A noite estava particularmente silenciosa, quase como se a floresta segurasse a respiração. A luz da lua mal penetrava pelas copas densas das árvores, projetando sombras que dançavam com o vento frio. Lis, agora deitada em uma pequena cabana nos limites do território da matilha, tentava acalmar a mente. O espaço era simples, com uma cama de madeira rústica coberta por um cobertor grosso, mas, para ela, era mais do que suficiente. Depois de dias de cansaço e frio, era um alívio estar abrigada, ainda que sob circunstâncias tensas.
O silêncio parecia ensurdecedor. Rose, sua loba interior, estava inquieta.
— Há algo estranho no ar — sussurrou, sua voz ecoando com uma inquietação incomum na mente de Lis.
Ela suspirou, puxando o cobertor para se proteger do frio que parecia cortar até os ossos.
— É só a tensão da matilha. Eles não me querem aqui — respondeu mentalmente, tentando afastar o incômodo crescente.
Rose não respondeu de imediato, algo raro para sua loba normalmente falante. A sensação de que algo estava errado pairava sobre Lis como uma sombra pesada, mas o cansaço da viagem a venceu, e seus olhos se fecharam, ainda que sua mente se recusasse a descansar completamente.
Do outro lado do território, Matthew estava em sua cabana principal. Ele permanecia de pé junto à janela, os braços cruzados, observando a escuridão lá fora. A luz da lua iluminava suas feições marcantes, realçando a tensão em seu rosto. Shadow, seu lobo interior, estava inquieto.
— Ela está em perigo — murmurou Shadow em sua mente, sua voz carregada de urgência.
Matthew franziu a testa, tentando entender.
— O que você quer dizer? O território está seguro. Os patrulheiros não relataram nada.
Shadow rugiu baixo em resposta. — Há algo lá fora. Não confie no silêncio.
Matthew respirou fundo, sentindo o instinto de seu lobo agitar-se. Shadow raramente se enganava quando se tratava de ameaças. Decidido, ele vestiu um casaco pesado e saiu para a floresta, movido pela inquietação crescente. O ar gelado da noite o envolveu, mas ele ignorou o desconforto. Cada passo era cuidadoso, os sentidos atentos a qualquer movimento ou som.
A brisa carregava o cheiro das árvores, da terra molhada e de algo mais — algo metálico e estranho. Shadow rosnou novamente.
— Sangue.
Matthew parou, apertando os punhos enquanto seus olhos vasculhavam o terreno à frente. Ele seguiu o cheiro, guiado pelo instinto aguçado de seu lobo. A caminhada o levou até os limites de suas terras, onde ele encontrou algo que fez seu coração acelerar. Pegadas. Elas eram grandes demais para um lobo comum, mas o formato era inconfundível.
— Intrusos — murmurou, os olhos faiscando com a energia de sua fera interior.
Antes que pudesse seguir o rastro, um movimento chamou sua atenção. Entre as árvores, um par de olhos amarelos brilhava na escuridão, fixos nele. A figura emergiu lentamente, revelando um lobo de pelagem escura, cicatrizes marcando seu corpo como um mapa de batalhas passadas. Matthew reconheceu imediatamente quem era.
— Raven — disse ele, a voz baixa, mas carregada de autoridade. — O que você está fazendo aqui?
Raven, um alfa renegado conhecido por seu histórico de ataques a matilhas, riu baixinho, uma risada quase animalesca. Ele se transformou lentamente em sua forma humana, revelando um homem de cabelos desgrenhados e um sorriso cruel.
— Só visitando velhos conhecidos, Matthew — respondeu Raven, cruzando os braços com um ar de provocação. — Ouvi rumores sobre uma Alfa interessante que você trouxe para cá. Achei que valia a pena dar uma olhada.
Matthew sentiu a raiva crescer dentro de si. Shadow rosnava alto em sua mente, como se estivesse pronto para atacar.
— Você não tem direito de estar aqui. Este território é meu, e você sabe disso.
Raven inclinou a cabeça, seu sorriso ficando ainda mais sinistro.
— Ah, sim, o grande alfa protetor. Mas será que você realmente conhece quem está protegendo?
Matthew estreitou os olhos, mantendo-se firme.
— O que você quer dizer com isso?
— Essa Alfa. Lis, não é? Eu a conheço. — Raven deu uma risada curta, maliciosa. — Você acha que ela foi banida por um simples acidente? Que ingênuo.
Matthew avançou um passo, seus músculos tensos. Sua voz saiu gélida.
— Se você sabe de algo, diga logo, ou saia do meu território antes que eu o obrigue.
Raven levantou as mãos como quem não queria briga, mas seu tom era repleto de escárnio.
— Cuidado, Matthew. Às vezes, proteger alguém pode trazer mais problemas do que você imagina. — Ele começou a recuar, os olhos ainda fixos em Matthew. — Nos veremos em breve.
