A curta viagem até o prédio tanto de Johnny quanto de Joshua é curta e silenciosa. Emanuele faz questão de manter uma distância respeitável do homem, evitando qualquer tipo de mensagem errada. A atração que a moça antes tinha por ele agora havia se transformado num sentimento estranho, uma espécie de mágoa com ressentimento. Talvez até mesmo raiva.Joshua parece notar o desconforto de Emanuele, e apesar de se entristecer com aquilo, não se ofende ou a trata de forma diferente. Apenas olha de soslaio para ela enquanto o táxi termina o seu trajeto.Quando eles finalmente chegam, Emanuele olha para a padaria do outro lado da rua, pensando em tudo o que havia acontecido desde então. Só de lembrar do acontecido na fila do estabelecimento, ela fecha a cara.Joshua murmura:"Sinto muito."E pela primeira vez na vida, a moça não tenta parecer compreensiva ou boazinha. Ao invés disso, responde de forma ácida:"Imagino que sim."A curta caminhada até o elevador é marcada por um silêncio senso
O coração de Emanuele está batendo tão forte que ela teme ter um ataque bem ali mesmo, na frente do homem ajoelhado.Joshua, um homem com mais do dobro da altura da moça, de joelhos por ela. Parecia inacreditável.Ele não parece estar satisfeito ainda, parece ter muito mais coisas a dizer, mas a moça não pode permitir aquilo. Porque o calor esquisito, fosse o que fosse, estava subindo não apenas para as bochechas, mas outros lugares também...Emanuele se põe de pé rapidamente, tentando não gaguejar ou parecer muito boba quando fala:"Olha, Joshua, eu fico feliz em saber que você está disposto a mudar sua visão de vida e lutar pela sua felicidade, mas-"Ele também se levanta, mas não faz nenhuma questão de diminuir a distância entre os dois. Se quisesse, ele poderia até mesmo encostar os lábios no dela."Mas eu não posso fazer absolutamente nada em relação a esses seus... Hm, sentimentos recém descobertos."A voz de Joshua é lasciva, até mesmo provocativa quando ele pergunta:"É mesmo?
Joshua recua imediatamente, um misto de confusão e decepção surge em seus olhos. Emanuele vê aquilo como um bom sinal. Afinal, pelo menos está indo para LONGE dela, e não mais perto.Johnny não merecia aquilo, ter uma namorada infiel que suspirava por um homem mais velho com problemas emocionais. Pensando em retrospecto, a garota sentia verdadeira vergonha pelos vacilos do passado, pela falta de assertividade. Emanuele aproveita o silêncio de surpresa de Joshua para continuar:"Resolvi dar esse passo assim que Johnny me pediu em namoro. Senti que essa era a coisa certa a se fazer. E... Bom, agora que eu e ele estamos juntos, e oficialmente, é totalmente inadequado o que você está me dizendo agora."A moça parece ter dificuldades para deixar a voz mais fluída e menos cansada, mas todas as emoções daquele dia estão acabando com os seus músculos, incluindo as cordas vocais. Ela prossegue com seu desabafo:"Percebe o quão estúpido e indelicado você foi? Você disse que queria se desculpar
"Não."O murmúrio de Emanuele é tão assertivo, apesar do volume baixo da voz, que Joshua imediatamente recua.Ambos olham um para o outro, notando a respiração ofegante que exala dos dois, o ruído que soa no ambiente.Ele calculou errado. O brilho dos olhos dela não eram de paixão, reconhecimento ou até mesmo a atração que ele tinha certeza que ela sentia por ele. E sim... Dor.A culpa na voz dele é indisfarçável."Me desculpe, Emanuele. Não quero magoar você, não quero te ferir. Eu juro."Joshua realmente estava arrependido. Deveria ter prestado mais atenção aos detalhes, diminuído o ritmo de seus próprios instintos. Ele queria tomá-la para si, reivindicar o que era seu por direito. Mas como fazer aquilo quando a própria posse não se sentia bem com isso?Emanuele olhou no fundo dos olhos dele.Talvez ele estivesse certo. Talvez ela não amasse Johnny como deveria amar. Mas aquilo não significava absolutamente nada.Ela precisava saber, no entanto, porque aquela curiosidade tão grande
