Capítulo 2

■° Sete meses antes – Hospital °■

Encaro o teto branco e sinto minha cabeça doer muito, minha mente está vazia e não consigo saber onde estou. Me sento na cama sentindo meu braço doer um pouco, olho vendo um corte profundo que levou pontos quando piso no chão dói o lado direito do corpo e levo a mão encontrando um curativo enorme.

–Oi. -escuto e puxo os pés de volta para cima da cama e me encolho ao olhar do homem que apareceu do nada na entrada do quarto. Ele tem uma aura ameaçadora em seu olhar, engulo em seco sentindo minha garganta seca.

–Quem é você? -pergunto porque não consigo me lembrar do seu rosto, levo a mão a cabeça e sinto uma dor aguda, não consigo me lembrar de nada na verdade, minha mente parece um completo livro em branco. Meu nome, idade e nem que lugar é esse. Não há nada além de branco. –Onde estou?

–Querida esse é o hospital, esta se sentindo bem? Sei que essa não foi a lua de mel que pensou mas estou realmente tentando o meu melhor, me desculpe por deixar aquilo acontecer. -fala com uma voz aveludada mas não consigo acreditar em nada do que ele diz porque seus olhos demonstram a mentira por traz de suas palavras, continuo encarando o homem de feições rústica.

–Somos casados? Quem sou eu? -pergunto levando a mão até a cabeça que lateja, ele se aproxima da cama devagar e coloca meus chinelos de pantufa mais perto da cama. Sorri e sinto um arrepio na espinha, seus cabelos escuros cobrem seus olhos por um momento e ele suspira apertando o punho com força.

–Meu amor, sou eu Juan Mills, seu marido. -sinto vontade de vomitar enquanto escuto ele falar, mas eu não me lembro, como posso saber se está falando a verdade ou não? Estou com medo e meu corpo dói muito.

–Rebeca, nos casamos em abril e viemos esquiar. Não se lembra? Estávamos para voltar para casa mas você sofreu um acidente no restaurante, um cara louco estourou uma mesa de vidro e começou uma briga e você acabou se envolvendo. -diz ele caminhando pelo quarto com certa naturalidade, o mesmo para na frente de um pequeno armário no canto e abre o mesmo pegando umas roupas e vem até mim.

–Onde moramos? -pergunto e ele me entrega as roupas sorrindo levemente, seu sorriso não chega aos olhos parece fingido, além disso ele segue cada movimento meu como se eu fosse fugir.

–No Brasil. Sua família é de lá mas vocês moraram no exterior por uns anos quando você era mais nova. -diz e então uma enfermeira entra pedindo licença, ela sorri e vem até mim segurando sua prancheta.

–Senhora Mills, como se sente? -pergunta e isso me faz crer que o homem disse a verdade sobre eu ser Rebeca Mills sua esposa, sorrio fraco tentando não parecer nervosa.

–Só com um pouco de dor de cabeça e os curativos doem um pouco. -falo com simpatia a mesma anota algo em sua prancheta e olha para o homem.

–E sua cabeça? Sofreu uma batida feia. -fala se aproximando e checando o soro anotando em seguida, quase agarro em sua mão e a peço para me levar para outro lugar mas me contenho.

–Não me lembro de nada. -falo apertando os olhos e respirando fundo antes de abri-los e encarar a mulher que apenas anota algo novamente.

–Isso é normal em casos assim, pode levar de um a dois meses para sua memoria voltar por completa mas se não acontecer procure um especialista. -diz e sorri ajeita os papéis tirando um e entregando ao homem. –Esses medicamentos são para dor e ela precisa tomar regularmente até estar recuperada.

–Certo, irei me certificar de comprar. -diz e sorri para a mulher que sai fechando a porta em seguida, me sinto incomodada por estar novamente sozinha com aquele homem então jogo as pernas para fora da cama segurando as roupas que ele me deu.

–Eu irei me trocar. -falo e calço as pantufas puxo o gancho do soro entrando no banheiro com as roupas, vou até a pia abrindo a torneira e deixando a água cair em minhas mãos, pego a água quente jogando no rosto e levantando o olhar me encarando no pequeno espelho que em cima da pia.

Porque não consigo me lembrar de nada? Meu rosto está bem cuidado, e meu cabelo também parece ter sido recém hidratado. Como posso ter ficado tantos dias nesse frio e meu cabelo continua tão bom? Balanço a cabeça espantando esses pensamentos para longe. Apenas fecho a torneira e começo a tirar a roupa do hospital e vestir a outra sem pressa, não quero sair daqui mas o homem lá fora não parece querer esperar tanto.

