Renzo
O suor escorria pela minha pele enquanto realizava flexões, sentindo a queimação nos músculos das costas. Cada repetição era uma forma de liberar a tensão, enquanto a contagem mental persistia, uma busca por superação pessoal. O foco estava inteiramente na rotina de exercícios, até que a porta se abriu.
Por um breve momento, interrompi a contagem, uma expectativa silenciosa preenchendo o ar, até me dar conta de que já havia algum tempo que a esperava entrar por aquela porta e que agora já não estava tão ansioso como antes.
Nitidamente estava apaixonado por um mulher que via constantemente em uma boate, dançando para um bando de pervertidos sem qualquer preocupação, sem ao menos ser uma das funcionárias daquele lugar, parecia que assim como eu, só queria encontrar uma distração.
Continuo me exercitando, quando ela para do meu lado.
— Não esperava ver você hoje.
Ela solta o ar dos pulmões, deixando a bolsa de lado, juntamente com uma pasta parda.
— Tenho um trabalho para você — Um breve silêncio se instala, enquanto continuo com as flexões — Poderia...? — Paro de repente, me pondo de pé no instante seguinte — Paul Rivera está morto e estão começando a acreditar que tem haver com terroristas, dada a última operação em que ele esteve — Ando até a mesinha de centro, pegando a garrafa de água que havia ali, bebendo praticamente todo o líquido.
— E onde entro nisso? — pergunto, secando o suor do meu rosto com uma toalha de rosto.
— A filha dele, Yulia, precisa de proteção — Ela inclina a cabeça para o lado, os olhos fixos no vazio — Filha de um agente da CIA, podem tentar usar isto contra o governo — Fixo meu olhar na janela, mantendo o cenho franzido — Ela é só uma criança, Renzo. Não merece morrer.
Proteger alguém não era novidade para mim; ao contrário, era algo que já havia feito dezenas de vezes. Minha experiência nesse campo sempre me colocava como a escolha indicada para tal tarefa. Yulia, por sua vez, não era a primeira pessoa que eu decidira proteger, nem a primeira a ser respingada pela sujeira de outra pessoa.
— Quando começo?
— Ainda hoje — Ouço ela se aproximar — Poderia chamar o Rocco mas... ~Ela coloca a mão em meu ombro, o corpo próximo o bastante do meu para sentir o perfume que ficou gravado por meses em minha mente — confio em você e o Rocco...
— Melhor deixar ele fora disso — digo sério, evitando sustentar seu olhar. Mas não foi o suficiente para a manter longe, sinto suas mãos em meu rosto e seus lábios roçarem nos meus, esperando que retribuísse um beijo que ansiei por muito tempo e que agora já não parecia ter tanta importância — Está tudo bem? — pergunta se afastando.
— Você some durante meses, nem uma ligação ou mensagem e quando aparece me pergunta se está tudo bem? — Tiro suas mãos do meu rosto, me afastando.
— As coisas estavam complicadas.
— Será que estavam mesmo ou queria terminar o que tínhamos?
— Você ouviu o que acabei de dizer?! — Ela fixa o olhar em mim, esperando por uma resposta.
— O que ouvi é que tem um trabalho para mim, apenas isto — Meus olhos vagam pelo chão, antes de sustentar o olhar dela — Você parece que precisa de mais um tempo e eu também.
Ela assenti, evitando fazer contato visual enquanto pegava a bolsa e passava por mim.
— Não se atrase. Esteja lá as 17 horas e não se esqueça de ler as informações sobre ela — E sem esperar uma resposta, ela sai, deixando para trás a sensação de que nunca esteve ali.
Um banho gelado foi o necessário para organizar meus pensamentos e me preparar. Depois disso, só precisei vestir um dos meus ternos pretos e checar as armas.
Verifico uma por uma, no meu ritual básico antes de qualquer trabalho, odiava contra tempo e preferia nem que fosse uma falsa sensação que tinha tudo sob controle, isto incluía a pessoa que deveria proteger.
