Duas horas antes
Fiquei olhando a porra de um lustre por quase meia hora. Ele pendia do teto lindamente, indicando as pessoas que pisavam no chão daquele salão eram incrivelmente ricos. Cheguei uma hora adiantado, como sempre, e prestei atenção a cada detalhe do salão luxuoso em que estava. As paredes eram pintadas de branco e em intervalos, paredes de vidro e madeira subiam do chão de mármore, se encontrando no teto alto. Estava esperando o sr. Sheppard, meu chefe. Hoje é definitivamente o dia mais feliz de toda a minha vida. Ele finalmente vai reconhecer que eu sou digno de uma promoção. Em toda a história da Shaffer e Sheppard eu fui o cara que mais levou clientes para a empresa. O sr. Sheppard me garantiu que se eu fisgasse mais um cliente hoje, poderia espalhar para o mundo que seria o novo diretor de marketing. Isso com certeza me deixaria em um patamar mais alto que Alan Patrick, o cara que está concorrendo comigo. Ajeitei-me na cadeira e vi Alan do outro lado do salão. Ele lançou um sorriso malicioso quando me viu e eu respondi com uma piscada. Alinhei o terno. — Chase, querido! — Sheila, a esposa do sr. Sheppard, me cumprimentou de longe. Ela arrastou o pobre homem, agarrado ao seu braço, até mim. Eu levantei e mostrei meu melhor sorriso. — Sra. Sheppard — estendi a mão. Ela me puxou para um abraço. Eu fiz uma careta quando quase encarei seus peitos enormes que pulavam para fora do vestido longo e exagerado demais. Sr. Sheppard. — murmurei, ainda sufocado pelo abraço de urso. Estendi a mão. Ele apertou minha mão, cutucou Sheila com o cotovelo e ela me largou, enfim. Do canto do olho vi Brandon, o filho deles. Ele rapidamente pegou uma das taças de champanhe dispostas numa bandeja que o garçom carregava e, num piscar de olhos, estava plantado na minha frente, me puxando para outro abraço. Jesus! — Big Dick! — esfregou o topo da minha cabeça. Desvencilhei-me dele e ajeitei o cabelo. — A mamãe disse que seria uma boa ideia vir. E pelo jeito… — ele olhou em volta do salão. Eu sabia exatamente o que ele via. Mulheres elegantes desfilavam por todo o salão, espalhando charme e encanto. Mas Brandon via apenas bocetas com pernas. Ele piscou para mim. — Bom, tenha uma ótima noite, Chase. — Disse o sr. Sheppard. Eu assenti, acenando com a cabeça. Brandon e eu passeamos pelo salão, apreciando a vista — que, no mínimo, era espetacular — e eu vi Alan conversando com o cliente. Ele parecia deslocado e coçava o saco. Eu me aproximei e Brandon me seguiu, imitando-me depois que pedi para se comportar corretamente. O sr. Simon, CEO de uma das maiores marcas de cosméticos, abriu um sorriso educado quando me viu, ao contrário do Sr. Atrapalhado. Eu retribuí o gesto educado, e passei um braço por suas costas. Alan me fuzilou com o olhar, decretando que iria me matar. Eu sorri por cima do ombro e mandei um muxoxo. Brandon nos acompanhou até um garçom. Peguei uma taça de champanhe e ofereci ao sr. Simon, que conversava comigo sobre como precisava de uma inovação em sua empresa. Eu discuti com ele os motivos de que escolher a Shaffer & Sheppard era a melhor opção. — Sabe de uma coisa? — Disse ele, olhando para mim. — Você foi o único que me ofereceu uma proposta decente. — Eu sorri. Conversei sobre amenidades. Essa era uma tática muito importante. Se quer conquistar alguém, faça-a parecer Deus para você. Há uma semana eu venho me preparando para essa ocasião e todas as cartas da manga estavam acabando, então, parti para a minha ideia e arranquei um sim dele, que pareceu super empolgado e disse que iria falar com o sr. Sheppard mais tarde. Mais uma vitória. Dei um soquinho no ar quando tive certeza de que ele estava longe o suficiente e percebi que Brandon ainda estava do meu lado. — Parabéns! — comemorou ele. — Você conseguiu, cara! Isso é tipo fazer um gol só de primeira. Brandon, o filho do Sr. e a Sra. Sheppard, era um cara peculiar. Ele era uma mistura