Helena
Hoje é sexta, são nove horas da noite e eu estou parada na porta de uma balada... Eu não sei como, mas de alguma forma a Ruth me convenceu de vir pra uma boate.
Eu geralmente não gosto desse tipo de ambiente, aliás, eu nunca venho pra esse tipo de lugar, mas a Ruth insistiu tanto que eu acabei vindo com ela, mas eu tenho uma ideia... Eu vim, mas vou ficar apenas um pouquinho e depois vou voltar para casa.
A minha tia também não gosta nenhum pouco que eu saia a noite e muito menos que eu venha a baladas, então não quero dar motivos pra ela falar.
- Helena, você vai amar esse lugar! Vem muita gente bonita pra cá e eu soube que é open bar, então a gente vai poder beber a vontade.- Ruth disse totalmente animada.
Eu bem que queria estar animada igual a ela, mas eu judô que não consigo... Eu gosto de lugares mais calmos e tranquilos, e ver tanta gente a minha volta me deixa meio tonta.
- Eu não bebo, Ruth... Só bebo água e suco, no máximo um refrigerante.- Brinquei.
- Você não bebe? Ahh, mas está tudo bem! Dizem que aqui também tem um drink de abacaxi sem álcool que é uma delícia.- Ela logo me respondeu.
A Ruth estava tão feliz e animada naquela balada, que resolvi ao menos fingir que eu estava gostando daquele lugar... Eu não vou estragar a noite dela sendo uma chata... Eu vou ficar um pouco e depois vou pra casa, até porque não posso ficar até tarde, caso contrário a minha tia fará um escândalo e eu não quero isso.
- Olha quanto gato tem nesse lugar, Helena... Se eu soubesse que aqui era assim eu teria vindo antes.- A Ruth comentou enquanto alisava cada canto daquela boate.
Eu até olhei em volta, mas não achei ninguém que enchesse os meus olhos... Pra mim não há ninguém interessante por aqui, pelo menos não ao meu ver... Essa boate está recheada de rapazes da minha idade ou até mesmo mais novos e esse não é meu estilo de homen ideal.
- Ahh, não me diga que você não achou ninguém bonito aqui... Olha bem, amiga.- Ela comentou com os seus olhos atentos sobre mim.
- Bom, eles são bonitos, eles só não fazem meu tipo... E vamos mudar de assunto? Eu não vim aqui para ficar olhando os rapazes bonitos, vim pra me divertir.- A respondi.
- É, de certa forma você certa, mas eu só quero deixar bem claro que eu vim pra me divertir e pra olhar os rapazes bonitos, até porque uma coisa não impede a outra... O que acha da gente pegar um drink agora? Eu estou morrendo de sede.- Ela falou e eu prontamente concordei.
Eu também estou doida para beber algo, aqui dentro faz muito calor e a minha boca já está seca nesse momento, então eu estou sedenta por um bom refrigerante.
- Acho ótimo!- Concordei imediatamente.
Ruth e eu fomos diretamente para o bar daquela boate e ela pediu uma caipirinha e eu obviamente uma refrigerante com gelo e limão, já é o bastante pra mim... Eu não sou o tipo de pessoa que precisa de álcool para se divertir, eu sei me divertir com pouco.
- Essa é a melhor caipirinha que eu já experimentei em toda a minha vida!- Ruth falou, mas o seu rosto dizia o contrário.
Ruth fazia uma bela careta enquanto tomava aquela caipirinha e aquilo me fez rir... Como ela consegue tomar isso? Só o cheiro da pra ver o quão forte isso é!
- É, da pra vê pela sua cara...- A respondi ainda rindo das caretas engraçadas que ela fazia. - Vamos nós sentar um pouco? Tem um lugar vazio aí.- Sugeri e ela concordou.
Eu comecei a caminhar, mas aquelas caretas da Ruth chamavam tanto a minha atenção que eu mal conseguia olhar pra frente.
- Você tem certeza que isso está bom?- A questionei sem conseguir segurar o riso.
Eu ainda a encarava rindo de toda aquela cena, quando de repente pude sentir o meu corpo esbarrar em algo e todo o líquido que havia em meu copo voou... Merda!
Levantei a cabeça finalmente olhando pra frente e naquele momento vi que eu havia esbarrado em alguém e imediatamente eu comecei a me desculpar, pois eu sabia o quão errada eu estava.