Como uma maldita covarde, Emanuele parou de andar imediatamente. Em pânico, a garota começou a olhar para os lados e para trás, pensando se valia a pena sair correndo ou se esconder.Porque aqueles policiais estavam conversando justamente com Alexandra? O próprio delegado avisou que, até que a questão das impressões digitais fossem resolvidas, ela não tinha com o que se preocupar.Será que o detestável do Crimson havia mudado de ideia e dado a ordem para prendê-la de forma preventiva? Aquilo só podia ser um pesadelo terrível.Emanuele apalpa o nariz quebrado, que a essa altura já deveria estar bem. Engolindo em seco, ela chega à conclusão que fugir é inútil. Uma hora eles a achariam, e na verdade seria pior se ela resistisse, não é? A moça tinha certeza que isso poderia adicionar alguns anos a mais de reclusão na pena.A passos lentos de como quem caminha para a própria morte, Emanuele vai diretamente até os policiais. Alexandra arregala os olhos de susto ao ver a garota."Emanuele, o
"O quê?" O murmúrio de Emanuele ecoa pelo ar ao redor dela, como o último suspiro de um moribundo ou a palavra final de um condenado antes da execução propriamente dita.Alexandra não está sendo malvada, maligna ou demonstra qualquer traço de prazer ao ver o óbvio sofrimento da garota. Muito pelo contrário; a irmã de Joshua parece estar tomando uma decisão sábia, mas dolorosa."Não estou dizendo que acredito que você seja uma... Uma assassina. Mas realmente não posso manter você no meu apartamento até que tudo isso esteja devidamente esclarecido.""Mas eu já esclareci tudo!". Emanuele dá dois passos em direção à Alexandra, fazendo de tudo para não demonstrar seu desespero, pelo menos não em sua totalidade. "Não tem nenhuma explicação que sustente essa acusação absurda que fizeram contra mim!""Emanuele, por favor, entenda. Eu sou uma empresária, tenho certo renome e preciso zelar pela minha reputação. Não sei como esse caso está sendo tratado publicamente, mas sei que há uma pequena
O quarto está escuro, e com exceção de um pequeno abajur ligado no canto do cômodo, não havia mais nenhum foco de luz. Sentada à mesa pela última vez naquela casa, Emanuele escrevia parágrafos e mais parágrafos sobre o tema da semana, respirando fundo para se manter concentrada.Depois da conversa tenta com Alexandra e a confissão assombrosa, ambas concordaram em apenas encerrar o assunto. Ficou acordado entre as duas que Emanuele teria uma semana para achar outro lugar. A garota de cabelos castanhos não achou energias para argumentar, então se enfiou para dentro do quarto e não saiu mais de lá.Toda aquela situação parecia surreal demais para ser processada adequadamente. Em um período curto de tempo, Emanuele havia começado a namorar, perdido a virgindade, perdido a mãe, foi acusada de assassinato, descobriu que Joshua realmente sempre sentiu algo a mais por ela além de mera atração física e, por último mas não menos chocante, que Alexandra jamais tinha sido a irmã boazinha e pac
"Emanuele?"A voz de Amanda no telefone soa mais uma vez, mais preocupada e mais aflita. O choro da moça é tão sentido que é impossível responder.Ainda com os dedos trêmulos de raiva, revolta e mágoa por ter um papel estúpido jogando na cara dela que o pai era um anônimo qualquer no mundo, Emanuele finalmente consegue tomar um pouco de fôlego.Aquele pesadelo tinha que ter um fim; nada daquilo poderia perdurar por muito tempo. Ela precisava acordar, e rápido! Mas aquilo estava ficando cada vez mais difícil e insuportável.Fungando repetidamente e fazendo o melhor para limpar as insistentes lágrimas que caíam por suas bochechas, a garota finalmente consegue responder."Tô aqui.""O que aconteceu? Porque você tá chorando?"Emanuele coça o rosto."Porque eu não tenho pai, Amanda.""O quê? Como assim, todo mundo tem um pai.""Sim, mas eu não sei quem é, e aparentemente nem a maternidade sabe. Meu pai é desconhecido. Nem sei se estava presente no dia em que eu nasci."Um silêncio desconfo