Renzo
Estabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy.
A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.
Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.
Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.
A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante, minha ação é rápida e precisa. Torço a mão do indivíduo que estava tocando Yulia para trás das costas, impondo uma imobilização instantânea. Ele se debruça sobre o carro estacionado ao lado, completamente rendido.
— Desde quando você tem um segurança?! — A garota Giana grita para Yulia, provavelmente assustada.
Yulia evita sustentar o olhar dela, parecendo incomodada com a situação.
— Desde quando ela precisou de proteção — Respondo, atraindo o olhar dela.
— Isto tem haver com o seu pai? — Giana me ignora, voltando a atenção para Yulia — Yulia? — insiste.
— Seville — Um dos policiais chama em minhas costas — O cara está limpo e não tem ficha na polícia — Olho na direção de direção de Leonard, sustentando seu olhar.
— Tem certeza? — Meu sexto sentido dizia outra coisa e não costumava errar com as pessoas.
O policial dá de ombros.
— Parece que só vinheram apenas fazer uma visita.
— Mas já estão indo — digo alto o suficiente para Giana ouvir e Leonard — Está tarde e Yulia deveria estar na cama.
Giana se vira para Yulia.
— Sério isso? Agora não posso nem visitar você?! — Yulia mantém o olhar no chão, com os braços cruzados sob o peito.
— Realmente já está tarde e amanhã... — Giana não espera Yulia terminar, invés disso, dá as costas para ela entrando no carro. Leonard faz a mesma coisa, mas antes, olha para Yulia e depois para mim.
— Espero que esteja feliz agora — diz quando o carro some de vista, os olhos lacrimejando.
— Meu trabalho é manter você segura.
— E parece que sem nenhum amigo também.
A impressão de que, em vez de me aproximar de Yulia, estava apenas conseguindo fazê-la se afastar, instala-se de maneira reflexiva. Os eventos recentes, permeados por mal-entendidos e visões equivocadas, sugerem que, apesar dos meus esforços para protegê-la, uma barreira invisível parece se formar entre nós.
Essa percepção acende uma chama de auto-reflexão. Será que, no processo de garantir sua segurança física, inadvertidamente, criei uma distância emocional? Será que minhas ações foram interpretadas de maneira diferente do que pretendia expressar?
Enquanto permaneço no meu posto, a reflexão se torna uma aliada, conduzindo-me a uma compreensão mais profunda da dinâmica em jogo. O caminho a seguir envolve não apenas a proteção física, mas também o esforço contínuo para dissipar as sombras de desconfiança que podem ter se instalado.
Yulia dá as costas e segue em direção à casa, e automaticamente, vou atrás dela. Nesse momento, Katherine se aproxima, vestida em um robe, possivelmente despertada pelos gritos ou pela agitação.
— Yulia? — Chama, quando Yulia passa por ela, a ignorando completamente, entrando em seguida na casa. Os olhos de Katherine se fixam em mim, com sua expressão confusa — O que aconteceu?
— Está tudo sob controle — digo ao passar por ela.
Antes de entrar na casa, realizo mais uma verificação minuciosa do perímetro, garantindo que nada escape à minha vigilância. Cada canto é examinado, reforçando a segurança do ambiente antes de adentrar os cômodos internos.
Ao chegar em frente à porta do quarto de Yulia, uma hesitação momentânea se instala. Opto por não invadir completamente sua privacidade, abrindo a porta apenas o suficiente para espiar discretamente. Observo Yulia deitada de costas para a porta, em sua cama.
Fecho a porta suavemente e retorno ao meu posto de vigilância.
Estava começando a me odiar profundamente por estar apaixonado. Sentir esse tipo de afeição antes era mais fácil, quando era por uma garota cujo nome eu nem sabia. Pelo menos, naquela situação, não testemunhava o doloroso processo de vê-la se afastar cada vez mais de mim.
A garota da boate, cujo nome antes permanecia uma incógnita, representava uma forma mais fácil de amar. A ausência de detalhes pessoais, tornava aquela afeição menos complexa. Me odiava por sentir o impacto da sua indiferença, ao mesmo tempo em que desejava quebrar as barreiras que se formavam entre nós.
