Início / Lobisomem / Marcada pelo Alfa / Capítulo 4: O Peso do Passado
Capítulo 4: O Peso do Passado

A floresta estava silenciosa novamente, mas algo em seu interior parecia tenso, como se as árvores estivessem sussurrando sobre o que estava por vir. Lis sentia a presença de Matthew à sua frente, o calor de seu corpo imponente contrastando com a brisa fria da noite. Ela sentia o cheiro de sua colônia de lobo, aquele aroma forte de terra, musgo e uma nota sutil de algo selvagem que fazia seu coração bater mais rápido. Rose estava inquieta, seus sentidos apurados, mas ela não sabia dizer se era devido ao perigo iminente ou por algo mais profundo e instintivo.

Apenas alguns minutos atrás, o som do uivo havia se dissipado nas sombras da floresta. Ainda assim, Lis sentia a tensão no ar. A dúvida crescente em seu peito era incontrolável, como se um véu de mistério estivesse se formando em torno dela, envolvendo-a e impedindo-a de ver a verdade de forma clara. Ela olhou para Matthew, seu olhar imerso em uma mistura de preocupação e incerteza.

— Matthew, o que está acontecendo? — Ela perguntou, a voz trêmula. A ansiedade queimava em sua garganta.

Matthew não respondeu imediatamente. Seus olhos estavam fixos à distância, sua postura tensa, os músculos relaxados, mas prontos para qualquer movimento. Shadow, seu lobo interior, rosnava baixo em sua mente, alertando-o para algo mais. Matthew sabia que o uivo não era apenas um aviso. Era um chamado. Uma ameaça que se aproximava.

— Eu... não sei. — Ele virou-se para Lis, tomando um instante para observar sua expressão. Ela parecia frágil e perdida, mas havia uma força nos seus olhos. Ele viu, pela primeira vez, o verdadeiro peso do que ela havia enfrentado. — Mas seja o que for, você está segura aqui. Eu não vou deixar que nada aconteça a você.

Lis queria acreditar nele, mas o medo que a consumia a impedia de relaxar. Ela olhou para os céus, para as estrelas que cintilavam com uma frieza distante, como se olhassem para ela com indiferença. Ela sentia a verdade do que Matthew dissera em sua mente, mas o vazio do seu passado ainda a acompanhava como uma sombra.

— Você realmente acha que vai me proteger? — perguntou ela, mais para si mesma do que para ele. A voz saiu baixa, quase inaudível, carregada com a dúvida e o peso da culpa que ela ainda não conseguia se livrar.

Matthew percebeu a dor não dita nas palavras dela e deu um passo à frente. Seus dedos alcançaram o queixo de Lis, suavemente levantando seu rosto para encará-lo. Quando ela olhou nos olhos dele, viu o fogo da determinação, o mesmo que Shadow sentia, um reflexo de uma promessa não dita. Ele não iria deixar que nada acontecesse com ela.

— Eu farei o que for preciso — respondeu ele, a sinceridade impregnada em cada palavra. — Você não está sozinha. E se isso significar lutar contra qualquer um que queira te fazer mal, então eu farei isso. Você está segura aqui, Lis. Você tem a minha palavra.

Lis sentiu um arrepio percorrer sua espinha, mas, por algum motivo, seu coração começou a se acalmar. Era como se as palavras dele tivessem um poder curativo, dissipando um pouco da dor que ela sentia, a dor que vinha da solidão e do abandono que a acompanhavam desde que foi banida de sua matilha. A confiança que ela tinha em Matthew era inusitada. Era quase como se ele fosse a âncora que ela precisava para não se perder completamente.

Enquanto o vento uivava entre as árvores, Matthew começou a caminhar mais profundamente na floresta, seus passos firmes e rápidos. Lis o seguiu, ainda hesitante, mas algo em sua presença a atraía, como uma força magnética. Eles andaram por um tempo, e a cada passo, a escuridão da floresta parecia engolir o mundo ao redor deles, mas Matthew estava sempre à frente, guiando-a com uma força silenciosa.

— Você sabia que, ao me trazer aqui, estava colocando sua matilha em risco? — Lis perguntou, de repente, quebrando o silêncio. Ela sentia um peso se formando em seu peito. As palavras saíram com um toque de amargor, mas, ao mesmo tempo, uma curiosidade também estava presente em seu olhar.

Matthew olhou por sobre o ombro, a expressão sombria. Ele sabia onde ela queria chegar, mas não podia, de forma alguma, deixar que ela pensasse que ele se arrependeria de sua decisão.

— Eu sabia — respondeu ele, sua voz firme, mas suave. — Mas eu não me arrependo. Se isso for o que for necessário para mantê-la segura, então é um risco que eu estou disposto a correr.

Lis ficou em silêncio, observando a determinação em seus olhos. Ela sabia o que significava ser rejeitada. Sabia o quanto o peso do passado podia ser esmagador. Mas, ao mesmo tempo, algo em Matthew parecia indicar que ele não temia as sombras do seu próprio passado. Havia algo nele que ela ainda não entendia, algo que a atraía e a fazia querer confiar nele mais do que deveria.

— Mas você... você tem que entender que eu não sou alguém que possa ser facilmente aceita de novo. — A voz dela falhou um pouco, como se estivesse temendo admitir isso até para si mesma. — Eu causei a morte de alguém, Matthew. E ninguém vai esquecer isso.

Matthew se virou completamente agora, seus olhos fixando os dela com uma intensidade que fez Lis se sentir pequena diante dele. Mas, ao mesmo tempo, havia uma calma em sua expressão, como se ele entendesse a dor que ela carregava.

— Eu sei. E sei também que você não pode mudar o que aconteceu. Mas não é o que você fez no passado que define quem você é agora. E você, Lis, é alguém forte. Eu vejo isso em você.

Antes que ela pudesse responder, um uivo distante cortou o silêncio da noite, mais próximo desta vez. Mas o som era diferente, mais baixo, como se estivesse vindo de um lugar escondido, um lugar onde a escuridão era mais profunda.

Lis olhou para Matthew, seu coração disparado. Ele não parecia surpreso, mas, por dentro, ele sabia que as coisas estavam prestes a se tornar muito mais complicadas do que poderiam imaginar.

— Vamos voltar. Agora — ele ordenou, com firmeza.

Lis seguiu-o sem hesitar. Ela sabia que as respostas para os mistérios ao seu redor estavam começando a surgir, mas com elas vinham perigos, sombras que se aproximavam mais rápido do que ela gostaria de admitir.

À medida que eles se afastavam, o uivo ecoou novamente, mais perto. E Lis, por um breve momento, sentiu o peso de um destino que não podia mais evitar.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo