A floresta estava silenciosa novamente, mas algo em seu interior parecia tenso, como se as árvores estivessem sussurrando sobre o que estava por vir. Lis sentia a presença de Matthew à sua frente, o calor de seu corpo imponente contrastando com a brisa fria da noite. Ela sentia o cheiro de sua colônia de lobo, aquele aroma forte de terra, musgo e uma nota sutil de algo selvagem que fazia seu coração bater mais rápido. Rose estava inquieta, seus sentidos apurados, mas ela não sabia dizer se era devido ao perigo iminente ou por algo mais profundo e instintivo.
Apenas alguns minutos atrás, o som do uivo havia se dissipado nas sombras da floresta. Ainda assim, Lis sentia a tensão no ar. A dúvida crescente em seu peito era incontrolável, como se um véu de mistério estivesse se formando em torno dela, envolvendo-a e impedindo-a de ver a verdade de forma clara. Ela olhou para Matthew, seu olhar imerso em uma mistura de preocupação e incerteza.
— Matthew, o que está acontecendo? — Ela perguntou, a voz trêmula. A ansiedade queimava em sua garganta.
Matthew não respondeu imediatamente. Seus olhos estavam fixos à distância, sua postura tensa, os músculos relaxados, mas prontos para qualquer movimento. Shadow, seu lobo interior, rosnava baixo em sua mente, alertando-o para algo mais. Matthew sabia que o uivo não era apenas um aviso. Era um chamado. Uma ameaça que se aproximava.
— Eu... não sei. — Ele virou-se para Lis, tomando um instante para observar sua expressão. Ela parecia frágil e perdida, mas havia uma força nos seus olhos. Ele viu, pela primeira vez, o verdadeiro peso do que ela havia enfrentado. — Mas seja o que for, você está segura aqui. Eu não vou deixar que nada aconteça a você.
Lis queria acreditar nele, mas o medo que a consumia a impedia de relaxar. Ela olhou para os céus, para as estrelas que cintilavam com uma frieza distante, como se olhassem para ela com indiferença. Ela sentia a verdade do que Matthew dissera em sua mente, mas o vazio do seu passado ainda a acompanhava como uma sombra.
— Você realmente acha que vai me proteger? — perguntou ela, mais para si mesma do que para ele. A voz saiu baixa, quase inaudível, carregada com a dúvida e o peso da culpa que ela ainda não conseguia se livrar.
Matthew percebeu a dor não dita nas palavras dela e deu um passo à frente. Seus dedos alcançaram o queixo de Lis, suavemente levantando seu rosto para encará-lo. Quando ela olhou nos olhos dele, viu o fogo da determinação, o mesmo que Shadow sentia, um reflexo de uma promessa não dita. Ele não iria deixar que nada acontecesse com ela.
— Eu farei o que for preciso — respondeu ele, a sinceridade impregnada em cada palavra. — Você não está sozinha. E se isso significar lutar contra qualquer um que queira te fazer mal, então eu farei isso. Você está segura aqui, Lis. Você tem a minha palavra.
Lis sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas, por algum motivo, seu coração começou a se acalmar. Era como se as palavras dele tivessem um poder curativo, dissipando um pouco da dor que ela sentia, a dor que vinha da solidão e do abandono que a acompanhavam desde que foi banida de sua matilha. A confiança que ela tinha em Matthew era inusitada. Era quase como se ele fosse a âncora que ela precisava para não se perder completamente.
Enquanto o vento uivava entre as árvores, Matthew começou a caminhar mais profundamente na floresta, seus passos firmes e rápidos. Lis o seguiu, ainda hesitante, mas algo em sua presença a atraía, como uma força magnética. Eles andaram por um tempo, e a cada passo, a escuridão da floresta parecia engolir o mundo ao redor deles, mas Matthew estava sempre à frente, guiando-a com uma força silenciosa.
— Você sabia que, ao me trazer aqui, estava colocando sua matilha em risco? — Lis perguntou, de repente, quebrando o silêncio. Ela sentia um peso se formando em seu peito. As palavras saíram com um toque de amargor, mas, ao mesmo tempo, uma curiosidade também estava presente em seu olhar.
Matthew olhou por sobre o ombro, a expressão sombria. Ele sabia onde ela queria chegar, mas não podia, de forma alguma, deixar que ela pensasse que ele se arrependeria de sua decisão.
— Eu sabia — respondeu ele, sua voz firme, mas suave. — Mas eu não me arrependo. Se isso for o que for necessário para mantê-la segura, então é um risco que eu estou disposto a correr.
