Retorno ao lar

–Dias atuais–

—Mika, você tem certeza que vai viajar para o Brasil agora? — Danda pergunta preocupada.

—Eu preciso voltar, Danda, eu quero voltar.

—Mika, você sabe muito bem da sua atual situação, esse não é o momento.

—Danda, é justamente por isso que eu preciso voltar agora, talvez eu não tenha outra chance, me entende?

— Você sabe que isso não vai ser fácil, você não está preparada para voltar lá agora. Porque você não me ouve! —Diz, agora um pouco nervosa.

—Danda, eu preciso ir. —Seguro sua mão —minha mãe está sozinha agora, ela precisa de mim, já faz muitos anos, não será tão ruim.

—Eu não estou falando disso, Mika você tem certeza que está preparada para revê uma certa pessoa? —Ela me olha atentamente.

A Danda está realmente preocupada, eu entendo sua preocupação, eu também não sei como vou reagir quando estiver frente a frente com ele. Se arrependimento matasse pode ter certeza que eu estaria morta, essa frase é clichê, mas é a mais pura verdade. Se eu pudesse voltar no tempo eu jamais teria escolhido ir embora, foi meu maior erro. Agora eu vou voltar lá e vou ter que assistir toda a felicidade que eu perdi de perto, e isso vai doer demais.

—Já que eu não vou conseguir te fazer desistir — ela suspira profundamente —boa viagem, Mika, e me liga assim que chegar lá. —Ela me dá um abraço apertado.

—Eu vou ligar sim. Vou ligar todos os dias, não vou deixar de falar com você nem um dia sequer! —Eu respondo com um sorriso.

—Você está levando os remédios? — pergunta, quando eu começo a me afastar.

—Sim, eu estou. É sério, Danda, não precisa ficar preocupada, eu só estou indo visitar minha mãe e volto no próximo mês. — mostro minha passagem de volta.

Ela balança a cabeça e me dá outro abraço, dessa vez ela me solta com relutância.

Foram dez horas de vôo, pousamos no aeroporto Internacional de Guarulhos às dezenove horas, depois fui esperar o próximo vôo para Belo Horizonte. Seis horas da manhã, eu desci do ônibus em Vale verde. Meu coração parece que vai pular para fora do peito, são muitas emoções juntas, saudade, ansiedade, medo... eu estou com uma bagunça de sentimentos brigando pelo espaço. Quando estou tirando minhas malas, ouço minha mãe gritando:

—Mika é você? — me olha atentamente. Ela envelheceu tanto, emagreceu, o sofrimento está explícito no seu rosto cansado. Isso me deixa com o coração ainda mais pesado.

—Sim mãe, sou eu — agarro-a e abraço forte, muito forte.

—Mika, você voltou, você voltou... —Ela repete as palavras várias vezes. Choramos, nos abraçamos, eu senti tanta falta disso.

—Mãe, eu senti tanta falta desse abraço, senti tanta falta do seu colo. Mãe, eu senti tanto, me perdoa, me perdoa... — choro alto, choro até soluçar.

—Mika, está tudo bem, está tudo bem agora, você está aqui. —Ela acaricia minha cabeça com carinho, enquanto me consola.

Quando saímos da rodoviária para ir até o carro, eu senti os olhares das pessoas em nós, eu percebi o desconforto da minha mãe, acho que os quinze anos não foram suficientes para esquecerem a má impressão sobre a minha pessoa.

—Então, mãe, como a senhora está? A cidade virou outra, está tudo diferente e bonito. —Ela me olha com pesar antes de responder. Ela sabe que eu ainda amo o Bruno, isso eu nunca escondi dela.

—A cidade cresceu bastante, agora temos fábrica de ração, usina hidrelétrica, tem o centro de pesquisa, escolas particulares e até uma faculdade. Tem shopping center também. —Ela vai me contando tudo o que mudou em Vale verde.

—Nossa! Então as coisas por aqui evoluíram bastante, antes mal tinha praça pública pra gente sentar à noite. —Falei, surpresa.

—É, o Bruno fez muitos investimentos aqui. A fazenda dele, de animais de raça, gera muitos empregos, tem a fábrica de ração, tem plantações, tem o centro de pesquisas, e o hotel cinco estrelas. —Eu fiquei muito surpresa por tudo que ele construiu aqui, ele realmente nunca cogitou a ideia de se mudar.

