—Então, vocês finalmente chegaram! — Afonso vem até nós, cheio de sorrisos.
Afonso é o prefeito da cidade de Vale verde. Ele tem cinquenta anos, e, desde que foi eleito, nossa cidade só melhorou. Ele é muito inteligente e gosta de se desafiar, por isso está sempre criando projetos que, às vezes, parece impossível ser feito, mas ele consegue. Um bom exemplo disso é a usina hidrelétrica que foi recentemente inaugurada, é um projeto que eu ajudei a planejar e também fui um grande investidor, deu muito certo. — Boa noite, Afonso, como vai? — Nora foi a primeira a respondê-lo, ele sorri satisfeito. —Estou maravilhosamente bem. Hoje é um dia muito especial para todos nós de Vale verde, o dia de agradecer ao nosso grande cidadão que só tem feito bem a nós. —Não precisa exagerar, Afonso — digo com um sorriso divertido. — Não é exagero, Bruno, você está mudando a vida de todos aqui com seus investimentos. Não precisa ser humilde e desmerecer todos os seus esforços. —Eu só sorrio em resposta. Eu sei que todos aqui na cidade quase me idolatram, mas eu não gosto disso. Eu investi muito é verdade, minhas empresas geram empregos e os impostos delas geram melhorias no sistema público, o que reflete na qualidade de vida de todos, mas eu não faço nada de graça, eu lucro muito com o sucesso dos meus negócios. Minha mãe acha que eles têm razão nessa idolatria toda, aliás ela ama ser paparicada pelos moradores, todos a respeitam e a tem como espelho. O coquetel foi um sucesso, eu recebi inúmeras homenagens, todos me olhando com admiração, muito diferente de anos atrás, esse sempre foi meu plano, tirar aquela imagem ruim de antes. Minha mãe está numa empolgação só, ela fica toda pomposa quando as outras mulheres me elogiam, não consegue esconder o quanto ela gosta dessa atenção toda. *** Duas semanas após o coquetel, o Ricardo, meu braço direito em todos os meus negócios, me avisou sobre a piora no estado de saúde do Marcos, eu enviei uma ambulância para buscá-lo em casa, ele piorou muito, muito mesmo, tanto que segundo os médicos ele está nas últimas. Minha mãe não concorda com minha atitude, para ela todos são culpados, na opinião dela, a Marisa e o Marcos, apoiaram a filha, mas eu sei que não. —Bruno, você não tem que fazer isso, eu não acredito que você ainda gosta daquela m*****a mulher! —Minha mãe falou com raiva quando soube do que fiz, aliás eu ainda vou descobrir como ela é informada de tudo que eu faço. —Mãe, eu não estou fazendo isso por ela, estou fazendo pelo Marcos e pela Marisa, que sempre me trataram bem! — Respondi, e ela sorriu com ironia. —Trataram bem? Bruno, deixa de ser idiota! Você acha mesmo que aqueles dois não sabiam o que a filhinha vadia deles estava fazendo? — Ela responde com ódio. —Mãe, eu não penso assim, ok? Eu os conheço, eu sei que eles não são como a filha. —Você não percebe, Bruno, você ainda está ligado àquela mulher. Enquanto você ficar aí, ajudando os pais dela, você nunca vai deixar essa história passar! —Mãe, essa história já passou. — Digo, com paciência, apesar de eu não ser nada paciente. —Eu só estou ajudando porque cresci frequentando a casa deles. Quando meu pai morreu, o Marcos segurou muito a barra para nós, eu não sou um ingrato, mãe. Aquela desgraçada me humilhou e um dia eu vou cobrar, pode ter certeza, mas não vou descontar em quem não deve. —Tudo bem Bruno, eu espero que seja verdade, eu espero mesmo. Você é casado, tem uma família linda e a Nora é a melhor pessoa que você poderia encontrar, não seja injusto com ela por causa de uma vagabunda que não tem o mínimo de respeito por ninguém. Eu concordo e saio em seguida. Minha