Lili
— Foram quatro copos ao todo — diz com uma naturalidade espantosa.— Alice, pelo amor de Deus! — esbravejo. Ela olha ao nosso redor e eu faço o mesmo. Algumas meninas passeiam pelo jardim conversando amenidades, outras estão aproveitando o tempo livre para ler um livro. Coisa que eu e Alice costumamos fazer se não fosse esse impasse. Ela me pede para falar baixo e eu bufo audivelmente. — Ok, acabou? — pergunto ainda irritada, mas para o meu desespero ela faz um não com a cabeça.— Então, eu e o Dante dançamos uma ou duas músicas lentas. Ain, bem coladinhos! Lili, ele me dizia coisas delicadas no ouvido e nós... nós nos beijamos... e foi o melhor beijo da minha vida! Um beijo doce e delicado, quente e envolvente tudo ao mesmo tempo, e foi tão lindo! Eu me senti igualzinha aquelas mocinhas de livro de romances, sabe? Deu para sentir aquele calor no corpo, o coração acelerado no peito, a conhecida falta de ar e aquela pegada forte das suas mãos na minha pele febril. E quando percebi eu já estava totalmente consumida pelo fogo da paixão e dentro de um quarto luxuoso, deitada em uma cama espaçosa e macia. Só eu e ele...— Não estou acreditando no que está me dizendo, Alice! — A interrompo completamente tomada pela incredulidade. Alice volta a escancarar o seu mais novo sorriso sonhador.— Ele foi tão perfeito, Lilian! — ralha com um suspiro arrastado. — No começo fiquei tão nervosa! Eu simplesmente não sabia como dizer para ele que eu ainda era virgem e eu não sei, mas acho que ele percebeu a minha insegurança, e começou fazer um carinho diferente com as mãos, deixando alguns beijinhos quentes no pé da minha orelha, e esses foram descendo lentamente pelo meu pescoço. O meu corpo reagiu inteiro de uma forma tão intensa, senti alguns arrepios leves em minha coluna e em seguida um calor que só aumentava a minha febre. Eu estava totalmente entregue, sem nenhum receio e ele também. Logo me vi flutuar. O meu corpo parecia tomado, dominado pelo seu prazer. Dante carinhosamente começou a tirar as minhas roupas, não havia nenhuma pressa em seus movimentos e nenhuma urgência. Ele só as tirava como se venerasse o meu corpo deitado naquele colchão. As peças voavam pelo quarto e caíam em qualquer lugar, e depois de vê-lo se despir bem na minha frente com a mesma agilidade, com aqueles olhos vorazes, eu já não me dominava mais, se quer conseguia pensar direito. Quando ele voltou para cama e começou a me beijar novamente, notei que havia uma fome devoradora. A sua língua quente e úmida invadiu a minha boca e eu pude sentir uma ardência no meio das minhas pernas que me fez arfar. Automaticamente ele parou e aos poucos retomou com os movimentos e a ardência logo deu lugar ao prazer. Foi tão... intenso e... tão bom e... tão gostoso! Cada vez que ele entrava e saia de dentro de mim as suas palavras sussurradas de amor me acalentavam. Linda, ele me dizia o tempo todo. Acho que estou apaixonada, amiga! — Ouvir um relato tão detalhando me deixou sem chão. A pergunta que não quer calar agora e que está gritando alto dentro dos meus ouvidos é...— Vocês usaram camisinha, não é? — Ela praticamente se engasgou com um pedaço de bolo. Alice tosse continuamente enquanto dou palmadas leves em suas costas e quando fica mais calma, e finalmente consegue respirar direito, pego uma garrafinha d'água e lhe entrego. Ela toma um gole e respira fundo. Contudo, vejo medo em seus olhos.— Nós não... não usamos camisinha. — Ela gagueja. — Que droga, Lilian e agora? — Eu a puxo para um abraço.