—Nossa, ele nunca saiu daqui mesmo. —Falei, forçando um sorriso.

—Ele gosta daqui, ele e a Nora são muito felizes, Mika, todos aqui na cidade adoram eles, não tem porque irem embora.

—Eu fico feliz por eles, os dois merecem tudo de bom.

Pelo caminho, eu vejo os prédios, praças e o shopping, tudo muito mudado, nem parece o mesmo lugar.

—Então, mãe, como estão as coisas lá em casa, com o pai?

—Não está sendo fácil, Mika, você sabe que o sítio é nosso único ganha pão, mesmo que você tenha mandado ajuda todos esses anos, não está dando conta. Depois que o seu pai foi diagnosticado com câncer e precisou começar o tratamento, nós tivemos que vender os animais e as lavouras pararam também...

—Eu sinto muito mãe, eu não imaginei que fosse tão difícil assim. Eu sei que não deveria ter saído daquele jeito...

—Essa história já é passado, Mika, você fez sua escolha e acredito que, se não foi a escolha certa, você pagou o preço por ela. —Eu concordo com a cabeça. Eu realmente paguei o preço e foi alto, muito alto.

Chegamos em casa e tinha um homem esperando por minha mãe, ele me olhou dos pés à cabeça, foi bem rápido, mas eu notei. Ele se aproximou e nos cumprimentou:

—Bom dia, Marisa. Bom dia, senhorita?

—Mikaela, mas pode me chamar de Mika. —Respondi.

—Bom dia, Mika, eu sou o Ricardo. Aqui Marisa, eu trouxe isso para você, é para cobrir os gastos dos últimos meses de tratamento do Marcos e dar um alívio nas contas por uns meses.

—Muito obrigada, Doutor Ricardo, agradeça ao Bruno por mim. —Minha mãe diz, pegando o cheque.

Meu coração dispara quando ouço o nome do Bruno, eu também fico surpresa por ele ajudar meus pais. É bom saber que o meu erro não mudou a pessoa boa que ele era.

Depois que o homem saiu, minha mãe fez um resumo de tudo que aconteceu nos últimos anos, meu coração doeu quando ela falou tudo que o Bruno sofreu, a humilhação no casamento que não aconteceu, o sofrimento dele depois, ele quase se afundou no vício em álcool. Minha mãe também falou do julgamento das pessoas em cima deles e que até hoje tem gente que ainda olha feio para ela. É, eu acho que meu erro fez mais estragos que eu imaginei.

Eu dormi o resto do dia, tomei meu remédio e apaguei. Estava muito cansada, tão cansada que acabei esquecendo de ligar para a Danda. Quando eu acordei tinha mais de vinte mensagens no W******p, ela está realmente preocupada comigo. Eu retornei a ligação e nós conversamos por um tempo, ela me fez uma lista de recomendações, disse que colocou mais dinheiro na conta para mim, que é pra eu cuidar da minha alimentação... enfim, a lista é grande, eu ri, pois ela parecia uma mãe quando o filho sai de férias pela primeira vez.

Depois de tomar um banho para dispertar meu corpo, eu coloco um shorts jeans curtindo, uma camiseta e um tênis bem confortável, dicidi dar uma volta pelo sitio. Está exatamente tudo igual por aqui, nada aqui evoluiu, pelo contrário está tudo jogado às traças, apenas a casa está limpa, mas o paiol, o curral, está tudo largado.

Eu ando por uns trinta minutos até chegar à árvore, na nossa árvore. Eu olhei a imensidão de pastagem e, no lugar onde tinha um pequeno sítio, hoje tem uma enorme construção, uma fazenda cheia de luzes. Já são quase sete horas da noite e lá está tudo iluminado, assim pude ver pelas luzes o quanto o lugar é grande.

Eu me sentei de costas para a árvore e fiquei olhando as luzes, era aqui que eu e o Bruno nos encontrávamos antes, ele sempre chegava no horário certo que eu me sentava aqui para desenhar, ele me trazia presentes, cesta de piquenique. O Bruno sempre foi um príncipe comigo, mas eu joguei tudo fora quando escolhi abandoná-lo. Eu fechei meus olhos e senti as lágrimas descendo pelo meu rosto enquanto lembro dos nossos beijos e toda a sensação que eu tinha em cada toque dele, era tão bom. Estava perdida em pensamentos quando ouvi a voz atrás de mim:

—Então você finalmente voltou!

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