CAPÍTULO 7

Helena

Mais uma semana está se iniciando e eu estou totalmente animada com o que está por vir... Essa semana será muito, muito corrida, eu terei algumas provas, entregarei alguns trabalhos e terei um seminário, mas ainda assim estou muito animada com a minha semana.

Eu gosto de dias cheios, assim não tenho tempo para pensar em coisas ruins e nem em lembrar das minhas dores do passado.

Me olhei no espelho pela última vez e ao constatar que eu estava pronta, peguei a minha bolsa já saindo do meu quartinho.

O fim de semana acabou, mas ainda há uma questão que eu não consigo tirar da minha cabeça... O que foi que aconteceu com o meu dinheiro? Eu não entendo! Eu juro que guardei dinheiro na carteira antes de sair de casa, mas aparentemente aquele dinheiro simplesmente sumiu, do nada... Eu vou realmente não sei como meu dinheiro foi sumir daquele jeito, mas vou descobrir. Ah, mas eu vou!

Se não fosse pelo professor Felipe, eu realmente não sei o que seria de mim, aliás, eu sei sim... Eu iria parar atrás de cela de uma prisão.

- Graças a Deus você acordou, achei que você não ia mais sair daquela sua toca... Eu quero que você faça o café antes de sair.- A minha tia falou assim que eu pisei naquela cozinha.

- Mas tia, eu vou me atrasar se dizer o café.- Disse enquanto olhava para o relógio.

O meu ônibus vai passar daqui a quinze minutos, se eu perde-lo vou chegar super atrasada na aula e a minha primeira aula de hoje é com o professor Felipe... Eu não quero e nem posso chegar atrasada logo na aula dele.

- Isso é um problema seu, Helena! Você sabe muito bem que tem que fazer o café da manhã todos os dias, por que você não acorda mais cedo então? Entenda de uma vez por todas que isso aqui precisa ser sua prioridade, não aquela faculdade ridícula.- Ela falou e soube naquele momento que ela estava fazendo tudo aquilo apenas para me prejudicar.

A verdade é que a tia Patrícia nunca aceitou o fato que eu, uma garota simples que sempre estudou em escolar pública, passou para medicina e a filha dela não. Essa é a mais pura verdade!

- Helena, como eu sou sua tia e gosto de você, eu vou ser muito sincera com você. Olha, se eu fosse você, eu desistiria dessa sua faculdade... Você nunca, NUNCA vai ser médica, Helena... O seu lugar é aqui, dentro dessa cozinha fazendo coisas pra mim, e é isso que você vai fazer pelo resto dessa sua vidinha.- Ela disse com desdém e com uma raiva visível em seu olhar.

Eu ouvi tudo aquilo em silêncio, mas não deixei que as suas palavras entrarem em meu coração... Eu vou sim ser uma médica, porque esse sempre foi o meu maior sonho e também era o sonho do meu pai e eu não vou morrer sem realizar o NOSSO sonho.

Eu decidi ignorar tudo que ela havia acabado de falar e apenas obedeci o seu pedido, eu fiz o café da manhã e ao ver que tudo estava pronto, corri para o ponto de ônibus... Eu não vou mais deixar que a minha tia me abale, mas não vou mesmo.

Graças a Deus e a todos os santos, o primeiro ônibus atrasou e eu consegui pega-lo e acabei não me atrasando tanto.

Cheguei na sala de aula correndo e com minha respiração ofegante, mas quando entrei alí, vi que a sala estava vazia... Só o professor Felipe estava alí, em sua mesa.

Eu olhei em meu relógio de pulso aquele momento e percebi que faltavam mais de vinte minutos para a aula começar... Mas como? Eu tinha certeza absoluta que estava atrasada!

É, eu acho que ando cansada demais! Já não tenho nem noção do tempo mais.

- Bom dia, professor!- Cumprimentei o professor Felipe ao entrar naquela sala.

O professor mexia em seu notebook, mas ele desviou o seu olhar daquele aparelho ao ouvir a minha voz e como sempre, ele me encarou com uma feição de tédio visível em seu rosto.

O professor Felipe nem se deu ao trabalho de responder... Ele apenas me encarou por alguns segundos e logo em seguida voltou a encarar o seu notebook.

Resolvi deixa-lo em paz, então apenas caminhei até o meu lugar e me sentei alí calando a minha boca e o deixando em paz.

Eu sei que o professor Felipe não gosta muito de mim, ele já deixou isso claro e nem faz questão de esconder, então não vou ficar falando com ele, já que sei que ele visivelmente não vai com a minha cara.

Aos poucos, os alunos foram chegando e logo a sala ficou cheia e o professor Felipe pode dar início a sua aula... O professor Felipe é um verdadeiro chato, mas existe algo que tenho que assumir, ninguém da uma aula tão boa e bem explicada como ele... A sua matéria é difícil e ele é exigente, mas ainda assim eu tenho uma predileção por sua matéria e memorizo tudo que ele fala com muita facilidade.

- Helena, você está entendendo alguma coisa do que ele está falando?- Ruth me questionou com um olhar perdidinho bem exposto em seus olhos e aquilo me fez rir.

A Ruth é uma piada, ela quase nunca entende a matéria, mas ainda assim tira as melhores notas nos trabalhos que todos os professores passam... Ele aparentemente tem um pensamento lento, mas é esforçada, isso é visível!

- Eu disse alguma coisa engraçada, Ruth e Helena?- A voz do professor soou e eu pude sentir os seus olhos sobre mim.

Merda!

Ele tinha que me ver rindo? Eu presto atenção na aula o tempo todo e quando dou um vacilo se quer, ele está de olho em mim.