mãe sempre detestou aquela m*****a e, no final ela sempre teve razão quanto ao caráter dela, aliás todos na cidade tinham, ninguém aqui gostava daquela puta, só mesmo eu e a Nora que éramos idiotas de não enxergar a verdadeira face dela, mas agora eu não sou mais aquele bobo, agora eu não me engano facilmente. A Nora está com uma cara nada boa esses últimos dias, ela pode falar que não se importa, mas eu sei que o fato de eu ajudar o Marcos e a Marisa a incomoda. Ela está muito insegura ultimamente tudo porque aquela mulher está voltando à cidade por causa da situação do pai, eles estão mantendo ele nos aparelhos até ela chegar. —Bruno, você está realmente bem com tudo isso? —Nora pergunta com uma cara preocupada. —Eu estou bem com o que exatamente? —Eu sei a que ela se refere, mas não quero falar nesse assunto. —Bruno, você sabe do que eu estou falando. Eu conheço você e sei que de alguma forma essa história mexe com você, eu só quero ter certeza que isso não vai mudar a nossa vida — dou uma risada sarcástica. —Nora, você está preocupada se eu vou ir correndo atrás daquela mulher como um cachorro quando ela voltar? Eu não sabia que você me tem num nível tão baixo! —Digo com raiva. —Bruno, eu sei que você a amou muito, eu cresci com vocês dois e conheço a história toda, eu só estou... —Você está insegura —eu a interrompo — Nora, não precisa se preocupar com isso, eu estou com você e é para sempre — acaricio seu rosto —eu sei o que aconteceu entre mim e a Mikaela, eu não nego que a amei muito, mas todo esse amor morreu no dia que ela me abandonou no altar, se hoje existe um sentimento por ela, é ódio, só ódio, entendeu? —Bruno, eu sou apaixonada por você desde sempre, você sabe disso. —Ela diz, chorando —eu gostei de você desde o primeiro dia que cheguei à cidade, desde a primeira vez que te vi. Mesmo te amando, eu respeitei seu amor pela Mika, eu sempre torci pela sua felicidade, mas agora eu não aceito ser a outra, eu não quero ser deixada, para você ir ficar com ela. —Não vai acontecer isso. Se eu quiser ter alguma coisa dela será vingança pelo que ela me fez. Eu estou com você e é para valer, Nora. Eu termino de falar e a beijo com paixão. A Nora é linda e muito gostosa, eu sinto um prazer enorme com ela, quando estamos na cama, mas ela não tem confiança em si mesma. Ela tem a autoestima muito baixa. Eu paro o beijo quando já estamos completamente sem ar. —Nora Eveline Brás Sanches, eu sou seu marido há mais de dez anos, isso não é suficiente para te provar que eu sou louco por você? —Eu sei disso, mas é que... — beijo-a novamente, um beijo longo e urgente, seguro sua nuca com uma mão, enquanto a outra desce tocando seu corpo com desejo. Essa mulher é muito idiota, mesmo eu provando todas as noites o quanto eu a desejo, ela ainda assim tem esses pensamentos, mas agora eu vou mostrar o quanto ela é desejável. Ela solta um pequeno gemido quando minha mão alcança sua intimidade.MIKAELA Tomar uma decisão é uma grande responsabilidade. Uma decisão errada pode mudar tudo na sua vida, para melhor e para pior. Quando muda as coisas para melhor é um alívio, você é elogiado, é acolhido e reconhecido, é o auge da sua vida, mas quando você escolhe a opção errada, esteja preparado porque as consequências dessas escolhas cobram um preço muito alto. Querer ter uma vida boa e com conforto é muito bom, isso faz as pessoas trabalharem mais, serem melhores e buscar melhorias para si e para os seus, mas quando a pessoa quer muito, quer demais isso não é nada bom, porque a ganância leva à perdição. Você deve se perguntar o porquê eu estou falando essas coisas, eu vou te dizer. Meu nome é Mikaela Morais, eu tenho trinta e três anos, moro em um quartinho dos fundos de uma loja de conveniência, moro de favor. Eu poderia ter tudo hoje, amor, dinheiro e ser a estilista famosa que eu sempre sonhei, mas eu decidi pular as etapas e saltar logo para o último degrau da escada. Qui
