■° Sete meses antes – Hospital °■
Encaro o teto branco e sinto minha cabeça doer muito, minha mente está vazia e não consigo saber onde estou. Me sento na cama sentindo meu braço doer um pouco, olho vendo um corte profundo que levou pontos quando piso no chão dói o lado direito do corpo e levo a mão encontrando um curativo enorme.–Oi. -escuto e puxo os pés de volta para cima da cama e me encolho ao olhar do homem que apareceu do nada na entrada do quarto. Ele tem uma aura ameaçadora em seu olhar, engulo em seco sentindo minha garganta seca.–Quem é você? -pergunto porque não consigo me lembrar do seu rosto, levo a mão a cabeça e sinto uma dor aguda, não consigo me lembrar de nada na verdade, minha mente parece um completo livro em branco. Meu nome, idade e nem que lugar é esse. Não há nada além de branco. –Onde estou?–Querida esse é o hospital, esta se sentindo bem? Sei que essa não foi a lua de mel que pensou mas estou realmente tentando o meu melhor, me desculpe por deixar aquilo acontecer. -fala com uma voz aveludada mas não consigo acreditar em nada do que ele diz porque seus olhos demonstram a mentira por traz de suas palavras, continuo encarando o homem de feições rústica.–Somos casados? Quem sou eu? -pergunto levando a mão até a cabeça que lateja, ele se aproxima da cama devagar e coloca meus chinelos de pantufa mais perto da cama. Sorri e sinto um arrepio na espinha, seus cabelos escuros cobrem seus olhos por um momento e ele suspira apertando o punho com força.–Meu amor, sou eu Juan Mills, seu marido. -sinto vontade de vomitar enquanto escuto ele falar, mas eu não me lembro, como posso saber se está falando a verdade ou não? Estou com medo e meu corpo dói muito.–Rebeca, nos casamos em abril e viemos esquiar. Não se lembra? Estávamos para voltar para casa mas você sofreu um acidente no restaurante, um cara louco estourou uma mesa de vidro e começou uma briga e você acabou se envolvendo. -diz ele caminhando pelo quarto com certa naturalidade, o mesmo para na frente de um pequeno armário no canto e abre o mesmo pegando umas roupas e vem até mim.–Onde moramos? -pergunto e ele me entrega as roupas sorrindo levemente, seu sorriso não chega aos olhos parece fingido, além disso ele segue cada movimento meu como se eu fosse fugir.–No Brasil. Sua família é de lá mas vocês moraram no exterior por uns anos quando você era mais nova. -diz e então uma enfermeira entra pedindo licença, ela sorri e vem até mim segurando sua prancheta.–Senhora Mills, como se sente? -pergunta e isso me faz crer que o homem disse a verdade sobre eu ser Rebeca Mills sua esposa, sorrio fraco tentando não parecer nervosa.–Só com um pouco de dor de cabeça e os curativos doem um pouco. -falo com simpatia a mesma anota algo em sua prancheta e olha para o homem.–E sua cabeça? Sofreu uma batida feia. -fala se aproximando e checando o soro anotando em seguida, quase agarro em sua mão e a peço para me levar para outro lugar mas me contenho.–Não me lembro de nada. -falo apertando os olhos e respirando fundo antes de abri-los e encarar a mulher que apenas anota algo novamente.–Isso é normal em casos assim, pode levar de um a dois meses para sua memoria voltar por completa mas se não acontecer procure um especialista. -diz e sorri ajeita os papéis tirando um e entregando ao homem. –Esses medicamentos são para dor e ela precisa tomar regularmente até estar recuperada.–Certo, irei me certificar de comprar. -diz e sorri para a mulher que sai fechando a porta em seguida, me sinto incomodada por estar novamente sozinha com aquele homem então jogo as pernas para fora da cama segurando as roupas que ele me deu.–Eu irei me trocar. -falo e calço as pantufas puxo o gancho do soro entrando no banheiro com as roupas, vou até a pia abrindo a torneira e deixando a água cair em minhas mãos, pego a água quente jogando no rosto e levantando o olhar me encarando no pequeno espelho que em cima da pia.Porque não consigo me lembrar de nada? Meu rosto está bem cuidado, e meu cabelo também parece ter sido recém hidratado. Como posso ter ficado tantos dias nesse frio e meu cabelo continua tão bom? Balanço a cabeça espantando esses pensamentos para longe. Apenas fecho a torneira e começo a tirar a roupa do hospital e vestir a outra sem pressa, não quero sair daqui mas o homem lá fora não parece querer esperar tanto.