- Me desculpa...- Eu comecei a falar, mas quando aquela certa pessoa se virou em minha direção me encarando, eu não pude dizer mais nada.
Eu simplesmente não acredito que isso está acontecendo comigo... Eu não acredito!
Essa balada está lotada, eu poderia ter esbarrado em qualquer, mas não, parece que o destino está brincando comigo... Isso não é possível!
O professor Felipe simplesmente está parado em minha frente e eu acabei de lhe dar um belo banho de refrigerante... Por que tinha que ser justamente nele? Ele já não me odeia o bastante? O universo só pode estar brincando comigo, só pode ser isso!
- Professor? Meu Deus!- Eu disse quase sem voz e sem saber o que falar.
Aquele homen me fitou com uma feição clara de desdém em seu rosto, ele revirou os olhos visivelmente irritado e bufou feito um leão raivoso... É, agora ele deve estar me odiando ainda mais, se é que isso ainda é possível.
- Tinha que ser você! Você esta me perseguindo, garota? Porque se estiver, isso já perdeu a graça.- Ele falou de uma forma bruta e totalmente grosseira.
Eu perseguindo ele? Ah tá, essa é boa! O que mais quero na vida e evita-lo o máximo que puder, não persegui-lo.
- Professor Felipe?- Ruth diz com uma feição de surpresa visível em seu rosto.
- Não, eu sou o Papa! Olha, vocês duas já fizeram demais por mim... Já podem ir, tá? Já é demais ter que aturar vocês alunos lá na faculdade, não quero ter que aturar vocês aqui também.- O professor falou sem ao menos nos encarar.
Eu fiquei paralisada alí sem acreditar que ele realmente estava dizendo aquilo, mas de repente senti o meu braço sendo puxado e ao olhar para o lado, percebi que Ruth me arrastava dali.
- A gente tinha que encontrar justo esse homen? Esse Felipe é um pé no saco! É um saco como professor e pelo visto é um saco na vida pessoal também.- Ruth espraguejou enquanto me arrastava dali.
- Eu já disse que esse homen me odeia, se soubesse que ele estaria aqui, eu nem teria saído de casa.- Disse honestamente.
Eu nunca tive nada contra os meus professores em nenhuma fase acadêmica da minha vida, nunca, mas de repente esse tal Felipe surgiu na minha vida e parece que tudo mudou... Ele não gosta de mim e nem faz questão de disfarçar isso e eu vou confessar que o sentimento é totalmente recíproco.
- Ah, deixa esse chato pra lá, amiga... Se Deus quiser a gente nem vai se esbarrar com ele mais.- Ruth logo me respondeu.
- É, e tomara que Deus queira, viu... Já basta ter que encontrar esse homen de segunda a sexta na faculdade, ter que encontra-lo no meu dia de folga é demais.- Digo revirando os olhos.
- Helena, agora vamos esquecer tudo que aconteceu e vamos curtir a nossa noite... O professor Felipe não merece que a gente deixe de se divertir por causa dele.- Ruth disse e eu prontamente concordei.
Eu não queria sair de casa, mas já que eu saí, não vou deixar que esse chato estrague o meu fim de semana... Eu vou deletar tudo que acabou de acontecer da minha mente e vou me divertir como eu nunca me diverti antes, até porque, foi exatamente pra isso que eu saí de casa.
Decidi deixar tudo aquilo que havia acabado de acontecer de lado e me dispus a me divertir... Eu nem olhei mais para o lado que o Felipe estava, mas ainda assim pude sentir que alguém me observava sem parar e algo em mim dizia que esse alguém era ele.
- Helena, eu vou ao banheiro... Você pode segurar a minha bolsa?- Ruth questionou e eu prontamente disse que sim.
- Pode ir...- Respondi já pegando a sua bolsa e todos os outros objetos.
- Não sai daqui, tá? Eu volto em um segundo.- Ela disse e rapidamente se afastou de mim caminhando em direção ao banheiro.
Eu fiquei exatamente onde ela havia me deixado, sentada em uma das banquetas do bar bebendo o meu refrigerante com gelo e limão.
- Oi! Eu posso me sentar aqui?- Pude ouvir uma voz próxima a mim e ao olhar para o lado vi que se tratava de um homem.
