Benjamim me encontrou na metade do corredor, saímos o mais rápido possível e entramos no carro, do outro lado homens armados até os dentes faziam a segurança do juiz. Saímos todos para o mesmo lugar. Seria meu primeiro caso importante.
— Droga Marjorie. ,– Ben ficou calado. — Mas que merda, como isso foi acontecer?— Eu não sei, não tinha como, estava tudo certo, eu já tinha as provas, a mulher do cara, só faltava ele ser preso. – Cobri o rosto com as mãos.— Ele deve ter todos os nomes agora, sabe de você. – O carro parou no sinal. — Fiquei sabendo que te deram o caso porque ninguém quis, e os outros estavam ocupados de mais.Eu precisava ligar para o meu pai, ele me faria ter forças, ter outra visão do que estava acontecendo.Peguei meu celular, disquei o número e pronto minha voz não saía.— Marjorie?— Pai? – Não tinha como não chorar.Com o pouco tempo que me restava contei tudo para ele, enquanto Ben batucava no volante, ou afirmava dizendo um "essa eu não sabia ", ou "conta pra ele " e eu já sabia sobre o que era.— Filha, você tem que manter o controle, não faça nada por medo, nada. Se o tribunal não disponibilizar segurança para você, quero que me ligue.Tudo que eu tinha de chorar, chorei ali, dentro do carro do meu amigo, senti a segurança que meu pai me dava, e o apoio do meu amigo.— Pequena, você precisa se recompor. Por favor. – Benjamin parou o carro. — Vou abrir a porta, e por favor sorria para todos.A porta se abriu bem devagar, se ele queria me fazer rir, então conseguiu.— Benjamin Hilton, se tentou me fazer rir então conseguiu. – Saí para fora do carro.— Não sou o seu namorado Benjan, mas estou feliz em ser o dono do seu sorriso. — Engasguei com o olhar severo dele.— Desculpe - me meritíssimo.— Aqui pode me chamar de James.— James, ele se chama Benjamin, e não, ele não é meu namorado, somos amigos de longa data. – Passei por ele. — Se quer ser o motivo de alguém, deveria pelo menos rir um pouco, não acha?— Mas eu dou risada, principalmente com a lembrança daquela manhã maravilhosa que te conheci, você estava tão...– Ele começou a rir de novo. — Estilosa.Ben estava na porta do elevador me esperando, ele fazia aquela expressão de o quê está acontecendo? Ou que merda é essa? Troquei o meu famoso olhar deixa pra lá, entrei no elevador e dei um tapa no ombro dele, queria ir na frente, mas James já estava entrando, e com ele um monte de homens altos e mal encarados.******Okay, devo confessar que nunca em todos os meus dois dez meses de emprego ali tinha visto os meus superiores, devo dizer que foi com total espanto que sentei na cadeira de uma mesa enorme, enorme que eu digo é com doze cadeiras, sendo dez delas ocupadas, James tinha o lugar dele de destaque, ao lado do presidente da Linux, um homem velho o bastante para ser meu avô, e chato o bastante pra estar tanto tempo assim na terra.— Sente - se senhorita, – Ele leu meu nome bem devagar, — Marjorie Raoni. Por acaso sua descendência vem da Índia?— Não, senhor, minha mãe era filha de uma nativa do meu país, ela me deu esse nome porque significa guerreiro. – Ele parecia uma coruja velha, com todas aquelas rugas. Aqueles olhos grandes e atentos me davam uma má sensação.— Interessante. – Ele ligou a tela do notebook. — Pedimos uma reunião de urgência. E eu estou aqui, para esclarecer algumas coisas. A senhora que te procurou alguns meses atrás e arquivou o processo obteve informações falsas, achamos que alguém daqui de dentro está trabalhando para ela, ou com ela, para que a facção pudesse estar livre da justiça. Houve também um furo na segurança, e soubemos que esse veio daqui de dentro.