CAPÍTULO 5

Helena

Finalmente o fim de semana chegou e eu não poderia estar mais feliz com isso... Eu tive uma semana puxada no trabalho e na faculdade também, então quero aproveitar o fim de semana para descansar e fazer as coisinhas que eu gosto.

Geralmente nos fins de semana eu gosto de ficar na cama até um pouco mais tarde, de ficar enrolando no quarto o dia todo, assitir filmes melancólicos e comer besteira o dia todo e é exatamente isso que eu quero fazer no dia de hoje... Durante a semana a vida é tão corrida pra mim, eu acordo cedo, vou para a faculdade e depois ainda vou para o trabalho e é exatamente por esse motivo que eu gosto de descansar nesses dois dias que tenho livre.

Eu ainda estava deitada em minha cama me sentindo totalmente sonolenta, quando a porta do meu quartinho foi aberta bem de repente e a minha tia adentrou pelo mesmo feito um furacão... Lá vem!

- Você ainda está deitada, Helena? Pelo amor de Deus, garota! Isso aqui não é um hotel e muito menos um spa... Levante já dessa sua cama e vá procurar algo pra você fazer. Trabalho é que não falta nessa casa.- Tia Patrícia desandou a falar enquanto abria a cortina fazendo com o que aquele brilho forte do sol invadisse o meu quarto.

Me movi na cama e ao olhar para o lado, vi que ainda não eram nem oito da manhã... É mesmo que ela vai me fazer levantar cedo em pleno sábado? Não é possível!

- Mas tia, ainda não são nem oito horas da manhã e hoje é sábado... Eu levanto todos os dias antes da cinco, queria descansar um pouquinho a mais hoje.- A respondi ainda com a minha voz falhada de sono.

Ela trouxe os seus olhos para mim imediatamente, riu com ironia e balançou a cabeça enquanto cruzava os seus braços.

- Você está achando o que, Helena? Você não é hóspede nessa casa... Eu só te acolhi aqui porque você é filha do meu irmão, mas não pense que você vai viver uma vida de moleza de baixo do meu teto... Ou você faz o seu trabalho direito, ou procure um outro lugar para você morar.- Ela jogou aquelas coisas na minha cara mais uma vez.

É difícil pra mim ouvir essas palavras da minha tia, porque ela é a única família que eu tenho hoje em dia... O meu pai já se foi, a minha nunca quis saber de mim, ela foi tudo que me restou e eu só queria ser bem tratada por ela, mas sinto que isso nunca vai acontecer, nunca.

Ela nunca me tratou com carinho, como sobrinha, como se eu fosse da sua família e eu estou começando a acreditar que ela nunca vai me tratar assim... Nunca!

- Sabe, as vezes eu paro pra pensar e entendo a sua mãe... Ela fez certo em ter te abandonado e eu deveria ter feito o mesmo. Você é insuportável, Helena... Não sei como o meu irmão aguentou viver tanto tempo do seu lado, você é tão chata que deve até ter agravado a doença dele.- A minha tia falou aquilo sem nenhum pesar em sua voz.

As suas palavras me atingiram feito uma bala no peito e eu não consegui segurar as lágrimas... Eu chorei ali, na frente dela.

Me machuca muito ouvir sobre o meu pai e a minha mãe... O meu pai foi o meu melhor amigo enquanto ele esteve vivo, saber que ele não está mais aqui me dói... E a minha mãe, bom, eu sempre quis estar perto dela, mas ela nunca, nunca me quis e isso me dói também... Me machuca muito saber que ela não me ama e não me considera como filha.

- Helena, as suas lágrimas não irão me comover... Dê logo um fim nesse seu teatro ridículo e levante dessa cama. A Silvana irá faxinar toda a casa e você vai ajuda-la... Se levante logo e vá fazer algo que preste.- Ela disse com grosseria e em seguida saiu do meu quarto batendo a porta com toda a sua força.

Assim que ela se foi, eu desabei a chorar e levei um tempinho para me recompor... Dói muito ser tratada assim por alguém que  carrega o mesmo sangue que o meu.

Levantei-me após me recompor, troquei toda a minha roupa e me ajeitei pra ajudar a Silvana.