–Dias atuais–—Mika, você tem certeza que vai viajar para o Brasil agora? — Danda pergunta preocupada. —Eu preciso voltar, Danda, eu quero voltar. —Mika, você sabe muito bem da sua atual situação, esse não é o momento. —Danda, é justamente por isso que eu preciso voltar agora, talvez eu não tenha outra chance, me entende? — Você sabe que isso não vai ser fácil, você não está preparada para voltar lá agora. Porque você não me ouve! —Diz, agora um pouco nervosa. —Danda, eu preciso ir. —Seguro sua mão —minha mãe está sozinha agora, ela precisa de mim, já faz muitos anos, não será tão ruim. —Eu não estou falando disso, Mika você tem certeza que está preparada para revê uma certa pessoa? —Ela me olha atentamente. A Danda está realmente preocupada, eu entendo sua preocupação, eu também não sei como vou reagir quando estiver frente a frente com ele. Se arrependimento matasse pode ter certeza que eu estaria morta, essa frase é clichê, mas é a mais pura verdade. Se eu pudesse voltar no
BRUNO Quando o Ricardo voltou da casa da Marisa, ele estava com uma cara estranha, eu logo desconfiei que algo havia acontecido. No início ele não queria contar, eu até entendo porque, o Ricardo não é só meu braço direito nos meus negócios, mas ele é também um grande amigo, um irmão para mim. Nós estudamos na mesma universidade e ele me ajudou muito, sempre me deu conselhos, bons conselhos, e nos momentos difíceis me deu até ajuda financeira. O Ricardo sabe do que eu passei quinze anos atrás, aliás todos nessa cidade sabem. Depois que eu insisti bastante, ele finalmente me falou o porquê de voltar tão estranho. Eu rir quando ouvi suas palavras. Quer dizer que aquela vadia desgraçada realmente teve coragem de voltar?—Bruno, você não vai fazer nada com ela, ou vai? — Ricardo pergunta com preocupação. —Eu não vou fazer nada, cara, o que você acha que eu posso fazer? — olho para ele, sorrindo.—Eu conheço você, Bruno, eu sei quanto ódio você tem daquela mulher e seu desejo de vinganç
—Sim, eu comprei, então saia das minhas terras, ou eu chamo a polícia! — falei friamente. Virei-me para sair, mas ela segurou meu braço. Eu olhei bem para sua cara, ela está com os olhos vermelhos. Quando percebe meu olhar de nojo, sua cara fica pior. —Bruno, eu sinto... eu sinto muito de verdade. Eu sinto por tudo que eu fiz naquela época, eu...—Tire essas mãos sujas de mim! —A interrompi e empurrei sua mão. —Você não pode nem falar comigo, Bruno, nem uma única vez? —O que eu teria para falar com você? —Pergunto entredentes. Meu ódio por essa mulher é muito grande. —Bruno, eu só queria que você me...—O quê?! Você quer que eu te perdoe? — perguntei rindo com deboche. —Bruno, não fala assim, eu fiz aquilo sem pensar, eu não...—Por favor, Mikaela, não seja hipócrita! Você fez sua escolha, você escolheu o dinheiro, viagens, eu só tenho que agradecer àquele homem, porque foi através dele que pude enxergar o tipo de mulher que você é.—Bruno, eu sinto muito —diz de cabeça baixa e