- Claro! Pode se sentar.- Respondi imediatamente dando um sorriso fraco e sem mostrar os dentes.
Eu até tentei voltar a prestar atenção no meu drink, mas a voz daquele homem soou novamente chamando a minha atenção.
- Você nunca veio aqui antes, não é? Eu nunca te vi por aqui...- Ele disse em uma tentativa de puxar assunto.
- Não, é a minha primeira vez aqui.- O respondi me sentindo sem graça com a forma estranha que ele me olhava.
Aquele homem era até bem bonito e afeiçoado, ele era branco, os seus cabelos eram extremamente pretos, ele parecia ser alto, seu corpo era magro e ele tinha um olhar bem marcado, mas tão marcante que chegava a me incomodar... Ele era um cara bonito, mas o seu olhar me causava um certo medo.
- É, eu imaginei mesmo que seria a sua primeira vez aqui... Eu teria te notado se tivesse te visto aqui antes.- Ele disse e pude ver um sorriso frio se formar alí em seus lábios.
Eu não sei porque, mas algo em mim me disse para não prosseguir com a conversa com aquele cara, então eu apenas acenei com a cabeça e sorri sem mostrar os dentes.
- Você é uma moça muito, mas muito linda! Será que eu poderia saber o seu nome?- Ele perguntou puxando assunto novamente.
- É, meu nome é Helena...- O respondi sem ao menos encara-lo.
- Helena, mas que nome lindo... Tão lindo quanto a dona! Você parece um anjo, sabia Helena?- Aquele homem disse e eu pude senti-lo bem próximo de mim.
Eu senti um arrepio naquele momento e imediatamente me levantei pra me afastar dele... Eu não faço a mínima ideia de quem é esse homem, mas algo me diz que eu devo ficar longe dele e a geralmente a minha intuição não costuma falhar.
- Eu tenho que ir atrás da minha amiga.- Disse dando um passo para sair dali, mas aquele homem pegou o meu braço e me segurou.
Naquele momento eu vi que eu estava presa em uma fria e pelo olhar daquele homen, eu não iria conseguir sair dali.
- Hey, calma, meu anjinho! Por acaso você está com medo de mim? Calma, tá? Eu não vou te machucar... Eu não seria burro de machucar um anjo tão lindo igual a você. Eu só quero conversar.- Ele disse sorrindo.
- Eu tenho que ir embora e eu vou ir embora! Me solte ou eu vou gritar.- Disse sendo firme e olhando bem lá no fundo dos seus olhos.
Eu achei que ele iria me soltar ao me ouvir falar, mas não, ele riu e apertou ainda mais o meu braço.
- A música está alta, meu anjo... Ninguém aqui vai te ouvir.- Ele disse ainda rindo.
Mas quem é esse homem e o que ele quer? Eu juro que não estou entendendo... Eu só quero ir embora daqui, é só o que eu quero.
- Por favor, me deixa ir...- Eu pedi com a minha voz embargada e com os meus olhos cheios de lágrima.
- Calma, meu anjinho... Eu já te disse que não vou te fazer mal. Vem, vamos dar uma voltinha comigo, eu quero conversar com você em um lugar mais calmo.- Ele disse e no segundo seguinte puxou a minha mão.
Tudo em mim entrou desespero naquele momento e eu comecei a tremer sem saber o que fazer... Eu não sabia se gritava, se tentava correr ou resistir a tudo aquilo... Eu simplesmente não tinha voz pra nada.
Mas cadê a Ruth nesse momento? Eu preciso dela aqui... Eu preciso de ajuda!
Aquele homem estava pronto para me arrastar dali, aquilo já era certo, mas de repente eu senti o meu corpo sendo puxado para trás e alguém entrou na minha frente.
- Solta ela agora!- Eu pude ouvir uma voz forte e imponente e ao levantar a cabeça, vi que se tratava do professor Felipe.
Mas ele? É sério?
Aquele homen encarou o Felipe com um ódio visível em seu olhar e mesmo com o pedido do professor, ele não me soltou.
- Cara, não se mete aonde você não foi chamado.- Aquele homem disse e ainda tentou me puxar dali, mas naquele instante o professor Felipe reagiu.
Ele imediatamente pegou a minha mão puxando-me para trás e empurrou aquele homem contra o chão.