confusa de playboy e homem de negócios. O resto dos setenta por cento do tempo que estava caçando diversão era composto por trabalho duro e muitas horas de academia. Nos sentamos à mesa e ele tirou o celular do bolso do paletó. O garçom trouxe nossos pedidos, que chegaram somente depois de quase meia hora de espera. — O que está fazendo? — perguntei, curioso. Ele deu de ombros. A verdade é que nos aproximamos nos últimos tempos. A mãe dele me adora, seu pai me adora e ele me adora. Eu sou tipo o primo que de vez em quando aparece para uma visita surpresa. — Sabe, é deselegante usar celular à mesa. — Bebi um gole do champanhe. — Deve ser por isso. — Ele disse, chamando minha atenção. — Quê? — Deve ser por isso que você não tem namorada, Big Dick. — Disse ele. — Você não deveria se afundar tanto no trabalho, principalmente porque o resto das coisas são tão melhores. — Franzi a testa. — Você sabe… conversar, encontros, festas… essas coisas que todos solteiros deveriam fazer. — E? — E você faz justamente o contrário. Eu nunca vi você com uma mulher que não seja uma cliente ou a mamãe. Você precisa transar, Big Dick. — Comentou ele. Inclinei para frente e ergui uma sobrancelha. — Eu transo. Transo muito. — Muito? — ele não acreditou, porque sua expressão de descrença espalhou-se por todo o rosto. — Não tanto quanto gostaria, mas isso não importa. Eu não tenho tempo para relacionamentos que não sejam profissionais — admiti. Ele praticamente gargalhou. — Vou passar a te chamar de Bolas Azuis. Eu bufei e ele riu. — Pode me chamar de herói — ele me deu o telefone. — Se chama Secret People Chat. — E o que tem de especial? — perguntei. — Parece só mais um site de encontros. — Dei de ombros e bebi mais um gole do champanhe. — Talvez, mas neste, você pode manter sua privacidade enquanto conversa com quem quiser. Se o relacionamento ao decorrer da conversa parecer bom, você pode ganhar pistas de quem a pessoa é. Esse é o diferencial. O suspense, a empolgação… — Hum. — Assenti, fingindo interesse. Eu o entreguei o celular. — Parece ótimo. ***O evento estava só pela metade quando um dos garçons derrubou uma taça de vinho no meu terno novo. Eu fiquei puto, mas só sorri e fui ao banheiro. Ótimo! Quando voltei, eu percebi que Alan estava sentado com o Sr. Sheppard e sua esposa. Aproximei-me e descobri que Alan havia mentido para ele, dizendo que havia conquistado a conta da Liferty. Eu quis acertar um soco no meio do focinho dele quando lançou aquele olhar de " chupa essa manga ". Tive que usar todo o meu controle para não pular em cima dele. O Sr. Sheppard foi embora trinta minutos depois, e eu voltei a olhar o lustre, quando finalmente tive a brilhante ideia de voltar para casa. Saí do restaurante e reconheci facilmente meu Audi vermelho estacionado ao lado de outros dois carros. Frustrado, bati a porta com força e dirigi até minha casa. Meus ombros estavam rígidos e doloridos. O filho da p**a do Alan conseguiu vencer a guerra, mas eu não iria deixar que ganhasse a batalha. Quando finalmente cheguei no meu prédio, o elevador pareceu durar uma eternidade até chegar no andar. Entrei em meu apartamento, derrotado e só de admitir isso podia ver o sorriso convencido no rosto do miserável.Eu o odeio! Odeio Alan Patrick. Odeio o Sr. Sheppard. Me odeio. Caí no sofá e bufei, jogando o paletó para o outro lado da sala. De repente, lembrei do que Brandon disse. Como era mesmo o nome? Secret People Chat. Peguei meu celular no bolso e procurei na internet. Não demorou a aparecer. Fiz uma conta e comecei a divagar, rolando a tela, entediado. Então, uma notificação explodiu. A. Curioso, entrei no chat e li: Quanto tempo? — A. Eu ajeitei a postura, sentando-me. Como é que é? Mordi o lábio inferior. Depende — Sr. Bolas Azuis — digitei. Do quê? — A.De quanto tempo vai me fazer esperar. — Sr. Bolas azuis. HA HA — A. Posso saber qual é o seu nome? — Sr. Bolas Azuis. Depende — A. Um