O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.
Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.
— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.
Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.
— Sim?
Lis respirou fundo, buscando as palavras certas.
— Eu não sei o que tudo isso significa. Essa... ligação. Essa conexão entre nós. É tão... súbita. Como se algo tivesse sido ativado dentro de mim. — Ela abaixou o olhar, envergonhada de admitir sua confusão. — E, ao mesmo tempo, eu sinto que deveria entender, como se já soubesse.
Matthew deu um pequeno sorriso, um que carregava compreensão e paciência.
— Eu entendo como você se sente. — Ele colocou uma mão sobre o ombro dela, transmitindo conforto. — Não é algo que se explica com palavras. Quando nossos lobos reconhecem alguém, é como se uma verdade profunda fosse revelada. Não importa se nossas mentes ainda estão tentando entender. Shadow reconheceu você desde o momento em que você cruzou meu território.
Lis franziu a testa.
— Mas por quê? Por que agora? Por que comigo?
Matthew suspirou.
— Não é uma questão de escolha, Lis. É destino. E o destino tem uma maneira de nos empurrar para onde precisamos estar, mesmo que não estejamos prontos.
Enquanto ele falava, Rose ressoava dentro de Lis, como um eco silencioso que concordava com cada palavra.
— Lis, — a loba murmurou em sua mente — ele está certo. Nós pertencemos a eles, assim como eles pertencem a nós.
Essa afirmação fez com que um arrepio percorresse o corpo de Lis. Antes que pudesse responder, o vento mudou, trazendo consigo um cheiro que fez Matthew se enrijecer.
— Você sente isso? — ele perguntou, a voz baixa, os olhos varrendo a floresta ao redor.
Lis fechou os olhos por um momento, concentrando-se. Então, como uma onda, o cheiro atingiu seus sentidos. Era forte, metálico, com uma nota de decadência que fazia seu estômago revirar.
— Sangue — sussurrou ela, a palavra mal saindo de seus lábios.
Matthew já estava em movimento, soltando a mão dela e sinalizando para que ela ficasse atrás dele. Shadow, seu lobo, estava à beira da superfície, pronto para emergir a qualquer momento.
— Fique perto de mim — ordenou ele, a autoridade em sua voz inegável.
Lis obedeceu, mas sua mente estava inquieta. Rose rugia dentro dela, ansiosa para assumir o controle, mas Lis resistiu. Ela não queria se transformar ainda. Não até entender o que estavam enfrentando.
Eles seguiram o cheiro, que os levou a uma clareira oculta pelas árvores densas. O cenário que encontraram fez o coração de Lis parar por um momento. No centro da clareira havia um círculo de pedras, e no meio dele, um lobo estava deitado, imóvel.
Matthew se aproximou com cautela, os olhos analisando o ambiente. Lis ficou alguns passos atrás, o cheiro de sangue mais forte do que nunca.
— Ele está morto? — ela perguntou, a voz trêmula.
Matthew se ajoelhou ao lado do corpo, examinando-o. Era um lobo jovem, com a pelagem marrom clara agora manchada de vermelho escuro. Havia cortes profundos em seu flanco e marcas de garras ao longo do pescoço.
— Não foi um ataque normal — disse Matthew, a voz firme. — Essas marcas... são de outro lobo, mas não foi por fome ou defesa. Foi algo... diferente.
Lis se aproximou hesitante, mas quando seus olhos encontraram o do lobo morto, um arrepio percorreu sua espinha.
— Matthew... — ela começou, mas sua voz falhou.
Ele a olhou, percebendo a palidez em seu rosto.
— O que foi?
Lis apontou para o corpo.
— Aqueles olhos... eles não estão apenas mortos. Eles estão vazios, como se algo tivesse sido arrancado dele.
Matthew seguiu o olhar dela e percebeu. Os olhos do lobo, agora opacos, pareciam olhar para o nada, mas havia algo profundamente perturbador neles. Como se a alma do animal tivesse sido sugada, deixando apenas um vazio.
— Magia — disse Matthew, quase como um rosnado.
Lis arregalou os olhos.
— Magia? Mas como? Por quê?
Antes que ele pudesse responder, um som baixo e gutural veio das árvores ao redor. Um rosnado, profundo e ameaçador. Lis instintivamente recuou, mas Matthew permaneceu firme, seus olhos brilhando com a energia de seu lobo.
— Estamos cercados — disse ele, mais para si mesmo do que para ela.
Lis tentou controlar a respiração. Rose estava em alerta total agora, pronta para emergir a qualquer momento.
— Matthew, o que fazemos?
Ele olhou para ela, sua expressão séria.
— Se precisar, deixe Rose assumir. Eu protejo você, mas não hesite em lutar.
Os rosnados aumentaram, e então, como se a floresta tivesse se partido, quatro figuras emergiram das sombras. Eram lobos, mas havia algo errado com eles. Suas pelagens eram escuras e opacas, e seus olhos brilhavam com um vermelho sobrenatural.
