O céu noturno estava pontilhado de estrelas, iluminando levemente a clareira onde a matilha de Matthew estava reunida. As vozes que antes ecoavam pelo espaço silenciaram assim que os lobos perceberam a presença do alfa retornando — acompanhado. O ambiente, que antes parecia carregado de energia descontraída, tornou-se denso e pesado, como se o próprio ar estivesse à espera do que viria a seguir.
Lis sentiu o peso dos olhares imediatamente. Era como se cada par de olhos estivesse tentando decifrá-la, julgando sua presença, questionando seu direito de estar ali. Seus ombros encolheram instintivamente, e Rose, sua loba interior, se agitou.
— Eu sabia que seria assim — Lis pensou, lutando contra o desejo de recuar.
— Não abaixe a cabeça para eles — a voz de Rose soou firme dentro dela, sua presença vibrando com a força de uma companheira que se recusava a ser subjugada. — Você é mais forte do que pensa. Não se esqueça disso.
Matthew percebeu a tensão crescente e, sem hesitar, se posicionou de forma protetora ao lado de Lis, seu olhar autoritário varrendo a clareira. Ele não precisou dizer nada para impor sua presença; sua mera postura era suficiente para silenciar murmúrios e exigir respeito.
— Esta é Lis — anunciou com a voz firme, mas tranquila. — Ela está sob minha proteção agora.
Um murmúrio inquieto percorreu o grupo. Alguns lobos trocaram olhares de dúvida, enquanto outros assumiram posturas defensivas. A clareira inteira parecia vibrar com a tensão, como se cada membro da matilha estivesse esperando a menor provocação para explodir. Uma figura robusta, com cabelos castanhos curtos e uma cicatriz que cruzava o rosto, deu um passo à frente. Era Alec, o beta e braço direito de Matthew.
— Alfa — começou Alec, cruzando os braços, seu tom carregado de prudência, mas também de desafio. — Quem é ela? E por que a trouxe para cá sem avisar a matilha?
Matthew não vacilou. Seu tom ficou ainda mais firme, e a clareira pareceu prender a respiração.
— Lis é uma Alfa banida, mas ela não é uma ameaça. Está ferida e precisa de ajuda.
Alec estreitou os olhos, claramente desconfiado. Seu corpo irradiava um misto de autoridade e inquietação.
— Uma Alfa banida? Você sabe o que isso pode significar. Ela pode trazer problemas, ou pior, perigo para todos nós.
Lis sentiu o impacto das palavras como uma bofetada. Cada sílaba parecia pesar sobre seus ombros, afundando-a ainda mais no chão. Ela baixou os olhos, mas Matthew deu um passo à frente, erguendo a voz.
— Eu tomo as decisões aqui, Alec. Se eu digo que ela não é uma ameaça, então não é.
O silêncio que se seguiu era quase palpável. Lis apertou as mãos, sentindo o medo subir por sua espinha. Ela sabia que não seria aceita tão facilmente.
— Obrigada por me lembrar de como sou indesejada — sussurrou para si mesma, mas Matthew ouviu. Ele virou-se para ela, sua expressão suavizando por um instante.
— Não dê ouvidos a eles. — A voz dele era baixa e reconfortante, destinada apenas a ela. — Você tem um lugar aqui, se quiser.
Alec, no entanto, não parecia disposto a ceder.
— Com todo o respeito, Alfa, mas precisamos saber mais sobre ela. Por que foi banida? O que ela está escondendo? — Sua voz carregava um misto de preocupação e desafio.
Matthew se virou para Alec, os olhos faiscando com autoridade.
— O passado dela é problema dela, Alec. Ela está aqui agora, sob minha proteção. Isso basta.
Lis respirou fundo, as palavras de Matthew trazendo um pouco de alívio. Mas, antes que ele pudesse encerrar a discussão, outra voz se ergueu da multidão. Era de Mia, uma jovem loba de pelagem dourada e expressão curiosa.
— Lis — chamou Mia, caminhando até onde ela estava. — Você não parece má, mas todos aqui estão preocupados. Pode nos dizer o que aconteceu? Por que foi banida?
O pedido foi direto, mas não hostil. Lis hesitou, sentindo todos os olhares fixos nela novamente. Matthew ia intervir, mas Lis ergueu a mão, indicando que podia lidar com aquilo.
— Eu fui banida porque... — começou, a voz trêmula, mas honesta. — Porque eu falhei em salvar alguém da minha antiga matilha. Um acidente aconteceu enquanto eu tentava ajudar, e o Alfa deles decidiu que minha presença era... perigosa. — Ela respirou fundo, lutando contra a vergonha. — Eles me culparam.
