O dia amanheceu mais sombrio do que o habitual. Lis acordou na cabana, envolta pelo silêncio que parecia pesar sobre ela. A luz suave da manhã filtrava-se pelas fendas da janela, iluminando as marcas no rosto de Lis — marcas de cansaço, dor e um passado que ela não conseguia esquecer. Mas, ao contrário de outras manhãs, desta vez havia algo diferente em seu peito. Algo que estava começando a despertar.
Rose, sua loba interior, estava inquieta, movendo-se agitada dentro dela. Lis podia sentir a energia de sua loba, um fluxo de tensão e excitação que parecia transbordar de seu corpo. Rose sempre foi mais silenciosa, mas agora, estava mais presente, como se sua loba estivesse sentindo algo mais profundo, algo que Lis não conseguia compreender ainda. — O que está acontecendo, Rose? — Lis sussurrou, quase como uma oração, tentando entender o que sua loba sentia. A resposta veio rápida e direta, como uma voz suave em sua mente. — Algo está mudando. Algo está acontecendo com ele, com Matthew. Lis sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir isso. Rose nunca havia falado sobre Matthew diretamente, e isso a fez questionar o que ela queria dizer. A jovem olhou pela janela e viu Matthew, à distância, caminhando com passos firmes. Ele parecia mais determinado do que nunca, sua postura de alfa imponente. Mas, ao contrário do normal, algo em seus olhos parecia refletir uma luta interna, uma batalha contra algo que Lis não podia ver. Isso não passou despercebido para ela. A ligação que estava crescendo entre eles, mais intensa a cada dia, ainda a confundia. Ela não sabia o que ele esperava dela, mas sabia que a sensação de estar perto dele trazia uma estranha paz, uma sensação de pertencimento, embora fosse difícil de aceitar. Ela se levantou, sentindo a tensão em seus músculos, e vestiu suas roupas, mais por necessidade do que por desejo. Antes de sair, ela tocou a corrente que estava em seu pescoço — um amuleto simples que sua mãe havia dado a ela quando era criança. O toque suave nela trouxe uma leve sensação de consolo, e Lis tentou afastar a sensação de medo que se formava em seu estômago. Matthew estava agora mais próximo da cabana, e ela sabia que ele a esperava. Quando seus olhares se encontraram, ela sentiu um choque elétrico atravessar seu corpo, mas, desta vez, não era apenas o medo. Era algo diferente. Algo mais profundo, que vinha de sua própria alma, como se Rose estivesse reconhecendo algo que Lis ainda não entendia completamente. — Você está bem? — Matthew perguntou, com um tom suave, mas preocupado. Ele a observava com uma intensidade que Lis não conseguia decifrar. Ela deu um pequeno passo à frente, tentando esconder a ansiedade que se formava dentro de si. — Eu... estou bem — mentiu, com um sorriso forçado. Mas Matthew não acreditou, não com a forma como seus olhos estavam fixados nela. Ele deu um passo mais próximo, e Lis sentiu a pressão no ar aumentar. Havia algo em sua presença, algo que fazia com que sua mente ficasse atordoada. Ele colocou uma mão no ombro dela, um toque firme, mas não agressivo. Como se quisesse transmiti-lhe segurança. — Não esconda nada de mim, Lis — disse ele, a voz baixa e grave. — Eu posso sentir que há algo diferente. Aconteceu algo durante a noite? Lis hesitou, tentando controlar a tempestade que se formava dentro de si. Ela não sabia se deveria contar tudo o que estava sentindo, se deveria confessar os medos e incertezas que estavam tomando conta de seu ser. Mas havia algo em Matthew que a fazia querer confiar nele, algo que não se resumiria apenas à sua posição de alfa ou à sua força física. Ele estava sendo sincero. E Lis sabia, em seu coração, que ela precisava ser honesta também. — Eu não entendo... — ela começou, sua voz trêmula. — Rose... minha loba... está... agitada. Ela está falando mais comigo, como se soubesse algo. Ela sente algo em você, Matthew. Eu não sei o que é, mas é como se algo estivesse acontecendo, algo que nos está puxando para perto, e eu não sei o que fazer com isso. Matthew a olhou por um momento, e Lis viu um lampejo de compreensão em seus olhos. Ele não estava surpreso, nem assustado. Era como se ele já soubesse, como se aquilo fosse algo esperado. Um lobo interior reconhece outro. Era assim que funcionava entre eles. Mas isso também explicava a inquietação de Rose e o tumulto em seu próprio coração. — Eu sinto o mesmo, Lis. — Matthew falou, a voz carregada de sinceridade. Ele deu um passo mais perto, sem afastar os olhos dos dela. — Desde que nos encontramos, meu lobo, Shadow, não para de