— Vai ficar tudo bem! Com sorte não vai acontecer nada demais, não se preocupe — digo para tentar clamá-la e a sinto relaxar no meu abraço, mas no fundo estou muito, muito preocupada com tudo isso.O resto do dia tento não pensar nas loucuras de Alice e em suas palavras, embora elas insistam em martelar nos meus ouvidos vez ou outra. Faço graça com algumas palavras da professora na aula de artes a fazendo rir com as mãos boas imitações e brinco o tempo todo para mantê-la tranquila. Infelizmente só poderemos sair do internado no próximo feriado que é quando parte dos funcionários estão de folga e a vigilância aqui dentro diminui. Quando a noite chega estamos contando os minutos para ir para nossa cama. O chato é ter que enfrentar a m*****a fila para ir para o banheiro. Não é muito grande já que todos os dormitórios têm três banheiros, mas ainda assim é estressante ter que esperar a nossa vez. Alice cantarola alguma música que não sei se conheço, pelo menos não me vem a memória agora e alguém esbarra com força no meu braço, fazendo uma peça da minha roupa que eu segurava cair ao chão. Eu me agacho para pegar a peça e encontro um par pés em chinelos de dedo parados bem a minha frente.— Não sei se foi impressão minha, mas acho que vi alguém andando pelo jardim na noite passada. — Agatha fala com um certo sarcasmo. O meu coração acelera violentamente no peito e ergo o meu corpo para encontrar seus olhos vivos. Ágatha Schimidt é uma patricinha metida a merda que divide o dormitório comigo, Alice e a Anny. Ela sempre pega no pé da Alice, mas não quando estou por perto, pois sei bem pôr essa atrevida no seu devido lugar.— Foi mesmo? — inquiro petulante. Seus olhos me encaram vitoriosos e sorridentes.— Sim. E eu fico me perguntando quem poderia estar fora do dormitório a uma hora daquelas? — Dá pra sentir o tom de acusação nítido em sua voz. Em resposta, eu abro um sorriso insolente para ela.— Bom, eu não faço a menor ideia de quem estava lá fora. Podia até ser um ladrão, não sei. — Dou de ombros. — Mas eu sei exatamente quem estava fora cama a uma hora daquelas. — A acuso de volta e o seu sorriso desaparece imediatamente.— Eu só estava sem sono e precisava ler um pouco ou ia enlouquecer. Não fiz nada demais! — retruca. Arqueio as sobrancelhas de uma forma intimidadora.— Será que a madre Brigitte vai entender isso? — Ela engole em seco e olha para Alice como se quisesse dizer; eu sei que era você lá fora. Adivinha, você não pode fazer nada quanto a isso querida. Ágatha se afasta com o rabinho entre as pernas e Alice sorri com cumplicidade para mim.Só pra você saber, madre Agnes Brigitte é a nossa diretora. Ela é uma mulher de punhos de ferro, que coordena cada departamento do Happy Children impondo a sua vontade não importa se isso vai te deixar sequelas psicológicas futuramente. Castigos como ficar trancada em um porão sujo e escuro é o que põe cada garota em seu devido lugar. É claro que a Ágatha adoraria nos ver naquele maldito porão por pelo menos sete dias, mas com certeza ela teria que explicar o fato de não estar em sua cama durante a madruga. Uffa, escapamos dessa fedendo! Depois de um bom e demorado banho frio, e de um jantar leve, as meninas seguem para a sala de TV, mas não eu e Alice, nós preferimos o macio e estreito colchão dos nossos beliches.LiliUm mês e meio depois ...— Como está se sentindo? — pergunto baixinho quando me aproximo da cama estreita da enfermaria do internato. Essa é a terceira vez que Alice passa mal e eu não sei exatamente o porquê. Só sei que me dói vê-la nesse estado. Seu corpo amolecido, sua respiração alterada, os olhos fundos e a pele pálida. Suspiro frustrada quando vejo um soro no seu braço direito.— Está passando. — Ela diz quase sem forças. À noite passada ela não conseguiu comer direito e durante a madrugada pôs a vomitar por pelo menos umas três vezes seguidas. O resultado é exatamente esse bem aqui na minha frente. Fiquei muito aflita pôs não me permitiram acompanhá-la de perto e só agora, quase cinco horas depois me deixaram vê-la. Seguro a sua mão na minha. Ela está tão gelada e isso me preocupa ainda mais.— O que o médico disse? — Procuro saber assim que a enfermeira se afasta para o outro lado da sala.— Fizeram alguns exames, mas ainda não me falaram sobre os resultados. — Ela faz sil
