Não devia estar ali.
Mas estava e tudo por que achava que estava me apaixonando, o que literalmente, era péssimo.
A batida pulsante da música na boate ecoava nos meus ouvidos, tornando-se quase ensurdecedora. O ambiente estava impregnado com uma energia vibrante, onde corpos se moviam em sintonia, quase espremidos uns contra os outros, sob a influência do álcool ou de alguma substância ilícita, dançando, perdidos em sua própria euforia, como se o mundo lá fora não existisse.
Apesar do caos ao meu redor, pouco me importava com o que acontecia na pista de dança. Minha atenção estava capturada pela mulher à minha frente. Seu olhar, cheio de mistério, contrastava com o frenesi colorido que preenchia o ambiente.
Ela tinha idade para ser minha filha.
Porra, tinha! Mas meu pau naquele momento não queria saber disto, na verdade, desde que a descobri ali, ele não queria saber de outra coisa.
Seus movimentos no pole dance eram executados com uma maestria impressionante, como se aquela arte estivesse profundamente enraizada em sua essência. Cada giro, cada movimento era realizado de maneira envolvente e sedutora, deixando claro que ela estava familiarizada com a dança no poste. Observando-a atentamente, percebia a confiança que emanavam de seus gestos, como se aquela fosse sua zona de conforto.
Enquanto ela se contorcia e se movia com graça, notava os olhares fixos de outros homens ao redor, todos hipnotizados pelo show que se desenrolava bem diante de nossos olhos. No entanto, mesmo compartilhando o fascínio da plateia, meu olhar ia além.
Contudo, uma sombra de proteção pairava sobre mim quando percebia olhares indiscretos e mãos inquietas na plateia. Imaginava, com uma determinação silenciosa, quantas mãos teria que quebrar caso alguém ousasse tentar encostar em seu corpo. Uma mistura de raiva e posse se misturava enquanto continuava a admirar sua performance, consciente de que, não queria apenas continuar olhando. Queria saber quem era a mulher que, estava na maioria dos pensamentos dos homens que estavam ali.
No instante seguinte, ela foi interrompida quando uma garota se aproximou, segurando um celular. Ela para seus movimentos, seus olhos fixados no aparelho, o cenho franzido em uma expressão de surpresa e curiosidade.
Em um gesto inesperado, a dançarina desceu do poste com graciosidade e se misturou à pequena multidão, criando uma onda de murmúrios e especulações. E quando dou conta, meu corpo está me movendo atrás dela, como um cachorro farejando seu cheiro.
Por um momento a perco de vista, olho atentamente as pessoas em minha frente com o cenho franzido, até que vejo sua cabeleira loira saindo da boate para a lateral. Olho para trás, na expectativa de ver alguém a seguindo, mas não havia ninguém, além de mim.
Saio bruscamente da boate, olhando atentamente a rua com pouca iluminação em busca de qualquer sinal dela.
— Está me seguindo?! — Viro o rosto para o lado, ao ouvir sua voz — Por que se estiver... tenho certeza que isto é crime — diz com os braços cruzados sob o peito, estreitando os olhos ao dar alguns passos na minha direção, seus olhos me analisando com atenção enquanto mantinha um leve sorriso nos lábios carnudos — Mas não acho que seja um stalker ou... — Ela se detém com um suspiro, descendo o olhar para abaixo do meu umbigo — Com a sua idade, não deve nem ter mais um pau — Os olhos dela desviam para a rua a frente, justamente no instante em que um carro para.
Ela me olha mais uma vez, antes de andar em direção do veículo em passos largos, deixando para trás a certeza de que ainda seria minha esposa.
