— Deixa eu ver se entendi. Você está sendo investigada por um caso que te deram? Marjorie, eu acho...
— Também acho que armaram pra mim, mas quem? Eu não tenho amizade com ninguém, a não ser você, já saí com um cara, mas ele foi mandado embora no dia seguinte. – Senti meu estômago embrulhar.— Sabe o que eu acho. Que você foi usada pela esposa dele, a polícia se dividiu, metade para um irmão metade pro outro, e você foi escolhida para ser a boba. – Ele parou de andar e virou para me olhar. — Ainda tem as provas? Ou deixou na sua sala?— Tenho outra coisa pra contar. – Ele esticou o pescoço na minha direção.— James me pediu para guardar as provas comigo, era como se ele soubesse que alguma coisa ia dar errado.— E se ele sabe? Se foi avisado, ou ameaçado sei lá. Eu acho estranho não te fornecerem segurança, mesmo que você foi declarada suspeita, – Mais uma vez Ben parou de falar. — Tem alguém aí.— Como sabe? – Ele fez sinal para eu ficar quieta. — Hum?Um carro estava parado na frente da minha casa, e para o meu espanto era o mesmo que andava rondando por aqui. Tinha gente andando no jardim, pela sombra eram altos, aliás a grande maioria dos ingleses eram altos. Minha casa funcionava da seguinte maneira, vidro a prova de balas, e um sistema estranho que fazia a pessoa de dentro ver tudo, ao passo que a de fora só via um grande espelho. E nós estávamos de frente com um dos homens. Ele se aproximou e colou as duas mãos no vidro, bem na minha frente, meu coração deu um pulo tão grande que fiquei com medo do homem ouvir, então ele fez um som estranho com a língua e o outro se aproximou.— Não tem ninguém aqui, talvez essa não fosse a casa. – O outro murmurou e juntos entraram no carro e partiram.Senti uma coisa gélida entrar pelo meu nariz e reparei que tinha prendido o ar, só Deus sabe por quanto tempo. Benjamin tinha pontinhos de suor na testa e tremia visivelmente.— A gente precisa dar o fora agora mesmo. – Ele tentava pegar em mim com os olhos grudados lá fora.— Tá louco? Eu nem paguei a metade ainda? fora a reforma que planejei. – Ele me olhou incrédulo, como se eu fosse um monstro.— Louca é você se ficar aqui, não tá vendo que eles querem você? Droga Marjorie. – Ben estava quase implorando.— Se quiser pode ir para casa, eu fico onde estou. Essa é a primeira de muitas na minha carreira.— Se continuar assim será a última. – Ele estava mesmo nervoso comigo.— Vamos fazer assim, a gente sai pra comer hoje a noite, esfria a cabeça e depois vejamos o que faremos, já que estou fora daquela porcaria. – Tentei soar positiva. — A gente sempre sai quando você ganha alguma causa. Vamos lá Ben.— Não pode fugir dos problemas a vida toda sabia? – Ben já estava relaxando. —Tá bom, vamos lá, não posso te negar nada.******— Tem certeza? Aqui parece tão chato. – Desci do carro. — Nem vim com roupa apropriada.— Não, claro que não. Ficar uma hora e meia dentro de um quarto escolhendo roupas e acessórios? – Ben passou na minha frente e estendeu o braço. Até que não era de todo modo um lugar chato. Tinha pessoas importantes, filhos de gente grande, mas era um lugar legal pra quem gosta de curtir a noite, sem problemas com vândalos, ou bêbados safados.Ben me deixou na entrada e foi atrás de alguma coisa pra beber, enquanto eu deveria ir até alguma mesa vazia e esperar até ele me achar, isso se não fosse atrás de alguma garota primeiro.— Olha só, bebe logo isso é vamos dançar um pouco. – Ben me entregou um copo com alguma bebida colorida. Não era ruim. Na verdade tinha gosto de urina.— Achei que você fosse demorar mais. – Esperei ele virar o conteúdo do copo de uma vez.— E deixar você a mercê dos outros? Não querida, estamos tentando deixar as coisas menos deprimentes. – Ele me puxou. — Anda, vamos logo.Não suportei mais que um copo da bebida, já o Benjamin não parava de beber, e logo começou a ficar alegre de mais, com as bochechas rosadas e olhos brilhantes, ele era do tipo que só fazia loucura quando bebia. Tipo naquele instante, me rodando, dançando colado em mim, dizendo coisas sem sentido no meu ouvido, chegou até a morder ele enquanto tentava falar. Foi, legal, me divertir com ele bêbado era outra coisa.A música acabou e deu espaço para outra mais lenta, words Cristina Perry. Era pra ser somente casais, mas ele ficou parado no meio da pista, com os olhos brilhantes vidrado em mim, senti que não era o álcool fazendo aquilo. Voltei até ele é deixei que Benjamim me levasse à um universo só nosso, longe de homens loucos querendo me matar, era só nós dois, ele apertava minha cintura com as duas mãos e cheirava meu cabelo, encostei meu rosto no peito dele e ouvi o coração acelerado de um homem triste, que levava marcas de um passado horrendo.— Deixa eu, cuidar de você pequena. – Ele falou no meu ouvido.— Já está cuidando, – Sorri para ele. — Não é isso que os amigos fazem?— Sim, mas quero ser mais que isso, quero cuidar de você para a vida toda. – Ele me olhou nos olhos — Ah Marjorie, se você soubesse o quanto eu te quero, te desejo à todo hora, chega... chega doer aqui dentro. — Ele pegou a minha mão e levou até o coração dele.— Eu sei que bem lá no fundo você também me quer.Ele esperando resposta, eu sem fôlego e a maravilha aconteceu, a música acabou, outra começou, ele cansado de não obter resposta tentou me beijar, seria bom, só que ele acordaria sem saber metade do que fez, e diria o de sempre, sonhei um monte de coisa louca essa noite, acredita que sonhei urinando na rua? No meio certinho.— Você está bêbado de mais. – Puxei ele feito um boneco de pano. — E deixa que eu levo o carro.Tá certo que me diverti muito com ele, mas já estava ficando chato, eu dirigindo e ele meio virado, me encarando, o caminho todo, passando de confuso para nervoso, mas sem tirar os olhos de mim.Mesmo quando abri a m*****a porta com ele nas minhas costas parecendo um saco de bosta e caindo, a toda hora eu sentia o olhar dele em mim.— Tudo bem. – Joguei ele na cama. — Fica aí quietinho, hoje você passou dos limites Benjamim, e quase me deixou brava.— Porque? Ele me segurou.— Por nada. – Tirei o sapato dele.— Porque não quis me beijar? Sou tão chato assim?— Não. É só que você está bêbado sabe, não rola. – Ele sentou na cama e tirou a camisa. Minha nossa senhora da calcinha molhada.— Droga Marjorie. Eu não aguento mais fingir que não fico bravo quando você fala de alguém. Eu quero te beijar à toda hora. Isso dói sabia?— Amanhã a gente conversa. – Joguei a camisa nele.Ben levantou da cama tropeçando nos lençóis, caiu de joelhos, rastejou e ficou na minha frente, ainda segurando a camisa. Trocamos nosso famoso olhar de decepção, ele pegou na minha nuca e fez carinho, não de amigo, os olhos dele ardiam de desejo, abriu um pouco a boca e curvou o corpo, ele seria a imagem perfeita para garotas caírem ou se desmancharem. Confesso que até eu me senti intimidada pela visão dele, todo músculos e sei lá mais o quê. Tive e impressão de estar tremendo até de mais, e então aconteceu. Ele se inclinou mais um pouco e roçou o nariz no meu, foi o suficiente para me fazer fechar os olhos e separar os lábios, senti a boca morna e macia dele na minha, forçando aos poucos. Ele não colou nossos corpos, só beijou com mais intensidade, juro que senti a dor dele em mim. Deixei que ele parasse o beijo, e quando abri os olhos me senti péssima, talvez a pior das criaturas.— Sinto muito. – Peguei minhas coisas e deixei a casa dele.Sem carro, minha opção foi pegar o dele, dirigi o mais rápido possível, não conseguia conter o choro dentro de mim. E chorei mais ainda quando percebi que talvez nossa amizade estaria para sempre alterada.Ele morava à alguns quarteirões da minha casa, tinha a chaves e acesso livre com o segurança, Ben tinha tudo para ser um ótimo namorado, mas eu perderia um amigo.O carro dele era preto, todo estiloso, eu também não sabia dirigir ele, quer dizer, sabia pouco.Fiz o que pude para estacionar aquela coisa enorme na minha entrada de carros. Ativei o alarme e passei pelo caminho até a porta dos fundos. Alguma coisa estava errada, olhei à minha volta mais uma vez.Ele estava encostado no capô do meu carro, levando uma lata até a boca.— Jesus. – Quase tive um ataque cardíaco. — Não sabe bater na porta?