LiliNo dia seguinte ao abrir os meus olhos, abro também um sorriso feliz e satisfeito ao encontrar Alice dormindo tranquila em sua cama. Não sei exatamente quando ela veio parar no dormitório, mas fico feliz que não esteja mais na enfermaria. Eu sei que deveria deixá-la dormir mais e descansar, a final, ela precisa reunir forças para o por vir, mas eu preciso saber o que fazer e não conseguirei voltar a dormir se não fizer isso agora. Portanto, com uma respiração baixa me levanto com cuidado para não fazer barulho e olho ao nosso redor para ter certeza de que todas ainda estão dormindo. Solto o ar opresso pela boca devagarinho e me aproximo dela, ajoelhando-me ao lado da sua cama e toco levemente no seu braço, chamando-a com um sussurro extremamente baixo.— Alice? Alice, acorda!— Hã? —Ela abre uma brecha de olhos e me encara fazendo o meu sorriso simplesmente se alarga. — Como você está? — Procuro saber. — Um pouco sonolenta, deve ser por causa dos medicamentos. Mas estou bem melho
Dante. Escuto a risada alta do Max reverberar por todo ambiente, fazendo a minha cabeça latejar violentamente e consequentemente solto um gemido de dor, me forçando a sentar no sofá retrátil da sala. Os meus olhos pesam de sono e é difícil abri-los. Não sei exatamente quando adormeci, tão pouco o que rolou depois das três da manhã. Só sei de uma coisa, foi a festa mais fodástica que eu já fiz na vida. Pudera, né? Estou me despedindo da minha vida fácil para encarar uma vida séria no futuro. E que venha a faculdade de administração de empresas e depois dela serei o dono da porra toda, o rei do pedaço! É isso aí, serei o mais jovem presidente da TL Travel Lawyers e serei o melhor que aquela empresa já teve um dia. Sim, sou ambicioso e muito, pois desejo alcançar o meu lugar ao sol e não quero qualquer lugarzinho não, eu quero O LUGAR. — Que festa hein, cara, que festa! Hu, essa entrou para a história! — Max comenta exacerbado me arrancando dos meus pensamentos. Forço-me a levantar do s
Dante.— Vê lá hein, Max, não vai aprontar com os meus pais por perto! — ralho com um tom de advertência, caminhando até o aparador de cristal que fica no hall da casa e pego a minha carteira.— Qual é, Dante, parece que não me conhece! — Ele resmunga, inclinando-se um pouco para o meu lado. — Eu sei ser discreto e eu não vou perder de azarar as patricinhas do baile, né? — Me pego sorrindo.— Eu também não, mas não quero problemas com o meu velho — resmungo de volta quando saímos de casa e de cara encontramos o luxuoso Ranger Rover negro blindado estacionado bem em frente a porta de saída. Do lado de fora, David o segurança particular do meu pai já nos aguarda. Max entra pela porta traseira e eu faço o mesmo logo em seguida. A nossa frente uma tela negra separa o motorista e o segurança de nós dois, assim podemos conversar mais à vontade. O carro logo ganha movimento e o Max começa a preparar uma bebida para nós dois. Contudo, assim que o carro passa pelos portões de ferro, noto-o para
