levou uma bala por mim? Justo eu que destruí a vida da irmã dele, eu que fiz absolutamente tudo errado. — Samuel! Samuel! — Chamo-o, mas mesmo se esforçando, ele não consegue manter os olhos abertos — Por favor, não faça isso! Fica comigo! — imploro, deitando meu corpo sobre o dele. — Samuel! Acorda! — grito, m