Capítulo 1

Renzo

O suor escorria pela minha pele enquanto realizava flexões, sentindo a queimação nos músculos das costas. Cada repetição era uma forma de liberar a tensão, enquanto a contagem mental persistia, uma busca por superação pessoal. O foco estava inteiramente na rotina de exercícios, até que a porta se abriu.

Por um breve momento, interrompi a contagem, uma expectativa silenciosa preenchendo o ar, até me dar conta de que já havia algum tempo que a esperava entrar por aquela porta e que agora já não estava tão ansioso como antes.

Nitidamente estava apaixonado por um mulher que via constantemente em uma boate, dançando para um bando de pervertidos sem qualquer preocupação, sem ao menos ser uma das funcionárias daquele lugar, parecia que assim como eu, só queria encontrar uma distração.

Continuo me exercitando, quando ela para do meu lado.

— Não esperava ver você hoje.

         Ela solta o ar dos pulmões, deixando a bolsa de lado, juntamente com uma pasta parda.

— Tenho um trabalho para você — Um breve silêncio se instala, enquanto continuo com as flexões — Poderia...? — Paro de repente, me pondo de pé no instante seguinte — Paul Rivera está morto e estão começando a acreditar que tem haver com terroristas, dada a última operação em que ele esteve — Ando até a mesinha de centro, pegando a garrafa de água que havia ali, bebendo praticamente todo o líquido.

— E onde entro nisso? — pergunto, secando o suor do meu rosto com uma toalha de rosto.

— A filha dele, Yulia, precisa de proteção — Ela inclina a cabeça para o lado, os olhos fixos no vazio — Filha de um agente da CIA, podem tentar usar isto contra o governo — Fixo meu olhar na janela, mantendo o cenho franzido — Ela é só uma criança, Renzo. Não merece morrer.

Proteger alguém não era novidade para mim; ao contrário, era algo que já havia feito dezenas de vezes. Minha experiência nesse campo sempre me colocava como a escolha indicada para tal tarefa. Yulia, por sua vez, não era a primeira pessoa que eu decidira proteger, nem a primeira a ser respingada pela sujeira de outra pessoa.

— Quando começo?

— Ainda hoje — Ouço ela se aproximar — Poderia chamar o Rocco mas... ~Ela coloca a mão em meu ombro, o corpo  próximo o bastante do meu para sentir o perfume que ficou gravado por meses em minha mente — confio em você e o Rocco...

— Melhor deixar ele fora disso — digo sério, evitando sustentar seu olhar. Mas não foi o suficiente para a manter longe, sinto suas mãos em meu rosto e seus lábios roçarem nos meus, esperando que retribuísse um beijo que ansiei por muito tempo e que agora já não parecia ter tanta importância — Está tudo bem? — pergunta se afastando.

— Você some durante meses, nem uma ligação ou mensagem e quando aparece me pergunta se está tudo bem? — Tiro suas mãos do meu rosto, me afastando.

— As coisas estavam complicadas.

— Será que estavam mesmo ou queria terminar o que tínhamos?

— Você ouviu o que acabei de dizer?! — Ela fixa o olhar em mim, esperando por uma resposta.

— O que ouvi é que tem um trabalho para mim, apenas isto — Meus olhos vagam pelo chão, antes de sustentar o olhar dela — Você parece que precisa de mais um tempo e eu também.

          Ela assenti, evitando fazer contato visual enquanto pegava a bolsa e passava por mim.

— Não se atrase. Esteja lá as 17 horas e não se esqueça de ler as informações sobre ela — E sem esperar uma resposta, ela sai, deixando para trás a sensação de que nunca esteve ali.

          Um banho gelado foi o necessário para organizar meus pensamentos e me preparar. Depois disso, só precisei vestir um dos meus ternos pretos e checar as armas.

Verifico uma por uma, no meu ritual básico antes de qualquer trabalho, odiava contra tempo e preferia nem que fosse uma falsa sensação que tinha tudo sob controle, isto incluía a pessoa que deveria proteger.

Com uma rápida olhada em minha bolsa, certifico-me de que tudo está em seu devido lugar. A checagem mental se completa, confirmando que estou pronto para seguir em frente. Cada detalhe de minha preparação é revisado, desde os objetos mais simples até os elementos mais cruciais para o trabalho.

Apesar do desejo persistente de desvendar mais sobre a misteriosa garota da boate, percebo que esta é uma oportunidade única para me distrair e tentar diminuir a obsessão por alguém que mal conheço. O fascínio que ela exerce sobre mim, criou uma teia de curiosidade que parece difícil de escapar.

 Talvez, ao me envolver em novas experiências ou focar em outros aspectos da minha vida, consiga afastar temporariamente a sombra da desconhecida dançarina.

Antes de seguir em frente, ainda havia uma última tarefa a ser realizada. Sento-me no sofá e pego a pasta contendo as informações sobre Yulia. Ao folhear os documentos, percebo em poucos segundos que a garota da boate não sairia tão cedo da minha mente.

Incrivelmente o destino estava brincando comigo e teria que escolher se iria querer proteger a mulher que estava em todos os meus pensamentos ou não.

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