Capítulo 06

_______________________________________________RICK

— Você precisa pegar leve com ela, Rick. — Ron falou me encarando enquanto bebíamos um pouco de Uísque atrás do set.

— Não dá, como que substituíram a Alicia por isso? — Falei revoltado.

— Não. Ela é incrivelmente boa. Você quem não quer enxergar. — Ron deu de ombros desviando o olhar. — Talvez seja porque a Alicia tenha dormido com você desde o primeiro dia e por isso tinha mais química. E pelo fato de que essa mulher nunca dormiria com você.

— Eu é quem nunca dormiria com ela. Ela não faz o meu tipo nem de longe! — Falei rispidamente. — E a Alicia era milhões de vezes mais talentosa. Ela é um robô. Não tem emoção. — Falei bebendo mais um gole do meu Uísque.

—Cara, isso vai dar em paixão. — Ele riu.

— Olha bem pra mim, Ron. Eu sou o tipo de cara que se apaixona? — Arqueei uma das sobrancelhas.

— Para mim, não era. Até a Jilean chegar e parar seu mundinho autoconfiante. — Ele ironizou.

— Minha autoconfiança está em dia, obrigado. — Bufei.

— Siga a dica do diretor. Saia com ela algumas vezes. — Ron falou me encarando de canto. — Conversem, tenho certeza que vai ajudar. Só por favor, mantenha-a fora de seus lençóis. Ela parece ser o tipo de garota que se torna inesquecível depois de uma noite.

— Ela é totalmente esquecível. — Debochei. — Não sei o que você tanto viu nela. Sério. E não, não a quero em meus lençóis.

— Que bom, será a única garota no set que ainda não dormiu com você. — Ron caçoou.

— Alto lá, a Julie também não. — Brinquei com um sorrisinho de canto.

— Isso porque ela é muito bem casada e não cai nos seus encantos. — Ron gargalhou.

 — É. Uma santa. Linda, mas uma santa. — Assenti.

— Você não presta. — Ron balançou a cabeça negativamente.

— Eu escuto isso todos os dias e passou a ser um elogio. — Falei dando dois tapinhas no ombro dele. — Preciso ir, tenho compromisso essa noite.

— Mulheres... — Ron resmungou.

— O que seria da minha vida sem elas. — Falei enquanto me afastava.

Tomei um banho rápido no set, coloquei uma calça jeans preta, uma camisa de botão social dobrando a manga até o cotovelo e comi alguma coisa rápida. Ignorei uma chamada do meu pai e dirigi até a For You, seria a primeira vez que voltaria lá desde a despedida do Dylan, mas eu não consegui parar de pensar na tal Nyx, ela possuía meus sonhos mais imorais durante a noite. Eu tinha que vê-la novamente. Para completar meu pai tinha vindo me visitar e eu sentia que podia explodir a qualquer momento, precisava relaxar...

“— Até quando você vai seguir com essa brincadeirinha estúpida? — Ele disse enquanto almoçávamos num restaurante qualquer da cidade.

— É o meu trabalho, pai. E em algum momento o Senhor precisará aceitar isso. Era o nosso acordo, lembra? Eu consegui o papel.

— A empresa precisa de você. — Meu pai disse com sua expressão dura de sempre. — Você é filho único e herdeiro da família, precisa assumir os negócios, e se casar. Daqui a pouco terá trinta anos e tudo que terá vivido será uma vida de ilusões passageiras e vulgaridades.

— Pelo amor de Deus, papai. Eu não vou me casar, não vou assumir os negócios da família. E seu casamento é um exemplo de moralidade né? Principalmente quando a mamãe se faz de cega para as suas secretárias. Quantas foram só esse ano? — O encarei arqueando uma das sobrancelhas. Sabia que havia tocado em seu ponto fraco.

— Já chega, Alarick. — Ele falou deixando o garfo e a faca cair sobre a mesa. — Está impossível conversar com você desta maneira.