— Então vocês tem que grampear todos os telefones e acessar todas as contas, e-mails, qualquer coisa.– James o olhou firme.Ele passou mais umas imagens na tela de slide.— Já fizemos, e por incrível que nos pareça, sua sala foi a sorteada com tudo isso. – Ele e toda a mesa olharam para mim.— Não! Eu não fiz isso. Eu nunca faria essas coisas...– Senti uma vontade enorme de correr dali. Parecia que a sala diminuía de tamanho.— Então como explica. – Ele estalou os dedos e dois policiais entraram na sala, James se levantou e bateu na mesa.— Porque nesse horário das ligações ela estava no tribunal, desfazendo o que vocês mais velhos dessa empresa não quiseram fazer. – Todos se calaram, até mesmo o homem. — Vamos Joseph, não me faça dar ordem de prisão pra você por caluniar essa moça.— Senhor, foi a sala dela. – Agora foi a vez de uma loira de olhos gélidos. A plaquinha dela dizia Madalena. Nome estranho,— Será que ninguém percebe que foram usados? Quem o fez pode estar aqui dentro. A esposa dele, juntamente com um de vocês usou não só a Doutora Marjorie, como a empresa. — James encarou cada um naquela sala fria.— Seja como for, senhorita Raoni, não poderá mais trabalhar para a gente, e a partir de agora você e os outros passaram por investigação, não poderá mais sair do país até estar tudo resolvido. – Ele tinha mais alguma coisa para falar, mas se calou.— Só quero saber mais uma coisa. Meu nome, meus dados estão nas mãos deles?— Obviamente que sim. Lembra do que falei? Houve um furo no sistema. A segurança aqui será reforçada, a do Meritíssimo juiz também, agora a sua já não sei.— Tudo bem. – Respirei fundo e levantei a cabeça. — Vou passar na minha sala e pegar minhas coisas.— Suas. Coisas – A mesma mulher outra vez, m*****a Madalena com cara de mulher dos gatos da vizinhança, deu uma risada sarcástica, – Foram confiscadas, se forem liberadas tudo bem, estará nas suas mãos em dois meses. Ou mais.Reuni minhas forças e me levantei, os polícias ainda me barraram, mas o velho Joseph pediu que me liberassem. James estava focado na imagem parada na tela, tive um último vislumbre dele contando, sim, mexendo os dedos freneticamente. Eu já sabia, desde o começo, alguma coisa errada estava pairando no ar.Benjamin já estava no carro, de óculos escuros, foi uma visão maravilhosa, mesmo que só para um amigo.— E então? – Ele abriu a porta para mim.— Tirando a chance de quase ser presa por coisas que não posso te contar aqui, estou bem. Agora vamos embora, tenho coisas pra te contar. – Bati a porta e acionei a buzina.— Calma. Fui conferir uma foto sua fantasiada de malévola. – Ele virou o celular para mim. — Vamos madame— Deixa eu ver se entendi. Você está sendo investigada por um caso que te deram? Marjorie, eu acho...— Também acho que armaram pra mim, mas quem? Eu não tenho amizade com ninguém, a não ser você, já saí com um cara, mas ele foi mandado embora no dia seguinte. – Senti meu estômago embrulhar. — Sabe o que eu acho. Que você foi usada pela esposa dele, a polícia se dividiu, metade para um irmão metade pro outro, e você foi escolhida para ser a boba. – Ele parou de andar e virou para me olhar. — Ainda tem as provas? Ou deixou na sua sala?— Tenho outra coisa pra contar. – Ele esticou o pescoço na minha direção.— James me pediu para guardar as provas comigo, era como se ele soubesse que alguma coisa ia dar errado.— E se ele sabe? Se foi avisado, ou ameaçado sei lá. Eu acho estranho não te fornecerem segurança, mesmo que você foi declarada suspeita, – Mais uma vez Ben parou de falar. — Tem alguém aí.— Como sabe? – Ele fez sinal para eu ficar quieta. — Hum?Um carro estava parado na fre