Lis ficou em silêncio, observando a determinação em seus olhos. Ela sabia o que significava ser rejeitada. Sabia o quanto o peso do passado podia ser esmagador. Mas, ao mesmo tempo, algo em Matthew parecia indicar que ele não temia as sombras do seu próprio passado. Havia algo nele que ela ainda não entendia, algo que a atraía e a fazia querer confiar nele mais do que deveria.
— Mas você... você tem que entender que eu não sou alguém que possa ser facilmente aceita de novo. — A voz dela falhou um pouco, como se estivesse temendo admitir isso até para si mesma. — Eu causei a morte de alguém, Matthew. E ninguém vai esquecer isso.
Matthew se virou completamente agora, seus olhos fixando os dela com uma intensidade que fez Lis se sentir pequena diante dele. Mas, ao mesmo tempo, havia uma calma em sua expressão, como se ele entendesse a dor que ela carregava.
— Eu sei. E sei também que você não pode mudar o que aconteceu. Mas não é o que você fez no passado que define quem você é agora. E você, Lis, é alguém forte. Eu vejo isso em você.
Antes que ela pudesse responder, um uivo distante cortou o silêncio da noite, mais próximo desta vez. Mas o som era diferente, mais baixo, como se estivesse vindo de um lugar escondido, um lugar onde a escuridão era mais profunda.
Lis olhou para Matthew, seu coração disparado. Ele não parecia surpreso, mas, por dentro, ele sabia que as coisas estavam prestes a se tornar muito mais complicadas do que poderiam imaginar.
— Vamos voltar. Agora — ele ordenou, com firmeza.Lis seguiu-o sem hesitar. Ela sabia que as respostas para os mistérios ao seu redor estavam começando a surgir, mas com elas vinham perigos, sombras que se aproximavam mais rápido do que ela gostaria de admitir.
À medida que eles se afastavam, o uivo ecoou novamente, mais perto. E Lis, por um breve momento, sentiu o peso de um destino que não podia mais evitar.
O dia amanheceu mais sombrio do que o habitual. Lis acordou na cabana, envolta pelo silêncio que parecia pesar sobre ela. A luz suave da manhã filtrava-se pelas fendas da janela, iluminando as marcas no rosto de Lis — marcas de cansaço, dor e um passado que ela não conseguia esquecer. Mas, ao contrário de outras manhãs, desta vez havia algo diferente em seu peito. Algo que estava começando a despertar.Rose, sua loba interior, estava inquieta, movendo-se agitada dentro dela. Lis podia sentir a energia de sua loba, um fluxo de tensão e excitação que parecia transbordar de seu corpo. Rose sempre foi mais silenciosa, mas agora, estava mais presente, como se sua loba estivesse sentindo algo mais profundo, algo que Lis não conseguia compreender ainda.— O que está acontecendo, Rose? — Lis sussurrou, quase como uma oração, tentando entender o que sua loba sentia.A resposta veio rápida e direta, como uma voz suave em sua mente. — Algo está mudando. Algo está acontecendo com ele, com Matthew
O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.— Sim?Lis respirou fun
A noite caiu sobre a floresta como um manto de sombras, trazendo consigo uma tensão que fazia o ar parecer mais denso. Lis e Matthew estavam de volta ao território principal da matilha, mas a sensação de segurança parecia mais ilusória do que nunca. O ataque dos lobos corrompidos ainda ecoava na mente de Lis. O olhar vazio do jovem lobo morto, a intensidade dos inimigos que enfrentaram... Tudo apontava para algo maior e mais sombrio.Matthew estava de pé na sala principal da cabana central, sua postura rígida enquanto conversava com Ethan, seu beta. O homem tinha uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas.— Temos que reforçar os limites — disse Ethan, sua voz firme. — Se Raven está realmente por trás disso, ele não vai parar com um aviso.Matthew assentiu, os olhos brilhando levemente sob a luz fraca do candelabro.— Já aumentei as patrulhas. Mas não é só isso. Raven não enviaria aqueles lobos apenas para testar nossa força. Ele está planejando algo maior, algo que envolve
A tensão ainda pairava sobre a clareira como uma nuvem carregada prestes a desabar. Lis sentia o peso da decisão de Sophia, mas sabia que sua presença ainda era uma ferida aberta para muitos ali. Os olhares desconfiados eram como punhais, e, apesar das palavras firmes de Matthew, ela sabia que sua aceitação naquela matilha seria uma batalha longa.Matthew, no entanto, não parecia disposto a ceder. Assim que o grupo começou a se dispersar, ele se virou para Lis, seu olhar suavizando por um breve momento.— Você está bem? — perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação.Lis hesitou antes de responder. As palavras de Sophia ainda ecoavam em sua mente, e ela sentia uma inquietação crescer dentro dela.— Não sei se eles algum dia vão me aceitar — admitiu, encarando o chão. — Talvez eu não devesse estar aqui.Matthew segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos encontraram os dela, brilhando com determinação.— Você pertence a este lugar porque eu d