— Talvez porque o Senhor não escuta ninguém alem de si mesmo. — Bufei.

— Preste bem atenção, você carrega o sobrenome da família. A sua reputação está atravessando a minha credibilidade. Você está me envergonhando. Então trate de arrumar uma namorada e esconder toda a sua vulgaridade! Ou nós arrumaremos uma para você. — Ele disse em tom calmo e ameaçador.

— Que nem a mamãe? — Ironizei.

Aquilo foi o pico que o fez levantar da mesa e ir embora sem terminar a refeição. Larguei o garfo e a faca deixando meu corpo esmorecer sobre a cadeira. Respirei fundo.

1.2. 3.

Eu realmente estava a ponto de surtar.

______________________________________________JILEAN

— Está pronta? — Mariah apareceu na porta.

— Quantos minutos? — Perguntei a encarando.

— Cinco. — Ela falou.

— Estou indo. — Respondi.

Quando a porta se fechou me deixando sozinha novamente, me encarei no espelho. Eu estava divina. Como o tema era livre, eu havia colocado um croped trançado na frente dando volume aos meus seios, uma gargantilha de couro no pescoço, uma saia de babado que deixava um pouco da minha calcinha a mostra, e uma meia calça lisa que contrastava com meu salto gladiador de bico fino. Toda a minha vestimenta era sempre preta em contraste com a minha personagem, e eu fazia o máximo para que todas as minhas vestimentas tivessem em sua maioria couro sintético. Eu sentia que o couro sempre modelava o meu corpo e contrastava com o ambiente sempre escuro. Passei a mão na peruca e logo após ajeitei a mascara. Respirei fundo. A Nyx estava pronta.

Saí do camarim pronta para mais um espetáculo. Dessa vez optei por deixar o ambiente todo escuro de inicio, com apenas uma luz fraca no palco. Assim eu não poderia ver o cliente e ele só veria a silhueta de meu corpo durante a dança. O que tornaria o clima mais sensual. As luzes se acenderiam em um determinado ponto da dança, revelando assim a Nyx e iniciando meu strip juntamente com a finalização da minha apresentação. Tudo era sempre cronometrado, todo o espetáculo era orquestrado por mim, era o que me fazia ser boa. Eu repassava cada passo detalhado em casa e falava para Mariah tudo que eu precisava para fazer meu espetáculo imaginário se tornar real. A maioria das garotas da For You fazem programa, e como eu não queria, tive que tornar as minhas apresentações algo inesquecível, assim eu conseguiria ganhar mais e marcar presença dentro da casa de strip. No começo tive que ser como as outras garotas, mas com o tempo eu marquei meu lugar e fiz exigências. Eu não suportava o fato de chegar em casa, encarar a Agnes e saber até que ponto eu estava indo para não deixá-la com fome e sem um teto confortável. Não suportava fechar os olhos e ver a mão dos caras sobre meu corpo, seu controle sobre mim me abria gatilhos e crises de choro intensas sobre a madrugada. Então eu decidi que mudaria. Na noite em que criei o meu primeiro espetáculo foi quando pensei em minha mãe e me deixei sentir a saudade que tanto sentia desde que ela se foi.

“— Es una chica increíble.. — Ela me disse enquanto me abraçava numa madrugada.

— Eu puxei a senhora, mama. — Sorri com aquilo.

— te quiero hasta la luna y más Allá. — Ela sussurrou em meu ouvido. — Saiba sempre disso. Você é o meu oxigênio, minha Lucy. E eu sei que conquistará o mundo, se quiser. Você pode fazer isso.

—Te amo más que a nada, mamá. — Repeti com um sorriso e o coração quentinho carregado daquelas palavras. — Conquistaré el mundo y lo pondré a tus pies.

— Se colocá-los aos seus, estarei satisfeita. Minha Lucy. — Ela beijou o topo de minha cabeça e aninhadas uma á outra como se fossemos uma só, dormimos.

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