■° Dois meses depois de sair do Hospital desmemoriada – São Paulo °■
Encaro as lâmpadas do teto do consultório enquanto aguardo o veredito médico, desde que voltamos estamos hospedados na casa dos meus pais porque eles ficaram preocupados de voltarmos pra casa comigo desmemoriada. Escuto a porta se abrir e os passo atrás de mim, viro o olhar encontrando a médica que está cuidando de mim desde que cheguei ao Brasil.–Temos boas notícias. -diz sorrindo me observando, sinto uma ansiedade imensa, esfrego a palma das mãos na calça jeans esperando por suas palavras.–Então? -pergunto porque ela faz um certo suspense.–O inchaço no cérebro diminuiu, mas essa não é a melhor notícia. -sorrio porque estava vivendo como uma doente até agora.–Se essa não é a melhor notícia. Então qual é? -pergunto sorrindo.–Seus níveis hormonais estavam elevados, fiz um beta-HCG por precaução e descobri que você está grávida. -fala e meu sorriso some, um bebê. Eu nem ao menos tenho memórias e agora tenho um bebê em meu ventre. Me levanto abruptamente assustando a doutora que me olha atenta, sob seu olhar sorrio e as lágrimas descem pelo meu rosto levemente caindo como uma fina cachoeira que acaba de ser aberta.–É normal ter essa reação surpresa, afinal é recém casada muitos casais gostam de curtir a lua de mel por um tempo. -diz e vem até mim pegando em minha mão, engulo em seco sentindo um nó em minha garganta.Agora apenas quero gritar alto e tirar toda a frustração presa em meu peito. Respiro fundo sentindo a dor em meu peito, mal sei quem sou e ainda tenho que lidar com essa notícia. Não lembro se meu nome é meu nome. Se meu marido é quem diz ser. Se minha família é minha família. Nem se realmente estou em casa. As vezes me perco tentando lembrar de quem era mas apenas sinto dor e desespero.–Está tudo bem? -a doutora me ajuda a sentar novamente e me sinto zonza, agora entendo todos aqueles sintomas que tive nos últimos dois meses. Começaram logo depois que chegamos em casa, as náuseas, vômito e enjoos, achei que fossem por conta dos medicamentos para memória.Levo a mão ao pescoço encontrando o pingente e o agarro com força, essa é a única coisa que me trás algum conforto quando estou ansiosa. Desde que chegamos aqui nada me é familiar, mas quando peguei esse cordão eu me senti bem e por isso o levo sempre comigo. Respiro fundo e levo a outra mão até a barriga, eu tenho um bebê. Não sei como Juan vai reagir a notícia mas espero que fique feliz.–Preciso ligar pro meu marido, eu estou um pouco tonta acho que não consigo chegar em casa sozinha. -a médica da um sorriso singelo e sai da sala me deixando sozinha por um momento. Fico parada apenas olhando o nada por um tempo só então pego o celular discando o número que esta na agenda, nem mesmo tive um vislumbre despotismo de ver esse número.Eu ligo e chama várias vezes mas não parece que ele vai atender. Suspiro e tento mais uma vez e nada, ele disse que não estaria tão ocupado hoje mas parece que aconteceu algum imprevisto já que não atende. Respiro fundo e tento mais uma vez segurando forte no pingente em meu pescoço, chama três vezes até atender.‘–Alô.’–Juan? Pode vir me buscar no hospital? -pergunto sentindo a voz tremer.‘–Rebecca eu estou trabalhando, pega um carro de aplicativo.’Sua voz me causa arrepios e seu tom impaciente me deixa extremamente chateada, ele disse que éramos muito unidos mas desde que chegamos eu só vejo ele na hora das refeições e aos fins de semana ele está sempre trabalhando.‘–Eu estarei em casa as onze porque irei ter de fazer hora extra. Me ligue se precisar de alguma coisa. Vá pra casa.’Ao fundo posso escutar uma música sensual e uma voz de mulher ‘–Sua esposa?.’ Engulo o choro e apenas confirmo com uma frase simples, depois encerro a chamada. A gente acaba de se casar a menos de seis meses e já parece que ele está me traindo. Não sei o que pensei quando me casei com Juan mas acho que ele não é o que eu pensei que fosse, ou talvez seja coisa da minha cabeça.