Felipe
Todo começo de ano é como se uma nova etapa da minha vida se iniciasse mais uma vez... Todo início de ano é igual para mim, mas ao mesmo tempo é bem diferente.
Atualmente eu trabalho como professor universitário e também atuo como médico cirurgião pediatra no centro médico que pertence a minha família há mais de cinco décadas... Todo início de ano é igual para mim, eu sempre pego uma nova turma e os preparo para o mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo, cada início de ano eu me deparo com pessoas totalmente diferentes e isso acaba sendo desafiador.
Eu tenho bastante gosto pelo que eu faço, eu gosto de lecionar e preparar os jovens e adultos para o mercado de trabalho, mas eu confesso, sou o professor mais rígido dessa universidade e não tolero certas coisas... Eu não tolero, desrespeito, não tolero falta de interesse, capricho e existe algo que me tira do sério e isso se chama, atraso... Pra mim, uma pessoa que se atrasa do mostra o quão sem interesse e desrespeitoso ele é, e isso é fora de questão pra mim... Eu faço o que eu puder para acabar com esse tipo de pessoa e me livrar deles o mais rápido que puder, e eu sempre me livro deles, sempre!
- Felipe, você está me ouvindo?- Uma voz soou lá no fundo do meu subconsciente me fazendo "acordar" daquele bendito transe.
Eu desviei os olhos da tela do meu computador e ao olhar para o lado, me deparei com Lívia, uma das minhas colegas de trabalho... Lívia também leciona aqui na faculdade, eu a conheço desde a época da faculdade... Nós já tivemos um breve caso no passado e desde então ela não saí do meu pé, mesmo eu já tendo deixado bem claro pra ela que eu não quero nada com ela e nem ninguém, mas sinto que ela ainda não entendeu isso.
- Ãh?- A respondi sem entender o que ela falava.
A Lívia é uma velha amiga da minha família e como meu pai foi o reitor dessa faculdade até o seu falecimento, foi fácil pra ela entrar aqui como professora, ela entrou com a ajuda da minha querida mãe e eu a odeio até hoje por isso... A minha mãe acha uma ótima ideia que a gente fique juntos, mas isso nunca, NUNCA vai acontecer.
- Eu estava falando com você... Eu te perguntei se você estava animado com o início de mais um ano letivo?- Lívia me questionou com um sorrisinho aberto em seus lábios.
- Eu tenho que ir, Lívia! Não tenho tempo para conversar... Já são quase sete e vinte e eu não gosto de atrasos.- A respondi já me levantando e saí dali antes que ela dissesse mais alguma coisa.
Eu não estou com a mínima paciência pra fingir que eu quero escutar conversa fiada de alguém... Eu tive uma noite longa, quase não dormi para aproveitar bem meu último dia de férias e eu o aproveitei ao máximo que pude, então a última coisa que quero é ouvir alguém faltando sem parar na minha cabeça.
- Tá bom, Fe! Depois a gente conversa então.- Pude ouvi-la dizer antes de sair dali.
Espero que esse depois nunca chegue... Eu me arrependo amargamente do dia em que fiquei com essa mulher e se eu pudesse voltar atrás, apagaria esse dia da minha existência.
Caminhei até a sala que irei lecionar e ao chegar alí, vi que já haviam muitos alunos aguardando por mim... Ótimo! Sinal que grande parte da turma são pontuais e eu gosto disso.
- Bom dia! Meu nome é Felipe Ávila, eu serei o professor de método clinico de vocês nesse semestre... A minha aula dará início as sete e meia, daqui a exatos sete minutos e depois desse horário, ninguém entrará na minha sala.- Já deixei claro para eles assim que entrei naquela sala.
Eu não sou desse tipo de professores que querem ser amigos dos alunos ou dar uma "bonzinho", eu estou aqui para fazer o meu trabalho e é exatamente isso que eu farei, e farei da melhor forma possível.
- Bom, irei aguardar até às sete e meia e darei início a minha aula... Podem tirar os cadernos, notebook, seja o que for, eu irei passar matéria e na próxima semana um trabalho sobre essa mataria será dado.- Eu os avisei já para deixar claro.
- Mas professor, é o primeiro dia de aula. Achei que seria mais de boa...- Uma garota reclamou de lá do fundo da sala e aquilo me fez rir.
- Qual o seu nome?- A questionei com os meus olhos bem atentos sobre ela.
- O meu nome? Eu me chamo Carolina.- Ela me respondeu cheia de sorrisinhos.
- Carolina, eu tenho certeza que seus pais pagam essa faculdade caríssima para que você aprenda e não para que você tenha um "dia de boa"... Quero que uma coisa fique clara, eu estou aqui para ensina-los, se não querem aprender, a porta estará sempre disponível para saída.- Os avisei sendo o mais honesto possível.
