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Capítulo 3: As Sombras que Observam

A noite estava particularmente silenciosa, quase como se a floresta segurasse a respiração. A luz da lua mal penetrava pelas copas densas das árvores, projetando sombras que dançavam com o vento frio. Lis, agora deitada em uma pequena cabana nos limites do território da matilha, tentava acalmar a mente. O espaço era simples, com uma cama de madeira rústica coberta por um cobertor grosso, mas, para ela, era mais do que suficiente. Depois de dias de cansaço e frio, era um alívio estar abrigada, ainda que sob circunstâncias tensas.

O silêncio parecia ensurdecedor. Rose, sua loba interior, estava inquieta.

— Há algo estranho no ar — sussurrou, sua voz ecoando com uma inquietação incomum na mente de Lis.

Ela suspirou, puxando o cobertor para se proteger do frio que parecia cortar até os ossos.

— É só a tensão da matilha. Eles não me querem aqui — respondeu mentalmente, tentando afastar o incômodo crescente.

Rose não respondeu de imediato, algo raro para sua loba normalmente falante. A sensação de que algo estava errado pairava sobre Lis como uma sombra pesada, mas o cansaço da viagem a venceu, e seus olhos se fecharam, ainda que sua mente se recusasse a descansar completamente.

Do outro lado do território, Matthew estava em sua cabana principal. Ele permanecia de pé junto à janela, os braços cruzados, observando a escuridão lá fora. A luz da lua iluminava suas feições marcantes, realçando a tensão em seu rosto. Shadow, seu lobo interior, estava inquieto.

— Ela está em perigo — murmurou Shadow em sua mente, sua voz carregada de urgência.

Matthew franziu a testa, tentando entender.

— O que você quer dizer? O território está seguro. Os patrulheiros não relataram nada.

Shadow rugiu baixo em resposta. — Há algo lá fora. Não confie no silêncio.

Matthew respirou fundo, sentindo o instinto de seu lobo agitar-se. Shadow raramente se enganava quando se tratava de ameaças. Decidido, ele vestiu um casaco pesado e saiu para a floresta, movido pela inquietação crescente. O ar gelado da noite o envolveu, mas ele ignorou o desconforto. Cada passo era cuidadoso, os sentidos atentos a qualquer movimento ou som.

A brisa carregava o cheiro das árvores, da terra molhada e de algo mais — algo metálico e estranho. Shadow rosnou novamente.

— Sangue.

Matthew parou, apertando os punhos enquanto seus olhos vasculhavam o terreno à frente. Ele seguiu o cheiro, guiado pelo instinto aguçado de seu lobo. A caminhada o levou até os limites de suas terras, onde ele encontrou algo que fez seu coração acelerar. Pegadas. Elas eram grandes demais para um lobo comum, mas o formato era inconfundível.

— Intrusos — murmurou, os olhos faiscando com a energia de sua fera interior.

Antes que pudesse seguir o rastro, um movimento chamou sua atenção. Entre as árvores, um par de olhos amarelos brilhava na escuridão, fixos nele. A figura emergiu lentamente, revelando um lobo de pelagem escura, cicatrizes marcando seu corpo como um mapa de batalhas passadas. Matthew reconheceu imediatamente quem era.

— Raven — disse ele, a voz baixa, mas carregada de autoridade. — O que você está fazendo aqui?

Raven, um alfa renegado conhecido por seu histórico de ataques a matilhas, riu baixinho, uma risada quase animalesca. Ele se transformou lentamente em sua forma humana, revelando um homem de cabelos desgrenhados e um sorriso cruel.

— Só visitando velhos conhecidos, Matthew — respondeu Raven, cruzando os braços com um ar de provocação. — Ouvi rumores sobre uma Alfa interessante que você trouxe para cá. Achei que valia a pena dar uma olhada.

Matthew sentiu a raiva crescer dentro de si. Shadow rosnava alto em sua mente, como se estivesse pronto para atacar.

— Você não tem direito de estar aqui. Este território é meu, e você sabe disso.

Raven inclinou a cabeça, seu sorriso ficando ainda mais sinistro.

— Ah, sim, o grande alfa protetor. Mas será que você realmente conhece quem está protegendo?

Matthew estreitou os olhos, mantendo-se firme.

— O que você quer dizer com isso?

— Essa Alfa. Lis, não é? Eu a conheço. — Raven deu uma risada curta, maliciosa. — Você acha que ela foi banida por um simples acidente? Que ingênuo.

Matthew avançou um passo, seus músculos tensos. Sua voz saiu gélida.

— Se você sabe de algo, diga logo, ou saia do meu território antes que eu o obrigue.

Raven levantou as mãos como quem não queria briga, mas seu tom era repleto de escárnio.

— Cuidado, Matthew. Às vezes, proteger alguém pode trazer mais problemas do que você imagina. — Ele começou a recuar, os olhos ainda fixos em Matthew. — Nos veremos em breve.

Matthew permaneceu onde estava, observando Raven desaparecer nas sombras. As palavras dele ecoaram em sua mente. Shadow rugiu.

— Ele é uma ameaça. Devemos eliminá-lo.

— Não ainda. Precisamos saber o que ele quer.

De volta à cabana, Lis acordou com um sobressalto. Seu coração disparava, e o suor frio escorria por sua testa. Rose estava alerta, sua voz soando com urgência.

— Há algo errado. Matthew. Vá até ele.

Lis hesitou, o corpo tenso. Mas o instinto a impulsionou. Ela se levantou, vestiu uma capa para se proteger do frio e abriu a porta. A noite estava gelada, e a escuridão parecia mais densa do que antes. Quando colocou o pé para fora, um uivo distante ecoou pela floresta, longo e carregado de um aviso sombrio. Seu coração apertou.

— O que foi isso? — sussurrou, sentindo o medo subir pela espinha.

Antes que pudesse decidir o que fazer, Matthew apareceu entre as árvores. Seus passos eram rápidos e determinados, mas seus olhos, ao pousarem em Lis, suavizaram levemente.

— Lis! — chamou ele, a voz firme, mas carregada de preocupação.

Ela correu até ele, o medo crescendo a cada segundo.

— O que está acontecendo? — perguntou, a respiração acelerada.

Matthew segurou seus ombros, os olhos brilhando intensamente.

— Você está segura aqui. Eu não vou deixar ninguém machucar você, mas preciso que me diga a verdade. Há algo que eu deveria saber? Algo sobre o motivo pelo qual você foi banida?

Lis mordeu o lábio, desviando o olhar. Seu coração estava acelerado.

— Eu... eu não sei o que dizer.

Matthew respirou fundo, sua expressão ficando mais séria.

— Lis, confie em mim. Seja o que for, eu posso lidar com isso.

Ela finalmente encontrou coragem para falar, a voz trêmula.

— Matthew, eu não sei se o que aconteceu foi realmente um acidente. Algo aconteceu naquele dia... algo que eu não entendi.

Antes que pudesse continuar, outro uivo ecoou pela floresta, mais próximo desta vez. Matthew se virou rapidamente, colocando-se entre Lis e a direção do som. Shadow rugiu em sua mente, pronto para a batalha.

— Fique atrás de mim — ordenou ele, o tom carregado de autoridade.

Lis obedeceu, sentindo seu coração martelar no peito. As sombras da floresta pareciam se fechar ao redor deles, carregadas de perigo. Ela sabia que as respostas que tanto temia estavam mais próximas do que nunca — e que não seriam fáceis de encarar.

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