RenzoO suor escorria pela minha pele enquanto realizava flexões, sentindo a queimação nos músculos das costas. Cada repetição era uma forma de liberar a tensão, enquanto a contagem mental persistia, uma busca por superação pessoal. O foco estava inteiramente na rotina de exercícios, até que a porta se abriu.Por um breve momento, interrompi a contagem, uma expectativa silenciosa preenchendo o ar, até me dar conta de que já havia algum tempo que a esperava entrar por aquela porta e que agora já não estava tão ansioso como antes.Nitidamente estava apaixonado por um mulher que via constantemente em uma boate, dançando para um bando de pervertidos sem qualquer preocupação, sem ao menos ser uma das funcionárias daquele lugar, parecia que assim como eu, só queria encontrar uma distração.Continuo me exercitando, quando ela para do meu lado.— Não esperava ver você hoje. Ela solta o ar dos pulmões, deixando a bolsa de lado, juntamente com uma pasta parda.— Tenho um trabalho para
YuliaMeu pai estava morto.Na verdade meus pais estavam mortos. E diferente do funeral da minha mãe, não chorei no funeral do meu pai, talvez por que já estive acostumada com a ausência dele que, sempre era recompensada por dinheiro, altas quantias de mesada e presentes caros.Não o culpo, ele tentava equilibrar o trabalho e o fato de ser pai e mesmo sem ele querer, mais uma vez a ausência dele seria substituída por mais dinheiro.Ouvi sem expressar qualquer emoção todas as palavras referente ao meu luto, inclusive dos chefes do meu pai e apesar de tentar transparecer que não havia nada para se preocupar, a expressão da minha madrasta, Kate, deixava a entender de que as coisas não estavam realmente bem.Quando nossos olhares se cruzam, ela me lança um leve sorriso e logo se afasta mais um pouco com os dois homens.A única coisa que queria naquele momento, era ir para casa e tentar esquecer mais aquele dia.— Srta. Rivera? — Pisco, encontrando o olhar do advogado do meu pai.
Renzo— Releve — diz Katherine, madrasta de Yulia — Ela não está em um de seus melhores dias. O pai dela acabou de morrer e antes disso...— A mãe se suicidou — digo em tom calmo. Katherine assenti, olhando para o chão — Por causa da depressão.Ela sustenta meu olhar.— Então entende que ela tem motivos suficientes para agir desta forma — Fico em silêncio, já que não sei basicamente o que dizer. Nunca passei por uma situação parecida, mesmo tendo crescido longe da minha mãe, mesmo assim não se comparava com uma perda literalmente — Então... faça seu trabalho e garanta que ninguém irá machucar ela — Mantenho meu olhar fixo em um ponto invisível, enquanto Katherine se retira do cômodo. Instantes depois, giro meu tronco e sigo na direção em que Yulia foi, minutos antes havia sido conduzido por toda a casa, como um tuor e graças a minha memória fotográfica, sabia onde cada cômodo ficava, inclusive o quarto de Yulia.Me coloco ao lado da porta, encaran
Yulia Cruzo os braços sob o peito, observando meu mais novo segurança vasculhar todo meu quarto, inclusive em baixo da cama, como se alguém ainda se escondesse em baixo de uma cama. Quando ele abre as portas do meu armário, reviro os olhos impaciente.— Quer olhar também minha gaveta de calcinhas? — Ele para diante da janela, no mesmo lugar que estava minutos atrás, os olhos vagando pelo jardim.— Lá cabe uma pessoa? — Ele pergunta, me olhando por cima do ombro.Abro minha boca, a fechando no mesmo instante.— Acho que já pode sair do meu quarto — Os olhos dele vagam mais uma vez pelo quarto, antes de finalmente atender meu “pedido”.Ele para no corredor, se virando para mim.— Irei estar aqui no corredor, caso... — Bato a porta antes que ele terminasse de falar.O dia parecia interminável, mesmo que já fosse a hora de dormir. Eu havia concluído todo o meu ritual de cuidados com a pele, desfrutado de um banho quente e começado a po