sorriso de canto repuxou meus lábios. De quê? — Sr. Bolas Azuis. De quanto tempo você vai esperar. — A. Brandon estava certo no final das contas. A minha conversa com a misteriosa A. durou quase uma hora. Conversamos mais do que provavelmente eu devo ter falado por um ano, e suas provocações fizeram com que meu coração acelerasse. Era um misto de suspense e empolgação, como Brandon disse, só que intensificado a mil. Por algum milagre, A. conseguiu fazer minha noite melhorar.Meus olhos abriram rapidamente.Olhei em minha volta e vi a cama vazia. Um lapso de memória percorreu meu cérebro e lembrei da noite de ontem. Minha cabeça doía.Aspirina.Saí da cama e fui para o banheiro. Agachei, procurei o maldito pote de aspirina e tomei uma. Levantei. Olhei-me no espelho e ajeitei os cabelos castanhos médios, penteando-os com os dedos para trás. Pisquei para meu reflexo. Eu tinha olheiras enormes debaixo dos olhos.Às oito da manhã, já estava no trabalho, e no trajeto, me preparei para o que iria acontecer assim que eu pusesse os pés no maldito escritório do Sr. Sheppard.Eu respirei fundo, passei no escritório de Alan e bati à porta. Ele atendeu, mostrando o sorriso convencido. Ah… como eu queria quebrar seus dentes!Minha cabeça voltou a doer.— Parabéns — eu disse, colocando a cabeça para dentro. — Foi uma vitória injusta, mas não deixa de ser uma vitória.Ele se sentou e ergueu uma
Ele fechou a porta e eu fiquei boquiaberta.O que ele quis dizer com " talvez bata o recorde"?Estreitando os olhos, voltei para a minha mesa e deixei os papéis e pastas sobre os outros.Respirei fundo.Preciso de café.Acordei super cedo hoje. Mal dormi ontem à noite. Depois que conversei com o Sr. Engraçadinho, o vizinho do lado começou a arrastar os móveis. Eu tentei de todas as formas possíveis pregar os olhos, mas não consegui.Fui para a copa e encontrei Susan, do RH. Ela vestia uma blusa bege e saia cinza. Conversamos algumas vezes. Ela é super legal, e me ensinou a como lidar com o Sr. Cabeça Esquentada. Ela disse que ele rosnava e mostrava os dentes, mas era incapaz de morder — talvez porque tivesse medo de pegar doença?— Uau. Você está destruída — ela disse, quando me aproximei. Respirei fundo. — Precisa urgentemente disso. — Ela passou uma xícara de café por cima do balcão e eu sorri, agradecida.— A
O meu novo chefe saiu mais cedo do trabalho para um compromisso. Eu consegui sair às oito, depois de remarcar reuniões e responder alguns e-mails e organizar documentos. O cara era uma máquina! Em menos de uma semana, tinha conseguido trazer uma conta super importante para a empresa. Susan estava certa. Abby também. Se eu conseguisse superar as outras secretárias, iria garantir o emprego. Aturar Chase não era tão difícil, apesar de ser bastante irritante de vez em quando.Quando cheguei em casa, pedi uma pizza e Brad apareceu, pedindo para usar o banheiro. Eu disse que não tinha problema. Cinco minutos depois, ele saiu enrolado numa toalha e eu olhei sua bunda sob o tecido. Até que não era tão mal… ele agradeceu e foi embora.O cara com quem eu bati papo ontem, o Sr. Bolas Azuis, mandou uma mensagem:Sr. Bolas Azuis: Como foi o dia?Eu achei estranho ele perguntar isso. Fiquei pensando nele o resto da noite, quando me enviou a primeira mensa
***Eu acordei animada. Fiz ioga e descobri que não sou tão boa nisso. O resultado foi uma dor quase insuportável nas costas. Devo ter dado um jeito ao fazer uma posição de modo errado. A animação ainda me tomava. Às oito em ponto, estava na Shaffer & Sheppard, cantarolando "Shape of You" de Ed Sheeran. Quando sentei-me à minha mesa, tirei os fones de ouvido e levantei a cabeça para ver se Chase já havia chegado. Para a minha surpresa, a resposta era que sim. Em todos os dias em que trabalhei, ele nunca havia chegado tão cedo. Imaginei que estivesse aprontando algo. Talvez estivesse escolhendo a próxima vítima.O interfone da minha mesa tocou. Eu atendi.