O quarto está escuro, e com exceção de um pequeno abajur ligado no canto do cômodo, não havia mais nenhum foco de luz. Sentada à mesa pela última vez naquela casa, Emanuele escrevia parágrafos e mais parágrafos sobre o tema da semana, respirando fundo para se manter concentrada.Depois da conversa tenta com Alexandra e a confissão assombrosa, ambas concordaram em apenas encerrar o assunto. Ficou acordado entre as duas que Emanuele teria uma semana para achar outro lugar. A garota de cabelos castanhos não achou energias para argumentar, então se enfiou para dentro do quarto e não saiu mais de lá.Toda aquela situação parecia surreal demais para ser processada adequadamente. Em um período curto de tempo, Emanuele havia começado a namorar, perdido a virgindade, perdido a mãe, foi acusada de assassinato, descobriu que Joshua realmente sempre sentiu algo a mais por ela além de mera atração física e, por último mas não menos chocante, que Alexandra jamais tinha sido a irmã boazinha e pac
"Emanuele?"A voz de Amanda no telefone soa mais uma vez, mais preocupada e mais aflita. O choro da moça é tão sentido que é impossível responder.Ainda com os dedos trêmulos de raiva, revolta e mágoa por ter um papel estúpido jogando na cara dela que o pai era um anônimo qualquer no mundo, Emanuele finalmente consegue tomar um pouco de fôlego.Aquele pesadelo tinha que ter um fim; nada daquilo poderia perdurar por muito tempo. Ela precisava acordar, e rápido! Mas aquilo estava ficando cada vez mais difícil e insuportável.Fungando repetidamente e fazendo o melhor para limpar as insistentes lágrimas que caíam por suas bochechas, a garota finalmente consegue responder."Tô aqui.""O que aconteceu? Porque você tá chorando?"Emanuele coça o rosto."Porque eu não tenho pai, Amanda.""O quê? Como assim, todo mundo tem um pai.""Sim, mas eu não sei quem é, e aparentemente nem a maternidade sabe. Meu pai é desconhecido. Nem sei se estava presente no dia em que eu nasci."Um silêncio desconfo
Emanuele quis, de verdade, mandar um texto enorme lotado de grosserias e maldizeres para Joshua. Em seguida, o plano era bloqueá-lo em todas as redes sociais, todas as suas ligações e mensagens de texto. Quem sabe assim, ela seria finalmente deixada em paz.Mas era óbvio que havia alguma coisa nele que ainda mexia com ela. Talvez fosse apenas a curiosidade que ele despertava nela, o jeito que parecia tão confiante em falar que ela era dele, a determinação em continuar procurando-a.Ou talvez fosse o fato de que Joshua era um sobrevivente, e no sentido mais estrito da palavra. Não apenas alguém que estava vivo, mas que tinha encontrado nela, uma garota dos seus vinte poucos anos, a inspiração para se livrar do ódio acumulado no peito e finalmente fazer as pazes consigo mesmo.Fosse o que fosse, no entanto, ela ainda estava comprometida. Não apenas comprometida, mas tinha entregado a própria virgindade para aquele que a tratava tão bem, cuidava de sua saúde tanto física quanto emocional
Fazendo o possível para não voar no pescoço de Thabata, Emanuele discretamente pegou o celular e mandou uma mensagem de texto.Alexandra parecia genuinamente surpresa, principalmente com a frase e o tom da visita para com a moça. Então ela perguntou:"O que está fazendo aqui?"A loira brinca com uma mecha do cabelo e, sem pedir licença, entra no apartamento. Os olhos claros vão diretamente até Emanuele, que permanece sentada e fazendo o melhor para não perder totalmente a cabeça."Vim aqui cumprimentar a vaca que você ainda hospeda na sua casa."Alexandra não fecha a porta. Ao invés disso, ergue uma das sobrancelhas e levanta a voz:"O que está acontecendo aqui? Porque está agindo dessa forma?"Foi então que Emanuele percebeu: era a primeira vez que Thabata não usava a máscara social de garota boa e empática na frente de Alexandra. Provavelmente a irmã de Joshua estava não apenas confusa, mas também irritada. Alexandra era esperta demais, sabia lidar com diferentes tipo de pessoas e