— Bati. Mas você não estava,como não tinha nada para fazer resolvi esperar você aqui. Aliás, você deveria estar em casa, não acha?—Não. – Ele deu o famoso sorriso. — O que você quer?— Temos que conversar moça. – James passou por mim e abriu a porta da minha cozinha. – Damas primeiro...Oito anos atrás...— Como ? – O sorriso no rosto dele desapareceu. — Como você deixou isso acontecer?— Ah me desculpe, não te contei que a cegonha veio me visitar, ela errou na casa, mas como não podia voltar para trás deixou o pacotinho comigo. — Não é hora de brincadeira Marjorie. – Sentia Davi cada vez mais distante de mim.— Fiz o teste hoje e deu positivo, o que vamos fazer Davi?– O frio deu lugar a mais pura vergonha.— Não posso... – Ele se afastou. — Eu... pensei que você tomasse remédio.— Você me disse que a primeira vez não engravida lembra? Eu tenho quinze anos Davi, não tenho idade pra tomar essas coisas. – Ele negava copiosamente, enquanto eu me negava a derramar mais uma lágrima.— Eu.. Eu não posso. Tenho um futuro pela frente, minha mãe vai conseguir me colocar na faculdade, eu.... – Ele estava em pânico. – Acho melhor a gente romper o namoro.— Romper o quê? Tem noção do quê está acontecendo? Você fez um filho em mim! – A água havia me ensopado até a alma. — Isso
Dias atuais...James pousou a lata bem devagar no balcão, cada movimento dele era calculado, percebi algo à mais nos olhos dele, mas não quis arriscar. Me servi de um copo de água enquanto a tensão aumentava, ele se mexeu na cadeira, era hora de falar. Me sentei de frente para ele e guardei todas as idiotices que fiz.— Pode começar me falando porquê tive que guardar com tanto sigilo as provas?— Primeiro, você esqueceu tudo em cima da sua mesa, tive que fazer um teatro bem ensaiado. Segundo, são muitas coisas a serem ditas, por hora só posso dizer que o chefe da facção era desconhecido, ninguém tinha idéia de como ele era, mas os papéis que você nem se deu ao trabalho de ler constam o nome dele, não só isso como também o paradeiro deles.O ar mudou, ou não queria entrar no meus pulmões. Agora tudo fazia sentido.— Sei exatamente quem é, só não sei em quem confiar.— Onde eu entro nisso tudo. – Me dobrei em cima da mesa.— Você foi, vamos dizer vigiada todo esse tempo, certamente pen
Benjamin teve que sair em viagem no outro dia, e só depois de uma semana consegui retomar a minha rotina de todos os dias. Ou quase isso, se ele não tivesse ligado para o meu pai ficar comigo na sua ausência.Benjamin foi visitar um clientes antigos da empresa, segundo ele o casal queria fazer o inventário de tudo o que possuíam, passando para o neto mais velho. Só que isso teria que durar três dias, e se não fosse a chuva ele já estaria em casa.Acabei não fazendo caminhada com o James, aliás eu nem o vi mais. O cara parecia ter tomado chá de sumiço.Quanto ao meu pai, a gente nem se via direito, não quer dizer que fiquei todo dia sem alguém. James fez questão de garantir minha segurança, me deixando com um homem a minha disposição.- Então tá. - Olhei para a tela do computador. - Vamos nessa.Abri os arquivos que ela deixou gravado em um pen drive. Uma pasta continha os nomes de clientes poderosos, tanto para drogas como para garotas. Na outra tinha dezena de vídeos. Fiz a pior best
Não sabia ao certo como não chorar na frente dele. James amassou o papel enquanto vazia ligações, era uma coisa louca. Ele se afastava as vezes, mas ficava de lá olhando para mim. Desejei tanto que o Benjamin estivesse comigo que meu celular tocou. Eu sabia que era ele, porque coloquei nossa música pra tocar toda vez que ele ligasse.- Marjorie. Ainda bem. Não consegui falar com você mais cedo.-Desculpa, eu realmente não sei o quê aconteceu.-Estou voltando para casa. Amanhã cedo chego aí, será que pode me buscar?-Com o maior prazer.-Tenho que desligar. Até mais, pequena.Se meu pai tivesse aqui, ele diria que eu estava bancando à safada, enquanto um homem sai o outro me ligando e marcando meio que um encontro. Claro que eu não pensaria no juiz como algo mais íntimo.James guardou o celular no bolso e veio caminhando na minha direção, ele manteve as mãos dentro do casaco preto, e deu um meio sorriso. Alguém do outro lado do lago soltou fogos, a luz colorida atingiu a gente. O so
