Capítulo 3

■° Dois meses depois de sair do Hospital desmemoriada – São Paulo °■

Encaro as lâmpadas do teto do consultório enquanto aguardo o veredito médico, desde que voltamos estamos hospedados na casa dos meus pais porque eles ficaram preocupados de voltarmos pra casa comigo desmemoriada. Escuto a porta se abrir e os passo atrás de mim, viro o olhar encontrando a médica que está cuidando de mim desde que cheguei ao Brasil.

–Temos boas notícias. -diz sorrindo me observando, sinto uma ansiedade imensa, esfrego a palma das mãos na calça jeans esperando por suas palavras.

–Então? -pergunto porque ela faz um certo suspense.

–O inchaço no cérebro diminuiu, mas essa não é a melhor notícia. -sorrio porque estava vivendo como uma doente até agora.

–Se essa não é a melhor notícia. Então qual é? -pergunto sorrindo.

–Seus níveis hormonais estavam elevados, fiz um beta-HCG por precaução e descobri que você está grávida. -fala e meu sorriso some, um bebê. Eu nem ao menos tenho memórias e agora tenho um bebê em meu ventre. Me levanto abruptamente assustando a doutora que me olha atenta, sob seu olhar sorrio e as lágrimas descem pelo meu rosto levemente caindo como uma fina cachoeira que acaba de ser aberta.

–É normal ter essa reação surpresa, afinal é recém casada muitos casais gostam de curtir a lua de mel por um tempo. -diz e vem até mim pegando em minha mão, engulo em seco sentindo um nó em minha garganta.

Agora apenas quero gritar alto e tirar toda a frustração presa em meu peito. Respiro fundo sentindo a dor em meu peito, mal sei quem sou e ainda tenho que lidar com essa notícia. Não lembro se meu nome é meu nome. Se meu marido é quem diz ser. Se minha família é minha família. Nem se realmente estou em casa. As vezes me perco tentando lembrar de quem era mas apenas sinto dor e desespero.

–Está tudo bem? -a doutora me ajuda a sentar novamente e me sinto zonza, agora entendo todos aqueles sintomas que tive nos últimos dois meses. Começaram logo depois que chegamos em casa, as náuseas, vômito e enjoos, achei que fossem por conta dos medicamentos para memória.

Levo a mão ao pescoço encontrando o pingente e o agarro com força, essa é a única coisa que me trás algum conforto quando estou ansiosa. Desde que chegamos aqui nada me é familiar, mas quando peguei esse cordão eu me senti bem e por isso o levo sempre comigo. Respiro fundo e levo a outra mão até a barriga, eu tenho um bebê. Não sei como Juan vai reagir a notícia mas espero que fique feliz.

–Preciso ligar pro meu marido, eu estou um pouco tonta acho que não consigo chegar em casa sozinha. -a médica da um sorriso singelo e sai da sala me deixando sozinha por um momento. Fico parada apenas olhando o nada por um tempo só então pego o celular discando o número que esta na agenda, nem mesmo tive um vislumbre despotismo de ver esse número.

Eu ligo e chama várias vezes mas não parece que ele vai atender. Suspiro e tento mais uma vez e nada, ele disse que não estaria tão ocupado hoje mas parece que aconteceu algum imprevisto já que não atende. Respiro fundo e tento mais uma vez segurando forte no pingente em meu pescoço, chama três vezes até atender.

‘–Alô.’

–Juan? Pode vir me buscar no hospital? -pergunto sentindo a voz tremer.

‘–Rebecca eu estou trabalhando, pega um carro de aplicativo.’

Sua voz me causa arrepios e seu tom impaciente me deixa extremamente chateada, ele disse que éramos muito unidos mas desde que chegamos eu só vejo ele na hora das refeições e aos fins de semana ele está sempre trabalhando.

‘–Eu estarei em casa as onze porque irei ter de fazer hora extra. Me ligue se precisar de alguma coisa. Vá pra casa.’

Ao fundo posso escutar uma música sensual e uma voz de mulher ‘–Sua esposa?.’ Engulo o choro e apenas confirmo com uma frase simples, depois encerro a chamada. A gente acaba de se casar a menos de seis meses e já parece que ele está me traindo. Não sei o que pensei quando me casei com Juan mas acho que ele não é o que eu pensei que fosse, ou talvez seja coisa da minha cabeça.