Emanuele coloca as duas mãos na bochecha, boquiaberta, ao ver e ouvir o tapa que Alexandra dá no rosto de Thabata. A loira recua alguns passos, tão ou mais chocada quanto, os olhos brilhando de ódio. Alexandra aponta para a própria porta ainda aberta. "Saia do meu apartamento." Para a surpresa das duas, Thabata começa a rir enlouquecidamente. "Pelo o que vejo, cunhada, você não foi a única que caiu no canto da sereia. Nunca pensei que fosse tão fraca a ponto de ser manipulada por uma caipira assassina de quinta categoria." Alexandra se mantém de pé sem perder a compostura, enquanto Emanuele permanece parada no mesmo lugar, um pouco mais relaxada. Thabata mantém seu sorriso viperino no lugar. "Talvez seja um mal de família." A moça de cabelos cor de trigo assume uma posição de combate. "Posso acabar com vocês duas ao mesmo tempo, e isso nem suar. E você!" Ela aponta para Emanuele. "Dessa vez vou te deixar irreconhecível, com tantas manchas e ossos quebrados que nem vai consegui
Amanda e Amora estão debatendo - intensamente - o que fazer sobre o caso de Emanuele.As duas entraram em consenso sobre Laketown, que deveriam sim usar de recursos financeiros moralmente reprováveis para conseguir qualquer informação. Elas só não sabiam quanto deveriam levar, ou se o suborno por si só seria a única forma de encontrar detalhes sobre o pai da garota.Amora mexe no laptop e procura mais informações sobre a maternidade. Amanda faz a mesma coisa pelo celular enquanto diz para a irmã:"Sabe o que eu estava pensando?""No quê?" Amora murmura."Já viu aquelas novelas mexicanas onde gêmeas são separadas ao nascer? E anos depois elas se reencontram no pior cenário possível?""O quê, acha que essa mulher misteriosa que enterra velhinhas no quintal é irmã da Emanuele?""Bom, eu não descartaria a possibilidade. Acho que precisamos averiguar isso na maternidade.""Isso se sequer conseguirmos qualquer informação relevante.""Se não conseguirmos pela gentileza, compraremos a informa
Depois que Joshua confessou seus sentimentos para Emanuele, a garota simplesmente se viu sorrindo. Tão rápido quanto como surgiu, no entanto, o sorriso se apagou. Thabata parecia estar prestes a cometer um homicídio em massa. Alexandra estava tão surpresa, tão genuinamente em choque, que nem conseguiu se mexer.Joshua permanecia olhando para a ex-ruiva, como se soubesse exatamente o peso das próprias palavras e não as temesse. Na verdade, era mais como se ele propositalmente quisesse que esse peso, esse impacto surgisse.Em seguida, Thabata saiu correndo como uma doida, sem dizer nada sobre aonde iria ou com quem falaria. Alexandra se sentou no sofá lentamente, como se estivesse tentando entender aquilo tudo. Emanuele permaneceu parada no mesmo lugar.Joshua respirou fundo, colocando as mãos nos bolsos."Bom, tenho certeza que ela não vai mais perturbar nenhuma de vocês."Nenhuma das garotas diz nada. Alexandra parece a mais perplexa com aquilo tudo.Emanuele olha para baixo, constra
Johnny não acreditava em Thabata. Não, aquela mulher rancorosa, louca, cheia de deboche no olhar e veneno na língua não era nada digno de crédito ou confiança. Mas Joshua também não. Não que ele fosse um homem ruim. Johnny sabia que as desculpas do outro dia haviam sido sinceras. Mas também estava totalmente ciente de que o sentimento por Emanuele, fosse qual fosse, não havia desaparecido. Por isso ele saiu correndo do apartamento de Amanda e Amora. Por isso ele dirigiu o mais rápido que podia, chegando no apartamento de Alexandra em meros minutos. Não porque Thabata havia mexido com a sua mente, mas porque sua namorada estava vulnerável, passando por maus bocados, e o único homem presente para acalmá-la no momento era justamente aquele que tinha negócios inacabados com ela. Suado e ligeiramente ofegante, o rapaz agora está encarando Joshua. A irmã dele está sentada no sofá, parecendo quase tão incrédula quanto ele. E Emanuele está ali, pálida, olhando fixamente tanto para ele