V

Benjamim me encontrou na metade do corredor, saímos o mais rápido possível e entramos no carro, do outro lado homens armados até os dentes  faziam a segurança do juiz. Saímos todos para o mesmo lugar. Seria meu primeiro caso importante.

— Droga Marjorie. ,– Ben ficou calado. — Mas que merda, como isso foi acontecer?

— Eu não sei, não tinha como, estava tudo certo, eu já tinha as provas, a mulher do cara, só faltava ele ser preso. – Cobri o rosto com as mãos.

— Ele deve ter todos os nomes agora, sabe de você. – O carro parou no sinal. — Fiquei sabendo que te deram o caso porque ninguém quis, e os outros estavam ocupados de mais.

Eu precisava ligar para o meu pai, ele me faria ter forças, ter outra visão do que estava acontecendo.

Peguei meu celular, disquei o número e pronto minha voz não saía.

— Marjorie?

— Pai? – Não tinha como não chorar.

Com o pouco tempo que me restava contei tudo para ele, enquanto Ben batucava no volante, ou afirmava dizendo um "essa eu não sabia ", ou "conta pra ele " e eu já sabia sobre o que era.

— Filha, você tem que manter o controle, não faça nada por medo, nada. Se o tribunal não disponibilizar segurança para você, quero que me ligue.

Tudo que eu tinha de chorar, chorei ali, dentro do carro do meu amigo, senti a segurança que meu pai me dava, e o apoio do meu amigo.

— Pequena, você precisa se recompor. Por favor. – Benjamin parou o carro. — Vou abrir a porta, e por favor sorria para todos.

A porta se abriu bem devagar, se ele queria me fazer rir, então conseguiu.

— Benjamin Hilton, se tentou me fazer rir então conseguiu. – Saí para fora do carro.

— Não sou o seu namorado Benjan, mas estou feliz em ser o dono do seu sorriso. — Engasguei com o olhar severo dele.

— Desculpe - me meritíssimo.

— Aqui pode me chamar de James.

— James, ele se chama Benjamin, e não,  ele não é meu namorado, somos amigos de longa data. – Passei por ele. — Se quer ser o motivo de alguém, deveria pelo menos rir um pouco, não acha?

— Mas eu dou risada,  principalmente com a lembrança daquela manhã maravilhosa que te conheci, você estava tão...– Ele começou a rir de novo. — Estilosa.

Ben estava na porta do elevador me esperando, ele fazia aquela expressão de o quê está acontecendo? Ou que merda é essa? Troquei o meu famoso olhar deixa pra lá, entrei no elevador e dei um tapa no ombro dele, queria ir na frente, mas James já estava entrando, e com ele um monte de homens altos e mal encarados.

******

Okay, devo confessar que nunca em todos os meus dois dez meses de emprego ali tinha visto os meus superiores, devo dizer que foi com total espanto que sentei na cadeira de uma mesa enorme, enorme que eu digo é com doze cadeiras, sendo dez delas ocupadas, James tinha o lugar dele de destaque, ao lado do presidente da Linux, um homem velho o bastante para ser meu avô, e chato o bastante pra estar tanto tempo assim na terra.

— Sente - se senhorita, – Ele leu meu nome bem devagar, — Marjorie Raoni. Por acaso sua descendência vem da Índia?

— Não, senhor, minha mãe era filha de uma nativa do meu país, ela me deu esse nome porque significa guerreiro. – Ele parecia uma coruja velha, com todas aquelas rugas. Aqueles olhos grandes e atentos me davam uma má sensação.

— Interessante. – Ele ligou a tela do notebook. — Pedimos uma reunião de urgência. E eu estou aqui, para esclarecer algumas coisas. A senhora que te procurou alguns meses atrás e arquivou o processo obteve informações falsas, achamos que alguém daqui de dentro está trabalhando para ela, ou com ela, para que a facção pudesse estar livre da justiça. Houve também um furo na segurança, e soubemos que esse veio daqui de dentro.

— Então vocês tem que grampear  todos os telefones e acessar todas as contas, e-mails, qualquer coisa.– James o olhou firme.

Ele passou mais umas imagens na tela de slide.

— Já fizemos, e por incrível que nos pareça, sua sala foi a sorteada com tudo isso. – Ele e toda a mesa olharam para mim.

— Não! Eu não fiz isso. Eu nunca faria essas coisas...– Senti uma vontade enorme de correr dali. Parecia que a sala diminuía de tamanho.

— Então como explica. – Ele estalou os dedos e dois policiais entraram na sala, James se levantou e bateu na mesa.

— Porque nesse horário das ligações ela estava no tribunal, desfazendo o que vocês mais velhos dessa empresa não quiseram fazer. – Todos se calaram, até mesmo o homem. — Vamos Joseph, não me faça dar ordem de prisão pra você por caluniar essa moça.

— Senhor, foi a sala dela. – Agora foi a vez de uma loira de olhos gélidos. A plaquinha dela dizia Madalena. Nome estranho,

— Será que ninguém percebe que foram usados? Quem o fez pode estar aqui dentro. A esposa dele, juntamente com um de vocês usou não só a Doutora Marjorie, como a empresa. — James encarou cada um naquela sala fria.

— Seja como for, senhorita Raoni, não poderá mais trabalhar para a gente, e a partir de agora você e os outros passaram por investigação, não poderá mais sair do país até estar tudo resolvido. – Ele tinha mais alguma coisa para falar, mas se calou.

— Só quero saber mais uma coisa.  Meu nome, meus dados estão nas mãos deles?

— Obviamente que sim. Lembra do que falei? Houve um furo no sistema. A segurança aqui será reforçada, a do Meritíssimo juiz também, agora a sua já não sei.

— Tudo bem. – Respirei fundo e levantei a cabeça. — Vou passar na minha sala e pegar minhas coisas.

— Suas. Coisas – A mesma mulher outra vez, m*****a Madalena com cara de mulher dos gatos da vizinhança, deu uma risada sarcástica, – Foram confiscadas, se forem liberadas tudo bem, estará nas suas mãos em dois meses. Ou mais.

Reuni minhas forças e me levantei, os polícias ainda me barraram, mas o velho Joseph pediu que me liberassem. James estava focado na imagem parada na tela, tive um último vislumbre dele contando, sim, mexendo os dedos freneticamente. Eu já sabia, desde o começo, alguma coisa errada estava pairando no ar.

Benjamin já estava no carro, de óculos escuros, foi uma visão maravilhosa, mesmo que só para um amigo.

— E então? – Ele abriu a porta para mim.

— Tirando a chance de quase ser presa por coisas que não posso te contar aqui, estou bem. Agora vamos embora, tenho coisas pra te contar. – Bati a porta e acionei a buzina.

— Calma. Fui conferir uma foto sua fantasiada de malévola. – Ele  virou o celular para mim. — Vamos madame

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