MIKAELA — O que foi, Mika? Por que você está assim? — perguntou minha mãe, quando estamos voltando para casa. — Não é nada, mãe, só estou com um pouco de dor de cabeça — minto. A verdade é que eu estou arrasada. Meu peito dói tanto que até respirar é difícil. Eu imaginei meu reecontro com o Bruno de mil formas diferentes, mas em nenhuma delas eu pensei que seria tão ruim. Eu sempre soube que ele tinha raiva de mim pelo que eu fiz, isso é normal, afinal eu o abandonei no altar, mas nunca pensei que seu ódio fosse tão grande, porque é isso que ele sente por mim: ódio. Eu voltei para casa e não consegui parar de pensar na minha conversa com o Bruno, ou melhor, no nosso acordo. É ridículo chamar esse desastre de acordo, eu estou completamente ferrada. O Bruno só estava esperando uma oportunidade para me fazer pagar pelos meus pecados, por ironia do destino eu acabei entregando essa oportunidade de bandeja para ele. A nossa conversa fica se repetindo na minha mente como se fosse um pe
BRUNO — Você vai mesmo continuar com isso, cara? — perguntou Ricardo, ele acha que eu estou procurando problemas. — É claro que eu vou. Ricardo, eu só vou devolver à ela um pouco da humilhação que ela me fez passar. — Ele balança a cabeça, negando. — Bruno, eu acho que isso não será tão simples como você acha. Você tem a Nora, a Amanda, ainda tem a tia Valéria que odeia a Mikaela até a morte. Você já pensou em como a Nora vai ficar quando souber disso? — Eu já pensei nisso e eu escolhi um lugar bem afastado para usar. — Não se preocupe, ninguém vai saber, Ricardo, a não ser você, é claro. — respondi com segurança e ele continua discordando.— Isso é o que você pensa, Bruno, com certeza isso não vai ser tão simples, mas tudo bem, eu sou seu advogado, né, vou cuidar de tudo como sempre. Ricardo saiu do escritório com uma expressão preocupada, ele não gostou da minha fixação com essa vingança, na opinião dele eu tenho que esquecer isso de uma vez por todas. Mas eu não consigo deixar
— O que você pretende fazer, me manter presa aqui até sua raiva passar!? — perguntou, com deboche. — Você acha que será assim tão fácil? Mikaela, você não tem noção mesmo dos meus planos para você. Aqui, assine! — Entrego-lhe a caneta. Ela hesita um pouco antes de deixar sua assinatura no final da folha. — Pronto. O que nós fazemos agora? — perguntou, olhando-me de forma sugestiva. — Agora pode ir embora. — Encarou-me, com decepção, eu soltei uma risada — O que você achou que iria acontecer aqui, Mikaela?— Bruno, não precisa ser hipócrita e dizer que neste acordo... — aponta para as páginas em minhas mãos — não está incluído serviços íntimos, porque eu sei que está. No fundo você ainda sente falta do que nós dois tínhamos, os nossos momentos eram ótimos e você sabe. — falou com a mesma arrogância de antes. Ela sempre usou o fato de eu ser louco por ela para fazer o que queria. — Você acha mesmo que eu sinto falta? — levantei-me e fui até ela — Mikaela, você não tem vergonha não é
MIKAELA Eu fiquei horas no carro; parei em um canto na estrada, onde não tem muito tráfego de carros, e chorei; chorei de raiva, de tristeza, de dor, arrependimento... coloquei todo o amontoado de sentimentos para fora. Eu não imaginei que minha atitude no passado tivesse feito o Bruno mudar tanto, ele não é mais aquele homem carinhoso de antes, agora é um homem frio e cruel, pelo menos comigo. Eu tenho vontade de vomitar quando penso em suas palavras. Me recuso a acreditar que ele terá coragem de cumprir o que disse, isso é... absurdo demais, até mesmo para alguém que está com o coração cheio de ódio e rancor. Quando eu voltei para casa, minha mãe já estava preparando o jantar. — Você gostou do passeio, Mika — perguntou ela, com um sorriso satisfeito. — Sim eu gostei bastante, mãe — minto — eu fui até os arredores da cidade; fiquei impressionada, até mesmo fora da cidade evoluiu, está muito bonito. — É, o Bruno investiu muito dinheiro nas mudanças daqui. Tudo melhorou para
