CAPÍTULO 2

Felipe

Todo começo de ano é como se uma nova etapa da minha vida se iniciasse mais uma vez... Todo início de ano é igual para mim, mas ao mesmo tempo é bem diferente.

Atualmente eu trabalho como professor universitário e também atuo como médico cirurgião pediatra no centro médico que pertence a minha família há mais de cinco décadas... Todo início de ano é igual para mim, eu sempre pego uma nova turma e os preparo para o mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo, cada início de ano eu me deparo com pessoas totalmente diferentes e isso acaba sendo desafiador.

Eu tenho bastante gosto pelo que eu faço, eu gosto de lecionar e preparar os jovens e adultos para o mercado de trabalho, mas eu confesso, sou o professor mais rígido dessa universidade e não tolero certas coisas... Eu não tolero, desrespeito, não tolero falta de interesse, capricho e existe algo que me tira do sério e isso se chama, atraso... Pra mim, uma pessoa que se atrasa do mostra o quão sem interesse e desrespeitoso ele é, e isso é fora de questão pra mim... Eu faço o que eu puder para acabar com esse tipo de pessoa e me livrar deles o mais rápido que puder, e eu sempre me livro deles, sempre!

- Felipe, você está me ouvindo?- Uma voz soou lá no fundo do meu subconsciente me fazendo "acordar" daquele bendito transe.

Eu desviei os olhos da tela do meu computador e ao olhar para o lado, me deparei com Lívia, uma das minhas colegas de trabalho... Lívia também leciona aqui na faculdade, eu a conheço desde a época da faculdade... Nós já tivemos um breve caso no passado e desde então ela não saí do meu pé, mesmo eu já tendo deixado bem claro pra ela que eu não quero nada com ela e nem ninguém, mas sinto que ela ainda não entendeu isso.

- Ãh?- A respondi sem entender o que ela falava.

A Lívia é uma velha amiga da minha família e como meu pai foi o reitor dessa faculdade até o seu falecimento, foi fácil pra ela entrar aqui como professora, ela entrou com a ajuda da minha querida mãe e eu a odeio até hoje por isso... A minha mãe acha uma ótima ideia que a gente fique juntos, mas isso nunca, NUNCA vai acontecer.

- Eu estava falando com você... Eu te perguntei se você estava animado com o início de mais um ano letivo?- Lívia me questionou com um sorrisinho aberto em seus lábios.

- Eu tenho que ir, Lívia! Não tenho tempo para conversar... Já são quase sete e vinte e eu não gosto de atrasos.- A respondi já me levantando e saí dali antes que ela dissesse mais alguma coisa.

Eu não estou com a mínima paciência pra fingir que eu quero escutar conversa fiada de alguém... Eu tive uma noite longa, quase não dormi para aproveitar bem meu último dia de férias e eu o aproveitei ao máximo que pude, então a última coisa que quero é ouvir alguém faltando sem parar na minha cabeça.

- Tá bom, Fe! Depois a gente conversa então.- Pude ouvi-la dizer antes de sair dali.

Espero que esse depois nunca chegue... Eu me arrependo amargamente do dia em que fiquei com essa mulher e se eu pudesse voltar atrás, apagaria esse dia da minha existência.

Caminhei até a sala que irei lecionar e ao chegar alí, vi que já haviam muitos alunos aguardando por mim... Ótimo! Sinal que grande parte da turma são pontuais e eu gosto disso.

- Bom dia! Meu nome é Felipe Ávila, eu serei o professor de método clinico de vocês nesse semestre... A minha aula dará início as sete e meia, daqui a exatos sete minutos e depois desse horário, ninguém entrará na minha sala.- Já deixei claro para eles assim que entrei naquela sala.

Eu não sou desse tipo de professores que querem ser amigos dos alunos ou dar uma "bonzinho", eu estou aqui para fazer o meu trabalho e é exatamente isso que eu farei, e farei da melhor forma possível.

- Bom, irei aguardar até às sete e meia e darei início a minha aula... Podem tirar os cadernos, notebook, seja o que for, eu irei passar matéria e na próxima semana um trabalho sobre essa mataria será dado.- Eu os avisei já para deixar claro.

- Mas professor, é o primeiro dia de aula. Achei que seria mais de boa...- Uma garota reclamou de lá do fundo da sala e aquilo me fez rir.

- Qual o seu nome?- A questionei com os meus olhos bem atentos sobre ela.

- O meu nome? Eu me chamo Carolina.- Ela me respondeu cheia de sorrisinhos.

- Carolina, eu tenho certeza que seus pais pagam essa faculdade caríssima para que você aprenda e não para que você tenha um "dia de boa"... Quero que uma coisa fique clara, eu estou aqui para ensina-los, se não querem aprender, a porta estará sempre disponível para saída.- Os avisei sendo o mais honesto possível.

Eu não me importo se esse é o primeiro dia de aula, ou seja o que for, eu não estou aqui para conhece-los e nem para saber da vida deles... Eu estou aqui para ensina-los sobre medicina em geral e é isso que eu farei.

Logo deu o horário de início de aplicação da minha aula e imediatamente comecei a passar a matéria para eles... Assim que eu dei início a minha matéria, pude ouvir um barulho de batidas na porta e aquilo me deixou confuso.

Mas quem é? Tenho certeza que não se trata de nenhum aluno!