–Rebeca? Esta tudo bem? -a voz me causa arrepios mas porque eu não sei. Apenas respiro fundo levando a mão ao peito antes de responder.–Já irei sair. Estou bem. -falo a última mais para mim do que para ele, quando abro a porta do banheiro o mesmo esta parado na frente e me assusto com seu olhar.–Eles te deram alta, podemos pegar um voo para casa. -diz sorrindo e devolvo o sorriso e por cima dos ombros dele vejo a câmera de segurança. Porque em um quarto comum tem uma câmera de segurança?–Eu só preciso de outros sapatos.-falo e ele b**e a mão na testa como se tivesse esquecido desse detalhe.–Eu irei comprar um par de botas quentes para você, aqui perto do hospital tem algumas lojinhas. -diz e me estende sua mão que pego mesmo não querendo muito, ele sorri e me ajuda a chegar na porta do quarto. –Também tem aquele bolinho que você amou na cafeteira aqui perto.O homem continua falando mas já não presto atenção, continuamos andando até a recepção onde uma enfermeira vem e me tira o soro me dizendo para ter uma boa recuperação, logo saímos do hospital e vejo a neve caindo forte, sinto um pouco de frio nos dedos dos pés já que estou de pantufas nesse clima mas sou surpreendida quando Juan me ergue nos braços.–Não posso deixar você andar de pantufas na neve. -diz com um sorriso estranho, engulo em seco já que não tenho forças para lutar contra esse argumento. Ele me leva até um carro preto e destrava as portas me colocando no banco do passageiro, eu sorrio e agradeço.–Esse carro...–Eu aluguei assim que chegamos aqui. -fala com seu sorriso no rosto, levo o olhar para o banco de traz onde tem duas malas fechadas. –Irei comprar os sapatos, espere um pouco ok.Escuto apenas a porta ser fechada e travada, porque ele teve de travar a porta? Não pense demais Rebecca, apenas espere e logo vai começar a se lembrar. Suspiro me recostando no banco do carro e então sinto algo desconfortável nas minhas costas, levo a mão encontrando um celular, acendo a tela vendo uma foto minha com um vestido de casamento nos braços de Juan.Passo o dedo na tela e o mesmo desbloqueia, vou direto para a lista de contatos, vasculho tudo e mesmo olhando os nomes não me lembro de ninguém em especial. Suspiro apagando a tela novamente fechando os olhos, escuto um barulho alto e abro os olhos vendo vários carros chegarem ao hospital. Meus olhos fica fixados em uma figura alta em meio às pessoas, um homem com os cabelos cobrados ou será que é por conta da iluminação?–Voltei. -me assusto e levo a mão no peito encarando o homem que entra no carro segurando duas sacolas. –Esta um tumulto ali na frente melhor irmos.–Sim. -respondo e ele me entrega as sacolas sorrindo, uma parece ser algo para comer.–Demorei porque passei na cafeteria ali na frente, trouxe seu doce preferido. -abro a sacola encontrando um bolo de chocolate e sinto uma forte pontada na cabeça novamente.“–Esse bolo deve ser mesmo seu preferido. Come tão rápido.–Deixe de implicar com a menina.”Solto um gemido de dor com as frases e as vozes que vem em minha mente do nada, acho que são resquícios da minha memória perdida. Sinto a mão de Juan em minhas costas e escuto ele falando alguma coisa que não entendo, apenas fecho os olhos e pisco algumas vezes antes de me sentir melhor mesmo que minha cabeça ainda lateja fazendo com que eu tenha que ficar imóvel por um tempo.–Estou bem. Foi só uma dor de cabeça repentina. -falo pegando em sua mão que acariciava meu rosto, engulo em seco por não sentir nenhuma familiaridade com seu toque, eu na verdade me sinto até um pouco mal com seu toque.–Quase levei você de volta ao hospital. -diz com a voz calma o que não indica que realmente faria isso se eu desmaiasse agora.