Matthew permaneceu onde estava, observando Raven desaparecer nas sombras. As palavras dele ecoaram em sua mente. Shadow rugiu.
— Ele é uma ameaça. Devemos eliminá-lo.
— Não ainda. Precisamos saber o que ele quer.
De volta à cabana, Lis acordou com um sobressalto. Seu coração disparava, e o suor frio escorria por sua testa. Rose estava alerta, sua voz soando com urgência.
— Há algo errado. Matthew. Vá até ele.
Lis hesitou, o corpo tenso. Mas o instinto a impulsionou. Ela se levantou, vestiu uma capa para se proteger do frio e abriu a porta. A noite estava gelada, e a escuridão parecia mais densa do que antes. Quando colocou o pé para fora, um uivo distante ecoou pela floresta, longo e carregado de um aviso sombrio. Seu coração apertou.
— O que foi isso? — sussurrou, sentindo o medo subir pela espinha.
Antes que pudesse decidir o que fazer, Matthew apareceu entre as árvores. Seus passos eram rápidos e determinados, mas seus olhos, ao pousarem em Lis, suavizaram levemente.
— Lis! — chamou ele, a voz firme, mas carregada de preocupação.
Ela correu até ele, o medo crescendo a cada segundo.
— O que está acontecendo? — perguntou, a respiração acelerada.
Matthew segurou seus ombros, os olhos brilhando intensamente.
— Você está segura aqui. Eu não vou deixar ninguém machucar você, mas preciso que me diga a verdade. Há algo que eu deveria saber? Algo sobre o motivo pelo qual você foi banida?
Lis mordeu o lábio, desviando o olhar. Seu coração estava acelerado.
— Eu... eu não sei o que dizer.
Matthew respirou fundo, sua expressão ficando mais séria.
— Lis, confie em mim. Seja o que for, eu posso lidar com isso.
Ela finalmente encontrou coragem para falar, a voz trêmula.
— Matthew, eu não sei se o que aconteceu foi realmente um acidente. Algo aconteceu naquele dia... algo que eu não entendi.
Antes que pudesse continuar, outro uivo ecoou pela floresta, mais próximo desta vez. Matthew se virou rapidamente, colocando-se entre Lis e a direção do som. Shadow rugiu em sua mente, pronto para a batalha.
— Fique atrás de mim — ordenou ele, o tom carregado de autoridade.
Lis obedeceu, sentindo seu coração martelar no peito. As sombras da floresta pareciam se fechar ao redor deles, carregadas de perigo. Ela sabia que as respostas que tanto temia estavam mais próximas do que nunca — e que não seriam fáceis de encarar.
A floresta estava silenciosa novamente, mas algo em seu interior parecia tenso, como se as árvores estivessem sussurrando sobre o que estava por vir. Lis sentia a presença de Matthew à sua frente, o calor de seu corpo imponente contrastando com a brisa fria da noite. Ela sentia o cheiro de sua colônia de lobo, aquele aroma forte de terra, musgo e uma nota sutil de algo selvagem que fazia seu coração bater mais rápido. Rose estava inquieta, seus sentidos apurados, mas ela não sabia dizer se era devido ao perigo iminente ou por algo mais profundo e instintivo.Apenas alguns minutos atrás, o som do uivo havia se dissipado nas sombras da floresta. Ainda assim, Lis sentia a tensão no ar. A dúvida crescente em seu peito era incontrolável, como se um véu de mistério estivesse se formando em torno dela, envolvendo-a e impedindo-a de ver a verdade de forma clara. Ela olhou para Matthew, seu olhar imerso em uma mistura de preocupação e incerteza.— Matthew, o que está acontecendo? — Ela pergunt
O dia amanheceu mais sombrio do que o habitual. Lis acordou na cabana, envolta pelo silêncio que parecia pesar sobre ela. A luz suave da manhã filtrava-se pelas fendas da janela, iluminando as marcas no rosto de Lis — marcas de cansaço, dor e um passado que ela não conseguia esquecer. Mas, ao contrário de outras manhãs, desta vez havia algo diferente em seu peito. Algo que estava começando a despertar.Rose, sua loba interior, estava inquieta, movendo-se agitada dentro dela. Lis podia sentir a energia de sua loba, um fluxo de tensão e excitação que parecia transbordar de seu corpo. Rose sempre foi mais silenciosa, mas agora, estava mais presente, como se sua loba estivesse sentindo algo mais profundo, algo que Lis não conseguia compreender ainda.— O que está acontecendo, Rose? — Lis sussurrou, quase como uma oração, tentando entender o que sua loba sentia.A resposta veio rápida e direta, como uma voz suave em sua mente. — Algo está mudando. Algo está acontecendo com ele, com Matthew
O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.— Sim?Lis respirou fun