Lili.Algumas horas depois...— Senhorita Flores, a diretora deseja vê-la. — Uma das freiras do internato informa. Depois da conversa nada proveitosa com o tal Dante, viemos direto para o internato. Alice se manteve no mais completo silêncio desde então e eu confesso que não estou gostando nada disso. Achei que voltaríamos com uma Alice mais radiante e ao invés disso ela está completamente arrasada, e isso está acabando comigo. Minha amiga tira a sua cabeça do meu colo e seca algumas lágrimas em seguida. Ela ajeita a saia do uniforme e puxa a respiração fazendo um sim com a cabeça, e quando começa a andar ao lado da moça eu me ponho de pé e me prontifico ao seu lado.— Irei com você — digo segurando a sua mão.— Você não pode, Ricci, a diretoria deixou bem claro, apenas a Senhorita Flores irá para a sua sala.— Então me impeça! — rebato baixo e entre dentes praticamente rebocando Alice direto para a direção do internato. Ao abrir a porta, Alice aperta a minha mão, pois além da senhora
Lili — Só uma coisa, vô. — Alice finalmente diz algo. — Por que não irei para casa? — Ele franze a testa, mas com uma feição bem rígida.— Porque eu sou um homem muito visado, Alice, aclamado na alta sociedade. Eu jamais permitiria que descobrissem que você trará ao mundo um bastardo. Agora saia daqui! — ordena com um tom áspero e frio. Meu coração se quebra quando vejo Alice encher mais uma vez os olhos de lágrimas e em seguida ela sai correndo da sala. Contudo, corro atrás dela, mas só a alcanço dentro do dormitório e permito que chore no meu ombro por longos minutos.*** Os dias aqui na fazenda têm sido como um mar de rosas para nós duas. Após a saída do senhor Flores da fazenda e depois de ouvir o choro da Alice por horas, eu finalmente consegui acalmá-la e decidi que iríamos aproveitar cada minuto prazeroso nesse lugar. Hoje é o nosso terceiro dia aqui e são exatamente seis e meia da manhã. Alice ainda está dormindo, ela tem sentido bastante sono esses dias. Mary, a cozinheira d
LiliDe verdade, não temos do que reclamar. Trocar o colégio interno por uma fazendo no meio do nada foi realmente a nossa melhor escolha, pois temos tido momentos únicos e felizes aqui. Contudo, tempo correu rápido demais em alguns sentidos, ele parece ter pressa em chegar a algum lugar, porém, em outros parece ter parado completamente. Se não fosse a barriga protuberante da minha amiga eu diria que o ponteiro do relógio sequer saiu do lugar. Vocês me conhecem e sabem que não sou de aromatizar as coisas, mas nesse caso, parece que estamos presas dentro de um conto de fadas. Sério, aqui os pássaros cantam felizes o tempo todo, as borboletas voam soltas sempre que querem, tem muita paz, muita calmaria e principalmente, Alice teve uma gravidez tranquila apesar dos poucos recursos que temos. Sim, uma médica paga pelo seu avô vem uma vez no mês para consultá-la. Ela mede, pesa, aplica as vacinas, passa algumas receitas e aconselha. Fora isso não tenho preocupações a não ser no que vestir n
Lili Algumas horas depois...Abro os meus olhos encontrando a familiar janela do quarto onde eu e Alice dormimos. Lá fora já está escuro e atordoada me sento na cama, esfregando os meus olhos.— Que bom que você acordou! — Escuto a voz de Mary, a cozinheira da casa. Contudo, procuro por Alice em sua cama, mas ela está vazia. Então me lembro dos últimos acontecimentos e firo para a senhora em pé na minha frente.— O que aconteceu?— Você ficou muito agitada e gritava enlouquecida, então tivemos que conte-la com um calmante. — Respiro fundo.— Que horas são?— Quase sete da noite. — Levo as mãos ao meu rosto, o esfrego e puxo a respiração.— Onde está Alice? — pergunto com pesar.— Na capela. — Levanto-me imediatamente da cama estreita e sigo para a porta sem dizer nada.— Aonde você vai, menina? — Mary pergunta vindo atrás de mim.— Onde está o senhor Flores? — inquiro ignorando o seu questionamento.— Está na capela com a neta. — Ela diz me fazendo parar bruscamente. Eu a olho e sigo