Yulia
Cruzo os braços sob o peito, observando meu mais novo segurança vasculhar todo meu quarto, inclusive em baixo da cama, como se alguém ainda se escondesse em baixo de uma cama.
Quando ele abre as portas do meu armário, reviro os olhos impaciente.
— Quer olhar também minha gaveta de calcinhas? — Ele para diante da janela, no mesmo lugar que estava minutos atrás, os olhos vagando pelo jardim.
— Lá cabe uma pessoa? — Ele pergunta, me olhando por cima do ombro.
Abro minha boca, a fechando no mesmo instante.
— Acho que já pode sair do meu quarto — Os olhos dele vagam mais uma vez pelo quarto, antes de finalmente atender meu “pedido”.
Ele para no corredor, se virando para mim.
— Irei estar aqui no corredor, caso... — Bato a porta antes que ele terminasse de falar.
O dia parecia interminável, mesmo que já fosse a hora de dormir. Eu havia concluído todo o meu ritual de cuidados com a pele, desfrutado de um banho quente e começado a ponderar a ideia de saborear algo quente antes de me entregar ao sono. O cansaço persistia, mas a rotina noturna estava completa, e eu ansiava pelo fim daquele dia e procurava o que me ajudaria com isto, mas estava sem sono e era atormentada por minha mente comparando ambos comparando os funerais dos meus pais, tentando descobrir em qual dos dois veio mais pessoas.
Só queria dormir e que aquele dia finalmente acabasse.
Meu quarto mais uma vez pareceu grande mais e desejei que Kate dormisse comigo, igual quando fazia quando era criança e não queria ficar sozinha. Mas entendia que justamente naquele dia, não conseguiria me dar o consolo que estava procurando, assim como eu, havia perdido alguém importante: o marido. E todo tempo transpareceu ser forte, mesmo eu sabendo que sentia que o mundo ao seu redor estava desabando
Como da primeira vez, me encolhi na cama e impedi que qualquer pensamento vinhesse à minha mente, enquanto fechava meus olhos com força. Funcionou por alguns segundos, mas logo me vi cair no choro, como se ainda tivesse 5 anos de idade e tivesse descoberto por conta própria o que era a morte.
Se o mundo de Kate estava desabando, o meu estava em completamente em ruínas, não havia nada de bom, apenas destroços do que um dia fez parte de mim. E imaginar que a última coisa que disse ao meu pai foi: “sei me cuidar”, me fazia ter raiva de mim mesma, pois qualquer pessoa se me visse chorando naquele momento, concluiria em poucos segundos que eu não sabia e que também não o perdoaria por ter me deixado, assim como a minha mãe.
Quase prestes a me entregar ao sono, meu celular vibrou no móvel ao lado da cama, me forçando a pegá-lo imediatamente. Meus olhos percorreram rapidamente a breve mensagem de Gina, informando que estava em frente à minha casa. A surpresa fez meu cansaço momentaneamente desaparecer, substituído pela curiosidade.
Rapidamente, levantei-me, ainda envolta na penumbra do quarto, e me dirigi à janela para confirmar a presença de Gina lá fora, olhando em seguida para a porta, me dando conta de que Renzo estaria lá quando eu saísse.
Decido, então, sair pela janela do meu quarto. Evitei olhar para baixo enquanto descia, sentindo o frio percorrer minha espinha à medida que a ideia de cair de uma altura superior a três metros me assustava. Meu coração batia forte, quase saindo pela boca, quando finalmente meus pés tocaram o chão. O alívio foi imediato, e, ao me deparar com Gina do lado de fora, a adrenalina da descida misturou-se com a surpresa do encontro noturno.
— Saindo escondida, Yulia? — Ela pergunta, assim que me aproximo.
— É uma longa história — Olho para a casa, antes de olhar para Gina.
— Lembra do Len? — Percebo o cara perto dela, forçando minha mente a lembrar de onde possivelmente poderia ter o conhecido, mas nada vinha na minha mente.
— Sou barman da boate que você costuma ir — Ele responde na expectativa de eu lembrar, então finge que me lembrava de um barman entre vinte que conhecia.
— Ah, claro — Gina se aproxima um pouco mais sorrindo e dada as roupas que estava vestida naquele momento, deduzi que ela queria uma companhia para mais uma aventura noturna.
