7

Lili

No dia seguinte ao abrir os meus olhos, abro também um sorriso feliz e satisfeito ao encontrar Alice dormindo tranquila em sua cama. Não sei exatamente quando ela veio parar no dormitório, mas fico feliz que não esteja mais na enfermaria. Eu sei que deveria deixá-la dormir mais e descansar, a final, ela precisa reunir forças para o por vir, mas eu preciso saber o que fazer e não conseguirei voltar a dormir se não fizer isso agora. Portanto, com uma respiração baixa me levanto com cuidado para não fazer barulho e olho ao nosso redor para ter certeza de que todas ainda estão dormindo. Solto o ar opresso pela boca devagarinho e me aproximo dela, ajoelhando-me ao lado da sua cama e toco levemente no seu braço, chamando-a com um sussurro extremamente baixo.

— Alice? Alice, acorda!

— Hã? —Ela abre uma brecha de olhos e me encara fazendo o meu sorriso simplesmente se alarga. — Como você está? — Procuro saber. 

— Um pouco sonolenta, deve ser por causa dos medicamentos. Mas estou bem melhor! — Solto um suspiro aliviado.

— Que bom, você me deixou muito preocupada! — Nosso diálogo segue sussurrante para não correr o risco de acordar alguém.

— Me desculpe por isso, Lili, eu não queria...

— Xiu! Já aconteceu, não tem mais remédio. Agora precisamos saber o que fazer.

— Como vamos fazer para ir até o Dante? Eu preciso ir vê-lo logo.

— Eu sei. Faremos do mesmo jeito que fizemos no Halloween, mas dessa vez temos que ser rápidas e precisas. Você sabe, se nos pegarem, estaremos fritas. — Ela assente.

— Eu prometo que serei rápida, Lili. Eu só preciso falar com ele e depois decidir o próximo passo.

— Certo. Agora quero que descanse, amanhã daremos um jeito de ver o Dante e eu realmente espero que você esteja certa, Alice, porque se não der certo, temo pelo que possa acontecer com você — digo. Ela respira fundo.

— Eu sei que o Dante vai me ajudar, eu sinto isso. — Ela sorri, provavelmente para me convencer disso, ou para se convencer, não sei. — Não se preocupe, amiga, vai dar tudo certo! — Apenas assinto e volto para a minha cama, porém, dessa vez não consigo mais dormir. Levo os braços para debaixo da minha cabeça e encaro o teto de madeira envernizada me perdendo em pensamentos. Não sei se o tal Dante dará uma solução para esse problema e não sei como o avô de Alice reagirá a essa situação. Eu só sei de uma coisa, não vou deixá-la sozinha no meio desse furacão, ficarei ao seu lado haja o que houver. Penso e fito-a enquanto dorme.

— Como irmãs de sangue — sibilo baixinho demais.

***

A noite...

Parece que o destino está mesmo conspirando ao nosso favor, porque por incrível que pareça as lâmpadas de pelo menos dois postes da rua que ilumina parte do jardim resolveram não funcionar hoje e para melhorar a lua também não deu o ar da sua graça. Portanto, seguro a mão de Alice e a guio em meio a penumbra, sempre escondendo atrás de cada tronco de árvore, ou em nas moitas que encontramos pelo caminho, e quando finalmente alcançamos o velho portão tenho o cuidado de olhar ao nosso redor para ter certeza de que não tenha um vigilante por perto. Alice afasta as folhas e eu abro o portão tentando fazer o mínimo de barulho. O seu rangido me faz olhar para trás uma vez mais para ter certeza de que não fomos vistas. Ok, tudo limpo! Penso e o atravessamos. E quando chegamos a calçada tenho o mesmo cuidado de fechá-lo e de arrumar os ramos nos mesmos lugares. Depois disso, foi só correr. Seguimos para o lado norte como da outra vez nos distanciando do internato e claro, a cada centímetro que nos distanciamos, o meu coração se oprimia, era como se quisesse me avisar algo que eu não conseguia entender. Por fim, paramos em frente a mansão agora livre de toda aquela ornamentação fantasiosa. Alice para em frente aos portões largos de ferro e eu também. Ela tenta acalmar a respiração pesada e acelerada, e no instante que olhamos além dos portões avistamos um carro negro extremamente luxuoso ganhar movimento.

— É ele. — Ela diz com convicção, dando alguns passos para frente, assim que o veículo passa pelos portões. Eu tento ir atrás dela, mas a minha amiga faz um gesto de mão.

— Não, Lili, eu preciso falar a sós com ele — pede. Trinco o maxilar, olho para a minha amiga e depois para o carro parado, mas decido acatar a sua decisão, encostando-me em um poste. 

De onde estou observo Alice dar alguns passos receosos em sua direção. Ela diz algo para o motorista e no mesmo instante a porta traseira se abre. Um rapaz alto e forte sai de lá e a fita enquanto ela fala sem parar. Inevitavelmente deslizo o meu olhar pela figura masculina. Ruivo, assim com Alice descreveu, com um corte curto e moderno, e uma barba rala bem delineada escorrega pelo seu maxilar. Contudo, ele tem um olhar escuro e firme. Eu sei por que ele deu uma olhada rápida para mim e voltou a focar na minha amiga. Não consigo deixar de observar o terno caro de gala que está usando, provavelmente está preparado para ir a algum evento importante ou para uma viagem. Em algum momento ele se encosta na lataria do carro e cruza os braços, enquanto Alice continua a falar. A porta do outro lado do carro se abre e outro rapaz sai de dentro dele. E ele também está vestido elegantemente. O olho com mais atenção e claro, é o carinha em quem esbarrei na festa naquela noite. Olhando-o agora sem toda aquela apreensão percebo melhor o desenho do seu rosto. Maxilar quadrado esbanjando um cavanhaque negro e os cabelos da mesma cor estão penteados para trás. Ele ajeita a lapela do terno e parece irritado quando diz algo que não consigo ouvir, voltando a entrar no carro. Respiro fundo quando Alice leva as mãos ao rosto e faz um não com a cabeça. O tal Dante volta a entrar no carro e quando esse dá a partida, resolvo ir me meter no assunto. No entanto, é tarde demais, pois antes que eu me aproxime do veículo ele se afasta e Alice me olha com os olhos molhados de lágrimas. Dor e desespero, é tudo que consigo ver além da decepção em suas retinas. Alice corre para os meus braços e se põe a chorar dolorosamente.

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