–Rebeca? Esta tudo bem? -a voz me causa arrepios mas porque eu não sei. Apenas respiro fundo levando a mão ao peito antes de responder.

–Já irei sair. Estou bem. -falo a última mais para mim do que para ele, quando abro a porta do banheiro o mesmo esta parado na frente e me assusto com seu olhar.

–Eles te deram alta, podemos pegar um voo para casa. -diz sorrindo e devolvo o sorriso e por cima dos ombros dele vejo a câmera de segurança. Porque em um quarto comum tem uma câmera de segurança?

–Eu só preciso de outros sapatos.-falo e ele b**e a mão na testa como se tivesse esquecido desse detalhe.

–Eu irei comprar um par de botas quentes para você, aqui perto do hospital tem algumas lojinhas. -diz e me estende sua mão que pego mesmo não querendo muito, ele sorri e me ajuda a chegar na porta do quarto. –Também tem aquele bolinho que você amou na cafeteira aqui perto.

O homem continua falando mas já não presto atenção, continuamos andando até a recepção onde uma enfermeira vem e me tira o soro me dizendo para ter uma boa recuperação, logo saímos do hospital e vejo a neve caindo forte, sinto um pouco de frio nos dedos dos pés já que estou de pantufas nesse clima mas sou surpreendida quando Juan me ergue nos braços.

–Não posso deixar você andar de pantufas na neve. -diz com um sorriso estranho, engulo em seco já que não tenho forças para lutar contra esse argumento. Ele me leva até um carro preto e destrava as portas me colocando no banco do passageiro, eu sorrio e agradeço.

–Esse carro...

–Eu aluguei assim que chegamos aqui. -fala com seu sorriso no rosto, levo o olhar para o banco de traz onde tem duas malas fechadas. –Irei comprar os sapatos, espere um pouco ok.

Escuto apenas a porta ser fechada e travada, porque ele teve de travar a porta? Não pense demais Rebecca, apenas espere e logo vai começar a se lembrar. Suspiro me recostando no banco do carro e então sinto algo desconfortável nas minhas costas, levo a mão encontrando um celular, acendo a tela vendo uma foto minha com um vestido de casamento nos braços de Juan.

Passo o dedo na tela e o mesmo desbloqueia, vou direto para a lista de contatos, vasculho tudo e mesmo olhando os nomes não me lembro de ninguém em especial. Suspiro apagando a tela novamente fechando os olhos, escuto um barulho alto e abro os olhos vendo vários carros chegarem ao hospital. Meus olhos fica fixados em uma figura alta em meio às pessoas, um homem com os cabelos cobrados ou será que é por conta da iluminação?

–Voltei. -me assusto e levo a mão no peito encarando o homem que entra no carro segurando duas sacolas. –Esta um tumulto ali na frente melhor irmos.

–Sim. -respondo e ele me entrega as sacolas sorrindo, uma parece ser algo para comer.

–Demorei porque passei na cafeteria ali na frente, trouxe seu doce preferido. -abro a sacola encontrando um bolo de chocolate e sinto uma forte pontada na cabeça novamente.

“–Esse bolo deve ser mesmo seu preferido. Come tão rápido.

–Deixe de implicar com a menina.”

Solto um gemido de dor com as frases e as vozes que vem em minha mente do nada, acho que são resquícios da minha memória perdida. Sinto a mão de Juan em minhas costas e escuto ele falando alguma coisa que não entendo, apenas fecho os olhos e pisco algumas vezes antes de me sentir melhor mesmo que minha cabeça ainda lateja fazendo com que eu tenha que ficar imóvel por um tempo.

–Estou bem. Foi só uma dor de cabeça repentina. -falo pegando em sua mão que acariciava meu rosto, engulo em seco por não sentir nenhuma familiaridade com seu toque, eu na verdade me sinto até um pouco mal com seu toque.

–Quase levei você de volta ao hospital. -diz com a voz calma o que não indica que realmente faria isso se eu desmaiasse agora.

–Vamos embora, ficar no carro está me deixando sufocada. -falo e ele suspira apenas concordando e dando partida no carro. Espero que consiga me recuperar logo, não consigo dizer se estou fazendo a decisão certa ao sair daqui assim. Sinto um aperto no peito quando passamos por um carro e pela janela vejo o rosto de uma mulher banhado em lágrimas ela parece tão triste. Engulo em seco e respiro fundo. Me sinto muito desconfortável para fazer qualquer coisa, apenas irei dormir um pouco e talvez quando eu acordar me sinta melhor.

–Descanse um pouco, quando chegarmos no aeroporto eu te acordo. -a voz dele parece distante mas não me importo apenas quero fechar meus olhos e me lembrar de tudo agora mesmo.

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