Eu não me importo se esse é o primeiro dia de aula, ou seja o que for, eu não estou aqui para conhece-los e nem para saber da vida deles... Eu estou aqui para ensina-los sobre medicina em geral e é isso que eu farei.
Logo deu o horário de início de aplicação da minha aula e imediatamente comecei a passar a matéria para eles... Assim que eu dei início a minha matéria, pude ouvir um barulho de batidas na porta e aquilo me deixou confuso.
Mas quem é? Tenho certeza que não se trata de nenhum aluno!
Eu ainda estava virado em direção a lousa, e naquele mesmo momento uma voz soou invadindo toda a sala... Aquela voz era bem calma e melodiosa, então eu rapidamente virei-me em direção a porta e me deparei com uma garota parada alí... Mas quem é ela?
Uma aluna? Eu não acredito nisso! Não acredito!
Eu encarei aquela garota sem acreditar naquilo que ela falava... Ela está me dando desculpas pelo seu atraso? Eu não consigo admitir isso! Realmente não consigo!
- Garota, não me venha com desculpas esfarrapadas... Eu não quero saber se o seu ônibus estragou ou se abriu uma cratera na avenida Paulista, a minha aula da início as sete e meia da manhã em ponto e qualquer pessoa que chega após esse horário não assiste a minha aula... Agora de meia volta e saía da minha frente.- Eu falei sem a menor paciência pra aquela conversa fiada.
Eu não tolero atrasos e também não vou tolerar desculpinhas esfarrapadas... Ela não entra na minha aula!
- Mas...- Ela ainda tentou discutir, mas eu não deixei que ela terminasse de falar.
- Sem mas, garota! Não atrapalhe ainda mais a minha aula! Vá, saia logo daqui!- A respondi em alto e bom som sem acreditar que ela realmente ainda estava parada alí.
Ela ainda permaneceu parada alí por algum tempo, mas quando ela percebeu que eu falava sério, ela me encarou por uma última vez e deu as costas saindo dali pisando duro.
Essa só essa que me faltava! Como essa garota ousa se atrasar logo no primeiro dia de aula? Já mostra a brilhante aluna que ela será... Tenho certeza que essa não irá durar nem dois meses na faculdade, falo isso com toda a certeza.
- Bom, vamos prosseguir com a aula...- Eu disse voltando a minha atenção aos alunos e prosseguindo com a minha aula.
No fim, o resto da minha manhã foi bem tranquilo e eu consegui aplicar todo o início da minha matéria sem problema algum ou mais interrupções... Só aquela garota que me causou um certo desconforto, mas não me importo com isso, sei que em breve irei me livrar dela.
- Oi, Felipe! Você está indo para o hospital agora? Eu tenho que dar uma passada por lá, sua mãe quer conversar comigo.- Lívia se aproximou de mim assim que entrei em um corredor.
- Não, Lívia! Tenho que passar em casa antes, só vou para o hospital mais tarde.- A respondi sendo curto e grosso.
Além do meu trabalho aqui na faculdade, eu também trabalho como diretor geral do hospital, Clinical central, que pertence a minha família há mais de cinco décadas... E toda tarde, costumo estar por lá... É uma pena que a Lívia tenha conhecimento disso.
É mais um lugar que ela vai me perturbar!
- Eu posso ir pra sua casa com você, não tem problema nenhum... A gente pode até almoçar juntos e depois podemos ir para o hospital.- Ela teve a coragem de se oferecer.
Parei de andar naquele mesmo instante sem acreditar que ela realmente estava se oferecendo daquela forma... Será que ela ainda não percebeu que eu não quero que ela fique perto de mim? Porque eu sinto que não!
- Eu não te convidei para me acompanhar até a minha casa, Lívia! Aqui na frente tem um ponto de táxi, pegue um e ele te deixará na porta do hospital.- Disse sem paciência alguma pra todo aquele seu falatório.
Ela deu um sorriso sem graça ao me ouvir falar e acenou com a cabeça como resposta.
- Tá bom, sem problemas! A gente se vê mais tarde. Até já!- Ela disse ainda sorrindo e saiu me deixando finalmente a sós.
Graças a Deus!
Passei na sala geral dos professores, peguei todos os meus pertences e saí dali já pronto para ir embora... Eu terei uma tarde bem longa lá no hospital, então é melhor que eu vá embora logo.
Saí da sala com todos os meus pertences e no momento em que pisei no corredor, eu pude sentir algo ou alguém esbarrar forte contra o meu corpo e aquilo fez com que todos os meus livros caíssem no chão.
Merda!
- Aí, me desculpa... Eu sou muito atrapalhada!- Aquela voz chamou minha atenção e ao levantar a cabeça, dei de cara com aquela garota.
Ahh, mas só podia ser ela... Só podia ser ela!
- Tinha que ser você! Você não olha por onde anda, garota?- A questionei irritado enquanto me abaixava para pegar minhas coisas.
- Me desculpe, professor... Não foi a minha intenção. Eu ainda estou reconhecendo os lugares do prédio, acabei me atrapalhando. - Ela falou enquanto tentava me ajudar.
- Eu não preciso da sua ajuda! Você já fez demais.- Falei pegando todas minhas coisas e me levantando dali.
Eu sabia que essa garota seria uma pedra no meu sapato... Eu sabia! E eu nunca erro!
- Me desculpe mais uma vez, professor. Fique tranquilo, essas situações não irão ocorrer novamente.- Aquela garota falou enquanto me encarava com um sorriso em seus lábios.
Ahh, mas eu tenho certeza que essas situações não irão se repetir por muito tempo... Eu mesmo vou cuidar disso. Essa garota não permanecerá nessa faculdade por muito tempo, isso já está visível, e eu farei o possível e o impossível para que ela suma daqui o mais rápido possível, ou eu não me chamo Felipe Ávila.
Helena Os meus dias na faculdade tem sido totalmente diferente de tudo que eu imaginava, totalmente diferente de tudo que eu sonhei e almejei nesses últimos anos.Bom, nas matérias em geral eu tenho ido bem e entendido bem o que os professores passam, mas tem um professor em especial que parece estar de marcação comigo e não sei porque, mas ele parece não gostar nem um pouquinho de mim, o professor Felipe.Desde que eu cheguei dez minutos, ou menos, atrasada no primeiro dia de aula, ele tem me encarado diariamente como se eu fosse a maior criminosa do mundo, tem feito uma marcação cerrada sobre mim e ele nem tenta disfarçar a sua infelicidade em me ver em sua classe... Eu sinto que ele acha que irá me abalar com isso, mas ele não vai! Ele não me conhece e não faz nem ideia do quão persistente eu sou... Eu entrei nessa faculdade e só sairei daqui com meu diploma de médica em mãos.- Alunos, por hoje é só... Na próxima aula nós iremos discutir mais sobre esse assunto e eu passarei um t
Felipe Ultimamente os meus dias tem sido extremamente corridos... Eu sempre estou pela faculdade pela manhã, e alguns dias até mesmo durante a tarde e também tenho o meu trabalho no hospital, então mal me sobra tempo para aproveitar a vida, mas eu dou o meu jeitinho, eu sempre dou!- Eu estava com saudades de você, gato! Fazia tanto tempo que você não ligava pra mim, eu achei até que tinha esquecido de mim.- Uma voz soou próximo a mim e ao olhar para o lado, me deparei com aquela mulher deitada ao meu lado.Eu sempre estou muito ocupado com a minha vida, mas dou o meu jeitinho de me divertir e fazer o que mais gosto de fazer, e hoje foi um desses dias... O meu trabalho no hospital e na faculdade estava me deixando com a cabeça explodindo, então eu trouxe uma mulher do clube para passar a noite comigo e isso me aliviou, e muito.Eu precisava mesmo extravasar e me aliviar um pouquinho, então foi bom traze- la pra cá, mas agora chega... Eu só queria um pouco de sexo para esvaziar a cabe
Helena Finalmente o fim de semana chegou e eu não poderia estar mais feliz com isso... Eu tive uma semana puxada no trabalho e na faculdade também, então quero aproveitar o fim de semana para descansar e fazer as coisinhas que eu gosto.Geralmente nos fins de semana eu gosto de ficar na cama até um pouco mais tarde, de ficar enrolando no quarto o dia todo, assitir filmes melancólicos e comer besteira o dia todo e é exatamente isso que eu quero fazer no dia de hoje... Durante a semana a vida é tão corrida pra mim, eu acordo cedo, vou para a faculdade e depois ainda vou para o trabalho e é exatamente por esse motivo que eu gosto de descansar nesses dois dias que tenho livre.Eu ainda estava deitada em minha cama me sentindo totalmente sonolenta, quando a porta do meu quartinho foi aberta bem de repente e a minha tia adentrou pelo mesmo feito um furacão... Lá vem!- Você ainda está deitada, Helena? Pelo amor de Deus, garota! Isso aqui não é um hotel e muito menos um spa... Levante já de
FelipeSão seis e meia da manhã em ponto nesse exato momento e eu estou de baixo da água quente do chuveiro em busca de um pouco de tranquilidade e descanso.A última madrugada não foi nada fácil e não consigo parar de pensar em tudo que aconteceu nas últimas doze horas... Eu tive um longo e duro plantão e infelizmente nós perdemos dois pacientes em apenas uma noite e mesmo estando acostumado com tudo isso, é sempre duro ter que contar pra toda uma família que eles nunca mais irão ver um ente querido em vida.Nesse momento me encontro totalmente exausto em todos os sentidos, então tudo que quero é ir para o meu apartamento e descansar o máximo que eu puder.- Filho? Graças a Deus você ainda está aí! Eu estou atrás de você há um tempinho, até pensei que você já tinha ido.- A minha mãe "invadiu" a minha sala e desandou a falar.Ahh não! Eu estou com a cabeça cheia, eu estou cansado e morrendo de dor de cabeça e a última coisa que quero e ouvir alguém falar sem parar perto de mim... Eu
