Yulia
Meu pai estava morto.
Na verdade meus pais estavam mortos.
E diferente do funeral da minha mãe, não chorei no funeral do meu pai, talvez por que já estive acostumada com a ausência dele que, sempre era recompensada por dinheiro, altas quantias de mesada e presentes caros.
Não o culpo, ele tentava equilibrar o trabalho e o fato de ser pai e mesmo sem ele querer, mais uma vez a ausência dele seria substituída por mais dinheiro.
Ouvi sem expressar qualquer emoção todas as palavras referente ao meu luto, inclusive dos chefes do meu pai e apesar de tentar transparecer que não havia nada para se preocupar, a expressão da minha madrasta, Kate, deixava a entender de que as coisas não estavam realmente bem.
Quando nossos olhares se cruzam, ela me lança um leve sorriso e logo se afasta mais um pouco com os dois homens.
A única coisa que queria naquele momento, era ir para casa e tentar esquecer mais aquele dia.
— Srta. Rivera? — Pisco, encontrando o olhar do advogado do meu pai. Kate mantém um leve sorriso no rosto ao me olhar, praticamente encolhida no sofá, com as pernas junto ao corpo.
— Pode começar — Ele assenti, começando a leitura. Meu pai não era nenhum empresário, mas possuía alguns bens, como seis carros de colecionador, três propriedades e uma quantia considerável que havia juntado durante os anos, enquanto trabalhava para CIA e que agora com o seguro da sua morte, praticamente triplicava de valor e me tornava... — É a única herdeira de todo o patrimônio — Franzo o cenho, balançando a cabeça de um lado para o outro confusa.
— ... e a Kate?
Os olhos do advogado vão para o papel em suas mãos e novamente para mim.
— Desculpe, Srta. Katherine Anderson não foi mencionada.
Kate levanta, dando alguns passos pela sala com uma das mãos na cabeça. Ela havia estado ao lado do meu pai por dez anos, aguentando seu humor, sua ausência assim como eu e... principalmente cuidando de mim, havia sido a única figura materna que tive depois da morte da minha mãe, apesar dos esforços da minha avó materna para que morasse com ela e o impedimento total do meu pai disso acontecer.
E no final das contas, depois de tudo, ele a deixou sem nada.
— Kate? — Minha voz soa baixa, ela se vira de imediato para mim, vindo na minha direção, não hesitando em me abraçar.
— Está tudo bem. Está tudo bem — repete num sussurro, me lembrando de quando era criança.
— Ela não pode ficar sem nada, eu quero... — digo rapidamente.
— Não pode mexer na herança antes dos vinte e um anos — Mas que...! — É a clásula principal do testamento — Enquanto isto, receberá uma quantia por mês, para se manter. Qual dúvida, pode me ligar... — Deixei de escutá-lo após a clásula dos vinte e um anos, sem entender o que meu pai pretendia com isto, principalmente em excluir Kate do testamento.
— Lia, preciso que me escute, está bem? — diz Kate algum tempo depois da partida do advogado, se agachando em minha frente enquanto segurava meus braços — Não importa se o seu pai me deixou alguma coisa ou não — Ela força um sorriso — Ainda lembro como se trabalha como enfermeira. Mas agora, estou preocupada com você.
— Comigo?
— Como agente da CIA, Paul reuniu alguns inimigos durante os anos e... estes inimigos podem querer... machucar... você de alguma forma — diz ela pausadamente.
— Eles podem me matar — digo travando a mandíbula — É isso.
Ela fecha os olhos, soltando o ar dos pulmões.
— É. É isto.
— Não sou mais uma criança, Kate. Poderia ter me dito isto de uma forma clara e direta.
— Para mim sempre vai ser uma criança e por causa disso, pedi que contratassem alguém que pudesse estar com você 24 horas.
Antes que pudesse perguntar o que estava tentando dizer, um homem beirando seus dois metros de altura, com braços musculosos enormes e um físico que claramente lembrava o dos militares, entra na sala e para minha surpresa eu o conhecia.
— Contratou um tarado para me proteger?! — Kate franze o cenho confusa, levantando, dividindo seu olhar entre mim e o cara da boate.
— Yulia, do que você...?
Me aproximo bruscamente do homem que me perseguia todas as noites que ia na boate no último mês, sempre quando olhava lá estava ele, com seus olhos fixos em mim como se estivesse hipnotizado ou seja lá que porra fosse.
Mas agora, ele havia ido longe demais...
— Se acha que pode vir aqui e dar de stalker, enquanto b**e uma com seu pau minúsculo que não deve nem b**er 5 cm em uma trena, está muito enganado — Ele não diz nada, invés disso, deixa um sorriso cínico estampado em seu rosto, enquanto mantém os braços em frente ao corpo em uma postura impecável.
Achei que a morte do meu pai era a parte ruim de tudo aquilo, seguida pela exclusão de Kate do testamento, mas aquele homem... havia fodido completamente tudo e além de toda merda que precisava lidar, ainda tinha que lidar com a porra de um tarado.
Deixo a sala em passos largos, desejando manter uma boa distância, até pensar em um jeito de me livrar dele.
Renzo— Releve — diz Katherine, madrasta de Yulia — Ela não está em um de seus melhores dias. O pai dela acabou de morrer e antes disso...— A mãe se suicidou — digo em tom calmo. Katherine assenti, olhando para o chão — Por causa da depressão.Ela sustenta meu olhar.— Então entende que ela tem motivos suficientes para agir desta forma — Fico em silêncio, já que não sei basicamente o que dizer. Nunca passei por uma situação parecida, mesmo tendo crescido longe da minha mãe, mesmo assim não se comparava com uma perda literalmente — Então... faça seu trabalho e garanta que ninguém irá machucar ela — Mantenho meu olhar fixo em um ponto invisível, enquanto Katherine se retira do cômodo. Instantes depois, giro meu tronco e sigo na direção em que Yulia foi, minutos antes havia sido conduzido por toda a casa, como um tuor e graças a minha memória fotográfica, sabia onde cada cômodo ficava, inclusive o quarto de Yulia.Me coloco ao lado da porta, encaran
Yulia Cruzo os braços sob o peito, observando meu mais novo segurança vasculhar todo meu quarto, inclusive em baixo da cama, como se alguém ainda se escondesse em baixo de uma cama. Quando ele abre as portas do meu armário, reviro os olhos impaciente.— Quer olhar também minha gaveta de calcinhas? — Ele para diante da janela, no mesmo lugar que estava minutos atrás, os olhos vagando pelo jardim.— Lá cabe uma pessoa? — Ele pergunta, me olhando por cima do ombro.Abro minha boca, a fechando no mesmo instante.— Acho que já pode sair do meu quarto — Os olhos dele vagam mais uma vez pelo quarto, antes de finalmente atender meu “pedido”.Ele para no corredor, se virando para mim.— Irei estar aqui no corredor, caso... — Bato a porta antes que ele terminasse de falar.O dia parecia interminável, mesmo que já fosse a hora de dormir. Eu havia concluído todo o meu ritual de cuidados com a pele, desfrutado de um banho quente e começado a po
RenzoEstabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy. A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante
YuliaKate solta o ar dos pulmões, ao fechar a porta, colocando o cabelo atrás da orelha ao se aproximar de mim sentada no sofá.— Os policiais não podem continuar vigiando a casa. Não acham que estamos correndo algum perigo — Apesar de ouvir isto deles, era notável de que não estava convencida. Kate sempre foi super protetora, mas com a morte do meu pai, tinha a impressão que este instinto havia duplicado.— Então se não tem nenhum perigo, posso voltar para a universidade — digo colocando um breve sorriso no rosto.Ela me olha incrédula.— É óbvio que não!— Por quê?! — Elevo a voz, sem acreditar que ela queria me fazer de prisioneira dentro daquela casa — Acabou de dizer que não tem nenhum perigo.— Os policiais disseram isto! Não eu! — Ela rebate — Ainda tenho certeza que corre perigo — Reviro os olhos, cruzando os braços sob o peito.Em poucos meses, eu me formaria na universidade em Gastronomia, e a ideia de que todo o meu esforço, todos os meus planos, estavam prestes a ser arru