A clareira ficou em silêncio, a confissão pairando no ar. Alguns lobos pareciam menos desconfiados, enquanto outros ainda mantinham seus olhares duros. As memórias da expulsão pesavam em Lis, e, por um momento, a clareira pareceu se dissolver diante dela, dando lugar às sombras do seu passado.
Mia deu um passo à frente e inclinou a cabeça.
— Parece que você tentou fazer a coisa certa. Isso não deveria ser motivo para banimento.
Alec, no entanto, não parecia convencido.
— Seja como for, precisamos proteger a matilha. Se ela causar qualquer problema, a responsabilidade será sua, Matthew.
— Já é minha responsabilidade — respondeu Matthew, seu tom gélido. — E eu não espero menos do que confiança em minhas decisões.
Alec bufou, mas não respondeu. Ele sabia que desafiar o alfa diretamente seria tolice. Matthew se voltou para Lis e colocou uma mão gentil em seu ombro.
— Venha comigo. Vou mostrar onde você pode descansar.
Lis assentiu silenciosamente, seguindo Matthew enquanto ele a conduzia para longe do centro da clareira. A tensão ainda pairava no ar, mas ela se sentia grata por, ao menos por enquanto, estar a salvo.
— Obrigada por me proteger — disse ela baixinho, enquanto caminhavam.
— Você não precisa me agradecer — respondeu Matthew, olhando para ela com um leve sorriso. — Proteger você é algo que faço de coração.
— E se eles nunca me aceitarem? — perguntou ela, a insegurança voltando à tona.
Matthew parou, virando-se para encará-la diretamente. Seus olhos profundos estavam cheios de uma determinação inabalável.
— Então, vou fazer com que eles vejam quem você realmente é. Você não precisa provar nada a ninguém, Lis.
Os olhos dela se encheram de lágrimas, mas ela rapidamente desviou o olhar, tentando esconder sua emoção. Rose, em sua mente, sussurrou:
— Ele é diferente. Talvez possamos confiar nele.
— Talvez — respondeu Lis em pensamento.
Enquanto os dois desapareciam no escuro da noite, uma presença silenciosa os observava à distância, escondida entre as árvores. Um par de olhos amarelos brilhava na escuridão, acompanhando cada movimento.
— A Alfa banida — murmurou a voz sombria, antes de desaparecer nas sombras.
A noite estava particularmente silenciosa, quase como se a floresta segurasse a respiração. A luz da lua mal penetrava pelas copas densas das árvores, projetando sombras que dançavam com o vento frio. Lis, agora deitada em uma pequena cabana nos limites do território da matilha, tentava acalmar a mente. O espaço era simples, com uma cama de madeira rústica coberta por um cobertor grosso, mas, para ela, era mais do que suficiente. Depois de dias de cansaço e frio, era um alívio estar abrigada, ainda que sob circunstâncias tensas.O silêncio parecia ensurdecedor. Rose, sua loba interior, estava inquieta.— Há algo estranho no ar — sussurrou, sua voz ecoando com uma inquietação incomum na mente de Lis.Ela suspirou, puxando o cobertor para se proteger do frio que parecia cortar até os ossos.— É só a tensão da matilha. Eles não me querem aqui — respondeu mentalmente, tentando afastar o incômodo crescente.Rose não respondeu de imediato, algo raro para sua loba normalmente falante. A sensa
A floresta estava silenciosa novamente, mas algo em seu interior parecia tenso, como se as árvores estivessem sussurrando sobre o que estava por vir. Lis sentia a presença de Matthew à sua frente, o calor de seu corpo imponente contrastando com a brisa fria da noite. Ela sentia o cheiro de sua colônia de lobo, aquele aroma forte de terra, musgo e uma nota sutil de algo selvagem que fazia seu coração bater mais rápido. Rose estava inquieta, seus sentidos apurados, mas ela não sabia dizer se era devido ao perigo iminente ou por algo mais profundo e instintivo.Apenas alguns minutos atrás, o som do uivo havia se dissipado nas sombras da floresta. Ainda assim, Lis sentia a tensão no ar. A dúvida crescente em seu peito era incontrolável, como se um véu de mistério estivesse se formando em torno dela, envolvendo-a e impedindo-a de ver a verdade de forma clara. Ela olhou para Matthew, seu olhar imerso em uma mistura de preocupação e incerteza.— Matthew, o que está acontecendo? — Ela pergunt