O amanhecer se aproximava, mas a tranquilidade prometida pela luz parecia um sonho distante. Lis sentia o peso da noite passada em cada músculo de seu corpo. A confissão de Matthew, tão poderosa e carregada de emoção, ressoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia parar de ouvir."Você é minha, Lis."As palavras aqueciam seu coração, mas também traziam um novo tipo de medo. Ser reivindicada pelo alfa era uma honra que muitos Alfa s sonhavam, mas para ela, era um território desconhecido e perigoso.Ela saiu da cabana de Sophia antes que o dia começasse. Precisava de ar, de espaço para pensar. Rose, sua loba, estava estranhamente silenciosa, mas Lis sabia que sua companheira interior observava tudo, analisando as possibilidades com cuidado.Matthew estava na clareira, já em movimento. Ele organizava um grupo para uma patrulha reforçada, ciente de que a presença de Lis poderia atrair mais do que apenas olhares hostis dentro da matilha. A antiga matilha dela ainda era um mist
O rugido de Matthew parecia ainda ecoar dentro de Lis, mesmo após o silêncio engolir a floresta. Estavam lado a lado, mas as emoções que os cercavam criavam um abismo quase palpável entre eles. Matthew estava furioso. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade difícil de suportar, e Shadow rugia dentro dele, à beira de assumir o controle. O instinto do alfa exigia proteger e destruir qualquer ameaça que ousasse se aproximar de Lis.Lis, por outro lado, estava afundando. O encontro com Ian havia aberto feridas antigas, mergulhando-a de volta num mar de memórias e culpas que ela lutava para manter enterradas.— Ele disse algo? — perguntou Matthew, a voz rouca de tensão, mas firme.Lis sabia que não poderia mentir para ele. Não agora. Não com o elo que estavam formando, uma conexão profunda que ela ainda não compreendia completamente.— Ele veio me levar de volta — respondeu, quase num sussurro. — Disse que minha antiga matilha quer justiça.O rosnado que escapou de Matthew foi bai
A lua cheia subia lentamente no céu, iluminando o território com sua luz prateada. As sombras das árvores dançavam na clareira, onde a tensão era quase palpável. Matthew estava inquieto, caminhando de um lado para o outro, como um predador à espera de sua presa. Sua postura firme transmitia autoridade, mas os olhos dourados denunciavam a batalha interna enquanto Shadow rugia dentro dele, clamando por ação. A matilha começava a se reunir, um por um, atraída pelo chamado do alfa e pela sensação de perigo iminente.De longe, Lis observava a movimentação. Sentia-se como um intruso, mesmo que ninguém a tratasse assim diretamente. Ela podia sentir os olhares de alguns membros, alguns curiosos, outros desconfiados. Sua presença ali ainda era algo novo para muitos. Sophia se aproximou com passos leves, sua expressão serena e calorosa contrastando com a atmosfera carregada.— Como você está? — perguntou a curandeira, pousando uma mão reconfortante no ombro de Lis.— Tentando manter a calma — re
O amanhecer chegou lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados e dourados. A clareira parecia calma, mas todos sabiam que a tranquilidade era enganadora. Ian e sua ameaça pairavam como uma tempestade prestes a desabar. Matthew estava de pé na borda da clareira, seus olhos fixos na floresta adiante. Ele mal havia dormido, sua mente girando com estratégias para proteger Lis e a matilha.Lis o observava de longe. Ele parecia imponente, mas a tensão em seus ombros traía a preocupação que carregava. Rose estava inquieta dentro dela, alternando entre sussurros de encorajamento e avisos sombrios.— Você precisa falar com ele — disse Rose. — Ele está carregando o peso de tudo isso por você.— Eu sei — respondeu Lis, em sua mente. — Mas não sei o que dizer. Não quero ser um fardo maior do que já sou.— Ele não te vê como um fardo — insistiu Rose. — Vai.Lis respirou fundo antes de se aproximar. Os estalos das folhas secas sob seus pés chamaram a atenção de Matthew, que se virou para ela, sua