Capítulo Três

— O que você quer?

Pergunto curta e grossa na defensiva, não gostei nada deste cara. Ele não me transmite nenhuma confiança.

— Só conversa Srat. eu vi você aqui sozinha e achei que gostaria de alguma companhia.

Fala de uma forma mansa como um felino. Ele pode ter boa aparência mas isso não passa de um espelho. Posso sentir algo estranho no seu olhar, suspeito.

— Agradeço, mas não preciso de companhia. Eu já tenho um acompanhante.

Não meço minhas palavras, e vou me afastando dele. Me sentia aliviada aqui, em paz. Mas agora sinto que estou me sufocando. Me assusto quando o mesmo segura meu braço de leve o suficiente para me fazer parar, encaro ele com desdém..

— Olha eu só estou tentando ser gentil, não é como se eu fosse algum criminoso.

Da em fase a palavra criminoso, não me sinto bem em sua presença. Puxo meu braço da sua mão com uma certa violência, e vou embora em busca do Adam. Não demora muito para encontrá-lo sentado na nossa mesa. Me junto a ele e sento ao seu lado, ele olha para mim confuso, notando minha perturbação.

— Clara, você está bem? parece que viu um fantasma.

— estou sim, só um cara chato.

Digo sem dar muita importância ao assunto. não quero falar sobre isso, não por agora. A refeição chega mas não toco no prato, é como se aquele tal de Maurício, tivesse roubado meu apetite. Mas Adam, logo nota isso. Eu sabia que isso não iria durar por muito tempo. nada passa despercebido por seus olhos ávidos.

— Você tá bem mesmo? mal tocou na comida.

Adam, pergunta preocupado. é óbvio que ele notou meu desconforto. além de ser meu melhor amigo, também é muito observador. seus olhos são como as de um falcão, nada escapada do seu radar. qualquer pessoa em sã consciência tente mentir para o Adam, nunca dura por muito tempo. a forma absurda como ele faz as pessoas contarem a verdade é até mesmo assustadora. mas por trás dessa fachada ele é alguém muito gentil e compreensivo. me sinto completamente segura ao seu lado, e sei quem sempre posso contar com Adam.

— Só um pouco de dor de cabeça, podemos ir embora?

O mesmo apenas concorda. não consigo suportar ficar nem mas um segundo nesse lugar, sempre me sinto sufocada nessas jantares. Essas pessoas só estão aqui por causa das aparências, querem sair bem na mídia. Esse é o tipo de coisa que não tolero, se quer fazer uma boa ação que seja algo natural, não em frente a uma câmera. Adam, me ajuda a levantar, nos despedimos das pessoas na nossa mesa. Noto até alguns olhares desagradáveis em minha direção, certamente eles gostariam de fechar algum contrato com Adam, e eu estou atrapalhando isso. Mas um motivo do porquê não gosto de vir a esses lugares com pessoas promíscuas. Seguro o braço de Adam, com força quando vamos para fora do salão luxuoso. Mas flashes e perguntas sem sentido nos cercam, essas pessoas nunca se cansam? Adam, informa fazer uma coletiva de imprensa onde responderá todas as perguntas. O que diminui um pouco do túmulo. Depois disso entramos na limousine e vamos para casa. Não digo nada e Adam, não pergunta nada. provavelmente está esperando chegar em casa para me bombardear de perguntas. Por hora relaxo e aproveito o silêncio, aprecio a cidade pela janela. Suas luzes brilham como se fosse algo especial esta noite, nunca vou me cansar de apreciar essa cidade. A cidade que nunca dorme, crescer aqui foi um desafio mas também uma vitória para mim, essas ruas estão cheias de memórias preciosas para mim, me sinto mas emotiva do que o normal essa noite. Suspiro em alívio ao entramos no apartamento.

— No meu quarto em cinco minutos.