Helena Mais uma semana está se iniciando e eu estou totalmente animada com o que está por vir... Essa semana será muito, muito corrida, eu terei algumas provas, entregarei alguns trabalhos e terei um seminário, mas ainda assim estou muito animada com a minha semana.Eu gosto de dias cheios, assim não tenho tempo para pensar em coisas ruins e nem em lembrar das minhas dores do passado.Me olhei no espelho pela última vez e ao constatar que eu estava pronta, peguei a minha bolsa já saindo do meu quartinho.O fim de semana acabou, mas ainda há uma questão que eu não consigo tirar da minha cabeça... O que foi que aconteceu com o meu dinheiro? Eu não entendo! Eu juro que guardei dinheiro na carteira antes de sair de casa, mas aparentemente aquele dinheiro simplesmente sumiu, do nada... Eu vou realmente não sei como meu dinheiro foi sumir daquele jeito, mas vou descobrir. Ah, mas eu vou!Se não fosse pelo professor Felipe, eu realmente não sei o que seria de mim, aliás, eu sei sim... Eu ir
Felipe Finalmente é sexta feira e eu não poderia estar mais feliz por isso... Eu gosto muito do meu trabalho aqui na faculdade e também lá no hospital, mas eu preciso de um tempo de descanso... Um tempo pra mim relaxar e colocar a cabeça no lugar.Essa semana me deixou exausta e ela demorou tanto pra passar que eu cheguei a pensar que estava preso em um looping infinito... Eu mal podia esperar para que o dia de hoje chegasse logo.- Hey! Você está animado para o fim de semana?- Uma voz familiar soou próximo a mim e ao olhar para o lado, pude ver que se tratava da Lívia.Lá vem!Eu aposto tudo que eu tenho que essa mulher vai tentar se incluir de alguma forma no meu fim de semana, mas ela não vai conseguir... Eu tenho planos melhores pra mim, bem melhores que aguenta-la falando sem parar na minha cabeça.Eu apenas acenei com a cabeça como resposta tentando não dar muita atenção para ela e fazer com que ela se tocasse e saísse logo daqui, mas parece que o meu plano não deu certo... A L
Helena Hoje é sexta, são nove horas da noite e eu estou parada na porta de uma balada... Eu não sei como, mas de alguma forma a Ruth me convenceu de vir pra uma boate.Eu geralmente não gosto desse tipo de ambiente, aliás, eu nunca venho pra esse tipo de lugar, mas a Ruth insistiu tanto que eu acabei vindo com ela, mas eu tenho uma ideia... Eu vim, mas vou ficar apenas um pouquinho e depois vou voltar para casa.A minha tia também não gosta nenhum pouco que eu saia a noite e muito menos que eu venha a baladas, então não quero dar motivos pra ela falar.- Helena, você vai amar esse lugar! Vem muita gente bonita pra cá e eu soube que é open bar, então a gente vai poder beber a vontade.- Ruth disse totalmente animada.Eu bem que queria estar animada igual a ela, mas eu judô que não consigo... Eu gosto de lugares mais calmos e tranquilos, e ver tanta gente a minha volta me deixa meio tonta.- Eu não bebo, Ruth... Só bebo água e suco, no máximo um refrigerante.- Brinquei.- Você não bebe?
Helena Um silêncio absurdo pairava sob aquele carro, o o professor Felipe não falava nada, eu menos ainda e aquela situação estava totalmente constrangedora, então eu não conseguia nem olhar para o lado, apenas mantia o meu olhar preso na avenida.Eu realmente ainda não sei o porque do professor Felipe ter me oferecido a carona e também não sei como eu aceitei, mas aqui estamos nesse momento e eu só consigo sentir um frio absurdo em minha espinha e o meu estômago embrulhar cada vez mais.Por um segundo, eu desviei o meu olhar daquela estrada e o encarei rapidamente, mas para a má sorte, ele também estava me olhando.- Você quer me dizer alguma coisa?- O professor me questionou enquanto voltava a encarar a pista.Parei de encara-lo imediatamente, eu balancei a cabeça e dei um sorriso sem graça... Eu não sabia o que dizer, muito menos como agir e me sentia nervosa feito uma adolescente.- Não, eu só queria agradecer o senhor por tudo mais uma vez...- Falei a primeira coisa que me veio