–Terminou sua ligação? -olho para a porta encontrando a doutora com alguns papéis na mão, confirmo me levantando sentindo uma leve tontura mas não me deixo abater e caminho até a porta.–Meu marido vai mandar alguém pra me pegar. -falo sorrindo não tentando parecer abalada mesmo que meus pensamentos estejam uma tremenda bagunça. Suspiro e saindo do hospital e caminho por algum tempo perdida em pensamentos, não sei ao certo por quanto tempo andei mas sinto minhas pernas doerem.–Não devia ficar parada nesse sol querida, venha aqui. -escuto e viro o olhar encontrando uma senhora sentada em um banco, olho em volta e percebo que de alguma forma estou em uma espécie de praça onde as pessoas passam por mim presas em seus próprios problemas. –Venha jovenzinha. Sente-se um pouco.Sorrio sentindo um pouco de familiaridade com seu rosto mesmo nunca tendo encontrado com ela antes, caminho devagar e me sento no banco sentindo um alívio nas minhas pernas. Solto um gemido de alívio e me recosto no banco jogando a caneca para trás, realmente não sei o que fazer agora.–Aqui. -ela me entrega uma garrafa de água fechada e encaro seu rosto gentil. –A mocinha passou por aqui quatro vezes. Está perdida?–Mesmo? Não me dei conta. -falo dando de ombros mesmo estando envergonhada com o fato de estar andando em círculos.–Eu sempre me sento aqui nesse horário, observo as pessoas passarem com pressa e sinto a brisa. Tremenda foi minha surpresa ao te ver andando em círculos pelo parque. -diz e da uma leve risada no final.–Digamos que o dia começou um pouco intenso hoje. -digo abrindo a garrafa de água e bebendo um gole, eu realmente precisava disso.–Oh querida, a vida é difícil as vezes. Mas devemos sempre buscar um jeitinho de nos deixar liberar o estresse. -diz e lhe encaro, seu rosto está brilhando em um lindo sorriso.–Na verdade acho que fiz a pior escolha possível para minha vida. -falo e ela me escuta atentamente. –Me casei, e ao que parece meu marido está me traindo apenas dois meses após o casamento.–Oh meu bem, isso realmente é horrível. -diz, sinto um leve toque em minhas costas e um calor me preenche me fazendo sentir que posso chorar a qualquer momento. Desde que cheguei ao Brasil todos que conheci, na verdade todos que dizem ter me conhecido apenas me dizem palavras duras e falsas tentando me fazer lembrar deles mas na verdade eu nunca me sentir sequer acolhida por eles.–Hoje mas cedo eu fui em uma consulta médica sozinha porque meu marido tinha que trabalhar, a doutora disse que estou grávida. Nem faz três meses de casamento e nem mesmo me lembro da minha noite de núpcias e já estou grávida. -falo aos prantos, a senhorinha me entrega um lenço bordado que uso para enxugar os olhos que agora parecem cachoeiras.–Um filho é sempre uma benção querida. -diz ela carinhosamente. –Mesmo que o casamento não esteja indo bem, talvez a criança os faça ainda mais unidos.–Talvez a senhora tenha razão. -sorrio entendendo que talvez eu que esteja interpretando tudo errado.–Va pra casa querida. Esclareça as coisa com seu marido. Se quiser alguém para lhe dar conselhos eu sempre estou por aqui. -diz e me levanto já dando adeus e seguindo para um ponto de taxi, me sinto um pouco melhor agora só tenho que esclarecer as coisas. Tudo deve ser apenas coisa da minha cabeça, ele deve estar trabalhando duro então também devo me esforçar mais e acreditar nele.Pego o primeiro taxi que aparece e falo o endereço, quero chegar em casa e preparar uma surpresa para quando ele chegar. Tenho certeza que ele vai ficar feliz com a notícia que tenho, sorrio enquanto observo as pessoas passarem pelas calçadas no fim da tarde. Nem imaginava que havia passado tanto tempo em que estava rondando por aí, espero que ele não tenha chegado ainda.