— Len disse que abriu uma nova boate do outro lado da cidade, então imaginei que seria uma boa ideia para você se distrair um pouco — Ela murmura com um leve sorriso no rosto.
— E sinto muito o que aconteceu com o seu pai — Len coloca uma mão em meu ombro — Quando perdi meu hamster, achei que o mundo iria... — Len não termina a frase, já que é arrancado de perto de mim e tem o corpo dobrado sobre o carro de Gina.
Levo alguns instantes para processar o que estava acontecendo. A voz de Gina torna-se mais elevada, e só então percebo que ela está gritando com Renzo, que mantém os braços de Len presos atrás das costas.
— Quem é você? — diz Renzo entre dentes, mantendo a cabeça de Len contra o carro.
— Leonard. Leonard Miller!
— Quem é você?! Solta ele! — Gina grita novamente, antes de dois homens se aproximarem e Renzo mudar a atenção para eles.
— Podem revistar ele? — Um dos homens assenti, tomando o lugar dele. Renzo se vira para Gina, a olhando de cima a baixo.
— E você quem é?
— Eu que deveria perguntar quem é você!
— Posso mandar revistar você também e aí descubro quem é você.
— Essa é a Giana, minha amiga e aquele ali... — Olho para Len que era revistado — é o barman da boate. — Gina me olha incrédula.
— Conhece ele?! — Engulo em seco, sustentando o olhar de Renzo.
— Ele é meu guarda-costas.
RenzoEstabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy. A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante
YuliaKate solta o ar dos pulmões, ao fechar a porta, colocando o cabelo atrás da orelha ao se aproximar de mim sentada no sofá.— Os policiais não podem continuar vigiando a casa. Não acham que estamos correndo algum perigo — Apesar de ouvir isto deles, era notável de que não estava convencida. Kate sempre foi super protetora, mas com a morte do meu pai, tinha a impressão que este instinto havia duplicado.— Então se não tem nenhum perigo, posso voltar para a universidade — digo colocando um breve sorriso no rosto.Ela me olha incrédula.— É óbvio que não!— Por quê?! — Elevo a voz, sem acreditar que ela queria me fazer de prisioneira dentro daquela casa — Acabou de dizer que não tem nenhum perigo.— Os policiais disseram isto! Não eu! — Ela rebate — Ainda tenho certeza que corre perigo — Reviro os olhos, cruzando os braços sob o peito.Em poucos meses, eu me formaria na universidade em Gastronomia, e a ideia de que todo o meu esforço, todos os meus planos, estavam prestes a ser arru
Renzo Foi necessário um esforço tremendo de autocontrole para conter o impulso de agarrar Yulia e beijá-la ali mesmo, dentro do carro.Tocá-la, sentir a maciez da sua pele, desencadeou uma resposta imediata do meu corpo. Era evidente que ela também reagira, pois suas bochechas coraram instantaneamente. No entanto, percebi que esse movimento tinha sido mal calculado e arriscado. Meu pau estava prestes a estourar a calça, quando ela saiu abruptamente do carro e seu olhar se cruzou com o meu a medida que se afasta rapidamente. Um lado meu se sentiu aliviado pela sua saída, já que se ela ficasse mais alguns segundos dentro daquele carro, não responderia por mim e isto poderia acabar comigo sendo demitido. Com o estado do meu corpo normalizado, me concentrei no trabalho. Nas primeiras horas da manhã, cumpro o combinado e ligo a cada hora, recebendo sempre um sussurrado "estou bem" do outro lado da linha. Apesar de ter achado arriscado ela ir para um lugar como uma universidade, onde es
Yulia Ao sair da aula, meu celular toca pela centésima vez com o nome de Renzo no visor.— Eu estou bem — digo enquanto alguns estudantes passam ao meu redor, conversando entre si, prestes a desligar ouço a sua voz.— Tem certeza? — Paro por um instante de andar, tentando evitar que a minha mente associe sua voz rouca com o modo como me olhou no carro.— Se eu não estivesse, não atenderia o celular, não é? — digo antes de desligar, com a certeza que precisava manter o minímo de diálogo possível.Ando na direção de Gina que digitava algo rapidamente no celular, enquanto sorria.— Por que o sorriso? — Ela ergue o olhar, guardando o celular.— Vai ter uma festa de fraternidade — Reviro os olhos, voltando a andar, agora com ela ao meu lado.— Não deveria estar pensando em estudar para as provas finais?Gina ergue as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado.— Quem é você e o que fez com a minha amiga? A garota mais festeira que eu conheço? Solto o ar bruscamente dos pulmões.— N