Eu ainda estava virado em direção a lousa, e naquele mesmo momento uma voz soou invadindo toda a sala... Aquela voz era bem calma e melodiosa, então eu rapidamente virei-me em direção a porta e me deparei com uma garota parada alí... Mas quem é ela?

- Bom dia! Me desculpa pelo atraso, eu acabei tendo um probleminha com o meu primeiro ônibus e isso me fez atrasar.- Ela falou assim que me virei em sua direção.

Uma aluna? Eu não acredito nisso! Não acredito!

Eu encarei aquela garota sem acreditar naquilo que ela falava... Ela está me dando desculpas pelo seu atraso? Eu não consigo admitir isso! Realmente não consigo!

- Garota, não me venha com desculpas esfarrapadas... Eu não quero saber se o seu ônibus estragou ou se abriu uma cratera na avenida Paulista, a minha aula da início as sete e meia da manhã em ponto e qualquer pessoa que chega após esse horário não assiste a minha aula... Agora de meia volta e saía da minha frente.- Eu falei sem a menor paciência pra aquela conversa fiada.

Eu não tolero atrasos e também não vou tolerar desculpinhas esfarrapadas... Ela não entra na minha aula!

- Mas...- Ela ainda tentou discutir, mas eu não deixei que ela terminasse de falar.

- Sem mas, garota! Não atrapalhe ainda mais a minha aula! Vá, saia logo daqui!- A respondi em alto e bom som sem acreditar que ela realmente ainda estava parada alí.

Ela ainda permaneceu parada alí por algum tempo, mas quando ela percebeu que eu falava sério, ela me encarou por uma última vez e deu as costas saindo dali pisando duro.

Essa só essa que me faltava! Como essa garota ousa se atrasar logo no primeiro dia de aula? Já mostra a brilhante aluna que ela será... Tenho certeza que essa não irá durar nem dois meses na faculdade, falo isso com toda a certeza.

- Bom, vamos prosseguir com a aula...- Eu disse voltando a minha atenção aos alunos e prosseguindo com a minha aula.

No fim, o resto da minha manhã foi bem tranquilo e eu consegui aplicar todo o início da minha matéria sem problema algum ou mais interrupções... Só aquela garota que me causou um certo desconforto, mas não me importo com isso, sei que em breve irei me livrar dela.

- Oi, Felipe! Você está indo para o hospital agora? Eu tenho que dar uma passada por lá, sua mãe quer conversar comigo.- Lívia se aproximou de mim assim que entrei em um corredor.

- Não, Lívia! Tenho que passar em casa antes, só vou para o hospital mais tarde.- A respondi sendo curto e grosso.

Além do meu trabalho aqui na faculdade, eu também trabalho como diretor geral do hospital, Clinical central, que pertence a minha família há mais de cinco décadas... E toda tarde, costumo estar por lá... É uma pena que a Lívia tenha conhecimento disso.

É mais um lugar que ela vai me perturbar!

- Eu posso ir pra sua casa com você, não tem problema nenhum... A gente pode até almoçar juntos e depois podemos ir para o hospital.- Ela teve a coragem de se oferecer.

Parei de andar naquele mesmo instante sem acreditar que ela realmente estava se oferecendo daquela forma... Será que ela ainda não percebeu que eu não quero que ela fique perto de mim? Porque eu sinto que não!

- Eu não te convidei para me acompanhar até a minha casa, Lívia! Aqui na frente tem um ponto de táxi, pegue um e ele te deixará na porta do hospital.- Disse sem paciência alguma pra todo aquele seu falatório.

Ela deu um sorriso sem graça ao me ouvir falar e acenou com a cabeça como resposta.

- Tá bom, sem problemas! A gente se vê mais tarde. Até já!- Ela disse ainda sorrindo e saiu me deixando finalmente a sós.

Graças a Deus!

Passei na sala geral dos professores, peguei todos os meus pertences e saí dali já pronto para ir embora... Eu terei uma tarde bem longa lá no hospital, então é melhor que eu vá embora logo.

Saí da sala com todos os meus pertences e no momento em que pisei no corredor, eu pude sentir algo ou alguém esbarrar forte contra o meu corpo e aquilo fez com que todos os meus livros caíssem no chão.

Merda!

- Aí, me desculpa... Eu sou muito atrapalhada!- Aquela voz chamou minha atenção e ao levantar a cabeça, dei de cara com aquela garota.

Ahh, mas só podia ser ela... Só podia ser ela!

- Tinha que ser você! Você não olha por onde anda, garota?- A questionei irritado enquanto me abaixava para pegar minhas coisas.

- Me desculpe, professor... Não foi a minha intenção. Eu ainda estou reconhecendo os lugares do prédio, acabei me atrapalhando. - Ela falou enquanto tentava me ajudar.

- Eu não preciso da sua ajuda! Você já fez demais.- Falei pegando todas minhas coisas e me levantando dali.

Eu sabia que essa garota seria uma pedra no meu sapato... Eu sabia! E eu nunca erro!

- Me desculpe mais uma vez, professor. Fique tranquilo, essas situações não irão ocorrer novamente.- Aquela garota falou enquanto me encarava com um sorriso em seus lábios.

Ahh, mas eu tenho certeza que essas situações não irão se repetir por muito tempo... Eu mesmo vou cuidar disso. Essa garota não permanecerá nessa faculdade por muito tempo, isso já está visível, e eu farei o possível e o impossível para que ela suma daqui o mais rápido possível, ou eu não me chamo Felipe Ávila.

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