Ouço Adam, dizer ao passar por mim. indo em direção ao seu quarto. Nego com a cabeça e vou trocar de roupa. Coloco um pijama confortável do ursinho Pô, e tiro toda maquiagem, e faço um rabo de cavalo, saiu do quarto e vou para a cozinha pegar um pote de sorvete e duas colheres. Bato na porta do quarto de Adam e entro, ele está colocando uma máscara facial, vestindo um pijama horrível xadrez. Ele vem até mim e coloca uma máscara hidratante em meu rosto também. Depois pula na cama e abre o pote de sorvete tirando uma contidade excessiva de sorvete de chocolate. Me junto a ele e faço o mesmo.

— Agora me conta tudo, e nem adianta esconder nada! sei muito bem quando tá mentindo.

— Bom... eu estava na varanda respirando um pouco, quando do nada aparece um cara atrás de mim. Não posso negar que ele tinha uma ótima aparência.

— Até ai não vejo nada de mas, a não ser que ele seja gay.

Adam, diz sorridente erguendo uma sobrancelha. O mesmo demonstra suas insinuações sem o menor pudor. dou-lhe um pequeno tapa na perna e contínuo.

— Posso?

Pergunto querendo chegar logo ao fim dessa história. Ele balança os ombros sem da importância, tomo isso como um "sim"..

— Eu não gostei nada daquele cara, ele tinha um tipo de energia ruim... nos seus olhos eu posso jurar que vi maldade..

— Eu acho que você foi precipitada, não se deve julgar um livro pela capa.

Adam, tem razão. Mas aquele cara tinha uma vibe muito esquisita. A forma estranha como ele chegou de surpresa, até mesmo suas palavras. Era como se ele se esforçasse para ser gentil.

— Eu sei, mas aquele cara não me agradou nem um pouco.

— Você sabe o nome dele? Talvez eu o conheça... sei lá.

— Ele só falou o primeiro nome, Maurício.

Até mesmo pronunciar o nome dele me causa arrepios.

— Hmm se eu soubesse o sobrenome talvez soubesse quem é, mas até ai nada de mas.

Fala comendo a terceira bola de sorvete enquanto ainda estou na primeira. Me questiono se ele pode fazer parte da mesma elite de negócios que o Adam. mesmo ele não dando importância, todos os meus sentidos dizem para ficar longe daquele cara. Imagino que revelar o que aconteceu depois que cheguei do trabalho pode aguça seu interesse. espero não me arrepender disso depois.

— Adam, hoje quando estava chegando, tinha um homem parado do outro lado da rua me encarando..

Ele levanta os olhos e me encara um pouco mas interessado. Sua feição se fechou, e veio que isso chamou totalmente sua atenção.

— Como assim te encarando? — pergunta deixando a colher com sorvete de lado, sua atenção está totalmente focada em mim.

— Eu não sei se ele estáva me encarando ou não, eu não conseguia vêr o rosto dele. Talvez fosse alguém querendo alugar um apartamento aqui, sei lá.

Ele balança a cabeça em afirmação, mas em seu rosto ainda existe resquícios de preocupação. Seu olhar se torna distante, e tenho a nítida impressão que ele está me escondendo algo..

— Se isso acontecer de novo me avise. — diz em advertência.

— Tá.

Apenas concordo e não pergunto nada por que sei que ele irá negar ou inventar qualquer coisa. Da mesma forma que Adam, consegue ler as pessoas, ele também tem um dom para esconder o que seja. Sua mudança de assunto é brusca.

— O que tá planejando fazer essa semana? — pergunta lambendo a colher de prata.

— Não faço a menor idéia. — respondo sem dar importante. geralmente estou tão focada na loja que não tento fazer outra coisa, detesto ficar monopolizada.

Me assusto com o grunido de Adam, encaro o mesmo que segura a colher um pouco acima da sua cabeça, seus olhos brilham, posso vê as engrenagens na sua cabeça funcionando. Seu sorriso largo me diz que ele teve uma idéia, o que me assusta um pouco. Ele sempre quer fazer algo arriscado e radical, o que ele chama de ideias brilhantes, eu chamo de loucuras.

— E que tal irmos a Seattle, para minha coletiva de empresa?

Suas palavras não são nada do que eu esperava. Adam, nunca me convida para essas coletivas, ele sabe que eu odeio. Me pergunto o que fez ele mudar de idéia.

— Quando você marcou essa coletiva? — pergunto pegando um pouco mas de sorvete.

