CAPÍTULO 3

Helena

Os meus dias na faculdade tem sido totalmente diferente de tudo que eu imaginava, totalmente diferente de tudo que eu sonhei e almejei nesses últimos anos.

Bom, nas matérias em geral eu tenho ido bem e entendido bem o que os professores passam, mas tem um professor em especial que parece estar de marcação comigo e não sei porque, mas ele parece não gostar nem um pouquinho de mim, o professor Felipe.

Desde que eu cheguei dez minutos, ou menos, atrasada no primeiro dia de aula, ele tem me encarado diariamente como se eu fosse a maior criminosa do mundo, tem feito uma marcação cerrada sobre mim e ele nem tenta disfarçar a sua infelicidade em me ver em sua classe... Eu sinto que ele acha que irá me abalar com isso, mas ele não vai! Ele não me conhece e não faz nem ideia do quão persistente eu sou... Eu entrei nessa faculdade e só sairei daqui com meu diploma de médica em mãos.

- Alunos, por hoje é só... Na próxima aula nós iremos discutir mais sobre esse assunto e eu passarei um trabalho que valerá ponto extra pra vocês.- Arthur, o professor avisou assim que a sua aula chegou ao fim.

Apesar dos pesares, eu tenho aprendido bastante por aqui e eu não desistir do meu maior sonho por causa de uma pedrinha no meu caminho, mas eu não vou mesmo!

- Helena, você entendeu alguma coisa do que ele falou? Eu não entendi nada.- Ruth, a minha colega de classe, me questionou assim que a aula chegou ao fim.

A sua pergunta me fez rir... As vezes eu também me sinto exatamente desse mesmo jeitinho, sem entender nada e totalmente perdida.

- Eu entendi sim, Ruth! E eu anotei tudo, caso você precise, eu te dou uma cópia.- Eu a respondi para tranquiliza-la.

Um sorriso amigável surgiu alí em seus lábios ao me ouvir falar e ela acenou com a cabeça como resposta.

- Vamos almoçar? Eu já estava faminta e ouvir o professor falar sem parar me deu ainda mais fome.- Ruth disse me fazendo rir e eu prontamente concordei com ela.

Eu também estou morrendo de fome! A última coisa que eu comi foi uma maçã e isso foi antes de sair de casa, então já estou completamente faminta.

Nós saímos juntas da sala e ao pisar no corredor, os meus olhos foram atraídos para aquele homem alto, loiro e de olhos azuis como o mar... O professor Felipe está conversando com Lívia, que também é uma das novas professoras, e pela sua cara, ele parece não estar nada feliz com o assunto e não faz questão de disfarçar o tédio visível alí em seu rosto.

Eu não sei porque, mas aqueles seus olhos me fizeram petrificar e eu fiquei parada alí por alguns segundos sem conseguir parar de olhar para ele e muito menos me mover.

Eu fiquei totalmente paralisada, feito uma estátua.

O professor Felipe é um verdadeiro chato de galocha, isso todo mundo sabe, mas por outro lado, ele é um homem bonito, muito bonito mesmo... Ele é alto, a sua pele é bem branca como a neve, seus cabelos são loiros como os de um anjo e seus olhos são azuis da cor do mar... Eu nem sei o porquê de eu ter reparado tanto nele assim, mas há algo nele que me chama a atenção, eu não sei o que e nem porque, mas há.

- Helena, está tudo bem?- Ruth me questionou e aquilo me fez sair daquele transe.

- Sim, está tudo bem!- A respondi imediatamente e dei um leve sorriso para disfarçar.

Eu me obriguei a parar de olhar para aquele homem e caminhei pelo corredor indo em direção ao refeitório... Ao passar por aquele brutamonte, pude sentir um olhar sobre mim e ao olhar para trás, vi que ele me olhava atentamente... Ele só pode estar me xingando mentalmente, só pode ser isso... Esse homem me odeia e ele nem faz questão de disfarçar isso.

Ao entrar no refeitório, a primeira pessoa que vi foi Laura e aquilo me deixou alegre e animada... Apesar do seu jeitinho de ser, a Laura sempre foi a minha melhor amiga e eu sempre gostei muito da sua companhia.

- A gente pode sentar alí, aquela garota é minha prima.- Avisei a Ruth.

- Você tem certeza? Aquela galera não parece ser tão receptiva.- Ruth diz com uma feição desconfiada em seu rosto e aquilo me fez rir.

Eu conheço bem a minha prima e posso afirmar algo com certeza, ela jamais teria a coragem de desfazer de mim só por estar com outras pessoas... Ela pode ter o seu jeito rude, mas ela é uma boa pessoa e sei que ela sente carinho por mim.

- Tenho! A Laura é minha prima, ela é muitos legal... Vem, eu vou te apresentar pra ela.- Eu disse pegando a sua não e logo a puxei em direção a mesa que a Laura estava sentada.

Assim que me aproximei, pude sentir o olhar da minha prima sobre nós e eu logo abri um sorriso ao vê-la... Estranhamente, Laura se levantou antes que eu dissesse algo e logo em seguida se aproximou de mim com uma feição estranha em seu rosto.

- O que você pensa que está fazendo?- Ela me questionou me deixando confusa.

Mas do que ela está falando? Juro que não estou entendendo.

- Nada! Eu só ia me sentar com você, eu quase não te vejo aqui pela faculdade.- Eu logo expliquei toda a situação para ela.

- Vamos conversar lá no banheiro... Eu preciso te explicar algo.- Laura disse e logo em seguida saiu na frente me deixando pra trás.

Por que ela está agindo assim? Eu não consigo entender! Nós duas sempre fomos tão amigas... Será que eu fiz algo para deixa -la triste? Para magoa-la? Se fiz, juro que foi sem intenção!

Fui atrás dela no banheiro e ao entrar alí, ela me encarou com um olhar mortal.

- Helena, me faça um favor, não fique tentando se aproximar de mim o tempo todo aqui na faculdade... Nós somos amigas, mas lá em casa, aqui é diferente. As pessoas vão estragar se me ver andando com você.- Laura disse e eu não consigo assimilar as suas palavras.

Como é que? Eu não estou entendendo direito!

- Olha, Leninha... Eu gosto de você, e eu gosto muito! Você sabe que eu adoro falar e desabafar com você, mas aqui é diferente, sabe? A gente pode continuar sendo muito amigas em casa, mas aqui eu já tenho toda a minha galera e vai pegar muito mal se eles me verem andando com você.- Laura continuou e naquele momento eu entendi o que ela falava.

Ela está com vergonha de mim, é isso! Agora eu entendo! Ela simplesmente não quer ser vista com a prima negra e podre. Está claro!

- Então eu sirvo para ser sua amiga em casa, mas aqui não?- Eu a questionei me sentindo realmente muita triste com aquilo.

Laura revirou os olhos ao me ouvir falar e balançou a sua cabeça em sinal negativo.

- Não é bem assim, Leninha, não é bem assim... É que você é diferente das pessoas dessa faculdade e se eu andar com você eu posso acabar me prejudicando... Eu nem te contei, mas acabei de conhecer um cara muito legal. Ele é rico, lindo e o pai dele é um grande empresário, se ele me ver com você e souber que você é minha prima, ele não vai querer ficar comigo... Leninha, você me entende, não é?- Laura me questionou se aproximando de mim e tentando pegar a minha mão, mas eu me afastei dela.

Ouvir tudo que ela acabou de me dizer, dói muito e é pior ainda saber que a sua prima e melhor amiga tem vergonha de você e de quem você... A minha única vontade é de chorar nesse momento, porque eu me sinto como a pior pessoa do mundo.

- Leninha, por fa...- Laura começou a falar, mas eu não quis mais ouvir.

Eu dei as costas naquele mesmo instante e saí daquele banheiro sentindo as lágrimas escorrerem involuntariamente por todo o meu rosto.

