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Capítulo 6: A Alvorada do Destino

O som de passos firmes ecoava pela floresta enquanto Lis seguia Matthew. O amanhecer sombrio parecia refletir a turbulência que crescia dentro dela. Cada folha que se movia, cada galho que estalava sob seus pés, fazia seu coração acelerar. Apesar da mão firme de Matthew segurando a sua, Lis não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a mudar — e que essa mudança seria irreversível.

Matthew, por sua vez, permanecia em silêncio, mas seu olhar era intenso, sua mente claramente ocupada. Shadow, seu lobo interior, rugia em sua consciência, mas não com inquietação desta vez. Era um chamado, um desejo de avançar, de se conectar de forma plena com Lis e sua loba. Ele sabia que a revelação daquele vínculo era apenas o começo. Algo maior os esperava, algo que exigiria força e união.

— Matthew? — a voz de Lis rompeu o silêncio, hesitante.

Ele parou, virando-se para encará-la. Seus olhos, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural, encontraram os dela.

— Sim?

Lis respirou fundo, buscando as palavras certas.

— Eu não sei o que tudo isso significa. Essa... ligação. Essa conexão entre nós. É tão... súbita. Como se algo tivesse sido ativado dentro de mim. — Ela abaixou o olhar, envergonhada de admitir sua confusão. — E, ao mesmo tempo, eu sinto que deveria entender, como se já soubesse.

Matthew deu um pequeno sorriso, um que carregava compreensão e paciência.

— Eu entendo como você se sente. — Ele colocou uma mão sobre o ombro dela, transmitindo conforto. — Não é algo que se explica com palavras. Quando nossos lobos reconhecem alguém, é como se uma verdade profunda fosse revelada. Não importa se nossas mentes ainda estão tentando entender. Shadow reconheceu você desde o momento em que você cruzou meu território.

Lis franziu a testa.

— Mas por quê? Por que agora? Por que comigo?

Matthew suspirou.

— Não é uma questão de escolha, Lis. É destino. E o destino tem uma maneira de nos empurrar para onde precisamos estar, mesmo que não estejamos prontos.

Enquanto ele falava, Rose ressoava dentro de Lis, como um eco silencioso que concordava com cada palavra.

— Lis, — a loba murmurou em sua mente — ele está certo. Nós pertencemos a eles, assim como eles pertencem a nós.

Essa afirmação fez com que um arrepio percorresse o corpo de Lis. Antes que pudesse responder, o vento mudou, trazendo consigo um cheiro que fez Matthew se enrijecer.

— Você sente isso? — ele perguntou, a voz baixa, os olhos varrendo a floresta ao redor.

Lis fechou os olhos por um momento, concentrando-se. Então, como uma onda, o cheiro atingiu seus sentidos. Era forte, metálico, com uma nota de decadência que fazia seu estômago revirar.

— Sangue — sussurrou ela, a palavra mal saindo de seus lábios.

Matthew já estava em movimento, soltando a mão dela e sinalizando para que ela ficasse atrás dele. Shadow, seu lobo, estava à beira da superfície, pronto para emergir a qualquer momento.

— Fique perto de mim — ordenou ele, a autoridade em sua voz inegável.

Lis obedeceu, mas sua mente estava inquieta. Rose rugia dentro dela, ansiosa para assumir o controle, mas Lis resistiu. Ela não queria se transformar ainda. Não até entender o que estavam enfrentando.

Eles seguiram o cheiro, que os levou a uma clareira oculta pelas árvores densas. O cenário que encontraram fez o coração de Lis parar por um momento. No centro da clareira havia um círculo de pedras, e no meio dele, um lobo estava deitado, imóvel.

Matthew se aproximou com cautela, os olhos analisando o ambiente. Lis ficou alguns passos atrás, o cheiro de sangue mais forte do que nunca.

— Ele está morto? — ela perguntou, a voz trêmula.

Matthew se ajoelhou ao lado do corpo, examinando-o. Era um lobo jovem, com a pelagem marrom clara agora manchada de vermelho escuro. Havia cortes profundos em seu flanco e marcas de garras ao longo do pescoço.

— Não foi um ataque normal — disse Matthew, a voz firme. — Essas marcas... são de outro lobo, mas não foi por fome ou defesa. Foi algo... diferente.

Lis se aproximou hesitante, mas quando seus olhos encontraram o do lobo morto, um arrepio percorreu sua espinha.

— Matthew... — ela começou, mas sua voz falhou.

Ele a olhou, percebendo a palidez em seu rosto.

— O que foi?

Lis apontou para o corpo.

— Aqueles olhos... eles não estão apenas mortos. Eles estão vazios, como se algo tivesse sido arrancado dele.

Matthew seguiu o olhar dela e percebeu. Os olhos do lobo, agora opacos, pareciam olhar para o nada, mas havia algo profundamente perturbador neles. Como se a alma do animal tivesse sido sugada, deixando apenas um vazio.

— Magia — disse Matthew, quase como um rosnado.

Lis arregalou os olhos.

— Magia? Mas como? Por quê?

Antes que ele pudesse responder, um som baixo e gutural veio das árvores ao redor. Um rosnado, profundo e ameaçador. Lis instintivamente recuou, mas Matthew permaneceu firme, seus olhos brilhando com a energia de seu lobo.

— Estamos cercados — disse ele, mais para si mesmo do que para ela.

Lis tentou controlar a respiração. Rose estava em alerta total agora, pronta para emergir a qualquer momento.

— Matthew, o que fazemos?

Ele olhou para ela, sua expressão séria.

— Se precisar, deixe Rose assumir. Eu protejo você, mas não hesite em lutar.

Os rosnados aumentaram, e então, como se a floresta tivesse se partido, quatro figuras emergiram das sombras. Eram lobos, mas havia algo errado com eles. Suas pelagens eram escuras e opacas, e seus olhos brilhavam com um vermelho sobrenatural.

Matthew rosnou, sua transformação começando. Lis sentiu a tensão no ar aumentar enquanto ele assumia sua forma de lobo. Shadow era imenso, sua pelagem negra brilhando sob a luz fraca, e seus olhos, agora dourados, encaravam os intrusos com uma ferocidade que fez os lobos hesitarem.

Lis sabia que não poderia ficar parada. Ela fechou os olhos, deixando Rose assumir. Sua transformação foi rápida, e logo ela estava ao lado de Matthew, sua loba prateada brilhando contra o cenário sombrio.

— Estamos juntos nisso — disse Rose, sua voz forte em sua mente.

Matthew a olhou de relance e rosnou em aprovação.

Os lobos atacaram, e a clareira tornou-se um redemoinho de movimento, dentes e garras. Lis lutava ao lado de Matthew, seus instintos guiando cada movimento. Apesar do medo inicial, ela sentiu uma força nova emergir dentro dela, algo que nunca havia experimentado antes.

Quando o último lobo caiu, derrotado, Matthew voltou à forma humana, ofegante, mas alerta. Lis seguiu seu exemplo, caindo de joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.

— O que foi isso? — perguntou ela, a voz tremendo.

Matthew olhou para ela, a expressão sombria.

— Uma mensagem.

— Mensagem? De quem?

Ele respirou fundo.

— Raven. E isso é só o começo.

Lis sentiu o peso de suas palavras, mas, ao olhar para Matthew, soube que, juntos, eles enfrentariam o que quer que viesse. O destino deles estava selado, e a verdadeira batalha estava apenas começando.

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