_______________________________________________________________________________JILEAN
Acordei num sobressalto com meu celular tocando, o peguei ainda sonolenta.
— Alô... — Respondi suprimindo um bocejo.
— Alô. Lucy Jilean? — Uma voz desconhecida falou do outro lado.
— Sim. Quem gostaria? — Perguntei confusa. Fazia um século que ninguém me chamava por Lucy, até mesmo na chamada meus professores haviam acostumado a me chamar só de Jilean.
— Aqui é da Central Works, você foi indicada pelo diretor do seu curso de artes para um papel em um dos nossos filmes. — A mulher falou me fazendo acordar imediatamente. — Gostaríamos de saber se você tem disponibilidade para uma audição de emergência agora pela manhã.
— Claro, claro. — Falei. — O horário?
— As 09h00min, tudo bem? — A mulher perguntou.
— Sim. Estarei ai. Muito obrigada mesmo! — Falei tentando não transparecer os saltos que meu estômago estava dando por segundos.
— Ok. Fico no aguardo. Passarei o endereço e um P*F contendo algumas falas para a audição pelo e-mail fornecido em seu portfólio do curso. — Ela falou.
— Ok. — Assenti mesmo sabendo que ela não tinha como me ver.
— Boa sorte, Lucy. — A mulher falou antes de desligar o telefone.
Eu me levantei num salto e pulei de alegria por alguns minutos, parando ao encarar o relógio que já apontava 07h00min da manhã. Fui até o quarto da Agnes a acordando com beijinhos.
— Você precisa levantar, meu amor. — Falei quando ela abriu os pequenos olhos ainda sonolentos.
— Por quê? — Agnes fez um biquinho fofo.
— Porque vai se atrasar para a escola, e eu também tenho compromisso.
— Ah não... — A menina falou bufando e voltando a fechar os olhos.
— Vamos querida, levante-se. Já são 07h00min e precisamos pegar o ônibus das 07h30min.
A menina suspirou e me encarando se sentou na cama.
Beijei sua testa e saí do seu quarto dando-a um tempo para acordar totalmente. Dei banho na Agnes e aprontei seu cereal ao leite... Enquanto ela tomava café, eu tomei o meu banho colocando um vestido tubinho com um casaco por cima e um sapato. Peguei minha bolsa colocando meu netbook rosa e minha agenda para anotações, esse kit me daria tempo para estudar as falas no metrô. Peguei o ônibus juntamente com a Agnes ás 07h30min e a deixei na escola a tempo de pegar o metrô das 07h50min. Quando finalmente consegui um lugar no metrô, vinte minutos depois, abri meu netbook e coloquei no P*F contendo as falas. Eram apenas cinco falas fáceis e não dizia nada sobre o papel que eu faria. Agradeci mentalmente ao meu diretor por aquela oportunidade. Eu havia feito curso técnico de artes cênicas por dois anos, mas a área não era fácil, cheguei a fazer alguns papeis não importantes e depois tive que me virar do meu jeito para sustentar a casa e a Agnes.
Cheguei ao set de filmagem onde aconteceria a audição as 09h20min e logo a mesma moça que falou comigo no telefone me recepcionou, o teste foi fácil e os dois anos de curso me mostraram que eu escolhi o lugar certo para me profissionalizar. Eu já havia feito alguns papeis como figurante... Mas só após chegar ao set e passar na audição é que eu descobri que esse seria o papel que daria uma guinada na minha carreira, eu seria protagonista. A atriz contratada para aquele papel havia se acidentado há duas noites e por isso eu iria substituí-la no papel de secretária do CEO. Eu estava vibrando com aquela oportunidade.
— Me chame de Julie. — A mulher se apresentou. — Irei lhe apresentar o set e todos com quem você irá trabalhar.
— Ok. — Assenti ao seu lado. —Me chame apenas de Jilean, por favor.
— Tudo bem, Jilean. — Julie sorriu para mim.
Logo após irmos ao RH para que eu pudesse assinar o contrato, seguimos agora para o set onde a filmagem do filme estava acontecendo. Ela foi me apresentando os setores e algumas pessoas que já estavam lá as 11h00min. Eu estava amando aquilo tudo, era demais para ser verdade!
A Julie estava me apresentando alguns colegas de equipe quando ele entrou como um furacão. Meu coração parou. O desconhecido de três dias atrás, ele estava ali, vindo em minha direção. Respirei fundo e desviei o olhar.
— Ah sim, Rick, venha até aqui. — Julie falou chamando o homem. Analisando-o de perto, agora eu poderia enxergar sem as luzes vermelhas que cobriam seu rosto, ele tinha cabelo liso de tom loiro escuro cortado em dégradé, o que o deixava completamente charmoso. Não tinha barba, apenas resquícios de um bigode e cavanhaque discreto. Aparentava ser tão jovem quanto eu, talvez seus vinte e quatro anos...
— O que está acontecendo? — Ele perguntou confuso, completamente sério. Me encarou por alguns segundos e desviou o olhar. Seus olhos eram de cor azul. Um azul cativante.