gritar. Ele reconheceu você, assim como você reconheceu ele. Lis sentiu um nó na garganta ao ouvir aquelas palavras. Ela nunca imaginou que isso pudesse ser verdade. Mas, ao olhar para Matthew, ao ver a forma como seus olhos brilhavam com intensidade, ela começou a entender. Eles estavam conectados de uma forma que ela nunca poderia ter previsto. — Você... quer dizer que eu sou... sua companheira? — perguntou ela, ainda sem acreditar completamente no que estava dizendo. Matthew deu um pequeno sorriso, um sorriso suave, mas cheio de emoções que ele não costumava mostrar. — Não só eu, Lis. Rose também é. Ela sabe disso, assim como você. Nosso destino está entrelaçado. E, se você me permitir, vou fazer o possível para guiá-la até onde você precisa ir. Não importa o que aconteça. Lis sentiu uma onda de emoções a invadir, um turbilhão de sentimentos contraditórios. Medo. Confusão. Esperança. Mas, ao mesmo tempo, havia algo mais. Algo que ela não poderia negar. Algo que estava começando a crescer dentro dela, algo que a fazia se sentir inteira pela primeira vez em muito tempo. A ligação com Matthew era real, e ela sabia que não poderia voltar atrás. O uivo distante de um lobo cortou o silêncio entre eles, lembrando-os do que ainda estava por vir. Matthew olhou para Lis mais uma vez, antes de dar um passo atrás e estender a mão. — Vamos. O futuro nos espera, Lis. E, seja qual for o caminho, não estaremos sozinhos. Lis olhou para sua mão estendida. Ela hesitou por um momento, mas então, com um suspiro profundo, deu o passo necessário para segurar sua mão, sentindo a conexão, forte e inquebrantável, que agora existia entre eles. Enquanto eles se afastavam da cabana, Lis sentiu uma calma em seu interior, como se, finalmente, ela tivesse encontrado seu lugar no mundo. Mas sabia que o caminho à frente seria difícil. Afinal, os laços que estavam se formando entre ela e Matthew não eram apenas os de um alfa e sua companheira. Eles eram mais do que isso. Eram o entrelaçamento de dois destinos que o próprio universo não podia ignorar.O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.— Sim?Lis respirou fun
A noite caiu sobre a floresta como um manto de sombras, trazendo consigo uma tensão que fazia o ar parecer mais denso. Lis e Matthew estavam de volta ao território principal da matilha, mas a sensação de segurança parecia mais ilusória do que nunca. O ataque dos lobos corrompidos ainda ecoava na mente de Lis. O olhar vazio do jovem lobo morto, a intensidade dos inimigos que enfrentaram... Tudo apontava para algo maior e mais sombrio.Matthew estava de pé na sala principal da cabana central, sua postura rígida enquanto conversava com Ethan, seu beta. O homem tinha uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas.— Temos que reforçar os limites — disse Ethan, sua voz firme. — Se Raven está realmente por trás disso, ele não vai parar com um aviso.Matthew assentiu, os olhos brilhando levemente sob a luz fraca do candelabro.— Já aumentei as patrulhas. Mas não é só isso. Raven não enviaria aqueles lobos apenas para testar nossa força. Ele está planejando algo maior, algo que envolve
A tensão ainda pairava sobre a clareira como uma nuvem carregada prestes a desabar. Lis sentia o peso da decisão de Sophia, mas sabia que sua presença ainda era uma ferida aberta para muitos ali. Os olhares desconfiados eram como punhais, e, apesar das palavras firmes de Matthew, ela sabia que sua aceitação naquela matilha seria uma batalha longa.Matthew, no entanto, não parecia disposto a ceder. Assim que o grupo começou a se dispersar, ele se virou para Lis, seu olhar suavizando por um breve momento.— Você está bem? — perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação.Lis hesitou antes de responder. As palavras de Sophia ainda ecoavam em sua mente, e ela sentia uma inquietação crescer dentro dela.— Não sei se eles algum dia vão me aceitar — admitiu, encarando o chão. — Talvez eu não devesse estar aqui.Matthew segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos encontraram os dela, brilhando com determinação.— Você pertence a este lugar porque eu d