-Não! Eu não vou fazer parte dessa loucura. E se.... E se ele estiver te usando? Já pensou nisso? O cara chega na sua vida e te pede pra entrar em uma que você nem sabe o quão profundo é, você aceita e sem saber de mais nada entra nessa loucura.-Benjamim, eu não posso mais voltar atrás. Ele é meu padrinho, acredite que doeu, mas eu não tive alternativa. Já pensou quando investigarem ele? Vão saber da nossa relação e eu vou ser presa por um crime que não cometi.- O quê te faz pensar que eu vou fazer parte desse plano suicida? - Benjamin tinha parado de andar e estava me encarando.-Porque só Deus sabe quanto tempo passei procurando uma pequena pessoa, e agora tenho a chance de estar com ele. Se eu der pra trás, ou se algo acontecer eu não vou saber lidar com isso. - Ignorei o nó crescendo na minha garganta e continuei, - É a minha chance de mostrar para as pessoas que eu não sou uma fracassada.-Você não é fracassada, nunca vai ser o que os outros querem que seja. E eu sei que que
-Seremos uma grande família. Sempre....Já fazia dias que eu não saía de casa. Meu pai parecia entender meu lado, e me deixou a sós com os meus pesadelos e medos. Depois da nossa briga, James não me procurou mais. Benjamin foi o único a ter contato com ele, e pelo que disse, James não tocou no meu nome, nem no ocorrido.Decidi que a janela não era mais meu ponto favorito, passei a olhar para o telefone na minha mão e o pedaço de papel na mesa. Nada nesse mundo me deixava tão apavorada. Um simples telefonema. Juntei forças e disquei número por número, meus dedos tremiam, errei e disquei outra vez. O telefone tocou, três chamadas.-Alo!? Alo? Esta me ouvindo?-Eu...si...sim. Rita como vai?- Marjorie?- Eu mesma, meu pai....- Quanto tempo depois que liguei? Pensei que não quisesse mais saber do seu filho.-Tive alguns problemas, por isso não liguei. E não Rita, não tenho pretensão de esquecer meu filho.-Oito anos. Eu pensei que viria atrás dele.-Fui. Mas você mudou, ou fugiu, e não t
Ainda bem que o carro dele era potente, e infelizmente era caro. Depois de servir como alvo para atiradores profissionais, tive que seguir queimando pneu até entrar na estrada de barro. A chuva começava a cair lá fora, somada ao vento forte, era uma loucura. Mesmo com a tração nas rodas traseiras o carro deslizava, e mesmo assim segui adiante. -Para. O carro. -James se mexeu no banco de trás. -Daqui, vamos a pé. Ou você vai. -Não senhor. Onde eu for você vai. -Virei para encará-lo meio fora do ar. -Se eu não conseguir chegar até lá, vai ter que me deixar... - James apertava a barriga. -E o quê? Não vou ter propósito para continuar se deixar você. Prefiro ficar e morrer junto. -M*****a teimosa. - Ele reprimiu um grito. - Então vamos descer, mas tire o sapato. Tirei o sapato e desci no barro, meus pés afundaram tanto que caí, me levantei e corri até ele. James se jogou para fora, e foi aí que eu vi, quatro tiros. Um no ombro, outros dois de raspão no braço e na perna, o mais feio f
Oito anos atrás...Meu pai acabou aceitando a proposta da Rita, ele concordou que não sabia cuidar de uma gestante, ainda mais sendo menor de idade. Davi quis morar na casa da piscina, segundo ele a gente precisava se conhecer melhor.Com pouco mais de cinco meses descobri duas coisas. A primeira, minha criança era um menino, e a segunda, Davi tinha outra namorada. Ele não dormia mais em casa, não falava mais comigo, e quando o fazia, era sobre a criança. Minha vida foi pro buraco em oito meses.- Posso entrar? - Rita bateu na porta.-Com certeza. - Me ajeitei na cama.A gente acabou se tornando amigas, uma fazendo companhia para a outra, ela por várias vezes foi meu ombro quando eu ficava desesperada.- Como esta se sentindo? As dores voltaram? -Ela tocou na minha barriga.-Só hoje, mas posso viver com elas. Você me disse que seria normal nas últimas semanas.-Certo. Quero que tenha repouso absoluto. Sei que meu filho está levando isso na brincadeira, e que já não chega em casa no h