A primeira coisa que Emanuele repara é na aparência física de Thabata. Ela não parece avariada; na verdade está inteira. Não há manchas em sua pele ou sequer uma cicatriz para atestar a veracidade da surra que levou da própria. A expressão dela é neutra enquanto gesticula e conversa com Joshua, que está de braços cruzados.A ex-ruiva decide que vai se aproximar de qualquer jeito. Se Thabata queria caluniá-la ou coisa assim, iria se ver com ela!Assim que nota a presença da garota, Joshua arregala os olhos."Ah, oi!""Oi. Posso fazer parte desta conversa?"Thabata parece estar dividida entre golpear o nariz quase curado de Emanuele e sair correndo o mais rápido que pode."Pode sim", responde Joshua, rindo de nervoso. "Embora eu não veja como você poderia falar sobre a coleção de miniaturas de tubarão que Thabata comprou. Conta pra ela.""Nossa, são lindas", a loira mente descaradamente enquanto olha de cima a baixo para Emanuele."Sei o que estão fazendo, e não vai funcionar."O sorris
Depois de esbofetear a bochecha de Joshua, o que causou uma grande comoção entre os que assistiam incrédulos a briga, Emanuele saiu correndo.Não de volta para o apartamento de Johnny, tampouco para o próprio, mas para um lugar longe, desconhecido e vazio, se é que conseguiria encontrar algo do tipo naquela cidade tão populosa e agitada.Sim, ela sabia que estava com raiva. Sabia que tinha errado a dose quando disse a Joshua que ele permanecia no papel de vítima por opção, provavelmente soando como Alexandra.Embora parte de seu cérebro apontasse que a reação de Joshua ao chamá-la de covarde e inútil não fosse por si só o que ele realmente achava, mas sim uma resposta ao ataque verbal da própria Emanuele, a garota sentia a verdade cruel a atingindo como uma flecha certeira no coração.Ver Thabata ali, falando tão tranquilamente com Joshua, desregulou qualquer chance que a moça tinha de não perder o controle. E como ele tinha caído naquele papo esdrúxulo de mudança? Será que se Emanuel
Emanuele sente as mãos tremerem e suarem instantaneamente. "O quê?!"A mulher de saia comprida e camiseta fechada está tão pálida que poderia ser confundida com uma estátua. Ela grita mais uma vez:"É sim! Você matou a pobre dona Margareth!"Ao ouvir o nome maldito, Emanuele quase grita de frustração e ódio, mas a confusão é sensação de agonia é muito maior. Carlos intervém:"O que está acontecendo aqui?"A moça desconhecida franze a sobrancelha para o rapaz, explicando:"Há alguns meses atrás, a filha da dona Margareth foi embora para sempre de Porto Feliz! Ela abandonou a pobre velhinha dentro de casa, sem ninguém para cuidar dela... Até que semana retrasada ela voltou para fazer o que não conseguiu no dia em que partiu, matar a própria mãe!"Aquela história era tão absurda, tão delirante e cheia de furos que tudo o que Emanuele conseguiu verbalizar foi:"Você por acaso escuta as coisas que você fala?"A mulher se assusta com o tom da garota, segurando a bíblia como se fosse um esc
Quando acorda, Emanuele percebe que está cercada de pessoas. Não as velhinhas de antes, mas enfermeiros aqui e ali. Ela também não está deitada num chão duro feito de pedra, mas numa maca.Mais uma vez ela estava na droga de um hospital.Carlos está ao lado dela, falando no telefone. Assim que ele a vê acordada, diz:"Deus do céu, Emanuele. Você me assustou pra caramba.""... Carlos?""Sim, e Johnny está vindo pra cá. Você está bem?"Tirando a tontura e o pânico total... Não.Emanuele responde num fio de voz:"Minha mãe morreu."Silêncio."É, bom, eu..." Murmura ele. "Essa parte eu entendi. Sinto muito, Emanuele. Mas... Porque estão dizendo que foi você quem fez isso? Isso é bizarro demais."Ela também não sabia. A ex ruiva olha para os lados, tentando se situar. A cabeça dói como se tivessem a golpeado com uma pedra."O você vai fazer?" Carlos pergunta.Respirando fundo, a ex-ruiva fala com toda a sincero de seu coração:"Não sei."Se todas aquelas pessoas estavam distribuindo folhe