Matthew rosnou, sua transformação começando. Lis sentiu a tensão no ar aumentar enquanto ele assumia sua forma de lobo. Shadow era imenso, sua pelagem negra brilhando sob a luz fraca, e seus olhos, agora dourados, encaravam os intrusos com uma ferocidade que fez os lobos hesitarem.
Lis sabia que não poderia ficar parada. Ela fechou os olhos, deixando Rose assumir. Sua transformação foi rápida, e logo ela estava ao lado de Matthew, sua loba prateada brilhando contra o cenário sombrio.
— Estamos juntos nisso — disse Rose, sua voz forte em sua mente.
Matthew a olhou de relance e rosnou em aprovação.
Os lobos atacaram, e a clareira tornou-se um redemoinho de movimento, dentes e garras. Lis lutava ao lado de Matthew, seus instintos guiando cada movimento. Apesar do medo inicial, ela sentiu uma força nova emergir dentro dela, algo que nunca havia experimentado antes.
Quando o último lobo caiu, derrotado, Matthew voltou à forma humana, ofegante, mas alerta. Lis seguiu seu exemplo, caindo de joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.
— O que foi isso? — perguntou ela, a voz tremendo.
Matthew olhou para ela, a expressão sombria.
— Uma mensagem.
— Mensagem? De quem?
Ele respirou fundo.
— Raven. E isso é só o começo.
Lis sentiu o peso de suas palavras, mas, ao olhar para Matthew, soube que, juntos, eles enfrentariam o que quer que viesse. O destino deles estava selado, e a verdadeira batalha estava apenas começando.
A noite caiu sobre a floresta como um manto de sombras, trazendo consigo uma tensão que fazia o ar parecer mais denso. Lis e Matthew estavam de volta ao território principal da matilha, mas a sensação de segurança parecia mais ilusória do que nunca. O ataque dos lobos corrompidos ainda ecoava na mente de Lis. O olhar vazio do jovem lobo morto, a intensidade dos inimigos que enfrentaram... Tudo apontava para algo maior e mais sombrio.Matthew estava de pé na sala principal da cabana central, sua postura rígida enquanto conversava com Ethan, seu beta. O homem tinha uma expressão séria, as mãos cruzadas atrás das costas.— Temos que reforçar os limites — disse Ethan, sua voz firme. — Se Raven está realmente por trás disso, ele não vai parar com um aviso.Matthew assentiu, os olhos brilhando levemente sob a luz fraca do candelabro.— Já aumentei as patrulhas. Mas não é só isso. Raven não enviaria aqueles lobos apenas para testar nossa força. Ele está planejando algo maior, algo que envolve
A tensão ainda pairava sobre a clareira como uma nuvem carregada prestes a desabar. Lis sentia o peso da decisão de Sophia, mas sabia que sua presença ainda era uma ferida aberta para muitos ali. Os olhares desconfiados eram como punhais, e, apesar das palavras firmes de Matthew, ela sabia que sua aceitação naquela matilha seria uma batalha longa.Matthew, no entanto, não parecia disposto a ceder. Assim que o grupo começou a se dispersar, ele se virou para Lis, seu olhar suavizando por um breve momento.— Você está bem? — perguntou ele, sua voz baixa, mas carregada de preocupação.Lis hesitou antes de responder. As palavras de Sophia ainda ecoavam em sua mente, e ela sentia uma inquietação crescer dentro dela.— Não sei se eles algum dia vão me aceitar — admitiu, encarando o chão. — Talvez eu não devesse estar aqui.Matthew segurou seu queixo com delicadeza, forçando-a a olhar para ele. Seus olhos encontraram os dela, brilhando com determinação.— Você pertence a este lugar porque eu d
O amanhecer se aproximava, mas a tranquilidade prometida pela luz parecia um sonho distante. Lis sentia o peso da noite passada em cada músculo de seu corpo. A confissão de Matthew, tão poderosa e carregada de emoção, ressoava em sua mente como uma melodia que ela não conseguia parar de ouvir."Você é minha, Lis."As palavras aqueciam seu coração, mas também traziam um novo tipo de medo. Ser reivindicada pelo alfa era uma honra que muitos Alfa s sonhavam, mas para ela, era um território desconhecido e perigoso.Ela saiu da cabana de Sophia antes que o dia começasse. Precisava de ar, de espaço para pensar. Rose, sua loba, estava estranhamente silenciosa, mas Lis sabia que sua companheira interior observava tudo, analisando as possibilidades com cuidado.Matthew estava na clareira, já em movimento. Ele organizava um grupo para uma patrulha reforçada, ciente de que a presença de Lis poderia atrair mais do que apenas olhares hostis dentro da matilha. A antiga matilha dela ainda era um mist