Como eu imaginava, assistir ao funeral do meu pai foi um verdadeiro inferno. Alem da dor de perder uma pessoa tão importante, ainda tive que aguentar todos olhando para mim, uns com raiva, outros com nojo, mas nenhum deles estava com pena porme ver chorando ali. Eles deram os pêsames para minha mãe, que estava ao meu lado, mas ninguém se importou com minha dor. O ar estava pesado naquele lugar, eu já estava me sentindo sufocada, só queria sair o mais longe possível de todas aquelas pessoas. Eu fiquei realmente impressionada, tudo na cidade mudou muito, e para melhor. Tem tudo aqui, antes mal tinha supermercados e, mesmo assim, estavam caindo aos pedaços, hoje não, hoje tem tudo que uma cidade grande tem; prédios de escritórios, auto escolas, agências bancárias, até uma agência de modelos. olha só. É impressionante. Quando estava passando m frente à porta de um prédio, uma garota, muito bonita por sinal, esbarrou em mim.—Me desculpa, moça —ela olhou para mim e seus olhos verdes bri
—É, eu resolvi mudar um pouco — sorrio, tentando esconder a tristeza. Ele se senta no balanço ao lado do meu e começamos a conversar. Me senti um pouco melhor por encontrar alguém que não seja minha mãe para conversar.—Sua volta agitou a cidade. — falou com uma leve ironia. —Agitou é? Isso quer dizer que eu ainda sou famosa por aqui? —Faço uma careta divertida. —É, você ainda é a mais famosa. Ninguém mais fugiu do casamento deixando o noivo com cara de idiota depois de você. — Ele fala rindo.—Foi uma escolha muito burra, eu não deveria ter feito aquilo. Se eu tivesse me casado teria evitado tanto sofrimento. —Seu e dele, né! As pessoas aqui acham que apenas o Bruno e seus pais sofreram, mas eu tenho certeza que você sofreu muito também. —Eu olho no rosto dele e vejo pena nos seus olhos. —Você não imagina o quanto. Eu sei que a maioria, ou melhor, todos aqui, principalmente o Bruno não acreditam, mas eu sofri muito com toda essa história.—Você ainda o ama, Mika? —Sim. Charles
BRUNO Ver aquela mulher pessoalmente só me provou o quanto ela é fria, ela não sofreu, não sentiu nada, nem mesmo remorso, por tudo que fez naquela época, ao contrário, ela continua impecável. Eu não posso negar que os anos fizeram muito bem a ela, está ainda mais linda hoje. Ela é tão cínica que teve coragem de falar que acompanha nossa vida de longe, que se interessa pela vida dos amigos. Essa maldita não mudou nada, continua com aquela cara de pau, agora eu tenho ainda mais certeza que vou fazê-la pagar caro pela humilhação que me fez passar.Pelo motivo da Mikaela estar de volta, eu e a Nora decidimos não ir ao velório do Marcos, iria render muito falatório nossa presença, dividindo o mesmo espaço com a Mikaela; seria um prato cheio para os fofoqueiros de plantão, o que resultaria numa confusão. A Nora trouxe a Amanda aqui no escritório antes da escola, ela ama vir me visitar no escritório. Nesse dia, à noite, quando voltei para casa, a Amanda veio com um papo de que viu uma mo
—Eu não armei nada, Bruno, foi um acidente, mesmo porque eu nem sabia que este prédio é seu —Ela é muito cínica, tem coragem de negar bem na minha frente. —Não sabia? Você acha mesmo que eu sou idiota?! Mikaela, todos nesta cidade sabem que este prédio é meu, sua mãe sabe, tanto que veio falar com o advogado da minha empresa.—Bruno, eu não quero problemas, eu vou pagar sua estátua, ok?! —Ela responde com arrogância. —Tudo bem. —Eu escrevo alguns números no papel e entrego à ela, que fica pálida no mesmo instante. —Você está brincando comigo, certo? —Ela perguntou, rindo de nervoso. —Brincando com o quê? —Esse valor não pode ser real. —Porque não? Essa estátua é uma legítima Amadeo Mogigliane, suas obras geralmente ultrapassam os cinquenta milhões de dólares. Essa no entanto, são só cinco milhões. —Falei naturalmente. —Você está brincando comigo, aquela estátua de gesso ridícula, que eu esbarrei sem querer, vale cinco milhões de dólares?! Você é ridículo se acha que eu vou acre