Capítulo 4

                                            Yulia

Cruzo os braços sob o peito, observando meu mais novo segurança vasculhar todo meu quarto, inclusive em baixo da cama, como se alguém ainda se escondesse em baixo de uma cama.

         Quando ele abre as portas do meu armário, reviro os olhos impaciente.

— Quer olhar também minha gaveta de calcinhas? — Ele para diante da janela, no mesmo lugar que estava minutos atrás, os olhos vagando pelo jardim.

— Lá cabe uma pessoa? — Ele pergunta, me olhando por cima do ombro.

Abro minha boca, a fechando no mesmo instante.

— Acho que já pode sair do meu quarto — Os olhos dele vagam mais uma vez pelo quarto, antes de finalmente atender meu “pedido”.

Ele para no corredor, se virando para mim.

— Irei estar aqui no corredor, caso... — Bato a porta antes que ele terminasse de falar.

O dia parecia interminável, mesmo que já fosse a hora de dormir. Eu havia concluído todo o meu ritual de cuidados com a pele, desfrutado de um banho quente e começado a ponderar a ideia de saborear algo quente antes de me entregar ao sono. O cansaço persistia, mas a rotina noturna estava completa, e eu ansiava pelo fim daquele dia e procurava o que me ajudaria com isto, mas estava sem sono e era atormentada por minha mente comparando ambos comparando os funerais dos meus pais, tentando descobrir em qual dos dois veio mais pessoas.

Só queria dormir e que aquele dia finalmente acabasse.

         Meu quarto mais uma vez pareceu grande mais e desejei que Kate dormisse comigo, igual quando fazia quando era criança e não queria ficar sozinha. Mas entendia que justamente naquele dia, não conseguiria me dar o consolo que estava procurando, assim como eu, havia perdido alguém importante: o marido. E todo tempo transpareceu ser forte, mesmo eu sabendo que sentia que o mundo ao seu redor estava desabando

Como da primeira vez, me encolhi na cama e impedi que qualquer pensamento vinhesse à minha mente, enquanto fechava meus olhos com força. Funcionou por alguns segundos, mas logo me vi cair no choro, como se ainda tivesse 5 anos de idade e tivesse descoberto por conta própria o que era a morte.

        Se o mundo de Kate estava desabando, o meu estava em completamente em ruínas, não havia nada de bom, apenas destroços do que um dia fez parte de mim. E imaginar que a última coisa que disse ao meu pai foi: “sei me cuidar”, me fazia ter raiva de mim mesma, pois qualquer pessoa se me visse chorando naquele momento, concluiria em poucos segundos que eu não sabia e que também não o perdoaria por ter me deixado, assim como a minha mãe.

          Quase prestes a me entregar ao sono, meu celular vibrou no móvel ao lado da cama, me forçando a pegá-lo imediatamente. Meus olhos percorreram rapidamente a breve mensagem de Gina, informando que estava em frente à minha casa. A surpresa fez meu cansaço momentaneamente desaparecer, substituído pela curiosidade.

 Rapidamente, levantei-me, ainda envolta na penumbra do quarto, e me dirigi à janela para confirmar a presença de Gina lá fora, olhando em seguida para a porta, me dando conta de que Renzo estaria lá quando eu saísse.

Decido, então, sair pela janela do meu quarto. Evitei olhar para baixo enquanto descia, sentindo o frio percorrer minha espinha à medida que a ideia de cair de uma altura superior a três metros me assustava. Meu coração batia forte, quase saindo pela boca, quando finalmente meus pés tocaram o chão. O alívio foi imediato, e, ao me deparar com Gina do lado de fora, a adrenalina da descida misturou-se com a surpresa do encontro noturno.

— Saindo escondida, Yulia? — Ela pergunta, assim que me aproximo.

— É uma longa história — Olho para a casa, antes de olhar para Gina.

— Lembra do Len? — Percebo o cara perto dela, forçando minha mente a lembrar de onde possivelmente poderia ter o conhecido, mas nada vinha na minha mente.

— Sou barman da boate que você costuma ir — Ele responde na expectativa de eu lembrar, então finge que me lembrava de um barman entre vinte que conhecia.

— Ah, claro — Gina se aproxima um pouco mais sorrindo e dada as roupas que estava vestida naquele momento, deduzi que ela queria uma companhia para mais uma aventura noturna.

— Len disse que abriu uma nova boate do outro lado da cidade, então imaginei que seria uma boa ideia para você se distrair um pouco — Ela murmura com um leve sorriso no rosto.

— E sinto muito o que aconteceu com o seu pai — Len coloca uma mão em meu ombro — Quando perdi meu hamster, achei que o mundo iria... — Len não termina a frase, já que é arrancado de perto de mim e tem o corpo dobrado sobre o carro de Gina.

            Levo alguns instantes para processar o que estava acontecendo. A voz de Gina torna-se mais elevada, e só então percebo que ela está gritando com Renzo, que mantém os braços de Len presos atrás das costas.

— Quem é você? — diz Renzo entre dentes, mantendo a cabeça de Len contra o carro.

— Leonard. Leonard Miller!

— Quem é você?! Solta ele! — Gina grita novamente, antes de dois homens se aproximarem e Renzo mudar a atenção para eles.

— Podem revistar ele? — Um dos homens assenti, tomando o lugar dele. Renzo se vira para Gina, a olhando de cima a baixo.

— E você quem é?

— Eu que deveria perguntar quem é você!

— Posso mandar revistar você também e aí descubro quem é você.

— Essa é a Giana, minha amiga e aquele ali... — Olho para Len que era revistado — é o barman da boate. — Gina me olha incrédula.

— Conhece ele?! — Engulo em seco, sustentando o olhar de Renzo.

— Ele é meu guarda-costas.

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