–Terminou sua ligação? -olho para a porta encontrando a doutora com alguns papéis na mão, confirmo me levantando sentindo uma leve tontura mas não me deixo abater e caminho até a porta.

–Meu marido vai mandar alguém pra me pegar. -falo sorrindo não tentando parecer abalada mesmo que meus pensamentos estejam uma tremenda bagunça. Suspiro e saindo do hospital e caminho por algum tempo perdida em pensamentos, não sei ao certo por quanto tempo andei mas sinto minhas pernas doerem.

–Não devia ficar parada nesse sol querida, venha aqui. -escuto e viro o olhar encontrando uma senhora sentada em um banco, olho em volta e percebo que de alguma forma estou em uma espécie de praça onde as pessoas passam por mim presas em seus próprios problemas. –Venha jovenzinha. Sente-se um pouco.

Sorrio sentindo um pouco de familiaridade com seu rosto mesmo nunca tendo encontrado com ela antes, caminho devagar e me sento no banco sentindo um alívio nas minhas pernas. Solto um gemido de alívio e me recosto no banco jogando a caneca para trás, realmente não sei o que fazer agora.

–Aqui. -ela me entrega uma garrafa de água fechada e encaro seu rosto gentil. –A mocinha passou por aqui quatro vezes. Está perdida?

–Mesmo? Não me dei conta. -falo dando de ombros mesmo estando envergonhada com o fato de estar andando em círculos.

–Eu sempre me sento aqui nesse horário, observo as pessoas passarem com pressa e sinto a brisa. Tremenda foi minha surpresa ao te ver andando em círculos pelo parque. -diz e da uma leve risada no final.

–Digamos que o dia começou um pouco intenso hoje. -digo abrindo a garrafa de água e bebendo um gole, eu realmente precisava disso.

–Oh querida, a vida é difícil as vezes. Mas devemos sempre buscar um jeitinho de nos deixar liberar o estresse. -diz e lhe encaro, seu rosto está brilhando em um lindo sorriso.

–Na verdade acho que fiz a pior escolha possível para minha vida. -falo e ela me escuta atentamente. –Me casei, e ao que parece meu marido está me traindo apenas dois meses após o casamento.

–Oh meu bem, isso realmente é horrível. -diz, sinto um leve toque em minhas costas e um calor me preenche me fazendo sentir que posso chorar a qualquer momento. Desde que cheguei ao Brasil todos que conheci, na verdade todos que dizem ter me conhecido apenas me dizem palavras duras e falsas tentando me fazer lembrar deles mas na verdade eu nunca me sentir sequer acolhida por eles.

–Hoje mas cedo eu fui em uma consulta médica sozinha porque meu marido tinha que trabalhar, a doutora disse que estou grávida. Nem faz três meses de casamento e nem mesmo me lembro da minha noite de núpcias e já estou grávida. -falo aos prantos, a senhorinha me entrega um lenço bordado que uso para enxugar os olhos que agora parecem cachoeiras.

–Um filho é sempre uma benção querida. -diz ela carinhosamente. –Mesmo que o casamento não esteja indo bem, talvez a criança os faça ainda mais unidos.

–Talvez a senhora tenha razão. -sorrio entendendo que talvez eu que esteja interpretando tudo errado.

–Va pra casa querida. Esclareça as coisa com seu marido. Se quiser alguém para lhe dar conselhos eu sempre estou por aqui. -diz e me levanto já dando adeus e seguindo para um ponto de taxi, me sinto um pouco melhor agora só tenho que esclarecer as coisas. Tudo deve ser apenas coisa da minha cabeça, ele deve estar trabalhando duro então também devo me esforçar mais e acreditar nele.

Pego o primeiro taxi que aparece e falo o endereço, quero chegar em casa e preparar uma surpresa para quando ele chegar. Tenho certeza que ele vai ficar feliz com a notícia que tenho, sorrio enquanto observo as pessoas passarem pelas calçadas no fim da tarde. Nem imaginava que havia passado tanto tempo em que estava rondando por aí, espero que ele não tenha chegado ainda.

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