Com uma rápida olhada em minha bolsa, certifico-me de que tudo está em seu devido lugar. A checagem mental se completa, confirmando que estou pronto para seguir em frente. Cada detalhe de minha preparação é revisado, desde os objetos mais simples até os elementos mais cruciais para o trabalho.
Apesar do desejo persistente de desvendar mais sobre a misteriosa garota da boate, percebo que esta é uma oportunidade única para me distrair e tentar diminuir a obsessão por alguém que mal conheço. O fascínio que ela exerce sobre mim, criou uma teia de curiosidade que parece difícil de escapar.
Talvez, ao me envolver em novas experiências ou focar em outros aspectos da minha vida, consiga afastar temporariamente a sombra da desconhecida dançarina.
Antes de seguir em frente, ainda havia uma última tarefa a ser realizada. Sento-me no sofá e pego a pasta contendo as informações sobre Yulia. Ao folhear os documentos, percebo em poucos segundos que a garota da boate não sairia tão cedo da minha mente.
Incrivelmente o destino estava brincando comigo e teria que escolher se iria querer proteger a mulher que estava em todos os meus pensamentos ou não.
YuliaMeu pai estava morto.Na verdade meus pais estavam mortos. E diferente do funeral da minha mãe, não chorei no funeral do meu pai, talvez por que já estive acostumada com a ausência dele que, sempre era recompensada por dinheiro, altas quantias de mesada e presentes caros.Não o culpo, ele tentava equilibrar o trabalho e o fato de ser pai e mesmo sem ele querer, mais uma vez a ausência dele seria substituída por mais dinheiro.Ouvi sem expressar qualquer emoção todas as palavras referente ao meu luto, inclusive dos chefes do meu pai e apesar de tentar transparecer que não havia nada para se preocupar, a expressão da minha madrasta, Kate, deixava a entender de que as coisas não estavam realmente bem.Quando nossos olhares se cruzam, ela me lança um leve sorriso e logo se afasta mais um pouco com os dois homens.A única coisa que queria naquele momento, era ir para casa e tentar esquecer mais aquele dia.— Srta. Rivera? — Pisco, encontrando o olhar do advogado do meu pai.
Renzo— Releve — diz Katherine, madrasta de Yulia — Ela não está em um de seus melhores dias. O pai dela acabou de morrer e antes disso...— A mãe se suicidou — digo em tom calmo. Katherine assenti, olhando para o chão — Por causa da depressão.Ela sustenta meu olhar.— Então entende que ela tem motivos suficientes para agir desta forma — Fico em silêncio, já que não sei basicamente o que dizer. Nunca passei por uma situação parecida, mesmo tendo crescido longe da minha mãe, mesmo assim não se comparava com uma perda literalmente — Então... faça seu trabalho e garanta que ninguém irá machucar ela — Mantenho meu olhar fixo em um ponto invisível, enquanto Katherine se retira do cômodo. Instantes depois, giro meu tronco e sigo na direção em que Yulia foi, minutos antes havia sido conduzido por toda a casa, como um tuor e graças a minha memória fotográfica, sabia onde cada cômodo ficava, inclusive o quarto de Yulia.Me coloco ao lado da porta, encaran
Yulia Cruzo os braços sob o peito, observando meu mais novo segurança vasculhar todo meu quarto, inclusive em baixo da cama, como se alguém ainda se escondesse em baixo de uma cama. Quando ele abre as portas do meu armário, reviro os olhos impaciente.— Quer olhar também minha gaveta de calcinhas? — Ele para diante da janela, no mesmo lugar que estava minutos atrás, os olhos vagando pelo jardim.— Lá cabe uma pessoa? — Ele pergunta, me olhando por cima do ombro.Abro minha boca, a fechando no mesmo instante.— Acho que já pode sair do meu quarto — Os olhos dele vagam mais uma vez pelo quarto, antes de finalmente atender meu “pedido”.Ele para no corredor, se virando para mim.— Irei estar aqui no corredor, caso... — Bato a porta antes que ele terminasse de falar.O dia parecia interminável, mesmo que já fosse a hora de dormir. Eu havia concluído todo o meu ritual de cuidados com a pele, desfrutado de um banho quente e começado a po
RenzoEstabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy. A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante
YuliaKate solta o ar dos pulmões, ao fechar a porta, colocando o cabelo atrás da orelha ao se aproximar de mim sentada no sofá.— Os policiais não podem continuar vigiando a casa. Não acham que estamos correndo algum perigo — Apesar de ouvir isto deles, era notável de que não estava convencida. Kate sempre foi super protetora, mas com a morte do meu pai, tinha a impressão que este instinto havia duplicado.— Então se não tem nenhum perigo, posso voltar para a universidade — digo colocando um breve sorriso no rosto.Ela me olha incrédula.— É óbvio que não!— Por quê?! — Elevo a voz, sem acreditar que ela queria me fazer de prisioneira dentro daquela casa — Acabou de dizer que não tem nenhum perigo.— Os policiais disseram isto! Não eu! — Ela rebate — Ainda tenho certeza que corre perigo — Reviro os olhos, cruzando os braços sob o peito.Em poucos meses, eu me formaria na universidade em Gastronomia, e a ideia de que todo o meu esforço, todos os meus planos, estavam prestes a ser arru
Renzo Foi necessário um esforço tremendo de autocontrole para conter o impulso de agarrar Yulia e beijá-la ali mesmo, dentro do carro.Tocá-la, sentir a maciez da sua pele, desencadeou uma resposta imediata do meu corpo. Era evidente que ela também reagira, pois suas bochechas coraram instantaneamente. No entanto, percebi que esse movimento tinha sido mal calculado e arriscado. Meu pau estava prestes a estourar a calça, quando ela saiu abruptamente do carro e seu olhar se cruzou com o meu a medida que se afasta rapidamente. Um lado meu se sentiu aliviado pela sua saída, já que se ela ficasse mais alguns segundos dentro daquele carro, não responderia por mim e isto poderia acabar comigo sendo demitido. Com o estado do meu corpo normalizado, me concentrei no trabalho. Nas primeiras horas da manhã, cumpro o combinado e ligo a cada hora, recebendo sempre um sussurrado "estou bem" do outro lado da linha. Apesar de ter achado arriscado ela ir para um lugar como uma universidade, onde es
Yulia Ao sair da aula, meu celular toca pela centésima vez com o nome de Renzo no visor.— Eu estou bem — digo enquanto alguns estudantes passam ao meu redor, conversando entre si, prestes a desligar ouço a sua voz.— Tem certeza? — Paro por um instante de andar, tentando evitar que a minha mente associe sua voz rouca com o modo como me olhou no carro.— Se eu não estivesse, não atenderia o celular, não é? — digo antes de desligar, com a certeza que precisava manter o minímo de diálogo possível.Ando na direção de Gina que digitava algo rapidamente no celular, enquanto sorria.— Por que o sorriso? — Ela ergue o olhar, guardando o celular.— Vai ter uma festa de fraternidade — Reviro os olhos, voltando a andar, agora com ela ao meu lado.— Não deveria estar pensando em estudar para as provas finais?Gina ergue as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado.— Quem é você e o que fez com a minha amiga? A garota mais festeira que eu conheço? Solto o ar bruscamente dos pulmões.— N
Renzo Minha mão sobe e desce por cima da calça, enquanto minha mente contava os minutos para ligar novamente para Yulia. Apesar de ser errado, não havia ninguém olhando e precisava desesperadamente me aliviar, caso contrário, gozaria em apenas ouvir a voz dela.Poderia encontrar facilmente uma mulher que me aliviaria em segundos, desde meu divórcio, era tecnicamente o que fazia: uma trepada bem feita uma vez na semana. Mas duvidaria que meu corpo iria querer outra mulher, queria Yulia.Pego meu celular, pronto para fazer a última ligação da noite, hesitando por um momento quando a minha mente a imagina da pior forma que poderia imaginar naquele momento: quase nua.Engulo em seco quando o celular começa a chamar, esperando ansiosamente que ela atenda. No entanto, a frustração toma conta quando a chamada vai para a caixa postal. Por um momento, esqueço de toda a tensão acumulada em meu corpo e franzo o cenho, refletindo a preocupação que surge diante da falta de contato.Insisto mais