■° ■° ■° ■° ■° ■° ■°■° Dois meses depois de descobrir a gestação – São Paulo °■■° 3 meses e meio de gestação °■–Tudo pronto? -pergunta ao me ver puxar a mala escada abaixo. Passo a mão na barriga um pouco grandinha e confirmo sorrindo, a exatos dois meses eu descobri a gravidez o que foi uma grande surpresa para toda a família. E veio os exames para saber se estava tudo bem com minha saúde e a do bebê, estou com quase quatro meses o que prova que ele foi feito durante nossa lua de mel.–Filha deixa que eu levo isso. -escuto a voz e me sinto arrepiar a nuca, meus pais estão aqui desde que descobri a gravidez, assim que Juan ligou contando a notícia todos vieram para comemorar a ótima notícia. Eles me mimaram de toda maneira mesmo que algumas coisas tenham me deixado um pouco inquieta e agora estamos indo para a fazenda da família por que na ultima consulta a doutora disse que eu estou muito tensa.Quando veio a ideia relutei um pouco já que pode acontecer algum acidente por l
■° Dois meses depois – São Paulo °■■° 5 meses de gestação °■Respiro fundo encostando minhas costas na parede fria do quarto de hospital, acabei de descobrir o sexo do bebê e estou muito feliz. Pena que Juan está em uma viajem de negócios e só chega pela tarde de hoje, ele vai ficar animado ao saber que é um menino. Seguro a vontade de chorar assim que passo a mão pela barriga já redondinha apesar de não estar tão grande quanto achei que estaria, deve ser porque ultimamente tenho meu estômago tem rejeitado algumas comidas.Pego minha bolsa que está na cadeira do consultório e coloco a foto do ultrassom, sorrio feliz quando saio da sala e vou em direção a saída. Sinto uma mão segurar meu braço e me viro encontrando um homem que nunca vi, ele esboça surpresa ao me ver. Nos encaramos e espero que ele diga algo enquanto nos encaramos nos olhos, mas parece que não sabe bem o que dizer.Observo-o de cima a baixo, tem pernas e braços longos, ele é bem esguio e pa
■° Um mês depois – São Paulo °■■° 6 meses de gestação °■Minha memória está cada vez mais bagunçada, flashs de memória vem de hora em outra e as vezes vem em forma de sonhos ou pesadelos, o que fazem das minhas noites agitadas. Engulo em seco e jogo os pés para fora da cama levando a mão ao meu cordão e respiro devagar tentando me acalmar após o pesadelo em volto em chamas que acabei de ter, meu corpo está pesado por conta da barriga já grande e sinto vontade de comer abóboras doces mas está de madrugada agora.–Rebecca? Tudo bem? -sua voz me faz arrepiar, seguro forte o lençol para não sair correndo agora mesmo para algum lugar distante onde ele não esteja presente.–Sim, só preciso ir ao banheiro. -minto e me levanto da cama devagar apoiando a mão nas costas porque assim é mais fácil. –Volte a dormir, eu volto logo.–Tudo bem, mas cuidado nas escadas. -fala e se vira voltando a dormir, calço meus sapatos de pantufa e vou em direção ao primeiro andar
■° 5 Anos Antes – Algum lugar da Itália °■Um homem de sobretudo entra em um café e disfarçadamente procura por alguém, ele logo percebe sua cliente pelo grande casaco de pele que ela citou em sua mensagem anterior. Ele sempre está fazendo serviços para essas senhoras ricas e de alta sociedade que mal sabem usar o dinheiro que tem. Ele faz serviços desde os mais bobos como espionagem, ou até mesmo os mais ousados como assassinatos.–Olá, eu sou Lucian. Ao seu dispor madame. ‐ele parece capaz sempre que usa esse nome e as senhoras acham um charme, mas apenas faz isso pelo dinheiro que ira receber. Seus olhos escondidos atrás dos óculos são como os de uma raposa atrás de sua presa, ele puxa a cadeira se sentando em sua frente esperando uma resposta que vem de maneira rude.–Não me importa o seu nome, apenas quero que se livre dessa mulher. -a foto é jogada sob a mesa e o mesmo avalia bem antes de sorrir em escárnio levantando o olhar para a mulher bem vestida em s
■° 6 meses e meio de Gestação °■–Eu sei que você estava animado para essa consulta mas vou me sair bem sozinha. -digo sorrindo para Juan que me olha de forma frustrada. Ao que parece algo aconteceu e ele não vai conseguir me acompanhar na consulta semanal de hoje, na verdade isso era o que eu queria, assim posso dar um jeito de ver aquele pen-drive em algum lugar.–Tem certeza que vai ficar bem sozinha? -pergunta pela segunda vez e confirmo entrando no taxi, agora eu sei que isso é só fachada, mas mesmo assim quero acreditar que pelo menos alguma coisa é real nas suas ações.–Eu vou e volto num piscar de olhos, você nem vai notar. -digo e ele confirma fechando a porta do taxi. Assim que o motorista da partida e nos afastamos de Juan sinto um certo alívio por finalmente estar um pouco só.–Seu marido parece bem atencioso. -diz o taxista tentando puxar assunto.–Ele é bem carinhoso mesmo. -falo sorrindo e acariciando a barriga grande, sinto um amargor n
■° 6 meses e meio de Gestação °■Sinto o chute forte em minha barriga, o bebê parece jogar futebol dentro de mim e sou obrigada a me sentar no banco da praça em frente ao hospital. Fecho os olhos com as imagens ainda frescas na minha memória, preciso ir verificar isso o quanto antes. Engulo em seco ao sentir uma mão em meu braço e abro os olhos assustada, o rosto da senhora gentil de sempre aparece e sinto um certo alívio.–Oh querida não devia dormir aqui. -diz com sua voz doce e sorrio para ela, sinto meu coração bater feito louco. Respiro fundo tentando não me deixar transparecer o nervoso que sinto.–Estou apenas descansando as pernas senhora. -respondo acariciando a barriga grande.–De longe parecia um pouco nervosa. Está tudo bem querida? -pergunta se sentando ao meu lado ainda com a mão em meu braço.–Talvez não tanto. -respondo me encolhendo no lugar, seu toque é tão gentil que meus olhos enchem de lágrimas.–O que aconteceu? Precisa de aj
■° 6 meses e meio de Gestação °■Sinto algo desconfortável perto do nariz o cheiro é bem forte e abro os olhos tentando me localizar. A luz está alta e o cheiro ainda persiste em ficar na porta do meu nariz, levo a mão ao local e não há nada.–Acordada querida? -viro a cabeça encontrando a senhora que encontro no parque, tento me sentar e a mesma vem me ajudar. Minha garganta está seca e quando vou pedir por um copo de água há um em minha frente, pego o mesmo bebendo o conteúdo rápido.–Ela parece um pouco pálida vou pedir para a Fabi lhe trazer algo bom pata grávidas. -viro o olhar minimamente encontrando o homem grande ele apenas sai do lugar que parece um quarto em seguida.–Como se sente? Tem dor em algum lugar? -nego com a cabeça e levo a mão a barriga, parece que está tudo bem. –Você não chegou a cair no chão meu neto te pegou antes disso e lhe trouxemos aqui.–Desculpe o incomodo, agradecerei a ele depois. -falo me sentindo envergonhada. –Acho qu
■° 6 meses e meio de Gestação °■Faz alguns dias que a família Harper vem me ajudando em tudo que preciso é minhas memorias parecem estar voltando aos poucos como em um filme sendo gravado, mas apenas memórias da infância e de minha família, não há nada que me faça lembrar como perdi minhas memorias.–Olá, como se sente hoje? -viro o rosto encarando a médica particular que tem me atendido desde que contei minha história a senhora Eliza. Seu nome é Natasha, mas ela mesma diz que é falso para que sua família não saiba onde encontrá-la. Mais uma mulher de história infeliz que foi acolhida nessa enorme família.–Bem, apenas dores de cabeça e uma tontura. -falo sorrindo acariciando a barriga enquanto me preparo para levantar da cadeira próxima da janela, eu amo essa vista que tenho daqui.–Isso é normal para uma pessoa com perda de memória, talvez as dores de cabeça e tontura sejam por lapsos de memórias. -diz e vem até mim medir minha pressão, pelo que descobri