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Capítulo 2: A Matilha Desconfiada

O céu noturno estava pontilhado de estrelas, iluminando levemente a clareira onde a matilha de Matthew estava reunida. As vozes que antes ecoavam pelo espaço silenciaram assim que os lobos perceberam a presença do alfa retornando — acompanhado. O ambiente, que antes parecia carregado de energia descontraída, tornou-se denso e pesado, como se o próprio ar estivesse à espera do que viria a seguir.

Lis sentiu o peso dos olhares imediatamente. Era como se cada par de olhos estivesse tentando decifrá-la, julgando sua presença, questionando seu direito de estar ali. Seus ombros encolheram instintivamente, e Rose, sua loba interior, se agitou.

— Eu sabia que seria assim — Lis pensou, lutando contra o desejo de recuar.

— Não abaixe a cabeça para eles — a voz de Rose soou firme dentro dela, sua presença vibrando com a força de uma companheira que se recusava a ser subjugada. — Você é mais forte do que pensa. Não se esqueça disso.

Matthew percebeu a tensão crescente e, sem hesitar, se posicionou de forma protetora ao lado de Lis, seu olhar autoritário varrendo a clareira. Ele não precisou dizer nada para impor sua presença; sua mera postura era suficiente para silenciar murmúrios e exigir respeito.

— Esta é Lis — anunciou com a voz firme, mas tranquila. — Ela está sob minha proteção agora.

Um murmúrio inquieto percorreu o grupo. Alguns lobos trocaram olhares de dúvida, enquanto outros assumiram posturas defensivas. A clareira inteira parecia vibrar com a tensão, como se cada membro da matilha estivesse esperando a menor provocação para explodir. Uma figura robusta, com cabelos castanhos curtos e uma cicatriz que cruzava o rosto, deu um passo à frente. Era Alec, o beta e braço direito de Matthew.

— Alfa — começou Alec, cruzando os braços, seu tom carregado de prudência, mas também de desafio. — Quem é ela? E por que a trouxe para cá sem avisar a matilha?

Matthew não vacilou. Seu tom ficou ainda mais firme, e a clareira pareceu prender a respiração.

— Lis é uma Alfa banida, mas ela não é uma ameaça. Está ferida e precisa de ajuda.

Alec estreitou os olhos, claramente desconfiado. Seu corpo irradiava um misto de autoridade e inquietação.

— Uma Alfa banida? Você sabe o que isso pode significar. Ela pode trazer problemas, ou pior, perigo para todos nós.

Lis sentiu o impacto das palavras como uma bofetada. Cada sílaba parecia pesar sobre seus ombros, afundando-a ainda mais no chão. Ela baixou os olhos, mas Matthew deu um passo à frente, erguendo a voz.

— Eu tomo as decisões aqui, Alec. Se eu digo que ela não é uma ameaça, então não é.

O silêncio que se seguiu era quase palpável. Lis apertou as mãos, sentindo o medo subir por sua espinha. Ela sabia que não seria aceita tão facilmente.

— Obrigada por me lembrar de como sou indesejada — sussurrou para si mesma, mas Matthew ouviu. Ele virou-se para ela, sua expressão suavizando por um instante.

— Não dê ouvidos a eles. — A voz dele era baixa e reconfortante, destinada apenas a ela. — Você tem um lugar aqui, se quiser.

Alec, no entanto, não parecia disposto a ceder.

— Com todo o respeito, Alfa, mas precisamos saber mais sobre ela. Por que foi banida? O que ela está escondendo? — Sua voz carregava um misto de preocupação e desafio.

Matthew se virou para Alec, os olhos faiscando com autoridade.

— O passado dela é problema dela, Alec. Ela está aqui agora, sob minha proteção. Isso basta.

Lis respirou fundo, as palavras de Matthew trazendo um pouco de alívio. Mas, antes que ele pudesse encerrar a discussão, outra voz se ergueu da multidão. Era de Mia, uma jovem loba de pelagem dourada e expressão curiosa.

— Lis — chamou Mia, caminhando até onde ela estava. — Você não parece má, mas todos aqui estão preocupados. Pode nos dizer o que aconteceu? Por que foi banida?

O pedido foi direto, mas não hostil. Lis hesitou, sentindo todos os olhares fixos nela novamente. Matthew ia intervir, mas Lis ergueu a mão, indicando que podia lidar com aquilo.

— Eu fui banida porque... — começou, a voz trêmula, mas honesta. — Porque eu falhei em salvar alguém da minha antiga matilha. Um acidente aconteceu enquanto eu tentava ajudar, e o Alfa deles decidiu que minha presença era... perigosa. — Ela respirou fundo, lutando contra a vergonha. — Eles me culparam.

A clareira ficou em silêncio, a confissão pairando no ar. Alguns lobos pareciam menos desconfiados, enquanto outros ainda mantinham seus olhares duros. As memórias da expulsão pesavam em Lis, e, por um momento, a clareira pareceu se dissolver diante dela, dando lugar às sombras do seu passado.

Mia deu um passo à frente e inclinou a cabeça.

— Parece que você tentou fazer a coisa certa. Isso não deveria ser motivo para banimento.

Alec, no entanto, não parecia convencido.

— Seja como for, precisamos proteger a matilha. Se ela causar qualquer problema, a responsabilidade será sua, Matthew.

— Já é minha responsabilidade — respondeu Matthew, seu tom gélido. — E eu não espero menos do que confiança em minhas decisões.

Alec bufou, mas não respondeu. Ele sabia que desafiar o alfa diretamente seria tolice. Matthew se voltou para Lis e colocou uma mão gentil em seu ombro.

— Venha comigo. Vou mostrar onde você pode descansar.

Lis assentiu silenciosamente, seguindo Matthew enquanto ele a conduzia para longe do centro da clareira. A tensão ainda pairava no ar, mas ela se sentia grata por, ao menos por enquanto, estar a salvo.

— Obrigada por me proteger — disse ela baixinho, enquanto caminhavam.

— Você não precisa me agradecer — respondeu Matthew, olhando para ela com um leve sorriso. — Proteger você é algo que faço de coração.

— E se eles nunca me aceitarem? — perguntou ela, a insegurança voltando à tona.

Matthew parou, virando-se para encará-la diretamente. Seus olhos profundos estavam cheios de uma determinação inabalável.

— Então, vou fazer com que eles vejam quem você realmente é. Você não precisa provar nada a ninguém, Lis.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas ela rapidamente desviou o olhar, tentando esconder sua emoção. Rose, em sua mente, sussurrou:

— Ele é diferente. Talvez possamos confiar nele.

— Talvez — respondeu Lis em pensamento.

Enquanto os dois desapareciam no escuro da noite, uma presença silenciosa os observava à distância, escondida entre as árvores. Um par de olhos amarelos brilhava na escuridão, acompanhando cada movimento.

— A Alfa banida — murmurou a voz sombria, antes de desaparecer nas sombras.

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