RenzoEstabeleço mentalmente o plano de retornar ao perímetro em algumas horas. Naquele horário, provavelmente Yulia já estava dormindo, imaginava ela dormindo com seu pijama que não combinava com a garota que conheci na boate, que com certeza usaria algo oposto, mais... sexy. A imagem criada em minha mente, fez com que soltasse o ar bruscamente dos pulmões e massageasse minhas pálpebras, tentando manter algum controle sob meu corpo, já que não tinha controle algum em minha mente.Meus olhos se fixam novamente no tablet em minhas mãos, me dando finalmente uma trégua dos meus pensamentos, enquanto analisava cada imagem. Minha mandíbula trava ao ver pela câmera de segurança Yulia do lado de fora da casa, acompanhada por mais duas pessoas.Com passadas rápidas e largas, saio da casa e me dirijo rapidamente em direção a Yulia e aos dois visitantes noturnos.A adrenalina toma conta enquanto minha mente age antes mesmo de eu ter a chance de pensar em como abordar a situação. Em um instante
YuliaKate solta o ar dos pulmões, ao fechar a porta, colocando o cabelo atrás da orelha ao se aproximar de mim sentada no sofá.— Os policiais não podem continuar vigiando a casa. Não acham que estamos correndo algum perigo — Apesar de ouvir isto deles, era notável de que não estava convencida. Kate sempre foi super protetora, mas com a morte do meu pai, tinha a impressão que este instinto havia duplicado.— Então se não tem nenhum perigo, posso voltar para a universidade — digo colocando um breve sorriso no rosto.Ela me olha incrédula.— É óbvio que não!— Por quê?! — Elevo a voz, sem acreditar que ela queria me fazer de prisioneira dentro daquela casa — Acabou de dizer que não tem nenhum perigo.— Os policiais disseram isto! Não eu! — Ela rebate — Ainda tenho certeza que corre perigo — Reviro os olhos, cruzando os braços sob o peito.Em poucos meses, eu me formaria na universidade em Gastronomia, e a ideia de que todo o meu esforço, todos os meus planos, estavam prestes a ser arru
Renzo Foi necessário um esforço tremendo de autocontrole para conter o impulso de agarrar Yulia e beijá-la ali mesmo, dentro do carro.Tocá-la, sentir a maciez da sua pele, desencadeou uma resposta imediata do meu corpo. Era evidente que ela também reagira, pois suas bochechas coraram instantaneamente. No entanto, percebi que esse movimento tinha sido mal calculado e arriscado. Meu pau estava prestes a estourar a calça, quando ela saiu abruptamente do carro e seu olhar se cruzou com o meu a medida que se afasta rapidamente. Um lado meu se sentiu aliviado pela sua saída, já que se ela ficasse mais alguns segundos dentro daquele carro, não responderia por mim e isto poderia acabar comigo sendo demitido. Com o estado do meu corpo normalizado, me concentrei no trabalho. Nas primeiras horas da manhã, cumpro o combinado e ligo a cada hora, recebendo sempre um sussurrado "estou bem" do outro lado da linha. Apesar de ter achado arriscado ela ir para um lugar como uma universidade, onde es
Yulia Ao sair da aula, meu celular toca pela centésima vez com o nome de Renzo no visor.— Eu estou bem — digo enquanto alguns estudantes passam ao meu redor, conversando entre si, prestes a desligar ouço a sua voz.— Tem certeza? — Paro por um instante de andar, tentando evitar que a minha mente associe sua voz rouca com o modo como me olhou no carro.— Se eu não estivesse, não atenderia o celular, não é? — digo antes de desligar, com a certeza que precisava manter o minímo de diálogo possível.Ando na direção de Gina que digitava algo rapidamente no celular, enquanto sorria.— Por que o sorriso? — Ela ergue o olhar, guardando o celular.— Vai ter uma festa de fraternidade — Reviro os olhos, voltando a andar, agora com ela ao meu lado.— Não deveria estar pensando em estudar para as provas finais?Gina ergue as sobrancelhas, inclinando a cabeça para o lado.— Quem é você e o que fez com a minha amiga? A garota mais festeira que eu conheço? Solto o ar bruscamente dos pulmões.— N