— Essa é a Jilean, ela vai substituir a Alicia no papel. — Julie falou com um sorriso amigável.
— Ah então, é real mesmo? — Ele bufou.
— Realissimo. — A moça respondeu revirando os olhos. — Não vai cumprimentar o seu par romântico?
— Oi. — Ele me encarou novamente e voltou a olhar o celular que apitou.
— Oi. — Falei suspirando e arqueando uma das sobrancelhas disfarçadamente.
Algo em minha voz fez ele me encarar novamente, temi que ele tivesse me reconhecido. Então novamente como se tivesse voltado à realidade ele voltou a encarar o celular.
— Pediram que eu viesse. — Ele disse por fim direcionando o olhar para Julie.
— O RH vai te manter a par da substituição da Alicia. — Julie falou. — Depois disso você está liberado, mas esteja aqui novamente ás 18h00min.
— Ok. Ok. — Ele assentiu e sem ao menos se despedir, saiu pisando firme para fora do set.
— Bom Jilean, você tem a opção de ignorá-lo fora do set. Ele é um ator incrível, estudou numa das mais renovadas universidades do país e seu pai é um milionário de boa reputação. Mas fora isso, ele sabe ser ordinário quando quer e você não vai escutar muitas coisas boas sobre a reputação dele, então o mantenha longe de sua cama. — Ela me advertiu.
— Com prazer. — Assenti bufando. O cara realmente havia sido um mal educado. Bem diferente da noite anterior... Eu definitivamente precisaria esquecer seu olhar sobre mim e seu toque em meu corpo.
_________________________________________________RICK Acordei num sobressalto com o celular tocando, quando abri os olhos eu nem ao menos sabia onde estava. Havia uma desconhecida nua ao meu lado. — Quarto de hotel. — Resmunguei voltando a fechar os olhos por um momento. Abri-os novamente com a incessante chamada do meu celular. — Alô... — Atendi. — Rick. Preciso que venha até o set. — Uma voz conhecida falou. — Para? — Perguntei ainda meio tomado de sono. — Só venha até aqui. O mais rápido que puder. — Ok. — Falei desligando o telefone em seguida. Tentei me lembrar de tudo que havia acontecido na noite anterior. Nada. A mulher ao meu lado abriu os olhos. — Você é? — Perguntei tentando soar o mais natural possível. — Sheila. — Ela respondeu sonolenta. — Bom dia, Sheila. Desculpe-me, mas preciso ir. — Falei me levantando. — Você não vai me ligar, não é? — Ela perguntou agora me encarando. — Você quer que eu minta ou que seja sincero? — Respondi enquanto colocava minhas calça
_______________________________________________RICK — Você precisa pegar leve com ela, Rick. — Ron falou me encarando enquanto bebíamos um pouco de Uísque atrás do set. — Não dá, como que substituíram a Alicia por isso? — Falei revoltado. — Não. Ela é incrivelmente boa. Você quem não quer enxergar. — Ron deu de ombros desviando o olhar. — Talvez seja porque a Alicia tenha dormido com você desde o primeiro dia e por isso tinha mais química. E pelo fato de que essa mulher nunca dormiria com você. — Eu é quem nunca dormiria com ela. Ela não faz o meu tipo nem de longe! — Falei rispidamente. — E a Alicia era milhões de vezes mais talentosa. Ela é um robô. Não tem emoção. — Falei bebendo mais um gole do meu Uísque. —Cara, isso vai dar em paixão. — Ele riu. — Olha bem pra mim, Ron. Eu sou o tipo de cara que se apaixona? — Arqueei uma das sobrancelhas. — Para mim, não era. Até a Jilean chegar e parar seu mundinho autoconfiante. — Ele ironizou. — Minha autoconfiança está em dia, obriga
_________________________________________________RICK Eu estava bebericando meu vinho enquanto encarava o ambiente vermelho a minha volta quando a luz se apagou. Meu coração acelerou como nunca e eu estreitei os olhos para o palco onde uma luz mínima iluminava o ambiente. Então ela surgiu, numa pose de lady completamente sexy. Seu corpo numa meia lua proposital, uma de suas pernas parada mais a frente exaltando toda a curva de seu quadril, sua cabeça pendida para trás como se estivesse numa posição de infinito prazer. Quando a musica começou a tocar, sua mão iniciou uma jornada dolorosamente lenta da sua coxa até o seu pescoço, enquanto sua cintura se movia quase que imperceptivelmente para frente e para trás. E então, como uma hipnose sexual, meus olhos não desgrudaram mais de seu corpo formado apenas por sua silhueta. Cada detalhe, movimento, tudo... Minha respiração estava lenta e entrecortada, meu corpo era como um produtor das mais perigosas drogas, era como se eu estivesse em um
________________________________________________RICK Quando as luzes voltaram a se acender, eu estava com a camisa aberta, peitoral amostra e pronto para ter um ataque de tanto prazer. Eu estava tão excitado que chegava a doer e eu nunca havia experimentado o que acabara de acontecer com