Oito anos atrás...— Como ? – O sorriso no rosto dele desapareceu. — Como você deixou isso acontecer?— Ah me desculpe, não te contei que a cegonha veio me visitar, ela errou na casa, mas como não podia voltar para trás deixou o pacotinho comigo. — Não é hora de brincadeira Marjorie. – Sentia Davi cada vez mais distante de mim.— Fiz o teste hoje e deu positivo, o que vamos fazer Davi?– O frio deu lugar a mais pura vergonha.— Não posso... – Ele se afastou. — Eu... pensei que você tomasse remédio.— Você me disse que a primeira vez não engravida lembra? Eu tenho quinze anos Davi, não tenho idade pra tomar essas coisas. – Ele negava copiosamente, enquanto eu me negava a derramar mais uma lágrima.— Eu.. Eu não posso. Tenho um futuro pela frente, minha mãe vai conseguir me colocar na faculdade, eu.... – Ele estava em pânico. – Acho melhor a gente romper o namoro.— Romper o quê? Tem noção do quê está acontecendo? Você fez um filho em mim! – A água havia me ensopado até a alma. — Isso
Dias atuais...James pousou a lata bem devagar no balcão, cada movimento dele era calculado, percebi algo à mais nos olhos dele, mas não quis arriscar. Me servi de um copo de água enquanto a tensão aumentava, ele se mexeu na cadeira, era hora de falar. Me sentei de frente para ele e guardei todas as idiotices que fiz.— Pode começar me falando porquê tive que guardar com tanto sigilo as provas?— Primeiro, você esqueceu tudo em cima da sua mesa, tive que fazer um teatro bem ensaiado. Segundo, são muitas coisas a serem ditas, por hora só posso dizer que o chefe da facção era desconhecido, ninguém tinha idéia de como ele era, mas os papéis que você nem se deu ao trabalho de ler constam o nome dele, não só isso como também o paradeiro deles.O ar mudou, ou não queria entrar no meus pulmões. Agora tudo fazia sentido.— Sei exatamente quem é, só não sei em quem confiar.— Onde eu entro nisso tudo. – Me dobrei em cima da mesa.— Você foi, vamos dizer vigiada todo esse tempo, certamente pen
Benjamin teve que sair em viagem no outro dia, e só depois de uma semana consegui retomar a minha rotina de todos os dias. Ou quase isso, se ele não tivesse ligado para o meu pai ficar comigo na sua ausência.Benjamin foi visitar um clientes antigos da empresa, segundo ele o casal queria fazer o inventário de tudo o que possuíam, passando para o neto mais velho. Só que isso teria que durar três dias, e se não fosse a chuva ele já estaria em casa.Acabei não fazendo caminhada com o James, aliás eu nem o vi mais. O cara parecia ter tomado chá de sumiço.Quanto ao meu pai, a gente nem se via direito, não quer dizer que fiquei todo dia sem alguém. James fez questão de garantir minha segurança, me deixando com um homem a minha disposição.- Então tá. - Olhei para a tela do computador. - Vamos nessa.Abri os arquivos que ela deixou gravado em um pen drive. Uma pasta continha os nomes de clientes poderosos, tanto para drogas como para garotas. Na outra tinha dezena de vídeos. Fiz a pior best