— Não fale assim, Mika, você não pode pensar desse jeito. — acaricia meu rosto com carinho, outra novidade para mim — você merece ser feliz, minha filha, você errou feio, mas eu acredito que já pagou por isso. — Sim, eu paguei mãe. — ela nem imagina o preço alto que eu paguei — Eu não fui feliz, eu sofri bastante por não ter o amor do homem que eu amo, não vivi nenhum conto de fadas longe daqui. Eu contei algumas coisas que vivi em Nova Iorque, claro que omiti os detalhes sórdidos e a minha doença, ela não precisa de mais esse desgosto. Depois de ouvir minha narrativa, minha mãe me abraçou e me deu colo, o colo que eu sempre fui orgulhosa demais para pedir. O resto da semana foi tranquila, eu fui com minha mãe à feira; ajudei nas coisas do sitio; tudo dentro do normal. Na sexta-feira foi o dia de vacinação dos animais do sítio, eu fui levar os cachorros para vacinar, já que minha mãe tinha consulta com o médico e não podia remarcar. A clínica veterinária é da Nora. Imagina min
BRUNO Desde o dia da minha "conversa" com a Mikaela, eu estou em dúvida se continuo com essa história de vingança ou não. A Nora é uma mulher incrível, está sempre mostrando o quanto me ama, o quanto ama nossa família; eu sei que, se ela soubesse dessa besteira, não vai ficar nada bem; isso não irá fazer bem a ela, nem para nossa filha, e menos ainda para o nosso casamento. Se isso vir a tona vai ser uma grande confusão. Eu também estou tendo que enfrentar muitos questionamentos da minha mãe, segundo ela, ela me conhece bem o suficiente para saber que eu não estou tão calmo quanto tento mostrar; principalmente levando em conta o fato que eu tenho ajudado os pais da Mikaela esse tempo todo. — Mãe, eu já disse que isso não tem nada a ver. — respondi após mais uma pergunta dela. — Bruno, você ajudou aqueles dois esse tempo todo. Agora essa mulher está de volta, e você acha mesmo que ela não vai tentar nada com você? É óbvio que ela tentará se aproximar — Ela fala, com raiva. — Se
A confusão continuou. Vendo que, provavelmente ainda não conseguiram pegar os cachorros, eu decidi ir, pessoalmente, averiguar a situação. Assim que saí na varanda encontrei com dois cachorros derrubando tudo. Eu senti meu sangue ferver quando vi quem estava criando toda a confusão. — Eu sinto muito, Bruno, eu... — Você sente muito?! — a interrompi, furioso —Você está procurando confusão, porra! — Esbravejei. — Não, eu não... — ela tentou se afastar, mas acabou tropeçando em uma caixa. — Ai! Ela caiu de bunda sobre pilha de latas de adubo de plantas. Eu poderia tê-la segurado para evitar sua queda, mas não fiz. — Anda, levanta logo daí e pode ir embora! — ela não respondeu, nem levantou, só me olhava. — não ouviu!? — Mas, os cachor... — Eu já conheço os animais da sua mãe, vou pedir aos funcionários para pegá-los e depois de vacinados mando entregar no sítio — eu olhei para ela, que franzia a testa — saia da minha fazenda! — Tudo bem — ouvi sua resposta baixa, quando pass
MIKAELA — Alô! — atendi assim que meu telefone tocou, nem mesmo olhei quem estava ligando. — Você está no hospital? Me assustei, e também fico surpresa, quando ouvi a voz do Bruno do outro lado da linha. Eu sei que é ele, mas fingi não saber. – Quem é? — Ele bufou, irritado. — Até parece que você não sabe, Mikaela! — Sua voz soou raivosa. — Bruno? Desculpe, mas eu realmente sabia quem era você. Não tenho seu número aqui. Mais uma vez, ouvi ele bufar. Já posso imaginar sua cara de cão raivoso. — O que você quer? — Está no hospital? Você não respondeu minha pergunta! — Sim, eu estou. Me desculpe pela bagunça dos cachorros na sua fazenda. Eu jur... — Não peça desculpas mentirosas! — Ele me interrompeu, grosso — Eu não liguei para isso de qualquer maneira. — Nem sabendo que eu estou hospitalizada ele deixa de ser grosseiro. Agora eu sei que não existe nenhum resquício do amor que ele tinha por mim. Quando cheguei naquela fazenda, só consegui me lembrar das vezes que f