–Vamos embora, ficar no carro está me deixando sufocada. -falo e ele suspira apenas concordando e dando partida no carro. Espero que consiga me recuperar logo, não consigo dizer se estou fazendo a decisão certa ao sair daqui assim. Sinto um aperto no peito quando passamos por um carro e pela janela vejo o rosto de uma mulher banhado em lágrimas ela parece tão triste. Engulo em seco e respiro fundo. Me sinto muito desconfortável para fazer qualquer coisa, apenas irei dormir um pouco e talvez quando eu acordar me sinta melhor.–Descanse um pouco, quando chegarmos no aeroporto eu te acordo. -a voz dele parece distante mas não me importo apenas quero fechar meus olhos e me lembrar de tudo agora mesmo.■° ■° ■° ■° ■° ■° ■°■° Dois meses depois de sair do Hospital desmemoriada – São Paulo °■Encaro as lâmpadas do teto do consultório enquanto aguardo o veredito médico, desde que voltamos estamos hospedados na casa dos meus pais porque eles ficaram preocupados de voltarmos pra casa comigo desmemoriada. Escuto a porta se abrir e os passo atrás de mim, viro o olhar encontrando a médica que está cuidando de mim desde que cheguei ao Brasil.–Temos boas notícias. -diz sorrindo me observando, sinto uma ansiedade imensa, esfrego a palma das mãos na calça jeans esperando por suas palavras.–Então? -pergunto porque ela faz um certo suspense.–O inchaço no cérebro diminuiu, mas essa não é a melhor notícia. -sorrio porque estava vivendo como uma doente até agora.–Se essa não é a melhor notícia. Então qual é? -pergunto sorrindo.–Seus níveis hormonais estavam elevados, fiz um beta-HCG por precaução e descobri que você está grávida. -fala e meu sorriso some, um bebê. Eu nem
■° Dois meses depois de descobrir a gestação – São Paulo °■■° 3 meses e meio de gestação °■–Tudo pronto? -pergunta ao me ver puxar a mala escada abaixo. Passo a mão na barriga um pouco grandinha e confirmo sorrindo, a exatos dois meses eu descobri a gravidez o que foi uma grande surpresa para toda a família. E veio os exames para saber se estava tudo bem com minha saúde e a do bebê, estou com quase quatro meses o que prova que ele foi feito durante nossa lua de mel.–Filha deixa que eu levo isso. -escuto a voz e me sinto arrepiar a nuca, meus pais estão aqui desde que descobri a gravidez, assim que Juan ligou contando a notícia todos vieram para comemorar a ótima notícia. Eles me mimaram de toda maneira mesmo que algumas coisas tenham me deixado um pouco inquieta e agora estamos indo para a fazenda da família por que na ultima consulta a doutora disse que eu estou muito tensa.Quando veio a ideia relutei um pouco já que pode acontecer algum acidente por l
■° Dois meses depois – São Paulo °■■° 5 meses de gestação °■Respiro fundo encostando minhas costas na parede fria do quarto de hospital, acabei de descobrir o sexo do bebê e estou muito feliz. Pena que Juan está em uma viajem de negócios e só chega pela tarde de hoje, ele vai ficar animado ao saber que é um menino. Seguro a vontade de chorar assim que passo a mão pela barriga já redondinha apesar de não estar tão grande quanto achei que estaria, deve ser porque ultimamente tenho meu estômago tem rejeitado algumas comidas.Pego minha bolsa que está na cadeira do consultório e coloco a foto do ultrassom, sorrio feliz quando saio da sala e vou em direção a saída. Sinto uma mão segurar meu braço e me viro encontrando um homem que nunca vi, ele esboça surpresa ao me ver. Nos encaramos e espero que ele diga algo enquanto nos encaramos nos olhos, mas parece que não sabe bem o que dizer.Observo-o de cima a baixo, tem pernas e braços longos, ele é bem esguio e pa
■° Um mês depois – São Paulo °■■° 6 meses de gestação °■Minha memória está cada vez mais bagunçada, flashs de memória vem de hora em outra e as vezes vem em forma de sonhos ou pesadelos, o que fazem das minhas noites agitadas. Engulo em seco e jogo os pés para fora da cama levando a mão ao meu cordão e respiro devagar tentando me acalmar após o pesadelo em volto em chamas que acabei de ter, meu corpo está pesado por conta da barriga já grande e sinto vontade de comer abóboras doces mas está de madrugada agora.–Rebecca? Tudo bem? -sua voz me faz arrepiar, seguro forte o lençol para não sair correndo agora mesmo para algum lugar distante onde ele não esteja presente.–Sim, só preciso ir ao banheiro. -minto e me levanto da cama devagar apoiando a mão nas costas porque assim é mais fácil. –Volte a dormir, eu volto logo.–Tudo bem, mas cuidado nas escadas. -fala e se vira voltando a dormir, calço meus sapatos de pantufa e vou em direção ao primeiro andar
