Capítulo 2

Yulia

Meu pai estava morto.

Na verdade meus pais estavam mortos.

         E diferente do funeral da minha mãe, não chorei no funeral do meu pai, talvez por que já estive acostumada com a ausência dele que, sempre era recompensada por dinheiro, altas quantias de mesada e presentes caros.

Não o culpo, ele tentava equilibrar o trabalho e o fato de ser pai e mesmo sem ele querer, mais uma vez a ausência dele seria substituída por mais dinheiro.

Ouvi sem expressar qualquer emoção todas as palavras referente ao meu luto, inclusive dos chefes do meu pai e apesar de tentar transparecer que não havia nada para se preocupar, a expressão da minha madrasta, Kate, deixava a entender de que as coisas não estavam realmente bem.

Quando nossos olhares se cruzam, ela me lança um leve sorriso e logo se afasta mais um pouco com os dois homens.

A única coisa que queria naquele momento, era ir para casa e tentar esquecer mais aquele dia.

— Srta. Rivera? — Pisco, encontrando o olhar do advogado do meu pai. Kate mantém um leve sorriso no rosto ao me olhar, praticamente encolhida no sofá, com as pernas junto ao corpo.

— Pode começar — Ele assenti, começando a leitura. Meu pai não era nenhum empresário, mas possuía alguns bens, como seis carros de colecionador, três propriedades e uma quantia considerável que havia juntado durante os anos, enquanto trabalhava para CIA e que agora com o seguro da sua morte, praticamente triplicava de valor e me tornava... — É a única herdeira de todo o patrimônio — Franzo o cenho, balançando a cabeça de um lado para o outro confusa.

— ... e a Kate?

         Os olhos do advogado vão para o papel em suas mãos e novamente para mim.

— Desculpe, Srta. Katherine Anderson não foi mencionada.

          Kate levanta, dando alguns passos pela sala com uma das mãos na cabeça. Ela havia estado ao lado do meu pai por dez anos, aguentando seu humor, sua ausência assim como eu e... principalmente cuidando de mim, havia  sido a única figura materna que tive depois da morte da minha mãe, apesar dos esforços da minha avó materna para que morasse com ela e o impedimento total do meu pai disso acontecer.

E no final das contas, depois de tudo, ele a deixou sem nada.

— Kate? — Minha voz soa baixa, ela se vira de imediato para mim, vindo na minha direção, não hesitando em me abraçar.

— Está tudo bem. Está tudo bem — repete num sussurro, me lembrando de quando era criança.

— Ela não pode ficar sem nada, eu quero... — digo rapidamente.

— Não pode mexer na herança antes dos vinte e um anos — Mas que...! — É a clásula principal do testamento — Enquanto isto, receberá uma quantia por mês, para se manter. Qual dúvida, pode me ligar... — Deixei de escutá-lo após a clásula dos vinte e um anos, sem entender o que meu pai pretendia com isto, principalmente em excluir Kate do testamento.

— Lia, preciso que me escute, está bem? — diz Kate algum tempo depois da partida do advogado, se agachando em minha frente enquanto segurava meus braços —  Não importa se o seu pai me deixou alguma coisa ou não — Ela força um sorriso — Ainda lembro como se trabalha como enfermeira. Mas agora, estou preocupada com você.

— Comigo?

— Como agente da CIA, Paul reuniu alguns inimigos durante os anos e... estes inimigos podem querer... machucar... você de alguma forma — diz ela pausadamente.

— Eles podem me matar — digo travando a mandíbula — É isso.

          Ela fecha os olhos, soltando o ar dos pulmões.

— É. É isto.

— Não sou mais uma criança, Kate. Poderia ter me dito isto de uma forma clara e direta.

— Para mim sempre vai ser uma criança e por causa disso, pedi que contratassem alguém que pudesse estar com você 24 horas.

          Antes que pudesse perguntar o que estava tentando dizer, um homem beirando seus dois metros de altura, com braços musculosos enormes e um físico que claramente lembrava o dos militares, entra na sala e para minha surpresa eu o conhecia.

— Contratou um tarado para me proteger?! — Kate franze o cenho confusa, levantando, dividindo seu olhar entre mim e o cara da boate.

— Yulia, do que você...?

         Me aproximo bruscamente do homem que me perseguia todas as noites que ia na boate no último mês, sempre quando olhava lá estava ele, com seus olhos fixos em mim como se estivesse hipnotizado ou seja lá que porra fosse.

Mas agora, ele havia ido longe demais...

— Se acha que pode vir aqui e dar de stalker, enquanto b**e uma com seu pau minúsculo que não deve nem b**er 5 cm em uma trena, está muito enganado — Ele não diz nada, invés disso, deixa um sorriso cínico estampado em seu rosto, enquanto mantém os braços em frente ao corpo em uma postura impecável.

Achei que a morte do meu pai era a parte ruim de tudo aquilo, seguida pela exclusão de Kate do testamento, mas aquele homem... havia fodido completamente tudo e além de toda merda que precisava lidar, ainda tinha que lidar com a porra de um tarado.

         Deixo a sala em passos largos, desejando manter uma boa distância, até pensar em um jeito de me livrar dele.

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