- Eu te avisei para solta-la!- Ele disse entre dentes com uma voz tomada pela raiva.- Eu só não vou quebrar todos os dentes dessa sua boca nojenta pra não sujar minha mão com esse seu sangue de merda... Agora se levante imediatamente daí e vá embora, ou eu mesmo te colocarei daqui pra fora.- Ele ameaçou aquele homem enquanto olhava em seus olhos.
Aquele homem até tentou relutar, mas a raiva do professor Felipe era tão visível e clara, que ele não insistiu... Ele se levantou, nós encarou irritado e rapidamente deu as costas se afastando da gente... Naquele momento eu só consegui sentir um grande alívio.
Eu respirei fundo e agradeci a Deus por ter colocado o professor aqui nesse momento, se não fosse ele, eu realmente não sei o que seria de mim.
- Obrigada, professor... Muito obrigada, eu realmente não sei o que seria de mim se o senhor não tivesse aparecido aqui agora.- Eu o agradeci ainda trêmula e morrendo de medo.
Ele se virou para mim naquele momento, me encarou e balançou a cabeça de uma forma estranha.
- Toma mais cuidado, Helena... Eu não posso e não vou ficar perdendo o meu precioso tempo por sua causa.- Ele disse de forma grossa e aquilo me deixou confusa.
Mas por que ele está me tratando assim? Ele acabou de ajudar... Eu não entendo.
- Mas...- Eu até tentei falar, mas ele imediatamente deu o seu jeitinho de me interromper.
- Sem mas, Helena... Você fala demais e eu realmente não estou nenhum pouco afim de te ouvir... Olha, não pense que nós dois vamos ser amigos ou algo assim pelo que eu acabei de fazer, nada mudou entre nós.- Ele disse com um desdém visível em sua voz.
Eu fiquei paralisada encarando-o realmente sem entender porque ele era assim... Esse homem só pode ser bipolar, só pode ser isso, não tem outra explicação.
- Olha, obrigada por tudo... Eu estou realmente muito grata e nunca vou me esquecer do que o senhor fez por mim, mas eu não vou ficar mais enchendo o seu saco. Eu estou indo embora, tá? Será que você pode avisar a Ruth que eu já fui caso você a veja por aí.- Eu pedi a ele.
- Você vai embora?- Ele me questionou.
- Sim! Acho que essa noite já deu tudo que tinha que dá... Você pode avisar a Ruth?- Eu o questionei novamente.
O professor ficou em silêncio por alguns segundos ao ouvir meu questionamento, ele me encarou com um olhar estranho e soltou um longo e pesado suspiro em seguida.
- Eu... Eu... Eu te levo em casa então, está tarde demais pra você andar sozinha por aí e esse tarado imbecil ainda deve estar pela região.- O professor falou e aquilo me deixou confusa.
Como é que é? Eu realmente não estou conseguindo entender esse homem... Ele acabou de praticamente me xingar e agora está dizendo que vai me levar em casa? É, ele realmente é bipolar!
- Não precisa, professor. Eu pego um táxi, não tem perigo nenhum... Eu não quero e não vou te dar mais trabalho, o senhor já me ajudou demais por hoje.- O respondi
- Já são mais de meia noite, Helena... Você não vai pegar um táxi a esse horário, eu te levo... Já estava mesmo indo embora, eu te deixo em casa e vou pra minha casa.- Ele insistiu.
Mas por que ele está fazendo isso? Ele nem gosta de mim... Eu não entendo.
- Professor...- Eu até tentei negar, mas ele insistiu e não me deixou concluir a frase.
- Helena, pegue as suas coisas e vamos... Eu não vou te deixar andar sozinha por aí.- Ele insistiu.
Eu o encarei em silêncio por alguns segundos e pude ver em seus olhos que ele realmente não iria desistir tão fácil assim, então aceitei.
- Tá bom, tá bom, mas eu tenho que procurar a Ruth primeiro... Eu estou com as coisas dela.- Eu o respondi.
- Okay, vá procura-la e eu irei te esperar aqui.- Ele disse e prontamente concordei.
Eu imediatamente dei as costas indo atrás da Ruth, mas em um certo momento olhei para trás e os meus olhos se enc
ontraram com os seus dele... Naquele momento eu o vi de uma forma que eu nunca havia visto antes e isso fez o meu coração apertar e bater de uma forma estranha, de um jeito que ele nunca bateu antes.