— Agora a pouco, eles me ligaram e marcamos que seria lá. Vai ser legal, vamos passar o resto da semana lá?

— Eu não acho que seja uma boa idéia — depois do que aconteceu mas cedo, nem quero imaginar o que mas eles podem inventar se nos fissemos juntos em uma coletiva. — afinal você vai lá falar sobre nós, e talvez não seja uma boa eu está lá.

Falo sem muita animação, Adam faz uma cara de desapontado. Lembro que em alguns momentos já concordei com alguma que não gostava, só por causa dessa sua feição de cachorrinho abandonado.

— Sua estraga prazeres — acusa, mas posso vêr o humor escondido em seus olhos. — mas você está certa, só estou um pouco receoso em deixar você aqui sozinha.

Essa não é a primeira vez que Adam, viaja a negócios e eu fico sozinha. Começo a me preocupar, o que está acontecendo com você Adam? faço essa pergunta ao meu subconsciente.

— Eu tenho certeza que irei ficar bem.

Tento convencer ele mostrando minha confiança ao Adam, sei que essa coletiva de imprensa é importante, não quero estragar tudo. E talvez com ele longe eu possa descobrir o que está acontecendo afinal de contas. Sinto que nuitos segredos estão nos rodeando ultimamente.

— Tudo bem, eu confio em você. Qual filme vamos vê dessa vez?

— E sua vez de escolher, o que quer vêr? — falo ao sentir a tensão entre nós diminuindo gradativamente.

Adam, me olha com uma cara maliciosa, oh Deus! de novo não.

— Cinquenta Tons de Cinza.

Falamos em conjunto. Adam, e eu já nos conhecemos a tantos anos que séria impossível em alguns momentos não saber o que ele está pensando.

— Você me conhece tão bem...

Cantarola Adam, se encostando no travesseiro. Coloco o filme e deito ao seu lado. Se passam os primeiros minutos dos filmes, minha visão começa a ficar meio turva e apago. Me acordo pouco tempo depois. A tv está desligado, o que parcialmente escuro. olho para o lado e vejo o Adam, dormindo. Pego o pote de sorvete vazio e saio do quarto. Acendo a luz da sala que ilumina a cozinha um pouco, coloco o recipiente vazio na pia e ligo a torneira enchendo a vasilha, lavo minhas mãos e enxugo. Suspiro e giro em meus calcanhares para ir ao meu quarto dormir. Mas tomo um susto ao me virar.

Vejo um homem alto e de casaco preto atrás de mim, é o mesmo homem que estava do outro lado da rua, não consigo vêr seu rosto até o momento em que ele tira o capuz e deixa a luz da cidade que atravésa a janela iluminar o seu rosto. Meu coração salta com o que vejo, não pode ser possível.

— Ric?

Seu nome saí naturalmente por meus lábios, ele está sorrindo para mim, seus olhos me penetram a alma, é como se ele estivesse perto de mim. Paralisada apenas observo ele erguer a mão e tocar minha face. Seu toque é quente em meu rosto, ele acaricia minha bochecha, como senti falta desse toque. Ele fala que me ama, sua voz é profunda é rouca. Ele aproxima seus lábios dos meus. Me acordo ofegante é sento na cama, tento controlar minha respiração, meu coração b**e forte. Passo a mão por minha testa que escorre com o suor frio. Olho para o Adam, e o vejo dormindo tranquilamente. Pego o pote de sorvete em cima do móvel ao lado da cama, e desligo a tv antes de sair do quarto, fecho a porta e vou andando pelo corredor, acendo a luz da sala mas não vejo ninguém ali. Ligo a luz da cozinha e deixo o recipiente vazio na pia e me encosto na bancada. Como gostaria que aquele sonho fosse verdade.

Toco meus lábios e eles estão quentes, suspiro e afasto esses pensamentos. Desligo as luzes e vou para o meu quarto, a jaqueta ainda está em cima da minha cama, pego a jaqueta e me agarro a mesma deitada na cama, o couro frio causa pequenos arrepios em minha pele, trago a mesma para mas perto de mim e adormeço sentindo o seu cheiro.

 

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