A noite caiu sobre a floresta como um manto de sombras, trazendo consigo uma tensão que fazia o ar parecer mais denso. Lis e Matthew estavam de volta ao território principal da matilha, mas a sensação de segurança parecia mais ilusória do que nunca. O ataque dos lobos corrompidos ainda ecoava na mente de Lis. O olhar vazio do jovem lobo morto, a intensidade dos inimigos que enfrentaram... Tudo apontava para algo maior e mais sombrio.Matthew estava de pé na sala principal da cabana central, sua postura rígida enquanto conversava com Ethan, seu beta. O homem tinha uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas.— Temos que reforçar os limites — disse Ethan, sua voz firme. — Se Raven está realmente por trás disso, ele não vai parar com um aviso.Matthew assentiu, os olhos brilhando levemente sob a luz fraca do candelabro.— Já aumentei as patrulhas. Mas não é só isso. Raven não enviaria aqueles lobos apenas para testar nossa força. Ele está planejando algo maior, algo que envolve
A tensão ainda pairava sobre a clareira como uma nuvem carregada prestes a desabar. Lis sentia o peso da decisão de Sophia, mas sabia que sua presença ainda era uma ferida aberta para muitos ali. Os olhares desconfiados eram como punhais, e, apesar das palavras firmes de Matthew, ela sabia que sua aceitação naquela matilha seria uma batalha longa.Matthew, no entanto, não parecia disposto a ceder. Assim que o grupo começou a se dispersar, ele se virou para Lis, seu olhar suavizando por um breve momento.— Você está bem? — perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação.Lis hesitou antes de responder. As palavras de Sophia ainda ecoavam em sua mente, e ela sentia uma inquietação crescer dentro dela.— Não sei se eles algum dia vão me aceitar — admitiu, encarando o chão. — Talvez eu não devesse estar aqui.Matthew segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos encontraram os dela, brilhando com determinação.— Você pertence a este lugar porque eu d
O amanhecer se aproximava, mas a tranquilidade prometida pela luz parecia um sonho distante. Lis sentia o peso da noite passada em cada músculo de seu corpo. A confissão de Matthew, tão poderosa e carregada de emoção, ressoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia parar de ouvir."Você é minha, Lis."As palavras aqueciam seu coração, mas também traziam um novo tipo de medo. Ser reivindicada pelo alfa era uma honra que muitos Alfa s sonhavam, mas para ela, era um território desconhecido e perigoso.Ela saiu da cabana de Sophia antes que o dia começasse. Precisava de ar, de espaço para pensar. Rose, sua loba, estava estranhamente silenciosa, mas Lis sabia que sua companheira interior observava tudo, analisando as possibilidades com cuidado.Matthew estava na clareira, já em movimento. Ele organizava um grupo para uma patrulha reforçada, ciente de que a presença de Lis poderia atrair mais do que apenas olhares hostis dentro da matilha. A antiga matilha dela ainda era um mist
O rugido de Matthew parecia ainda ecoar dentro de Lis, mesmo após o silêncio engolir a floresta. Estavam lado a lado, mas as emoções que os cercavam criavam um abismo quase palpável entre eles. Matthew estava furioso. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade difícil de suportar, e Shadow rugia dentro dele, à beira de assumir o controle. O instinto do alfa exigia proteger e destruir qualquer ameaça que ousasse se aproximar de Lis.Lis, por outro lado, estava afundando. O encontro com Ian havia aberto feridas antigas, mergulhando-a de volta num mar de memórias e culpas que ela lutava para manter enterradas.— Ele disse algo? — perguntou Matthew, a voz rouca de tensão, mas firme.Lis sabia que não poderia mentir para ele. Não agora. Não com o elo que estavam formando, uma conexão profunda que ela ainda não compreendia completamente.— Ele veio me levar de volta — respondeu, quase num sussurro. — Disse que minha antiga matilha quer justiça.O rosnado que escapou de Matthew foi bai
A lua cheia subia lentamente no céu, iluminando o território com sua luz prateada. As sombras das árvores dançavam na clareira, onde a tensão era quase palpável. Matthew estava inquieto, caminhando de um lado para o outro, como um predador à espera de sua presa. Sua postura firme transmitia autoridade, mas os olhos dourados denunciavam a batalha interna enquanto Shadow rugia dentro dele, clamando por ação. A matilha começava a se reunir, um por um, atraída pelo chamado do alfa e pela sensação de perigo iminente.De longe, Lis observava a movimentação. Sentia-se como um intruso, mesmo que ninguém a tratasse assim diretamente. Ela podia sentir os olhares de alguns membros, alguns curiosos, outros desconfiados. Sua presença ali ainda era algo novo para muitos. Sophia se aproximou com passos leves, sua expressão serena e calorosa contrastando com a atmosfera carregada.— Como você está? — perguntou a curandeira, pousando uma mão reconfortante no ombro de Lis.— Tentando manter a calma — re