Helena Um silêncio absurdo pairava sob aquele carro, o o professor Felipe não falava nada, eu menos ainda e aquela situação estava totalmente constrangedora, então eu não conseguia nem olhar para o lado, apenas mantia o meu olhar preso na avenida.Eu realmente ainda não sei o porque do professor Felipe ter me oferecido a carona e também não sei como eu aceitei, mas aqui estamos nesse momento e eu só consigo sentir um frio absurdo em minha espinha e o meu estômago embrulhar cada vez mais.Por um segundo, eu desviei o meu olhar daquela estrada e o encarei rapidamente, mas para a má sorte, ele também estava me olhando.- Você quer me dizer alguma coisa?- O professor me questionou enquanto voltava a encarar a pista.Parei de encara-lo imediatamente, eu balancei a cabeça e dei um sorriso sem graça... Eu não sabia o que dizer, muito menos como agir e me sentia nervosa feito uma adolescente.- Não, eu só queria agradecer o senhor por tudo mais uma vez...- Falei a primeira coisa que me veio
Felipe O meu corpo se encontra totalmente cansado nesse momento, eu passei as últimas doze horas de pé correndo de um lado para o outro, sem tomar um banho, dormir ou me alimentar, mas ao menos nesse plantão nós não tivemos nenhuma perda, então todo o cansaço valeu a pena, porque pra mim realmente não há nada pior do que ver um bebê ou uma criança partir.Fazem mais de cinco anos que eu atuo como cirurgião pediatra e eu me adaptei bem a essa área... Me lembro bem que na época da faculdade eu tinha dúvidas sobre qual área iria seguir, mas no meu primeiro dia de residência de pediatria cirúrgica, eu soube que era aquela área que iria seguir.Eu nunca fui fã de crianças, nunca tive sonho de ser pai e nem nada do tipo, mas eu me lembro bem que no meu primeiro dia de residência eu presenciei uma garota de três anos chorar copiosamente de dor devido a um câncer no pâncreas e eu me lembro bem que fiz uma promessa pra mim mesmo naquele momento, eu prometi que faria o possível e o impossível
Helena Parada em frente a mesinha de estudos do meu quarto, eu encaro o porta retratos com uma foto minha e do meu paizinho quando eu ainda era um bebê e sinto as lágrimas descerem por meu rosto... Eu sinto tanto a falta disso, de ter o meu paizinho aqui por perto e de ter o seu colinho, a única coisa que me conforta é saber que eu estou aqui, a caminho de realizar o grande sonho da sua vida, ter uma filha médica... Ou como ele mesmo dizia, "doutora".Sorri em meio as lágrimas ao me lembrar dos momentos felizes que vivi por anos ao lado do meu, naquele momento uma certa tranquilidade tomou conta de mim e algo me disse que mesmo ele não estando mais aqui, o meu pai ainda toma conta de mim e lá no fundo, eu sei o quanto isso é real.- Eu te amo, paizinho e eu nunca vou me esquecer de você.- Disse sorrindo enquanto as lágrimas desciam e deixei um beijo em nossa foto.Eu ainda olhava aquela foto, quando de repente a porta do meu quarto foi aberta e a minha única reação foi secar as minha
Felipe Nesse exato momento eu me encontro dentro do maldito restaurante que a Helena trabalha... Hoje é sábado, são mais de nove horas da noite e o local está completamente vazio... O que eu estou fazendo aqui? Eu simplesmente não faço ideia!Desde que descobri que Helena trabalha nesse lugar, algo me move e me trás pra cá todo santo dia... Eu não sei porque e nem como, mas eu já não consigo passar um dia sem vir pra cá e ver essa garota... Talvez eu esteja enlouquecendo, acho que essa é a única explicação plausível.Eu vejo essa garota insuportável de segunda a sexta feira, devo estar fora de mim pra ter a bebida ideia de vir pra cá aos fins de semana também... Só pode ser isso!- O senhor deseja mais alguma coisa? A cozinha vai fechar daqui a dez minutos.- Helena se aproximou de me questionando com uma cara de poucos amigos.É visível o quanto essa garota está incomodada e infeliz com a minha presença por aqui, mas quanto a isso, não há absolutamente nada que eu posso fazer.- Huuu