Carlos não os acompanhou até a delegacia. Com ar de preocupado, o rapaz disse que iria pedir ajuda a Amanda e Amora. Emanuele quase protestou, já antecipando o quão seria constrangedor ter que contar aquilo, mas...Seria inútil. De uma forma ou de outra, pelo jeito que as coisas estavam tomando proporção, elas acabariam descobrindo.Os policiais não foram desrespeitosos, apesar de um tanto taciturnos. Sob olhares acusadores e curiosos acompanhados de cochichos, a moça foi escoltada para fora do hospital. Johnny obviamente estava bem ao lado dela.Enquanto se dirigiam à viatura parada há alguns metros de distância, o namorado de Emanuele diz:"Não precisa falar nada pra ninguém sem a presença de um advogado. Eles vão te tentar te pressionar e se sentir acuada. Talvez até te levem a confessar um crime que não cometeu. Fique em silêncio.""Eu não tenho um advogado, Johnny.""Então eles são obrigados a disponibilizar um para você."Ao entrarem no veículo, nenhum dos dois abre mais a boca
A princípio, tudo o que Emanuele faz é ficar parada no mesmo lugar, incapaz de emitir qualquer som ou se mexer. As imagens agora estão em looping, o rosto da mulher no vídeo é idêntico o de Emanuele, o nariz, os olhos... Mas aquilo era absolutamente impossível. Só poderia ser um truque, uma armação.Johnny parece estar contemplando todas as opções cabíveis para a existência daquela pessoa existir, mas o delegado afirma o óbvio:"É claro que, como qualquer cidadão, você tem direito a um advogado. Mas esses vídeos estão famosos no lugar onde você vive, e devido a proporção que isso está tomando, temo que possa ser divulgado também na imprensa. Seria mais... Prudente se você apenas se entregasse."A ex ruiva olha para o homem da Lei e fala baixinho:"Não sou eu no vídeo."Ele quase solta uma risada sarcástica, mas o pânico nos olhos dela é tão visível que sorriso nem mesmo chega a surgir."Eu estive aqui nessa cidade durante meses. Pode perguntar a qualquer um, todos vão te dizer a mesm
Emanuele não diz nada a princípio, apenas avaliando Joshua de cima a baixo. O que será que ele estava fazendo ali e, principalmente, o que quis dizer com aquela frase?Johnny ergueu uma das sobrancelhas. Apesar de os dois homens terem feito as pazes formalmente, ele ainda a defenderia ferozmente de qualquer um que se aproximasse.A moça limpa a garganta antes de perguntar:"O que quer dizer?"Joshua põe uma das mãos nos bolsos e mostra a ela um pedaço de papel... É o mesmo folheto que as mulheres da igreja estavam distribuindo pelas ruas."Vim aqui prestar apoio. Soube que estava na delegacia porque tive tempo de te ver entrando na viatura ao sair do hospital.""O quê? Mas espera um pouco, como você sabia que eu estava no hospital?""Carlos me contou."A moça olha para Johnny, e ambos se fazem a mesma pergunta: quando? E por que? Carlos tinha um total de zero motivos para comunicar especificamente a Joshua. Seria mais plausível que o garoto tivesse avisado às gêmeas e a Andrew.O anti
A curta viagem até o prédio tanto de Johnny quanto de Joshua é curta e silenciosa. Emanuele faz questão de manter uma distância respeitável do homem, evitando qualquer tipo de mensagem errada. A atração que a moça antes tinha por ele agora havia se transformado num sentimento estranho, uma espécie de mágoa com ressentimento. Talvez até mesmo raiva.Joshua parece notar o desconforto de Emanuele, e apesar de se entristecer com aquilo, não se ofende ou a trata de forma diferente. Apenas olha de soslaio para ela enquanto o táxi termina o seu trajeto.Quando eles finalmente chegam, Emanuele olha para a padaria do outro lado da rua, pensando em tudo o que havia acontecido desde então. Só de lembrar do acontecido na fila do estabelecimento, ela fecha a cara.Joshua murmura:"Sinto muito."E pela primeira vez na vida, a moça não tenta parecer compreensiva ou boazinha. Ao invés disso, responde de forma ácida:"Imagino que sim."A curta caminhada até o elevador é marcada por um silêncio senso