Capítulo 5

Renzo

Estabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy.

 A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.

Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.

Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.

A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante, minha ação é rápida e precisa. Torço a mão do indivíduo que estava tocando Yulia para trás das costas, impondo uma imobilização instantânea. Ele se debruça sobre o carro estacionado ao lado, completamente rendido.

—  Desde quando você tem um segurança?! — A garota Giana grita para Yulia, provavelmente assustada.

Yulia evita sustentar o olhar dela, parecendo incomodada com a situação.

— Desde quando ela precisou de proteção — Respondo, atraindo o olhar dela.

— Isto tem haver com o seu pai? — Giana me ignora, voltando a atenção para Yulia — Yulia? — insiste.

— Seville — Um dos policiais chama em minhas costas — O cara está limpo e não tem ficha na polícia — Olho na direção de direção de Leonard, sustentando seu olhar.

— Tem certeza? — Meu sexto sentido dizia outra coisa e não costumava errar com as pessoas.

O policial dá de ombros.

— Parece que só vinheram apenas fazer uma visita.

— Mas já estão indo — digo alto o suficiente para Giana ouvir e Leonard — Está tarde e Yulia deveria estar na cama.

Giana se vira para Yulia.

— Sério isso? Agora não posso nem visitar você?! — Yulia mantém o olhar no chão, com os braços cruzados sob o peito.

— Realmente já está tarde e amanhã... — Giana não espera Yulia terminar, invés disso, dá as costas para ela entrando no carro. Leonard faz a mesma coisa, mas antes, olha para Yulia e depois para mim.

— Espero que esteja feliz agora — diz quando o carro some de vista, os olhos lacrimejando.

— Meu trabalho é manter você segura.

— E parece que sem nenhum amigo também.

          A impressão de que, em vez de me aproximar de Yulia, estava apenas conseguindo fazê-la se afastar, instala-se de maneira reflexiva. Os eventos recentes, permeados por mal-entendidos e visões equivocadas, sugerem que, apesar dos meus esforços para protegê-la, uma barreira invisível parece se formar entre nós.

Essa percepção acende uma chama de auto-reflexão. Será que, no processo de garantir sua segurança física, inadvertidamente, criei uma distância emocional? Será que minhas ações foram interpretadas de maneira diferente do que pretendia expressar?

Enquanto permaneço no meu posto, a reflexão se torna uma aliada, conduzindo-me a uma compreensão mais profunda da dinâmica em jogo. O caminho a seguir envolve não apenas a proteção física, mas também o esforço contínuo para dissipar as sombras de desconfiança que podem ter se instalado.

Yulia dá as costas e segue em direção à casa, e automaticamente, vou atrás dela. Nesse momento, Katherine se aproxima, vestida em um robe, possivelmente despertada pelos gritos ou pela agitação.

— Yulia? — Chama, quando Yulia passa por ela, a ignorando completamente, entrando em seguida na casa. Os olhos de Katherine se fixam em mim, com sua expressão confusa — O que aconteceu?

— Está tudo sob controle — digo ao passar por ela.

  Antes de entrar na casa, realizo mais uma verificação minuciosa do perímetro, garantindo que nada escape à minha vigilância. Cada canto é examinado, reforçando a segurança do ambiente antes de adentrar os cômodos internos.

Ao chegar em frente à porta do quarto de Yulia, uma hesitação momentânea se instala. Opto por não invadir completamente sua privacidade, abrindo a porta apenas o suficiente para espiar discretamente. Observo Yulia deitada de costas para a porta, em sua cama.

Fecho a porta suavemente e retorno ao meu posto de vigilância.

Estava começando a me odiar profundamente por estar apaixonado. Sentir esse tipo de afeição antes era mais fácil, quando era por uma garota cujo nome eu nem sabia. Pelo menos, naquela situação, não testemunhava o doloroso processo de vê-la se afastar cada vez mais de mim.

A garota da boate, cujo nome antes permanecia uma incógnita, representava uma forma mais fácil de amar. A ausência de detalhes pessoais, tornava aquela afeição menos complexa. Me odiava por sentir o impacto da sua indiferença, ao mesmo tempo em que desejava quebrar as barreiras que se formavam entre nós.

Cada passo dela para longe de mim se tornava uma ferida aberta, e eu lutava contra a auto-aversão que crescia ao ver a paixão queimando como um fogo incontrolável dentro de mim.

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