5

Lili

— Foram quatro copos ao todo — diz com uma naturalidade espantosa.

— Alice, pelo amor de Deus! — esbravejo. Ela olha ao nosso redor e eu faço o mesmo. Algumas meninas passeiam pelo jardim conversando amenidades, outras estão aproveitando o tempo livre para ler um livro. Coisa que eu e Alice costumamos fazer se não fosse esse impasse. Ela me pede para falar baixo e eu bufo audivelmente. — Ok, acabou? — pergunto ainda irritada, mas para o meu desespero ela faz um não com a cabeça.

— Então, eu e o Dante dançamos uma ou duas músicas lentas. Ain, bem coladinhos! Lili, ele me dizia coisas delicadas no ouvido e nós... nós nos beijamos... e foi o melhor beijo da minha vida! Um beijo doce e delicado, quente e envolvente tudo ao mesmo tempo, e foi tão lindo! Eu me senti igualzinha aquelas mocinhas de livro de romances, sabe? Deu para sentir aquele calor no corpo, o coração acelerado no peito, a conhecida falta de ar e aquela pegada forte das suas mãos na minha pele febril. E quando percebi eu já estava totalmente consumida pelo fogo da paixão e dentro de um quarto luxuoso, deitada em uma cama espaçosa e macia. Só eu e ele...

— Não estou acreditando no que está me dizendo, Alice! — A interrompo completamente tomada pela incredulidade. Alice volta a escancarar o seu mais novo sorriso sonhador.

— Ele foi tão perfeito, Lilian! — ralha com um suspiro arrastado. — No começo fiquei tão nervosa! Eu simplesmente não sabia como dizer para ele que eu ainda era virgem e eu não sei, mas acho que ele percebeu a minha insegurança, e começou fazer um carinho diferente com as mãos, deixando alguns beijinhos quentes no pé da minha orelha, e esses foram descendo lentamente pelo meu pescoço. O meu corpo reagiu inteiro de uma forma tão intensa, senti alguns arrepios leves em minha coluna e em seguida um calor que só aumentava a minha febre. Eu estava totalmente entregue, sem nenhum receio e ele também. Logo me vi flutuar. O meu corpo parecia tomado, dominado pelo seu prazer. Dante carinhosamente começou a tirar as minhas roupas, não havia nenhuma pressa em seus movimentos e nenhuma urgência. Ele só as tirava como se venerasse o meu corpo deitado naquele colchão. As peças voavam pelo quarto e caíam em qualquer lugar, e depois de vê-lo se despir bem na minha frente com a mesma agilidade, com aqueles olhos vorazes, eu já não me dominava mais, se quer conseguia pensar direito. Quando ele voltou para cama e começou a me beijar novamente, notei que havia uma fome devoradora. A sua língua quente e úmida invadiu a minha boca e eu pude sentir uma ardência no meio das minhas pernas que me fez arfar. Automaticamente ele parou e aos poucos retomou com os movimentos e a ardência logo deu lugar ao prazer. Foi tão... intenso e... tão bom e... tão gostoso! Cada vez que ele entrava e saia de dentro de mim as suas palavras sussurradas de amor me acalentavam. Linda, ele me dizia o tempo todo. Acho que estou apaixonada, amiga! — Ouvir um relato tão detalhando me deixou sem chão. A pergunta que não quer calar agora e que está gritando alto dentro dos meus ouvidos é...

— Vocês usaram camisinha, não é? — Ela praticamente se engasgou com um pedaço de bolo. Alice tosse continuamente enquanto dou palmadas leves em suas costas e quando fica mais calma, e finalmente consegue respirar direito, pego uma garrafinha d'água e lhe entrego. Ela toma um gole e respira fundo. Contudo, vejo medo em seus olhos.

— Nós não... não usamos camisinha. — Ela gagueja. — Que droga, Lilian e agora? — Eu a puxo para um abraço.

— Vai ficar tudo bem! Com sorte não vai acontecer nada demais, não se preocupe — digo para tentar clamá-la e a sinto relaxar no meu abraço, mas no fundo estou muito, muito preocupada com tudo isso.

O resto do dia tento não pensar nas loucuras de Alice e em suas palavras, embora elas insistam em martelar nos meus ouvidos vez ou outra. Faço graça com algumas palavras da professora na aula de artes a fazendo rir com as mãos boas imitações e brinco o tempo todo para mantê-la tranquila. Infelizmente só poderemos sair do internado no próximo feriado que é quando parte dos funcionários estão de folga e a vigilância aqui dentro diminui. Quando a noite chega estamos contando os minutos para ir para nossa cama. O chato é ter que enfrentar a m*****a fila para ir para o banheiro. Não é muito grande já que todos os dormitórios têm três banheiros, mas ainda assim é estressante ter que esperar a nossa vez. Alice cantarola alguma música que não sei se conheço, pelo menos não me vem a memória agora e alguém esbarra com força no meu braço, fazendo uma peça da minha roupa que eu segurava cair ao chão. Eu me agacho para pegar a peça e encontro um par pés em chinelos de dedo parados bem a minha frente.

— Não sei se foi impressão minha, mas acho que vi alguém andando pelo jardim na noite passada. — Agatha fala com um certo sarcasmo. O meu coração acelera violentamente no peito e ergo o meu corpo para encontrar seus olhos vivos. Ágatha Schimidt é uma patricinha metida a merda que divide o dormitório comigo, Alice e a Anny. Ela sempre pega no pé da Alice, mas não quando estou por perto, pois sei bem pôr essa atrevida no seu devido lugar.

— Foi mesmo? — inquiro petulante. Seus olhos me encaram vitoriosos e sorridentes.

— Sim. E eu fico me perguntando quem poderia estar fora do dormitório a uma hora daquelas? — Dá pra sentir o tom de acusação nítido em sua voz. Em resposta, eu abro um sorriso insolente para ela.

— Bom, eu não faço a menor ideia de quem estava lá fora. Podia até ser um ladrão, não sei. — Dou de ombros. — Mas eu sei exatamente quem estava fora cama a uma hora daquelas. — A acuso de volta e o seu sorriso desaparece imediatamente.

— Eu só estava sem sono e precisava ler um pouco ou ia enlouquecer. Não fiz nada demais! — retruca. Arqueio as sobrancelhas de uma forma intimidadora.

— Será que a madre Brigitte vai entender isso? — Ela engole em seco e olha para Alice como se quisesse dizer; eu sei que era você lá fora. Adivinha, você não pode fazer nada quanto a isso querida. Ágatha se afasta com o rabinho entre as pernas e Alice sorri com cumplicidade para mim.

Só pra você saber, madre Agnes Brigitte é a nossa diretora. Ela é uma mulher de punhos de ferro, que coordena cada departamento do Happy Children impondo a sua vontade não importa se isso vai te deixar sequelas psicológicas futuramente. Castigos como ficar trancada em um porão sujo e escuro é o que põe cada garota em seu devido lugar. É claro que a Ágatha adoraria nos ver naquele maldito porão por pelo menos sete dias, mas com certeza ela teria que explicar o fato de não estar em sua cama durante a madruga. Uffa, escapamos dessa fedendo! Depois de um bom e demorado banho frio, e de um jantar leve, as meninas seguem para a sala de TV, mas não eu e Alice, nós preferimos o macio e estreito colchão dos nossos beliches.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo