Dante — O seu pai tinha essas manias na adolescência. Ele ficava horas trancafiado no quarto criando códigos parecidos com esses. Tanto que uma vez ele me ajudou a pôr segurança em uma das chaves do escritório. — Sério, vô? — Lilian se empolga e eu também. — Deve ter alguma coisa que os ajude nas coisas dele no porão de casa. Mas teriam que ir para Massachusetts averiguar. — Ela me lança um olhar curioso e eu a fito com expectativas. Seria a solução de tudo! Penso esperançoso. — Tudo bem vocês ficarem aqui com Alice enquanto vamos até a sua casa? — Ora, querida, você sabe que amamos ficar com a nossa garotinha! — Um sorriso grande e lindo se abre no seu rosto e ela abraça o avô, beijando-o várias vezes. — Bom, mas não farão isso agora, certo? Já está bem tarde e precisam dormir um pouco para fazer essa viagem. — Claro, vô! — Lilian sibila carinhosamente e após beijar calidamente a sua testa o observo sair do cômodo, e assim que a porta se fecha ela me beija animada. — Pronto par
Lili Trabalhos de escola, boletins, agendas, fotos com os amigos e de bailes, números de telefones das gatinhas, arquivos de escritórios, planilhas e uma imensa lista de endereços ... enfim, toda uma vida de um adolescente normal e de um jovem iniciante no mercado imobiliário, mas nada de pistas, nada de códigos e nada de nada! Já passa de meia noite e vencido pelo cansaço Dante apagou no sofá do escritório, porém, ainda tem uma caixa para ser aberta e eu não estou disposta a deixar para o dia seguinte. Quer dizer, mesmo que não aja nada que nos ajude dentro delas, ainda tem a possibilidade de encontrar alguma coisa na mansão Ricci, mas confesso que estou torcendo para encontrar o que eu preciso bem aqui. Não é covardia e nem medo, é só que... eu não sei se estou preparada para encarar a mulher que tornou a minha vida um abismo escuro de dor e de solidão. Faço o símbolo da fiquinha com os dedos, beijando-os antes de finalmente tirar o lacre da caixa e as minhas emoções desabam no me
Lili ... — PAI! — grito apavorada, encontrando o quarto ainda escuro. Agoniada, me livro do braço de Dante que envolve o meu corpo, visto uma roupa e vou imediatamente para a sacada em busca de ar. Faz tempo que não sonho com o meu pai, mas de verdade, essa é a primeira vez que sonho com ele no meio de uma discussão com Júlia. A verdade, é que eu nunca os vi discutir por qualquer assunto, mas esse sonho parecia real demais. A brisa fria da madrugada começa a aplacar toda a minha ansiedade e nervosismo, mas a agitação permanece crescente dentro de mim. Sem ter muito o que fazer, decido sair do quarto e fazer algo que eu gosto muito, e que faz muito tempo que não pratico, ir para a cozinha fazer doces. Descobri que esse tipo de culinária me acalmava logo que fui morar com os meus avós, assim não tinha tempo de pensar no passado e a minha cabeça focava melhor nos estudos. A prática me levou a perfeição e quando Alice alcançou a idade de comer guloseimas, comecei a criar alguns personal
Lili Meu coração se agita no peito quando penso na possibilidade de abri-lo e com uma respiração profunda tento a primeira senha que vem na minha cabeça. — Droga! — resmungo e olho para os lados em busca de uma dica, mas nada. Não tem nada aqui. Então faço uma sucessão de tentativas; minha data de nascimento, data do casamento dos meus pais, a data de aniversário dele. — Merda! — Começo a suar de ansiedade e penso em um número inusitado. — 15 - 04 - 20 - 11 e a portinha se abre. Chego a trincar o maxilar quando penso que a chave para a abrir é justamente a data da morte do meu pai. Me concentro em olhar o que tem lá dentro, mas não tem nada que me ajude ou que ajude o Dante. Exceto... Não pode ser! — Tome, querido, beba isso. Vai se sentir melhor! Lembro-me de uma cena, onde eles gritaram um com o outro assim que entraram em casa. Era tarde da noite e eles haviam acabado de chegar de uma festa. Eu não entendi bem o motivo da discussão, mas Júlia preparou uma bebida para ele e lhe o