Parece até que ele fica de olho, só esperando eu vacilar para falar algo e me constranger em frente a toda sala.

- Não! É que...- Eu comecei a tentar me explicar, mas ele logo me interrompeu.

- Então qual é o motivo da graça?- Ele me questionou cruzando os seus braços e me olhando diretamente nos olhos.

Naquele momento eu vi que o problema não era a Ruth e eu, mas sim apenas eu. Ele estava implicando apenas comigo e eu juro que não entendi o porquê... Por que esse homem me odeia tanto? Não pode ser só por eu ter chegado atrasada em um dia de aula... Não pode ser!

Esse homem definitivamente tem algo grave contra mim e eu juro que não consigo entender o porquê... Eu não sou uma aluna ruim e nunca atrapalho a sua aula, não dá pra entender o porque de toda sua raiva.

- Professor, não é culpa da Helena, fui eu quem a atrapalhei. Ela não teve culpa de nada.- A Ruth saiu em minha defesa.

Ele riu ironicamente ao ouvir Ruth falar, balançou a cabeça e deu as costas para nós e naquele momento eu tive a certeza que o problema era comigo... Apenas comigo!

Depois de todo aquele constrangimento, todo o resto da manhã demorou horrores para passar e quando a aula chegou ao fim, eu agradeci a Deus mentalmente... Hoje é só o primeiro dia da semana, e eu já estou me sentindo exausta.

- O professor Felipe me odeia, Ruth e eu juro que não consigo entender o porquê.- Desabafei com minha colega ao sair da sala.

Eu estava chateada com tudo que havia acontecido e realmente não conseguia ver o motivo de toda a raiva que aquele homem sentia por mim... Eu nunca fiz mal a ele, por que ele me odeia tanto.

- Ahh, ele é assim mesmo, Helena. Todo mundo fala que ele é um insuportável, mas pense pelo lado bom, daqui a pouco esse semestre acaba e você ficará totalmente livre dele.- Ruth disse para me confortar.

- Então eu mal posso esperar por esse momento... Todos os professores são tão legais comigo, menos esse idiota e eu não entendo o porquê.- Disse bufando.

- Deixa esse chato pra lá, Helena... Vamos falar de coisa boa ao invés desse cara? Eu consegui duas entradas pra uma balada incrível pra gente ir na sexta e eu não vou aceitar não como resposta, tá?- Ruth disse mudando totalmente de assunto.

Balada? Isso não é muito a minha praia.

Eu gosto mais de ficar em casa assistindo série, de ir ao cinema, teatro... Baladas não é muito a minha praia.

- Eu não gosto de baladas, Ruth... Fora que eu nem tenho roupas pra ir nesses lugares.- Dei uma desculpinha qualquer.

- Mas isso não é um problema, eu te empresto um look bem legal... Você vai comigo, Helena. Eu já te disse que eu não aceito não como resposta.- Ruth disse com os seus olhos presos aos meus.

Eu apenas me calei e fiz um acenou com a cabeça... Eu vou deixar a poeira abaixar e ela vai esquecer essa história de balada e no fim eu vou acabar não indo.

- A gente vai se falando, Ruth. Agora eu tenho que ir, tá? Eu tenho que ir trabalhar. Até amanhã!- Eu logo me despedi dela e saí correndo pra ir para o trabalho.

Eu já estava quase saindo da faculdade, quando senti o meu corpo se chocar contra algo forte e eu quase para trás pronta para ir ao chão, mas eu fui aparada por mãos fortes e grandes e naquele instante o meu coração acelerou indo a mil.

Levantei a cabeça sentindo a minha respiração totalmente ofegante e o meu peito bater rápido e ao encontrar aqueles olhos marcantes, a minha boca ficou seca.

- Professor...- Eu até tentei me desculpar, mas ele claramente não me deixou nem concluir a frase.

- Você! Tinha que ser você...- Professor Felipe disse com os seus olhos presos aos meus.

- Me desculpa, não foi a minina intenção. Eu estou muito arrasada, e por isso estava correndo... Não posso me atrasar para meu trabalho, se não o meu chefe me mata.- Eu  tentei me explicar para ele.

Aquele homem manteve os seus olhos presos aos meus por alguns segundos, ele ficou em um completo silêncio e aquilo me deixou com a boca ainda mais seca e com o as pernas bambas... Meu Deus! O que é que está acontecendo aqui?

- Felipe?- Uma voz soou de repente bem próximo a nós e ele rapidamente me soltou.

Imediatamente me ajeitei me recompensou e ao olhar para o lado, vi que se tratava da professora Lívia.

- Está tudo bem aqui?- Ela questionou olhando diretamente para mim com um olhar bem estranho exposto em seu rosto.

- Está tudo ótimo, Lívia! A Helena tropeçou e eu a ajudei.- O professor Felipe logo deu uma justificativa pra tudo aquilo.

Ele havia explicado toda a situação, mas aquela mulher manteve os seus olhos bem presos a mim... Qual é o problema dela?

- Helena?- Ela questionou dando um sorrisinho estranho, mas bem estranho mesmo.

Eu não sei o que deu nessa mulher e também não quero saber... Tenho mais o que fazer e eu vou ir embora daqui agora mesmo.

- Bom, eu estou atrasada e tenho que ir. Com licença!- Disse forçando um sorriso e logo dei o fora dali.

Eu não estou entendendo o que está acontecendo e nem quero entender... Ir embora daqui é o melhor que eu posso fazer.

O melhor que eu posso fazer nesse momento é me afastar dessas pessoas, até porque eles são de um mundo totalmente diferente do meu e eu definitivamente não quero misturar as coisas... Essas pessoas são apenas meus professores e isso nunca, mas nunca irá mudar.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo