Capítulo Seis

— Ric...

O chamo pelo apelido de antigamente, ao qual achava carinhoso e talvez ainda ache. Um arrepio atravessa meu corpo, minha carne treme mas não consigo distinguir se é pela emoção de vê ele, ou pelo frio abundante. Um milhão de pensamento passam pela minha mente, já fantasiei esse momento incontáveis vezes, mas agora não consigo dizer uma única palavra, sinto como se minha mente tivesse parado, e as palavras estivessem embaralhadas na minha garganta, me impedindo de falar. Minha voz soa baixa e fraca, dou meia volta ficando de frente para o mesmo, seu olhar sobre mim é como um impacto ou deve ser a vergonha de ter sido pega. Vê-lo mas de perto mostra o quanto ele continua bonito, engulo em seco e solto o ar que estava prendendo. O som de trovão soa no céu fazendo com que eu saía do transe, eu sempre achei que encara os seus olhos nunca fosse de mas.

— Vem vamos sair da chuva.

Falo e faço um gesto com a cabeça em direção ao prédio, ele apenas concorda. Meu coração descompassa uma batida, tenho a sensação do meu estômago revirar. Minha mente está no automático, cada movimento que faço, cada gesto é calculado. Posso sentir seus olhos me observando, até o mínimo movimento. Várias perguntas surgem na minha mente, o que ele está fazendo aqui? por que veio até mim? por onde ele esteve todo esse tempo? mas e mas pergunta como essa continuam se multando na minha cabeça, sinto que meu subconsciente vai explodir a qualquer momento. Todos os meus movimentos no automatico, desde entra no elevador até abrir a porta do meu apartamento. Ao entramos jogo minha mochila em um canto qualquer, acho que nunca estive tão nervosa como hoje. Já faz dez longos anos, porque logo agora você tinha que aparecer de novo? não sei se estava no caminho certo para te esquecer, mas queria continuar essa trilha. Mas agora você está aqui, comigo!

— Ah... Eu vou pegar alguns toalhas.

Digo apontando o polegar para o corredor atrás de mim, sem saber muito bem o que dizer ou fazer. vou andando em direção ao corredor e entro em meu quarto, vou no armário que tem no banheiro e pego algumas toalhas. Fico por um tempo me encarando no espelho, minha aparência está horrível, coloco uma mecha molhada atrás da orelha. Não sei por quanto tempo fico encarando minha imagem no espelho, quando penso que já enrolei o suficiente, volto para a sala. Quando volto observo o mesmo tirar o casaco encharcada, essa visão me congela. minha respiração para por um momento, fica ainda pior quando ele me encarar, sinto um choque na minha coluna, meus nervos estão a flor da pele. Pisco atônita, voltando ao controle do meu corpo. Entrego uma contidade excessiva de toalhas para o mesmo, ficando apenas com uma. Ele me encara, posso notar a confusão no seu olhar, e um curto sorriso surgir nos seus lábios. Essa visão me aquece por dentro. Não, não Posso deixa ele mexer comigo, dessa vez sou eu que está no controle. Fingindo que isso não me afeta, me sento no sofá, e uso a toalha em minhas mãos para ticar o excesso d'água e secar um pouco meu cabelo.

— Então... o que está fazendo em Nova York?

Sou objetiva, mas... sério mesmo? O que você está fazendo em nova york? As vezes penso que minha capacidade para fazer perguntas enquanto estou nervosa não é tão boa assim. Dez anos separados e essa é a primeira coisa que digo. Que tal começar por, para onde você foi? por que me deixou? por que não me escreveu nenhum carta, e a principal delas. Que vem me corroendo a anos, me matando por dentro as poucos. Me machucando dia após dia, me ferindo, magoando meu orgulho. Mas mesmo sentido todas essas coisas, não poderia, não conseguia parar de pensar nisso. Se ele ainda me ama, se o Ric, ainda sente o mesmo que eu. Esse mesmo fogo intenso e ardido que vem me consumindo a anos, pouco a pouco. Eu preciso saber, me sinto ridícula por pensar isso. Mas simplesmente não consigo evitar. Sinto minhas bochechas esquentarem, coloco a toalha em cima da minha cabeça, escondendo um pouco do rubor em meu rosto. Sei o que qualquer pessoa falaria se soubesse meus pensamentos mas sórdidos. Que sou uma idiota por esperar por ele, que joguei fora uma década da minha vida. E não posso acusar essas pessoas por dizerem isso, por afirmar o óbvio. Mas é isso que a paixão faz com você, ele te desgasta aos poucos se não for cuidada. Até não resta mas nada..

— Trabalho.

Diz de forma neutra e fria enquanto seca os seus braços. Não sei o que eu esperava. Ric, não é mas aquele homem romântico que conheci. Ele não passa de um estranho agora, uma pessoa do meu passado que acabei de reencontrar. Não sei o que perguntar, bom eu sei só não sei como dizer, é como se tivesse algo em minha garganta impedindo que as palavras saíssem. Vários pensamentos embaralham minha mente, farias pensamentos me ocorrem. A pergunta que não quer calar fica soando na minha cabeça, o que ele está fazendo aqui? por quê só agora? Suspiro e deixo a toalha de lado, não sou mas uma adolecente com os nervos a flor da pele, caída de amores pela sua primeira paixão juvenil. Tenho perguntas a fazer, e quero todas respostas.

— Ricardo, o que está fazendo aqui?

Pergunto encarando o mesmo que deixa a toalha de lado e se aproxima de mim. Meu corpo instantâneamente fica alerta com a proximidade, um arrepio atravessa meu corpo, e um gota fria de suor descer por minha espinha. Não posso acreditar que depois de todos esses anos, meu corpo reage até mesmo o mínimo movimento que ele faz. O mesmo se senta no sofá a minha frente, seus olhos fixos aos meus. Posso notar a mudança de ar, o clima entre nós ficar mas pesado. E dificuldade ao respirar.

— Queria saber como estava.

Diz colocando seus cabelos úmidos para trás. Essa é a ponta do iceberg do eufemismo. Como ele pode surgir na minha frente, ou melhor. Vir até minha cada do nada, depois de todos esses anos, só para saber como estou? quem droga ele pensa que é? deveria começar me pedindo perdão, dizer que sente muito depois de ter feito amor comigo, e logo em seguida ter sumido do nada. Mas aqui está ele, com a sua maior cara de cretino, me fazendo uma pergunta irônica, e cheia de sarcasmo. Mesmo que eu não tenha notado nenhum dos dois, mas isso não muda o que eu penso. Mordo meu lábio e levanto, vou até a cozinha e pego uma xícara no armário, posso ouvir o mesmo suspirar, Ouço seus passos se aproximando. Desejei por muitos anos vêr o seu rosto, mas agora ele é a última coisa que quero vêr no momento. Cafajeste! xingo o mesmo nos meus pensamentos.

— Cla... eu..

—Para, por favor para — eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas, não me importa. Sinto a raiva crescer aos poucos, se espelhando por todo meu corpo. — Olha eu não quero ouvir nenhuma mentira ou lamentações, eu só quero explicações. E talvez até, um pedido de desculpas no final. — completo.

Falo deixando a xícara em cima da pia enquanto volto a encara o mesmo. Seus olhos me analisam com precisão, sei o que ele está tentando fazer, e posso dizer em todas as letras que não vai funcionar, você não pode vêr através de mim, pelo menos. não mas.

— Eu sei, é por este motivo que estou aqui.

Fala concordo, posso vêr que isso é sério. sem joguinhos ou qualquer outra jogada. só a mas pura verdade, sem rodeios. sinto como se estivesse chantageando o próprio diabo. pego a xícara novamente, ligo a cafeteira e espero o café esquentar. Pego outra xícara e coloco o café em ambas quando o líquido escuro e aromático esquenta, sinto o olhar de Ric, em cada movimento que faço, ou séria o meu corpo. penso que só agora minhas roupas estão encharcadas, marcando cada curva do meu corpo. penso em trocar de roupa, mas rapidamente interrompo esse pensamento. chega de rodeios, não interessa ó quanto ele me olhe, não vai conseguir nada de mim. pego uma xícara e ofereço ao mesmo, que aceita e voltamos para o sofá.

Na sala não se ouvia nenhum som além da chuva, o vejo beber mas um gole do seu café e passar mas uma vez a mão pelo cabelo, acho que ele deve está procurando as palavras certas para começar a explicar, não tenho pressa esperei por dez anos, um minuto a mais ou a menos não fará diferença alguma, contanto que ele digo toda verdade. tomo um gole do meu café, rapidamente sou imundada por uma passageira sensação de conforto, pensei que se não tomasse meu café antes de iniciar esse conversar, acabaria jogando um vaso na sua cabeça. café agita alguns e acalma outros.

— Cla... eu não fui por que quis, eu fui obrigado a ir.

— Ricardo, você não é nenhuma criança pra te obrigarem a ir para onde não quer. — ergo uma sobrancelha, cética.

Digo deixando minha xícara em cima do centro, me encostando no sofá e cubro minhas pernas com a toalha a mais que trouxe. mesmo estando dentro de casa, o aquecedor ligado e a xícara de café fumegante, sinto frio. penso que ele possa está sentindo o mesmo, mas paro rapidamente esse pensamento. o Ric, que se dane.

— As coisas não são assim na minha família — suas palavras soam com pesar, me sinto confusa com sua confissão. sei que ele não tinha o melhore relacionamento com sua família, mas não imaginava que seria tão grave.

— Eu sei que não, eu também sei que o seu pai, tava mal mas... Você poderia ao menos ter me ligado, escrito uma carta, não sei.

Passo a mão por minha testa que está molhada, e desvio meu olhar para a janela. a chuva persiste lá fora, me surpreende um pouco quando vejo um raio cotar o céu. pelo jeito o tempo não vai melhorar, igual a essa conversa.

— Cla, a minha família...

— Por favor não me chama assim, tá?

Digo mas firme do que deveria, não suporto ouvi-lo me chamar por esse apelido, me trás lembranças que resolvi esquecer quando voltei pra casa. Não quero que ele saiba que ainda mexe comigo, não quero que descubra que ainda tenho nutrido sentimentos a ele. séria muito humilhante, e vergonhoso. não quero que Ric, me veja rebaixada dessa forma a ele. o mesmo acente com a cabeça, mesmo que ele tente não deixa isso transparecer, isso mexeu profundamente com ele. posso até afirmar que o machucou, mas tenta ignorar isso. ele me abandonou, me deixou em um inferno de angústia por dez anos, não posso perdoá-lo facilmente, e não vou.

— Clara minha família tem segredos, acredite não séria seguro ligar pra você ou ter algum contato. — fico um pouco assustada ao ouvir isso, mas tento não deixar transparecer.

— Que segredos, e por que não séria seguro?

Pergunto mas confusa do que antes, sinto o frio aumentar mas, rapidamente o pensamento que o aquecedor deve está desligado me ocorre, me enrosco mas na toalha. minha expectativa aumenta, junto com o frio e a tensão.

— Eu não posso falar, não agora. — me irrito, que tipo de brincadeira é essa?

— Então por que está aqui? Por que veio me procurar?

Me exalto e falo um pouco mas alto. Todo esse mistério está me causando uma ansiedade terrível, sinto como se ele não confiasse em mim o suficiente pra falar, se ele voltou para me deixar mas confusa e cheia de perguntas parabéns pós consegui. meus sentimentos estão em conflito, minha mente confusa e meu coração machucado. Só não entendo por quê ele voltou logo agora, quando resolvi esquecer tudo e deixar para trás o passado, todas as lembranças e momentos que vivemos, sinto como se minhas cicatrizes abrissem cada vez mas. meu coração está sendo machucado novamente, não posso permitir que isso aconteça. não posso me render a isso, tenho que lutar a todo custo. não posso permitir que Ric, me machuquei novamente.

— Eu juro que gostaria de dizer tudo mas eu não posso, não agora. prometo que quando a hora certa chegar, você vai saber. por favor, me entenda.

— Quem tem que me entender é você! Você foi embora sem falar nada e nunca quis saber de mim, sabe quantas vezes eu fui dormir chorando? Você não faz ideia. E as vezes em que eu pensei que você iria me ligar, mas nunca ligou. Eu quero que você saía da minha casa agora e da minha vida, eu não quero explicações, não quero nada de você. Eu só quero seguir minha vida sem mas dores.

Digo me levantando e indo até a porta abrindo a mesmo, eu sei que por mas que tentasse não conseguia conter minhas lágrimas. o mesmo se levanta e vem até mim, ao parar na minha frente sua mão toda meu rosto. permito o gesto como um ato de despedida. suas mãos continuam tão quentes como antes.

— Só me escuta.

Pede bastante abalado, mas eu estou mas, muito mas triste, confusa e principalmente machucada. Seja lá o que ele tiver pra dizer não quero ouvir, pelo menos não hoje. nossa conversa acaba aqui, por enquanto.

 

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