Lili Voltar para Manhattan sem uma resposta para os problemas da TL não estava nos nossos planos, menos ainda voltar para casa com outras expectativas sobre o meu passado. Agora eu tenho a faca, o queijo e um meio de vingança nas mãos, e a essa hora a louca da Júlia já deve ter descoberto que está na palma da minha mão. Contudo, são nove da manhã e eu tenho outro prumo nas mãos que com certeza não agradará a muitos. — Bom dia, Senhor presidente! — sussurro para o meu namorado após encostá-lo contra uma parede e beijá-lo com uma certa sensualidade. — Bom dia, Lili! — Reviro os olhos, porém, sorrio de toda essa intimidade. Entretanto, está na hora da conversa séria e para isso, ergo uma pasta com a logo da TL para ele. — O que é isso? — Mudanças. — Mudanças? — Com a nova condição da empresa. Digo, rescisão de contrato, multas para pagar, cofres quase vazios etc. decidi que está na hora de fazer alguns cortes significativos. — Quais cortes? — Ele se acomoda em sua cadeira e eu de f
Lili — Os cartões corporativos por exemplo, alguns serão cortados e em outros casos, diminuiremos os valores. — Ele bufa. — Você quer começar uma guerra nuclear, é isso, senhorita Ricci? — Ele ralha, provavelmente referindo-se a sua mãe. — Estou falando sério, Dante. As viagens também sofrerão alguns sacrifícios. Não vejo necessidade de usarmos a primeira classe nível A para viagens literalmente desnecessárias, quando os seus funcionários e inclusive a sua mãe podem usar o nível C. — Ele arqueia as sobrancelhas. — Ela vai me esganar! Dante retruca, mas dou de ombros. — Pois que esgane! Você precisa mostrar-lhe que foi ela quem causou tudo isso, portanto, ela terá que arcar com as consequências também. — Ele me aponta o seu indicador fazendo um charminho ao piscar um olho para mim. — Você está certa! — Estou? — Sabe que está! — Ótimo, porque vamos diminuir as horas extras também. — Isso é realmente necessário? — Apenas faço um sim com a cabeça. — Se dividirmos as cargas hor
Lili — ...Oito, nove, dez, e lá vou eu! — falo alto, virando-me para encontrar uma sala vazia. — Onde será que você está, Alice? — cantarolo, ouvindo a sua risadinha eufórica atrás da cortina grossa, porém, vou para o outro lado da sala, distanciando-me do seu esconderijo. — Alice? — Volto a cantarolar e volta ri outra vez. Sua atitude me faz sorri e eu decido animar mais a nossa brincadeira, e começo a provocá-la. — Hum, acho que vi alguma coisa ali. — Eufórica, a menina se inquieta atrás do pano me fazendo rir. — Alice, acho que encontrei você! — cantarolo outra vez e assim que abro a cortina com um rompante, ela grita e sai correndo, porém, antes que vá para longe de mim, eu a seguro nos meus braços e começo uma onda de beijos no seu rosto e pescoço. Sua risada se espalha por todo o cômodo e é gratificante ouvir esse som tão feliz. — De novo, mamãe, de novo! — Ela pede no mesmo instante que a campainha começa a tocar e resolvo colocá-la de volta no chão. — É o papai, não é? — Eu
Lili — Não é nada, filha. E o almoço, já está pronto? — Procuro mudar de assunto. — Sim, a vovó mandou te chamar. — Hum, que bom, porque a minha barriga está roncando muito! — Por que aquela mulher estava brava comigo, mamãe? — A menina insiste. — Porque ela é uma bruxa má, filha. — Minha filha resfolega. — Igual do filme das princesinhas?! — Isso, igual do filme. Então a mamãe quer que você fique bem longe dela, tudo bem? — A seguro nos meus braços e beijo demoradamente a sua bochecha. — Uhum! — Alice concorda deitando a sua cabeça no meu ombro e eu afago carinhosamente as suas costas. — Eu e amo, querida! — sibilo baixinho. — Também te amo, mamãe! — Hum será que tem mais alguém aqui com fome? — questiono fazendo graça e arranco-lhe uma risada gostosa. — Tem, eu! — Sério? Quanto de fome você tem? — Um montão assim! — Ah, a mamãe devoraria um caminhão! — rosno, fingindo comer a sua barriga e os seus olhinhos se arregalam em surpresa, e pronto, o assunto da megera foi com