Renzo Foi necessário um esforço tremendo de autocontrole para conter o impulso de agarrar Yulia e beijá-la ali mesmo, dentro do carro.Tocá-la, sentir a maciez da sua pele, desencadeou uma resposta imediata do meu corpo. Era evidente que ela também reagira, pois suas bochechas coraram instantaneamente. No entanto, percebi que esse movimento tinha sido mal calculado e arriscado. Meu pau estava prestes a estourar a calça, quando ela saiu abruptamente do carro e seu olhar se cruzou com o meu a medida que se afasta rapidamente. Um lado meu se sentiu aliviado pela sua saída, já que se ela ficasse mais alguns segundos dentro daquele carro, não responderia por mim e isto poderia acabar comigo sendo demitido. Com o estado do meu corpo normalizado, me concentrei no trabalho. Nas primeiras horas da manhã, cumpro o combinado e ligo a cada hora, recebendo sempre um sussurrado "estou bem" do outro lado da linha. Apesar de ter achado arriscado ela ir para um lugar como uma universidade, onde es
Yulia Ao sair da aula, meu celular toca pela centésima vez com o nome de Renzo no visor.— Eu estou bem — digo enquanto alguns estudantes passam ao meu redor, conversando entre si, prestes a desligar ouço a sua voz.— Tem certeza? — Paro por um instante de andar, tentando evitar que a minha mente associe sua voz rouca com o modo como me olhou no carro.— Se eu não estivesse, não atenderia o celular, não é? — digo antes de desligar, com a certeza que precisava manter o minímo de diálogo possível.Ando na direção de Gina que digitava algo rapidamente no celular, enquanto sorria.— Por que o sorriso? — Ela ergue o olhar, guardando o celular.— Vai ter uma festa de fraternidade — Reviro os olhos, voltando a andar, agora com ela ao meu lado.— Não deveria estar pensando em estudar para as provas finais?Gina ergue as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado.— Quem é você e o que fez com a minha amiga? A garota mais festeira que eu conheço? Solto o ar bruscamente dos pulmões.— N
Renzo Minha mão sobe e desce por cima da calça, enquanto minha mente contava os minutos para ligar novamente para Yulia. Apesar de ser errado, não havia ninguém olhando e precisava desesperadamente me aliviar, caso contrário, gozaria em apenas ouvir a voz dela.Poderia encontrar facilmente uma mulher que me aliviaria em segundos, desde meu divórcio, era tecnicamente o que fazia: uma trepada bem feita uma vez na semana. Mas duvidaria que meu corpo iria querer outra mulher, queria Yulia.Pego meu celular, pronto para fazer a última ligação da noite, hesitando por um momento quando a minha mente a imagina da pior forma que poderia imaginar naquele momento: quase nua.Engulo em seco quando o celular começa a chamar, esperando ansiosamente que ela atenda. No entanto, a frustração toma conta quando a chamada vai para a caixa postal. Por um momento, esqueço de toda a tensão acumulada em meu corpo e franzo o cenho, refletindo a preocupação que surge diante da falta de contato.Insisto mais
Yulia A música alta impedia que ouvisse meus próprios pensamentos, enquanto suas batidas vibravam pelo meu corpo. Nunca fui de me embebedar facilmente, mas a primeira bebida que tomei praticamente tirou meu controle completamente sobre meu corpo.Apesar de querer ir para o dormitório, simplesmente não conseguia. A atmosfera envolvente da festa e o efeito da bebida tornavam cada passo mais pesado, enquanto me via mergulhando cada vez mais na euforia do momento. O desejo inicial de escapar dissipava-se, substituído pela sensação de estar à mercê da festa, como uma folha à deriva na correnteza.— Gina? — Procuro ela entre as as pessoas ao meu redor, enxergando apenas vultos, não conseguia focar em um só rosto, muito menos encontrar Gina — Gina! — Meus passos são oscilantes, esbarro em algumas pessoas e até mesmo movéis a medida que ando sem uma direção certa.Mas apesar de todo meu esforço, não estava encontrando Gina. Ela poderia estar em um dos quartos no andar de cima, se pegando com