mulher nenhuma, eu poderia gozar facilmente sem estar dentro dela. Somente por vê-la dançar! Ter tocado o seu corpo me deixou dolorido de tesão. Eu queria desesperadamente terminar o que havíamos começado. Minhas mãos ansiavam por tocar todas as outras partes de seu corpo, minha boca queria saboreá-la por completo, eu me vi imaginando as maiores vulgaridades quando uma gargalhada irrompeu minha garganta. Passei as mãos pelo cabelo... Se meu pai visitasse meus pensamentos agora, ai sim, ele teria motivo para me chamar de vulgar, imoral e todos os outros adjetivos mais. Abotoei minha camisa novamente e saí da sala 12 me despedindo da recepcionista. Eu precisava chegar em casa o mais rápido possível par
_________________________________________________RICK Dois dias e ela insistia em me visitar durante a noite, com seus olhos marcados pela máscara e sorriso de canto pervertido. Meus sonhos insistiam em captar as selvagerias mais imorais possíveis. Levantei da cama encharcado de suor e peguei meu celular discando um número desconhecido. — Quem morreu? — Jack falou com uma voz rouca e sonolenta. — Eu irei se não sair agora. Preciso de diversão, estou enlouquecendo. — Falei indo até a minha varanda e visualizando o mar a minha frente. — É 02h00min da manhã, Rick. Pelo amor. — Jack resmungou. — Vamos, hoje é domingo. — Falei em tom dramático. — Exato. E amanhã nós dois trabalhamos cedo. Eu não sou filho de um bilionário. — Ele falou revoltado. Pude visualizá-lo revirando os olhos e aquilo me fez rir. — Tem alguém em sua cama agora, não tem? — Perguntei em tom provocativo. — Vai á merda, Rick. — Ele falou, mentalizei um sorriso descontraído. — Não sou eu. — Falei fazendo um biquin
_ _______________________________________________JILEAN Pela primeira vez o set estava calmo o suficiente, minhas cenas estavam mais naturais porque eu estava sozinha... Sim. O Rick estava atrasado há uma hora, e isso era ótimo porque eu podia ter paz. Estava ensaiando as cenas solitárias da minha personagem quando ele entrou, desgrenhado e com um óculo escuro no rosto. Parecia nem sequer ter dormido. — Bom dia. — Me cumprimentou. Sua voz rouca e baixa. — Bom dia. — Falei não encarando o seu rosto. Principalmente porque ele estava completamente sexy bagunçado daquele jeito e aquilo havia me lembrado de minhas mãos em seu peitoral nu numa sala completamente vermelha e sua expressão de prazer com meu toque. Estremeci. Eu precisava lembrar que aquela era a Nyx e não eu, e que aquele Rick á minha frente era o homem mais babaca que eu já havia conhecido em toda a minha vida. — Então, o que vamos ensaiar hoje? — Ele perguntou tirando os óculos e me encarando. — A cena em que nos conhe
_______________________________________________JILEAN — Eu espero que sim. — O encarei. Ele era tão diferente do Rick. — Como alguém como você pode ser amigo de alguém como ele? — Perguntei fazendo o Rick me encarar com uma sobrancelha arqueada. — Como é? — Rick bufou. — Ah é que este Rick é diferente do Rick meu amigo. — Jack piscou. — E eu não sou uma mulher. — Ele riu. — Eu estou aqui. — Rick falou com uma careta. — Sério, ele tem um bom coração, bem no fundo. Se você cava bem, bem, bem, bem, bem... — Jack disse. — Eei... — Rick o interrompeu segurando o riso. — Bem no fundo. — O moreno finalizou me fazendo gargalhar. — Entendi. — Falei quando consegui parar. — Como vocês se conheceram? — Somos amigos desde sempre. — Jack falou agora como se conseguisse visualizar os primeiros momentos de amizade com seu melhor amigo. — Somos um trio. — Ele começou. — Essa não... — Rick suspirou bebendo um pouco de seu frappuccino que a essa altura veio acompanhado de outro garçom. — Eu,
_______________________________________________JILEAN —...Eu acho que o erro está nesta parte. — Rick falou apontando para uma parte roteiro escrito enquanto estávamos sentados um ao lado do outro no banco da BK com nossos combos. — Sim. — Concordei comendo uma batata. — Eu também acho, acredito que se você me abraçasse por trás e encarasse a câmera pegaria mais o rosto de sofrimento dos dois. — Eu também acho. É um momento decisivo, precisa captar a emoção que ambos estão sentindo. Não dá pra ficar girando a câmera num momento como esse. — Eu acho que essa parte do giro poderia ser quando você me j**a na mesa. — Falei agora mostrando-o no roteiro. — É mais emocionante. — É. — Ele me encarou e engoliu em seco. Nós dois nos entreolhamos por um momento, eu desviei o olhar. Ele pigarreou. — Podemos passar essa idéia para o diretor! — Ele falou agora voltando a encarar o roteiro. — Claro. — Falei bebendo meu milk-shake. Já estávamos no fim da semana combinada e de fato havia se to