A Laura sempre foi a minha melhor amiga, e eu não fazia ideia que ela se sentia assim sobre mim... Me dói saber que eu só sirvo pra ser amiga dela as escondidas e que ela ache constrangedor ser vista comigo.

Corri até o estacionamento, que no momento é a área mais vazia da faculdade e me sentei em um cantinho desabando a chorar... Eu me sinto mal, muito mal!

Eu ainda estava sentada alí e chorava feito uma criança, quando senti um cheiro forte de cigarro e ao levantar a cabeça, eu dei de cara com ele, com o professor Felipe.

Ele está encostado na parede, virado em minha direção e fuma um cigarro com toda a tranquilidade do mundo.

Mas que ironia do destino, um médico fumando... Ele não deveria fumar! Ele sabe bem quais são os malefícios do cigarro.

- Então é por isso que você se atrasa para as aulas?- Felipe me questionou enquanto me olhava por cima.

Eu não me dei nem ao trabalho de responde-lo, apenas dei uma risadinha nervosa... Eu não estou nada bem e não quero discutir com esse homem logo agora. Ele me odeia e só me faria sentir pior.

- Chorar faz mal, garota... Da dor de cabeça.- Ele disse do nada e aquilo me fez rir.

É sério que ele está me dizendo isso? Só pode ser brincadeira!

Dei as costas para ele naquele exato momento e comecei a caminhar de volta para o refeitório... Esse homen sabe bem como tirar a minha paciência e a última coisa que eu quero é vê-lo nesse instante.

- Do que você estava rindo?- Pude ouvir a sua voz de repente e ao olhar para o lado, vi que ele caminhava junto a mim.

O que esse homen quer? Ele já deixou muito claro que não vai com a minha cara. Ele só pode estar querendo caçoar de mim, só pode ser isso!

- Da sua hipocrisia, Senhor Ávila! Eu ainda não tenho muito conhecimento medicinal, mas tenho certeza que as minhas lágrimas matam bem menos do que o seu cigarro.- O respondi sem ao menos encara-lo.

Eu mantive a minha cabeça baixa, mas pude senti-lo me encarar e posso afirmar que a sua cara nesse exato momento não é nada boa... Eu sentia o seu olhar arder alí sobre mim, mas eu não tinha coragem de me virar e muito menos de abrir a boca para falar algo com ele.

- Você é muito insolente, garota! Primeiro você chega atrasada no seu primeiro dia de aula e atrapalha a minha aula e agora quer ensinar um médico a cuidar da sua própria saúde? Mas quanta petulância, garota!- O professor Felipe disse e imediatamente eu o encarei começando a ficar nervosa.

- Você é...- Eu comecei a desabafar, mas graças a Deus naquele mesmo instante uma voz soou em alto e bom tom me fazendo calar a boca imediatamente.

- Felipe, eu estou atrás de você há um tempão... Preciso falar urgentemente com você!- Uma voz feminina soou e ao olhar para o lado, vi que se tratava de Lívia, uma das minha professoras.

Graças a Deus! Essa mulher me salvou! Sabe-se lá o que eu seria capaz de dizer pra esse brutamonte ranzinza.

- E você, garota... O que está fazendo aqui?- Ela me questionou enquanto me olhava de cima a baixo.

- Eu já estou indo para sala... Estou atrasada.- Foi tudo que disse e no segundo seguinte dei o fora dali.

O professor Felipe não é a pessoa mais simpática do mundo, a professora Lívia também não é nenhuma miss simpatia... Eu que não vou ficar aqui no meio desses dois.

Eu já estava quase entrando no refeitório, mas decidi olhar para trás uma última vez e naquele mesmo momento, o meu olhar se encontrou com o do professor e aquilo foi estranho pra mim... Muito estranho!

Por um instante pareceu que o professor Felipe não me odiava e aquilo me causou uma sensação tão, mas tão estranha... Me causou algo que eu nunca, nunca senti.

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