- Menina, o que você está fazendo de pé a essa hora? Vá descansar! Você já acorda tão cedo durante semana toda.- Silvana, a moça que é empregada na casa disse assim que me viu.

- Eu não posso, Silvana... A minha tia me pediu pra vir te ajudar.- Disse forçando um sorriso enquanto pegava um esfregão.

Eu não vou contrariar a minha tia, apesar de tudo que ela faz e diz, minha tia Patrícia foi a única pessoa que me acolheu e eu sei que devo muito a ela.

- Mas essa mulher realmente não presta! Meu Deus do céu... Você fica aqui ralando feito uma escrava e a filha dela não lava nem a própria calcinha... Mas que mulher mais enjoada!- Silvana disse me fazendo rir.

A Silvana é a minha única diversão aqui dentro dessa casa, ela me faz rir e sempre sai a minha defesa, mesmo sabendo que vai levar um grande esporro da minha tia... Eu tenho muito carinho por ela e a considero como uma grande amiga.

- Silvana, cuidado... Se ela te ouve falando isso, não sei nem do que ela é capaz.- Eu a alertei.

- É, aquela bruaca é capaz de tudo.- Ela disse e aquilo me fez rir mais ainda.

No fim, a ideia de dar uma faxina pela casa não foi tão ruim assim... Eu passei a manhã toda em companhia da Silvana e ela me fez rir e me divertir como ninguém fazia há muito, mas muito tempo... O meu pai era a única pessoa que me fazia rir e desde que ele se foi, o mundo se tornou cinza e sem graça pra mim.

- Silvana, capriche no almoço... Alguns amigos da faculdade minha Laurinha virão almoçar aqui e eu quero um banquete pra eles.- Tia Patrícia adentrou pela cozinha falando.

- Eu posso fazer um Strogonoff de frango, a Laura agora Strogonoff...- Silvana sugeriu.

Minha tia encarou a Silvana com uma feição indescritível em seu rosto e aquilo me deixou confusa... A Laura realmente ama Strogonoff, é o que ela mais pede para a Silvana fazer, não estou entendendo o motivo da revolta da minha tia.

- Strogonoff, Silvana? Isso é comida de pobre! Os amigos da minha filha são da elite, faça algo a altura deles e não toda essa lavagem para pobres... Faça um medalhão grelhado, arroz piamontese e uma batata souté.- Ela sugeriu de nariz em pé.

É engraçado ver a minha tia agir assim, todos sabem que a sua família não é tão bem colocada assim... O meu tio, marido da minha tia é um bom advogado, ele ganha um bom salário e eles moram em uma boa casa, mas eles não são ricos e isso está mais que visível, mas pelo visto não para ela.

- Manhê, o pessoal vai chegar às uma da tarde... Vão vir cinco pessoas, tenho certeza que você vai ama-los, mãe. Todos eles são de boas famílias.- Laura entrou na cozinha conversando com a minha tia.

- Eu tenho toda certeza do mundo que vou adora-los, minha bonequinha... Já deixou tudo avisado para a Silvana preparar um almoço bem gostoso e vou buscar aquela torta holandesa maravilhosa da padaria.- Minha respondeu a Laura animadamente.

Eu fiquei encarando as duas por alguns segundos e sorri ao ver aquela cena... A tia Patrícia e a Laura tem personalidades bem difíceis, mas eu fico feliz em vê-las se dando bem... Eu vejo de longe que se duas tem o que eu mais gostaria de ter, uma relação boa de mãe e filha.

- Helena, por que você não vai aproveitar sua tarde de sábado? Daqui a pouco todas as visitas vão chegar e é melhor que você não esteja aqui. Vá sair um pouquinho, vá para o shopping, sei lá.- Minha tia disse sem nem tentar disfarçar que não queria minha presença alí.

Laura por sua vez, mais uma vez não se manifestou... Ela abaixou a cabeça e deixou que sua mãe falasse e aquilo já foi mais que uma frase pra mim... Por muito tempo eu acreditei fielmente que a Laura era minha melhor amiga e que ela era uma boa prima, mas hoje vejo que eu estava muito, muito enganada.

A Laura nunca quis ser vista comigo em público, nunca me protegeu das palavras pesadas da minha tia e sempre apenas me usou para desabafar e isso definitivamente não é amizade.