Helena Eu realmente não sei o que deu em mim nos últimos segundos... Em um momento eu estava praticamente brigando com o idiota do professor Felipe e no outro eu estava em seus braços, como? Eu simplesmente não faço ideia! Mas nesse exato momento eu estou totalmente entregue a ele.Os meus braços estão envoltos em seu pescoço, sinto as suas mãos firmes aqui em minha cintura e os seus lábios estão juntos aos meus... Eu sei que isso é errado e que eu não deveria estar fazendo isso de maneira alguma, mas cá estou, em seus braços e sem a minina força para sair daqui.O professor Felipe separou os seus lábios dos meus de repente, ele me encarou com uma certa escuridão em seus olhos, pude ver o quanto a sua respiração estava forte e ofegante e o seu rosto vermelho.- Então, vamos?- Ele falou desarmando o alarme do carro.Vamos? Mas pra onde!- Pra onde?- O questionei confusa.Felipe me encarou por alguns segundos, soltou uma gargalhada rápida e balançou a cabeça.- Ué, pra minha casa.- Ele
#Bônus PatríciaSentada em meu escritório encaro toda aquela papelada sem saber ao menos o que fazer... Ultimamente as coisas não tem sido fáceis aqui em casa e está bem complicado pagar todas as contas da casa, manter os funcionários e ainda bancar a faculdade da minha filha, então estamos tendo que nos virar em mil... O meu marido é advogado e ele tem um escritório no centro da cidade, mas o movimento por lá anda fraco demais e isso tem feito as coisas apertarem muito por aqui... Eu nunca fui muito de trabalhar e também não quero que minha filhinha vá pra labuta, então só existe uma coisa que pode me tirar de todo esse aperto.- Patrícia, estou indo para o escritório... Vou ficar por lá até mais tarde hoje pra tentar adiantar alguns trabalhos.- Ronaldo, o meu marido, adentrou pelo nosso escritório me avisando.Imediatamente me virei em sua direção e logo me levantei indo até ele... Eu pedi que ele fizesse algo por mim e preciso saber se isso foi feito!- Querido, você preparou aquil
Felipe Parado ao lado daquela maca, observo aquela garotinha dormir profundamente e checo os seus sinais vitais... A última noite por aqui foi longa e totalmente cansativa, nós quase perdemos uma paciente e demos o nosso sangue e raça para salva-la, mas no fim, tudo deu certo e aqui ela está... Ela está viva e estável no momento e se depender de mim, assim ela continuará.- Doutor Ávila, pode ir descansar... Eu fico aqui com a menina e prometo cuidar muito bem dela, como se ela fosse a minha filha.- Gisele, minha enfermeira auxiliar disse ao se aproximar de mim.Não sei exatamente o porque, mas não queria sair de perto daquela menina... Ela estava sozinha alí, sem a mãe, pai ou outra companhia qualquer e isso me deixava tão pensativo... Uma garotinha tão pequena, ingênua e indefesa sozinha dentro de um hospital... Olhar pra ela me faz ter reflexos da minha infância, me faz lembrar de todos os momentos que eu estava machucado e ninguém estava alí por mim.- Não se preocupem, vou ficar
Helena Hoje é uma rotineira noite tranquila de quinta feira e nesse exato momento já são mais de nove da noite, então o restaurante já está praticamente vazio e um silêncio absurdo tomou conta desse lugar... De trás do balcão, eu observo tudo com atenção me sentindo totalmente entediada.Eu já fiz absolutamente tudo que tinha pra fazer por aqui... Já limpei as mesas, lavei os banheiros, lavei todas as louças sujas que haviam na cozinha e ainda assim faltam mais de uma hora para eu ir embora... Já não sei mais o que fazer pra que o tempo passe logo.Dei uma olhada no relógio da parede e percebi que era nove e quinze da noite naquele momento... Estranho!Eu não estou reclamando e nem nada, muito pelo contrário, estou até aliviada! Mas fazem mais de uma semana que o Felipe não vem aqui... Até alguns dias atrás ele vinha religiosamente ao restaurante, as nove em ponto ele passava por aquela porta e só ia embora quando o restaurante fechasse, mas de alguns dias pra cá ele não veio mais...