— Sr. Ward? — Perguntei.— Venha até minha sala.Eu levantei e me dirigi até seu escritório no final do corredor. A luz estava acesa, por isso que percebi que estava ali dentro. Bati à porta. Ele mandou eu entrar. Vestia um terno azul escuro, que de algum jeito realçava o olhar acinze
Susan me chamou para almoçar num restaurante italiano perto do trabalho, e apesar de eu não conhecer o restaurante, notei que ficava perto do Pet's Cute Shop, o pet shop da minha irmã. Ela quase caiu para trás quando eu contei que Chase Ward tirou o terno na minha frente, e eu pude apreciar o monumento debaixo da beca elegante. Ele era realmente uma delícia. Durante o trajeto, me lembrei de Chase abrindo cada botão; parecia um espetáculo. Cada botão aberto, cada centímetro de pele exposta, um arrepio percorria meu corpo. Eu fiquei enrijecida diante dele, sem palavras. Ele estava certo. Eu havia amado a visão, e era agradecida por isso.Quando chegamos no restaurante, ela agarrou o meu braço e apontou para uma mesa no canto, dizendo que era a melhor opção. Ela foi na frente e eu a segui. Puxei uma cadeira pesada de madeira e ela se sentou à minha frente, desenhando o maior sorriso que podia com os lábios. Susan era legal. Assim que pus os pés na Shaffer & Shepp
A reunião com o sr. O'Donnell não tinha nem começado e eu já achava que iria destruir Alan Patrick, o Sr. Coceira Persistente. O cara estava do meu lado, e enfiou " discretamente" a mão dentro da cueca, ajeitou o Alan Junior e retirou, levando-a até o nariz. Franzi o cenho, enojado e ele olhou para mim, dando de ombros.Tive que trocar de terno antes de vir, porque minha secretária atrapalhada derramou café em mim. Mas então, o sr. Sheppard me chamou para a sua sala logo depois que mandei Adele ir lavar o paletó.O sr. Sheppard havia marcado no Perfetto, um restaurante italiano perto do prédio da agência. Como ninguém de lá poderia saber do nosso envolvimento e das campanhas das quais trabalhamos fora da agência, não avisamos nada a nossas secretárias. As campanhas, apresentações e tudo o que envolve a competição para a vaga de diretor de marketing ocupa muito tempo e dedicação, dessa forma, Conrad saberia o quão responsáveis e comprometidos somos.—
Eram quase cinco da tarde quando cheguei no hospital. Eu olhei ao meu redor e vi os corredores frios, o chão parecia estar oscilando sob meus pés e tinha quase certeza de que, em algum momento, eu iria desabar. Voltei a atenção para o vidro que me permitia ver meu pai. Ele estava deitado no leito. Os aparelhos o mantinham respirando, e a minha própria respiração parecia pesada, como se eu estivesse me afogando. Levei a mão até o vidro. Toquei-o. Meus olhos passaram pelo quarto branco, o leito, os aparelhos, uma cadeira do lado da cama. Vi Kathryn sentada lá, massageando a têmpora. Quando ela percebeu que eu estava a observando, me olhou de canto e sorriu timidamente. Eu suspirei, o vidro embaçou.Me dirigi à porta e abri, entrando no quarto. Enfiei as mãos nos bolsos e me aproximei. Meus olhos caminharam até ele na cama. Parecia rel
Comecei a me afastar de Kathryn aos poucos, e Deus… aquilo foi doloroso. Nossas ideias, desejos e encontros se tornaram cada vez mais escassos. Eu mal a via ultimamente. Por isso, ela marcava, todos as quartas, o almoço. Era a única oportunidade de nos vermos, de ter uma conversa decente, mas a cada almoço, nos perdíamos mais. Nunca fomos inseparáveis, mas isso não significava que não nos importássemos um com o outro. E agora, nos confrontamos quase sempre.— É mesmo — concordou. — Mas não é culpa sua. Eu decidi que… — ela respirou profundamente e olhou para mim. — Que vou tentar fazer inseminação artificial. O Paul ainda não sabe, mas… — seus olhos se encheram de dor, e ela continuou: — eu cansei. Eu não aguento mais. É como se tudo estivesse contra mim, e carregar esse peso… eu não aguento mais, Chase. — Beijei seu cabelo, apertan