- Eu já vou sair, só vou me trocar e já estou indo.- Disse Imediatamente dando as costas para elas.

Eu não vou mais implicar por carinho, atenção e afeto e também não vou querer estar em um lugar onde as pessoas não me querem... Meu pai não ficaria nada feliz em me ver rastejar pelo afeto de alguém e eu não vou mais fazer isso.

Caminhei diretamente para o meu quartinho e fui me aprontar para sair... Eu ainda não sei pra onde eu vou ou o que vou fazer, mas eu sinto que será bom sair um pouco e esfriar um pouquinho a cabeça.

Rapidamente me aprontei para sair e ao pisar para fora do meu quarto, dei de cara com Laura... O que ela está fazendo aqui?

Desde o episódio na faculdade, a gente não se fala e eu já não faço mais questão de vê- la e muito menos escuta-la.

- Leninha, a gente pode de se falar?- Laura me questionou com um sorrisinho largo em seus lábios.

Lá vem!

- Eu estou de saída, Laura. Você viu a sua mãe praticamente me expulsando daqui pra que eu não te envergonhe na frente dos seus "amigos".- Disse ironicamente.

- Não é nada disso, Leninha... Você sabe muito bem que a minha mãe tem o jeito dela de falar as coisas, mas ela não quis dizer o que você ouviu... A gente gosta tanto de você, Leninha... A mamãe, o papai e eu, você é nossa família e eu não gosto de ficar brigada com você.- Laura disse e aquilo me fez rir por dentro.

É engraçado ver como ela me considera apenas quando nos estamos a sós, mas na frente das pessoas ela simplesmente finge que não me conhece... Eu já não quero mais ser amiga de gente assim, já não quero mais viver assim.

- Leninha, você me perdoa? Eu estou sentindo a sua falta, não tem ninguém pra eu desabafar mais.- Ela disse rindo com as suas mãos presas as minhas.

Dei um sorriso fraco e apenas acenei com a cabeça como resposta... Eu já não sei o que dizer e muito menos o que falar.

- Olha, pra provar que eu realmente sou sua amiga e que todos aqui gostam de você, eu vou guardar tudo que sobrar do almoço pra você, tá?- Laura disse com um sorriso enorme em seu rosto.

Ahh, mas que grande prova de amizade!

Agora eu vejo realmente o que eu significo pra ela... Agora está mais o que ela acha que eu mereço, apenas sobras.

- Não precisa, Laura! Eu vou almoçar no shopping... Fique com as sobras, guarde-as para vocês.- Falei forçando um sorriso e em seguida saí dali sem olhar para trás.

Eu estou exausta de ser mal tratada e continuar com um sorriso no rosto apenas por ter o mesmo sangue que os que essas pessoas... Eu não mereço e não vou ser mais tratada assim.

Durante o trajeto para o shopping os últimos acontecimentos não saíram da minha cabeça e a minha mente se tornou uma grande confusão... As palavras da minha tia e da minha prima são saíram da minha cabeça por um segundo se quer.

Ao chegar no shopping, caminhei direto para um restaurante que o meu pai sempre costumava me trazer, onde a comida é bem gostosa e barata e é o que eu posso pagar no momento.

- Boa tarde, no que posso ajudar?- A recepcionista me recebeu na porta do restaurante.

- Eu vim almoçar, mesa pra um.- A respondi com um sorriso em meu rosto.

Esse lugar me lembra tanto o meu pai, os momentos felizes que tivemos aqui e tudo isso me deixa feliz e emocionada ao mesmo tempo... Mil memórias se passam aqui em minha cabeça nesse momento.

- Ótimo! Me acompanhe.- Aquela moça disss e eu prontamente a segui.

Eu caminhava com um sorriso largo em meu rosto e me sentia totalmente animada, mas ao parar em minha mesa e olhar para o lado, o meu sorriso prontamente sumiu e eu fiquei paralisada.

Eu não acredito no que estou vendo! Eu realmente não acredito... Isso aqui só pode ser uma brincadeira bem chata do destino.

Só pode ser isso!

- Até aqui? Mas que inferno!- O professor Felipe exclamou com uma feição de raiva em seu rosto assim que ele me viu.

É, eu achei que teria uma tarde legal e divertida, mas pelo visto isso acabou de se tornar impossível.

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