Cada passo dela para longe de mim se tornava uma ferida aberta, e eu lutava contra a auto-aversão que crescia ao ver a paixão queimando como um fogo incontrolável dentro de mim.
YuliaKate solta o ar dos pulmões, ao fechar a porta, colocando o cabelo atrás da orelha ao se aproximar de mim sentada no sofá.— Os policiais não podem continuar vigiando a casa. Não acham que estamos correndo algum perigo — Apesar de ouvir isto deles, era notável de que não estava convencida. Kate sempre foi super protetora, mas com a morte do meu pai, tinha a impressão que este instinto havia duplicado.— Então se não tem nenhum perigo, posso voltar para a universidade — digo colocando um breve sorriso no rosto.Ela me olha incrédula.— É óbvio que não!— Por quê?! — Elevo a voz, sem acreditar que ela queria me fazer de prisioneira dentro daquela casa — Acabou de dizer que não tem nenhum perigo.— Os policiais disseram isto! Não eu! — Ela rebate — Ainda tenho certeza que corre perigo — Reviro os olhos, cruzando os braços sob o peito.Em poucos meses, eu me formaria na universidade em Gastronomia, e a ideia de que todo o meu esforço, todos os meus planos, estavam prestes a ser arru
Renzo Foi necessário um esforço tremendo de autocontrole para conter o impulso de agarrar Yulia e beijá-la ali mesmo, dentro do carro.Tocá-la, sentir a maciez da sua pele, desencadeou uma resposta imediata do meu corpo. Era evidente que ela também reagira, pois suas bochechas coraram instantaneamente. No entanto, percebi que esse movimento tinha sido mal calculado e arriscado. Meu pau estava prestes a estourar a calça, quando ela saiu abruptamente do carro e seu olhar se cruzou com o meu a medida que se afasta rapidamente. Um lado meu se sentiu aliviado pela sua saída, já que se ela ficasse mais alguns segundos dentro daquele carro, não responderia por mim e isto poderia acabar comigo sendo demitido. Com o estado do meu corpo normalizado, me concentrei no trabalho. Nas primeiras horas da manhã, cumpro o combinado e ligo a cada hora, recebendo sempre um sussurrado "estou bem" do outro lado da linha. Apesar de ter achado arriscado ela ir para um lugar como uma universidade, onde es
Yulia Ao sair da aula, meu celular toca pela centésima vez com o nome de Renzo no visor.— Eu estou bem — digo enquanto alguns estudantes passam ao meu redor, conversando entre si, prestes a desligar ouço a sua voz.— Tem certeza? — Paro por um instante de andar, tentando evitar que a minha mente associe sua voz rouca com o modo como me olhou no carro.— Se eu não estivesse, não atenderia o celular, não é? — digo antes de desligar, com a certeza que precisava manter o minímo de diálogo possível.Ando na direção de Gina que digitava algo rapidamente no celular, enquanto sorria.— Por que o sorriso? — Ela ergue o olhar, guardando o celular.— Vai ter uma festa de fraternidade — Reviro os olhos, voltando a andar, agora com ela ao meu lado.— Não deveria estar pensando em estudar para as provas finais?Gina ergue as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado.— Quem é você e o que fez com a minha amiga? A garota mais festeira que eu conheço? Solto o ar bruscamente dos pulmões.— N
Renzo Minha mão sobe e desce por cima da calça, enquanto minha mente contava os minutos para ligar novamente para Yulia. Apesar de ser errado, não havia ninguém olhando e precisava desesperadamente me aliviar, caso contrário, gozaria em apenas ouvir a voz dela.Poderia encontrar facilmente uma mulher que me aliviaria em segundos, desde meu divórcio, era tecnicamente o que fazia: uma trepada bem feita uma vez na semana. Mas duvidaria que meu corpo iria querer outra mulher, queria Yulia.Pego meu celular, pronto para fazer a última ligação da noite, hesitando por um momento quando a minha mente a imagina da pior forma que poderia imaginar naquele momento: quase nua.Engulo em seco quando o celular começa a chamar, esperando ansiosamente que ela atenda. No entanto, a frustração toma conta quando a chamada vai para a caixa postal. Por um momento, esqueço de toda a tensão acumulada em meu corpo e franzo o cenho, refletindo a preocupação que surge diante da falta de contato.Insisto mais