■° 5 Anos Antes – Algum lugar da Itália °■Um homem de sobretudo entra em um café e disfarçadamente procura por alguém, ele logo percebe sua cliente pelo grande casaco de pele que ela citou em sua mensagem anterior. Ele sempre está fazendo serviços para essas senhoras ricas e de alta sociedade que mal sabem usar o dinheiro que tem. Ele faz serviços desde os mais bobos como espionagem, ou até mesmo os mais ousados como assassinatos.–Olá, eu sou Lucian. Ao seu dispor madame. ‐ele parece capaz sempre que usa esse nome e as senhoras acham um charme, mas apenas faz isso pelo dinheiro que ira receber. Seus olhos escondidos atrás dos óculos são como os de uma raposa atrás de sua presa, ele puxa a cadeira se sentando em sua frente esperando uma resposta que vem de maneira rude.–Não me importa o seu nome, apenas quero que se livre dessa mulher. -a foto é jogada sob a mesa e o mesmo avalia bem antes de sorrir em escárnio levantando o olhar para a mulher bem vestida em s
■° 6 meses e meio de Gestação °■–Eu sei que você estava animado para essa consulta mas vou me sair bem sozinha. -digo sorrindo para Juan que me olha de forma frustrada. Ao que parece algo aconteceu e ele não vai conseguir me acompanhar na consulta semanal de hoje, na verdade isso era o que eu queria, assim posso dar um jeito de ver aquele pen-drive em algum lugar.–Tem certeza que vai ficar bem sozinha? -pergunta pela segunda vez e confirmo entrando no taxi, agora eu sei que isso é só fachada, mas mesmo assim quero acreditar que pelo menos alguma coisa é real nas suas ações.–Eu vou e volto num piscar de olhos, você nem vai notar. -digo e ele confirma fechando a porta do taxi. Assim que o motorista da partida e nos afastamos de Juan sinto um certo alívio por finalmente estar um pouco só.–Seu marido parece bem atencioso. -diz o taxista tentando puxar assunto.–Ele é bem carinhoso mesmo. -falo sorrindo e acariciando a barriga grande, sinto um amargor n
■° 6 meses e meio de Gestação °■Sinto o chute forte em minha barriga, o bebê parece jogar futebol dentro de mim e sou obrigada a me sentar no banco da praça em frente ao hospital. Fecho os olhos com as imagens ainda frescas na minha memória, preciso ir verificar isso o quanto antes. Engulo em seco ao sentir uma mão em meu braço e abro os olhos assustada, o rosto da senhora gentil de sempre aparece e sinto um certo alívio.–Oh querida não devia dormir aqui. -diz com sua voz doce e sorrio para ela, sinto meu coração bater feito louco. Respiro fundo tentando não me deixar transparecer o nervoso que sinto.–Estou apenas descansando as pernas senhora. -respondo acariciando a barriga grande.–De longe parecia um pouco nervosa. Está tudo bem querida? -pergunta se sentando ao meu lado ainda com a mão em meu braço.–Talvez não tanto. -respondo me encolhendo no lugar, seu toque é tão gentil que meus olhos enchem de lágrimas.–O que aconteceu? Precisa de aj
■° 6 meses e meio de Gestação °■Sinto algo desconfortável perto do nariz o cheiro é bem forte e abro os olhos tentando me localizar. A luz está alta e o cheiro ainda persiste em ficar na porta do meu nariz, levo a mão ao local e não há nada.–Acordada querida? -viro a cabeça encontrando a senhora que encontro no parque, tento me sentar e a mesma vem me ajudar. Minha garganta está seca e quando vou pedir por um copo de água há um em minha frente, pego o mesmo bebendo o conteúdo rápido.–Ela parece um pouco pálida vou pedir para a Fabi lhe trazer algo bom pata grávidas. -viro o olhar minimamente encontrando o homem grande ele apenas sai do lugar que parece um quarto em seguida.–Como se sente? Tem dor em algum lugar? -nego com a cabeça e levo a mão a barriga, parece que está tudo bem. –Você não chegou a cair no chão meu neto te pegou antes disso e lhe trouxemos aqui.–Desculpe o incomodo, agradecerei a ele depois. -falo me sentindo envergonhada. –Acho qu