O rugido de Matthew parecia ainda ecoar dentro de Lis, mesmo após o silêncio engolir a floresta. Estavam lado a lado, mas as emoções que os cercavam criavam um abismo quase palpável entre eles. Matthew estava furioso. Seus olhos dourados brilhavam com uma intensidade difícil de suportar, e Shadow rugia dentro dele, à beira de assumir o controle. O instinto do alfa exigia proteger e destruir qualquer ameaça que ousasse se aproximar de Lis.Lis, por outro lado, estava afundando. O encontro com Ian havia aberto feridas antigas, mergulhando-a de volta num mar de memórias e culpas que ela lutava para manter enterradas.— Ele disse algo? — perguntou Matthew, a voz rouca de tensão, mas firme.Lis sabia que não poderia mentir para ele. Não agora. Não com o elo que estavam formando, uma conexão profunda que ela ainda não compreendia completamente.— Ele veio me levar de volta — respondeu, quase num sussurro. — Disse que minha antiga matilha quer justiça.O rosnado que escapou de Matthew foi bai
A lua cheia subia lentamente no céu, iluminando o território com sua luz prateada. As sombras das árvores dançavam na clareira, onde a tensão era quase palpável. Matthew estava inquieto, caminhando de um lado para o outro, como um predador à espera de sua presa. Sua postura firme transmitia autoridade, mas os olhos dourados denunciavam a batalha interna enquanto Shadow rugia dentro dele, clamando por ação. A matilha começava a se reunir, um por um, atraída pelo chamado do alfa e pela sensação de perigo iminente.De longe, Lis observava a movimentação. Sentia-se como um intruso, mesmo que ninguém a tratasse assim diretamente. Ela podia sentir os olhares de alguns membros, alguns curiosos, outros desconfiados. Sua presença ali ainda era algo novo para muitos. Sophia se aproximou com passos leves, sua expressão serena e calorosa contrastando com a atmosfera carregada.— Como você está? — perguntou a curandeira, pousando uma mão reconfortante no ombro de Lis.— Tentando manter a calma — re
O amanhecer chegou lentamente, tingindo o céu de tons alaranjados e dourados. A clareira parecia calma, mas todos sabiam que a tranquilidade era enganadora. Ian e sua ameaça pairavam como uma tempestade prestes a desabar. Matthew estava de pé na borda da clareira, seus olhos fixos na floresta adiante. Ele mal havia dormido, sua mente girando com estratégias para proteger Lis e a matilha.Lis o observava de longe. Ele parecia imponente, mas a tensão em seus ombros traía a preocupação que carregava. Rose estava inquieta dentro dela, alternando entre sussurros de encorajamento e avisos sombrios.— Você precisa falar com ele — disse Rose. — Ele está carregando o peso de tudo isso por você.— Eu sei — respondeu Lis, em sua mente. — Mas não sei o que dizer. Não quero ser um fardo maior do que já sou.— Ele não te vê como um fardo — insistiu Rose. — Vai.Lis respirou fundo antes de se aproximar. Os estalos das folhas secas sob seus pés chamaram a atenção de Matthew, que se virou para ela, sua
A noite estava silenciosa, exceto pelo som das folhas balançando suavemente ao vento. Lis estava sentada próxima à fogueira da clareira, seus músculos ainda doloridos do treinamento intenso do dia anterior. Mesmo exausta, havia uma paz incomum em seu coração. Pela primeira vez, ela não se sentia uma forasteira completa. A matilha começava a enxergá-la como algo mais do que apenas uma fugitiva.Matthew apareceu, carregando um prato com pedaços de carne fresca. Ele se aproximou em silêncio, sentando-se ao lado de Lis. A luz do fogo lançava sombras em seu rosto, destacando o brilho intenso de seus olhos dourados.— Você precisa comer — disse ele, estendendo o prato.— Obrigada — respondeu Lis, aceitando o alimento com um sorriso tímido. — Parece que você não vai descansar até garantir que eu me cuide.Matthew deu uma risada baixa.— Culpe Shadow. Ele está mais protetor do que nunca. Desde que encontrou Rose, ele não para de me lembrar que devo garantir sua segurança.— Rose não é diferent
O amanhecer chegava silencioso, como se a floresta estivesse retendo a respiração, aguardando o despertar do dia. O ar fresco da manhã se infiltrava pelas árvores, acariciando o rosto de Lis enquanto ela caminhava sozinha. A sensação da brisa suave em sua pele, a quietude do ambiente, contrastava com o turbilhão de pensamentos que a invadiam. O peso do treinamento incessante, a ameaça que ainda se escondia nas sombras e a presença constante de Ian pressionavam seu peito, tornando cada passo mais difícil de dar. Rose, sua loba interior, estava inquieta, rosnando baixinho dentro dela, como se sentisse que algo ainda precisava ser resolvido. A conexão com sua loba nunca foi algo fácil, mas era algo profundo, e as inquietações de Rose tornavam-se também suas. Lis sabia que não poderia ignorar esse incômodo por muito mais tempo; ela precisaria encarar seus próprios sentimentos e as questões não respondidas que ainda pairavam sobre sua mente. Não era apenas o que acontecera com Ian, mas o qu