Renzo Minha mão sobe e desce por cima da calça, enquanto minha mente contava os minutos para ligar novamente para Yulia. Apesar de ser errado, não havia ninguém olhando e precisava desesperadamente me aliviar, caso contrário, gozaria em apenas ouvir a voz dela.Poderia encontrar facilmente uma mulher que me aliviaria em segundos, desde meu divórcio, era tecnicamente o que fazia: uma trepada bem feita uma vez na semana. Mas duvidaria que meu corpo iria querer outra mulher, queria Yulia.Pego meu celular, pronto para fazer a última ligação da noite, hesitando por um momento quando a minha mente a imagina da pior forma que poderia imaginar naquele momento: quase nua.Engulo em seco quando o celular começa a chamar, esperando ansiosamente que ela atenda. No entanto, a frustração toma conta quando a chamada vai para a caixa postal. Por um momento, esqueço de toda a tensão acumulada em meu corpo e franzo o cenho, refletindo a preocupação que surge diante da falta de contato.Insisto mais
Yulia A música alta impedia que ouvisse meus próprios pensamentos, enquanto suas batidas vibravam pelo meu corpo. Nunca fui de me embebedar facilmente, mas a primeira bebida que tomei praticamente tirou meu controle completamente sobre meu corpo.Apesar de querer ir para o dormitório, simplesmente não conseguia. A atmosfera envolvente da festa e o efeito da bebida tornavam cada passo mais pesado, enquanto me via mergulhando cada vez mais na euforia do momento. O desejo inicial de escapar dissipava-se, substituído pela sensação de estar à mercê da festa, como uma folha à deriva na correnteza.— Gina? — Procuro ela entre as as pessoas ao meu redor, enxergando apenas vultos, não conseguia focar em um só rosto, muito menos encontrar Gina — Gina! — Meus passos são oscilantes, esbarro em algumas pessoas e até mesmo movéis a medida que ando sem uma direção certa.Mas apesar de todo meu esforço, não estava encontrando Gina. Ela poderia estar em um dos quartos no andar de cima, se pegando com
RenzoNão foi difícil encontrar uma festa no campus; o verdadeiro desafio seria localizar Yulia em meio a mais de cem estudantes. O som alto, as luzes pulsantes e a agitação da multidão tornavam a tarefa de encontrá-la um verdadeiro labirinto.As pessoas que não estavam bêbadas ou até mesmo drogadas além do limite, me olhavam com a surpresa estampada em seus rostos, enquanto olhava cada canto do cômodo que deveria ser a sala de estar. Uma parte de mim implorava para não encontrar Yulia como alguns casais, praticamente quase nus, prestes a transarem na frente de todos.Não sabia se meu coração aguentaria.Paro abruptamente quando Leonard Miller aparece de repente na minha frente, seus olhos parcialmente arregalados e a expressão assustada.— É a Yulia, não sei o que ela tem — diz rapidamente e antes mesmo que processasse suas palavras, o sigo escada acima correndo, ignorando algumas cenas no caminho. Paro bruscamente na frente de uma porta, observando ele se jogar em cima da cama que
Yulia Viro de lado na cama, imaginando que ainda teria alguns minutos de sono antes do alarme tocar. O pensamento persistiu por alguns segundos, até que ainda com os olhos fechados, começo a prestar atenção nos barulhos ao meu redor e invés de ouvir os roncos de Gina, escuto pessoas conversando, barulhos de aparelhos e até mesmo uma voz quase robótica chamando por alguém.Onde diabos eu estava?! Abro meus olhos com o cenho franzido, dando de cara com uma parede branca e um frequencímetro.— Bom dia, Bela Adormecida — Viro meu corpo na direção da voz de Renzo, o encontrando sentado em uma poltrona em frente da cama — Ou deveria ser Cinderela? — Ele inclina a cabeça para o lado com a expressão séria. Meus olhos vagam pelo cômodo, concluído que de fato estava em um hospital.— Por que estou em um hospital? — pergunto em meio a confusão dos meus pensamentos e ruídos externos. Ele dá de ombros, começando a se tornar irritante o modo como me olhava.— Eu que deveria perguntar i