Yulia A música alta impedia que ouvisse meus próprios pensamentos, enquanto suas batidas vibravam pelo meu corpo. Nunca fui de me embebedar facilmente, mas a primeira bebida que tomei praticamente tirou meu controle completamente sobre meu corpo.Apesar de querer ir para o dormitório, simplesmente não conseguia. A atmosfera envolvente da festa e o efeito da bebida tornavam cada passo mais pesado, enquanto me via mergulhando cada vez mais na euforia do momento. O desejo inicial de escapar dissipava-se, substituído pela sensação de estar à mercê da festa, como uma folha à deriva na correnteza.— Gina? — Procuro ela entre as as pessoas ao meu redor, enxergando apenas vultos, não conseguia focar em um só rosto, muito menos encontrar Gina — Gina! — Meus passos são oscilantes, esbarro em algumas pessoas e até mesmo movéis a medida que ando sem uma direção certa.Mas apesar de todo meu esforço, não estava encontrando Gina. Ela poderia estar em um dos quartos no andar de cima, se pegando com
RenzoNão foi difícil encontrar uma festa no campus; o verdadeiro desafio seria localizar Yulia em meio a mais de cem estudantes. O som alto, as luzes pulsantes e a agitação da multidão tornavam a tarefa de encontrá-la um verdadeiro labirinto.As pessoas que não estavam bêbadas ou até mesmo drogadas além do limite, me olhavam com a surpresa estampada em seus rostos, enquanto olhava cada canto do cômodo que deveria ser a sala de estar. Uma parte de mim implorava para não encontrar Yulia como alguns casais, praticamente quase nus, prestes a transarem na frente de todos.Não sabia se meu coração aguentaria.Paro abruptamente quando Leonard Miller aparece de repente na minha frente, seus olhos parcialmente arregalados e a expressão assustada.— É a Yulia, não sei o que ela tem — diz rapidamente e antes mesmo que processasse suas palavras, o sigo escada acima correndo, ignorando algumas cenas no caminho. Paro bruscamente na frente de uma porta, observando ele se jogar em cima da cama que
Yulia Viro de lado na cama, imaginando que ainda teria alguns minutos de sono antes do alarme tocar. O pensamento persistiu por alguns segundos, até que ainda com os olhos fechados, começo a prestar atenção nos barulhos ao meu redor e invés de ouvir os roncos de Gina, escuto pessoas conversando, barulhos de aparelhos e até mesmo uma voz quase robótica chamando por alguém.Onde diabos eu estava?! Abro meus olhos com o cenho franzido, dando de cara com uma parede branca e um frequencímetro.— Bom dia, Bela Adormecida — Viro meu corpo na direção da voz de Renzo, o encontrando sentado em uma poltrona em frente da cama — Ou deveria ser Cinderela? — Ele inclina a cabeça para o lado com a expressão séria. Meus olhos vagam pelo cômodo, concluído que de fato estava em um hospital.— Por que estou em um hospital? — pergunto em meio a confusão dos meus pensamentos e ruídos externos. Ele dá de ombros, começando a se tornar irritante o modo como me olhava.— Eu que deveria perguntar i
Renzo Percebo dois homens passando por mim, indo na direção do quarto de Yulia, com um deles segurando um buquê de rosas. Imediatamente, minha atenção é capturada pela cena, e um instinto protetor se acende. Decido segui-los discretamente, mantendo uma distância segura enquanto observo seus movimentos em direção ao quarto de Yulia.A poucos metros do quarto de Yulia, o buquê é jogado no chão, e uma arma com silenciador fica em evidência, enquanto o segundo homem tira uma arma da cintura. Meus instintos falam mais alto quando um deles está prestes a abrir a porta do quarto. Atiro, atraindo assim a atenção do outro homem, que responde atirando na minha direção.Gritos ecoam no corredor enquanto trocamos tiros, a tensão aumentando a cada disparo.Tenho a impressão de que meu coração para por um momento quando atiram contra a porta diversas vezes, fazendo-me lembrar apenas de Yulia deitada na cama. Continuo atirando, conseguindo atingir um dos homens; o outro, se vendo encurralado, foge,