Não sabia ao certo como não chorar na frente dele. James amassou o papel enquanto vazia ligações, era uma coisa louca. Ele se afastava as vezes, mas ficava de lá olhando para mim. Desejei tanto que o Benjamin estivesse comigo que meu celular tocou. Eu sabia que era ele, porque coloquei nossa música pra tocar toda vez que ele ligasse.- Marjorie. Ainda bem. Não consegui falar com você mais cedo.-Desculpa, eu realmente não sei o quê aconteceu.-Estou voltando para casa. Amanhã cedo chego aí, será que pode me buscar?-Com o maior prazer.-Tenho que desligar. Até mais, pequena.Se meu pai tivesse aqui, ele diria que eu estava bancando à safada, enquanto um homem sai o outro me ligando e marcando meio que um encontro. Claro que eu não pensaria no juiz como algo mais íntimo.James guardou o celular no bolso e veio caminhando na minha direção, ele manteve as mãos dentro do casaco preto, e deu um meio sorriso. Alguém do outro lado do lago soltou fogos, a luz colorida atingiu a gente. O so
-Não! Eu não vou fazer parte dessa loucura. E se.... E se ele estiver te usando? Já pensou nisso? O cara chega na sua vida e te pede pra entrar em uma que você nem sabe o quão profundo é, você aceita e sem saber de mais nada entra nessa loucura.-Benjamim, eu não posso mais voltar atrás. Ele é meu padrinho, acredite que doeu, mas eu não tive alternativa. Já pensou quando investigarem ele? Vão saber da nossa relação e eu vou ser presa por um crime que não cometi.- O quê te faz pensar que eu vou fazer parte desse plano suicida? - Benjamin tinha parado de andar e estava me encarando.-Porque só Deus sabe quanto tempo passei procurando uma pequena pessoa, e agora tenho a chance de estar com ele. Se eu der pra trás, ou se algo acontecer eu não vou saber lidar com isso. - Ignorei o nó crescendo na minha garganta e continuei, - É a minha chance de mostrar para as pessoas que eu não sou uma fracassada.-Você não é fracassada, nunca vai ser o que os outros querem que seja. E eu sei que que
-Seremos uma grande família. Sempre....Já fazia dias que eu não saía de casa. Meu pai parecia entender meu lado, e me deixou a sós com os meus pesadelos e medos. Depois da nossa briga, James não me procurou mais. Benjamin foi o único a ter contato com ele, e pelo que disse, James não tocou no meu nome, nem no ocorrido.Decidi que a janela não era mais meu ponto favorito, passei a olhar para o telefone na minha mão e o pedaço de papel na mesa. Nada nesse mundo me deixava tão apavorada. Um simples telefonema. Juntei forças e disquei número por número, meus dedos tremiam, errei e disquei outra vez. O telefone tocou, três chamadas.-Alo!? Alo? Esta me ouvindo?-Eu...si...sim. Rita como vai?- Marjorie?- Eu mesma, meu pai....- Quanto tempo depois que liguei? Pensei que não quisesse mais saber do seu filho.-Tive alguns problemas, por isso não liguei. E não Rita, não tenho pretensão de esquecer meu filho.-Oito anos. Eu pensei que viria atrás dele.-Fui. Mas você mudou, ou fugiu, e não t
Ainda bem que o carro dele era potente, e infelizmente era caro. Depois de servir como alvo para atiradores profissionais, tive que seguir queimando pneu até entrar na estrada de barro. A chuva começava a cair lá fora, somada ao vento forte, era uma loucura. Mesmo com a tração nas rodas traseiras o carro deslizava, e mesmo assim segui adiante. -Para. O carro. -James se mexeu no banco de trás. -Daqui, vamos a pé. Ou você vai. -Não senhor. Onde eu for você vai. -Virei para encará-lo meio fora do ar. -Se eu não conseguir chegar até lá, vai ter que me deixar... - James apertava a barriga. -E o quê? Não vou ter propósito para continuar se deixar você. Prefiro ficar e morrer junto. -M*****a teimosa. - Ele reprimiu um grito. - Então vamos descer, mas tire o sapato. Tirei o sapato e desci no barro, meus pés afundaram tanto que caí, me levantei e corri até ele. James se jogou para fora, e foi aí que eu vi, quatro tiros. Um no ombro, outros dois de raspão no braço e na perna, o mais feio f