O dia amanheceu mais sombrio do que o habitual. Lis acordou na cabana, envolta pelo silêncio que parecia pesar sobre ela. A luz suave da manhã filtrava-se pelas fendas da janela, iluminando as marcas no rosto de Lis — marcas de cansaço, dor e um passado que ela não conseguia esquecer. Mas, ao contrário de outras manhãs, desta vez havia algo diferente em seu peito. Algo que estava começando a despertar.Rose, sua loba interior, estava inquieta, movendo-se agitada dentro dela. Lis podia sentir a energia de sua loba, um fluxo de tensão e excitação que parecia transbordar de seu corpo. Rose sempre foi mais silenciosa, mas agora, estava mais presente, como se sua loba estivesse sentindo algo mais profundo, algo que Lis não conseguia compreender ainda.— O que está acontecendo, Rose? — Lis sussurrou, quase como uma oração, tentando entender o que sua loba sentia.A resposta veio rápida e direta, como uma voz suave em sua mente. — Algo está mudando. Algo está acontecendo com ele, com Matthew
O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.— Sim?Lis respirou fun
A noite caiu sobre a floresta como um manto de sombras, trazendo consigo uma tensão que fazia o ar parecer mais denso. Lis e Matthew estavam de volta ao território principal da matilha, mas a sensação de segurança parecia mais ilusória do que nunca. O ataque dos lobos corrompidos ainda ecoava na mente de Lis. O olhar vazio do jovem lobo morto, a intensidade dos inimigos que enfrentaram... Tudo apontava para algo maior e mais sombrio.Matthew estava de pé na sala principal da cabana central, sua postura rígida enquanto conversava com Ethan, seu beta. O homem tinha uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas.— Temos que reforçar os limites — disse Ethan, sua voz firme. — Se Raven está realmente por trás disso, ele não vai parar com um aviso.Matthew assentiu, os olhos brilhando levemente sob a luz fraca do candelabro.— Já aumentei as patrulhas. Mas não é só isso. Raven não enviaria aqueles lobos apenas para testar nossa força. Ele está planejando algo maior, algo que envolve
A tensão ainda pairava sobre a clareira como uma nuvem carregada prestes a desabar. Lis sentia o peso da decisão de Sophia, mas sabia que sua presença ainda era uma ferida aberta para muitos ali. Os olhares desconfiados eram como punhais, e, apesar das palavras firmes de Matthew, ela sabia que sua aceitação naquela matilha seria uma batalha longa.Matthew, no entanto, não parecia disposto a ceder. Assim que o grupo começou a se dispersar, ele se virou para Lis, seu olhar suavizando por um breve momento.— Você está bem? — perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação.Lis hesitou antes de responder. As palavras de Sophia ainda ecoavam em sua mente, e ela sentia uma inquietação crescer dentro dela.— Não sei se eles algum dia vão me aceitar — admitiu, encarando o chão. — Talvez eu não devesse estar aqui.Matthew segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos encontraram os dela, brilhando com determinação.— Você pertence a este lugar porque eu d
O amanhecer se aproximava, mas a tranquilidade prometida pela luz parecia um sonho distante. Lis sentia o peso da noite passada em cada músculo de seu corpo. A confissão de Matthew, tão poderosa e carregada de emoção, ressoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia parar de ouvir."Você é minha, Lis."As palavras aqueciam seu coração, mas também traziam um novo tipo de medo. Ser reivindicada pelo alfa era uma honra que muitos Alfa s sonhavam, mas para ela, era um território desconhecido e perigoso.Ela saiu da cabana de Sophia antes que o dia começasse. Precisava de ar, de espaço para pensar. Rose, sua loba, estava estranhamente silenciosa, mas Lis sabia que sua companheira interior observava tudo, analisando as possibilidades com cuidado.Matthew estava na clareira, já em movimento. Ele organizava um grupo para uma patrulha reforçada, ciente de que a presença de Lis poderia atrair mais do que apenas olhares hostis dentro da matilha. A antiga matilha dela ainda era um mist
O rugido de Matthew parecia ainda ecoar dentro de Lis, mesmo após o silêncio engolir a floresta. Estavam lado a lado, mas as emoções que os cercavam criavam um abismo quase palpável entre eles. Matthew estava furioso. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade difícil de suportar, e Shadow rugia dentro dele, à beira de assumir o controle. O instinto do alfa exigia proteger e destruir qualquer ameaça que ousasse se aproximar de Lis.Lis, por outro lado, estava afundando. O encontro com Ian havia aberto feridas antigas, mergulhando-a de volta num mar de memórias e culpas que ela lutava para manter enterradas.— Ele disse algo? — perguntou Matthew, a voz rouca de tensão, mas firme.Lis sabia que não poderia mentir para ele. Não agora. Não com o elo que estavam formando, uma conexão profunda que ela ainda não compreendia completamente.— Ele veio me levar de volta — respondeu, quase num sussurro. — Disse que minha antiga matilha quer justiça.O rosnado que escapou de Matthew foi bai