O amanhecer se aproximava, mas a tranquilidade prometida pela luz parecia um sonho distante. Lis sentia o peso da noite passada em cada músculo de seu corpo. A confissão de Matthew, tão poderosa e carregada de emoção, ressoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia parar de ouvir."Você é minha, Lis."As palavras aqueciam seu coração, mas também traziam um novo tipo de medo. Ser reivindicada pelo alfa era uma honra que muitos Alfa s sonhavam, mas para ela, era um território desconhecido e perigoso.Ela saiu da cabana de Sophia antes que o dia começasse. Precisava de ar, de espaço para pensar. Rose, sua loba, estava estranhamente silenciosa, mas Lis sabia que sua companheira interior observava tudo, analisando as possibilidades com cuidado.Matthew estava na clareira, já em movimento. Ele organizava um grupo para uma patrulha reforçada, ciente de que a presença de Lis poderia atrair mais do que apenas olhares hostis dentro da matilha. A antiga matilha dela ainda era um mist
O rugido de Matthew parecia ainda ecoar dentro de Lis, mesmo após o silêncio engolir a floresta. Estavam lado a lado, mas as emoções que os cercavam criavam um abismo quase palpável entre eles. Matthew estava furioso. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade difícil de suportar, e Shadow rugia dentro dele, à beira de assumir o controle. O instinto do alfa exigia proteger e destruir qualquer ameaça que ousasse se aproximar de Lis.Lis, por outro lado, estava afundando. O encontro com Ian havia aberto feridas antigas, mergulhando-a de volta num mar de memórias e culpas que ela lutava para manter enterradas.— Ele disse algo? — perguntou Matthew, a voz rouca de tensão, mas firme.Lis sabia que não poderia mentir para ele. Não agora. Não com o elo que estavam formando, uma conexão profunda que ela ainda não compreendia completamente.— Ele veio me levar de volta — respondeu, quase num sussurro. — Disse que minha antiga matilha quer justiça.O rosnado que escapou de Matthew foi bai
A lua cheia subia lentamente no céu, iluminando o território com sua luz prateada. As sombras das árvores dançavam na clareira, onde a tensão era quase palpável. Matthew estava inquieto, caminhando de um lado para o outro, como um predador à espera de sua presa. Sua postura firme transmitia autoridade, mas os olhos dourados denunciavam a batalha interna enquanto Shadow rugia dentro dele, clamando por ação. A matilha começava a se reunir, um por um, atraída pelo chamado do alfa e pela sensação de perigo iminente.De longe, Lis observava a movimentação. Sentia-se como um intruso, mesmo que ninguém a tratasse assim diretamente. Ela podia sentir os olhares de alguns membros, alguns curiosos, outros desconfiados. Sua presença ali ainda era algo novo para muitos. Sophia se aproximou com passos leves, sua expressão serena e calorosa contrastando com a atmosfera carregada.— Como você está? — perguntou a curandeira, pousando uma mão reconfortante no ombro de Lis.— Tentando manter a calma — re
O amanhecer chegou lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados e dourados. A clareira parecia calma, mas todos sabiam que a tranquilidade era enganadora. Ian e sua ameaça pairavam como uma tempestade prestes a desabar. Matthew estava de pé na borda da clareira, seus olhos fixos na floresta adiante. Ele mal havia dormido, sua mente girando com estratégias para proteger Lis e a matilha.Lis o observava de longe. Ele parecia imponente, mas a tensão em seus ombros traía a preocupação que carregava. Rose estava inquieta dentro dela, alternando entre sussurros de encorajamento e avisos sombrios.— Você precisa falar com ele — disse Rose. — Ele está carregando o peso de tudo isso por você.— Eu sei — respondeu Lis, em sua mente. — Mas não sei o que dizer. Não quero ser um fardo maior do que já sou.— Ele não te vê como um fardo — insistiu Rose. — Vai.Lis respirou fundo antes de se aproximar. Os estalos das folhas secas sob seus pés chamaram a atenção de Matthew, que se virou para ela, sua
A noite estava silenciosa, exceto pelo som das folhas balançando suavemente ao vento. Lis estava sentada próxima à fogueira da clareira, seus músculos ainda doloridos do treinamento intenso do dia anterior. Mesmo exausta, havia uma paz incomum em seu coração. Pela primeira vez, ela não se sentia uma forasteira completa. A matilha começava a enxergá-la como algo mais do que apenas uma fugitiva.Matthew apareceu, carregando um prato com pedaços de carne fresca. Ele se aproximou em silêncio, sentando-se ao lado de Lis. A luz do fogo lançava sombras em seu rosto, destacando o brilho intenso de seus olhos dourados.— Você precisa comer — disse ele, estendendo o prato.— Obrigada — respondeu Lis, aceitando o alimento com um sorriso tímido. — Parece que você não vai descansar até garantir que eu me cuide.Matthew deu uma risada baixa.— Culpe Shadow. Ele está mais protetor do que nunca. Desde que encontrou Rose, ele não para de me lembrar que devo garantir sua segurança.— Rose não é diferent