Levantei a sombrinha e a segurei firme, tão firme que notei que os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu esperei o carro passar, e a m*****a sombrinha ameaçou voar. Justamente nesse momento, quando tive a oportunidade de avançar, o carro cantou pneu e explodiu uma poça d'água. Eu me joguei para trás, murmurando palavrões que nem sabia que conhecia. O babaca ainda teve a audácia de colocar o braço para fora da janela e me mostrar o dedo do meio!
A raiva me atingiu naquele instante. Estreitei os cantos dos olhos e me preparei para correr, eu poderia facilmente alcançá-lo e jogar a sombrinha no seu precioso BMW preto. Eu ficaria realmente super feliz. Baixei os olhos e notei meu vestido ensopado. A chuva começara a me encharcar desde que saí de casa. Eu esperava não pegar carona com Brad hoje, meu vizinho. Ele teve uma queda por mim desde que mudei do apartamento em que estava para esse — o apartamento era menor e custava muito mais. Minha vida se reajustou desde que perdi meu emprego, e tive que avaliar tudo desde então. Eu sei que usar um cara que tem uma queda por você é ruim, mas falando sério, ele gosta de fazer isso. Ninguém foi preso por iludir um cara. Olhei para os dois lados e constatei que não viria nenhum carro. Corri, atravessando a rua, até chegar do outro lado. Encarei a fachada do Pet's Cute Shop e sorri. Era exatamente aqui. Olhei no papel amassado que segurava e entrei, verificando o lugar. Vi Abby afagando um cachorrinho. Ela vestia uma blusa rosa, laço da mesma cor e saia jeans. Quando me viu, sorriu. Fechei a sombrinha e a coloquei no meu pulso. Sem querer, esbarrei numa pilha de ração para gato "Hunger Cat" que estava na prateleira. Os sacos despencaram no chão, como dominó. Abby estreitou os olhos e levantou uma sobrancelha. Ela levantou e o cachorro choramingou, pedindo mais carinho. Ele se ergueu sobre as patas traseiras e apoiou as patas dianteiras no cercado amarelo. Um filhotinho fofíssimo! Abby enfiou as mãos nos bolsos e o sorriso sapeca apareceu. Notei só então que a sombrinha estava pingando. Ai, Deus… você é terrível, Annelise! — Oi — ela disse. Eu corri para mais perto e pulei, agarrando-a num abraço apertado. — Alguém morreu? — brincou. Geralmente, eu quase nunca a visitava. No mês passado, lembro de tê-la visto por somente um dia na semana. A mudança me esgotou e passava o resto do dia procurando emprego. Era um inferno. Eu a soltei. — Tive tempo hoje — informei, passando o braço pelo seu e a puxando, guiando-a para dentro de sua própria loja, como se já soubesse o que cada cantinho daquele lugar guardava. — Então resolvi visitar a minha irmã favorita. — Eu meio que fiquei com medo agora. — Inclinou a cabeça. — O que aconteceu? Desde que eu fui demitida do meu antigo emprego, evitei falar com Abby. Ela era tipo a realização de um sonho só que não imaginado por ninguém, sabe? Aos vinte e seis anos, estava casada com um cara lindo, Mike Montgomery, enfermeiro, tinha duas filhas lindas — duas pestinhas chamadas Hannah e Maryah — e conseguiu abrir o pet shop que sonhava desde que era pequena. E eu, aos vinte e cinco, não conseguia nem manter um emprego bobo de secretária! Nós éramos competitivas e isso seria declarar que eu tinha perdido a rodada. — Nada — garanti. Ela parou, franziu a testa e eu completei: — tá… eu meio que encontrei um emprego. O salário é bom, o emprego é bom… — Mas? — Mas o chefe é péssimo. — Disse com veemência. — Ele me ignora, é abusado e um babaca. — Ela assentiu. — E eu não sei se… — as palavras morreram na minha boca. Ela pegou a minha mão e seu toque quente aqueceu meu peito. A Shaffer & Sheppard era o sonho de qualquer um. O emprego era perfeito e legal. Há uma semana, quando me candidatei à vaga de secretária de um tal de Chase Ward, não fazia ideia de que o cara era praticamente o pupilo do diabo. O desgraçado me mantinha até tarde todos os dias, mal aparecia no escritório e me obrigava a fazer suas exigências idiotas. Durante a entrevista, ele ficou me encarando como se eu não passasse de uma coitada pedindo esmolas. Mas se tem uma coisa que devo admitir, é que o cretino é terrivelmente sexy. A cara perfeita — que eu supostamente desejei lamber — era composta por olhos azuis vibrantes, um sorriso cheio de dentes dolorosamente atrevido e uma covinha que era puramente tentadora. Eu talvez possa ter imaginado como o corpo musculoso é por trás do terno feito sob medida. Mas nada disso apaga o fato de ele ser um babaca metido. Eu cogitei sair do emprego, mesmo fazendo apenas duas semanas e meia que estou nele. Eu precisava da opinião de Abby, porque ela era muito mais sensata do que eu jamais fui. — Você está pensando em sair do emprego? — ela leu minha mente, mas sua voz pareceu estranhamente surpresa, como se eu tivesse acabado de dizer que sequestrei um elefante. — Não. — Não? — ela fez que não com a cabeça. Eu segurei a bolsa debaixo do braço. O que eu queria? Afinal, ela era a sensata. — Você não pode desistir de um emprego por causa do seu chefe, Anne — ela disse, passando por mim e se abaixando. Pegou um dos sacos de ração e a colocou de volta na prateleira vermelha. Ela encaixou outra embalagem no gancho sobre a outra. Tamborilei os pés no piso de lajotas salpicado por patas e apoiei as mãos nos quadris, esperando o resto da resposta. — E, além do mais, você precisa do emprego. — Ela me olhou por cima do ombro. Estava certa. Abby levantou e atravessou a loja. Eu a segui. Ela se colocou na frente de um cercado cheio de gatinhos. Pegou cada um, deu um beijinho e desejou boa-noite. Meus ombros baixaram, mais leves. O dia foi longo hoje, mas meu chefe me libertou mais cedo, porque tinha uma festa chique e fútil para ir com o Sr. Sheppard, o irmão do Sr. Shaffer, que fundou a empresa. Eu mal podia esperar para chegar em casa e tirar meus sapatos de salto, que apertavam tanto o meus pés, que pensei que iriam explodir a qualquer momento. Abby beijou o décimo gatinho e olhou para mim. — O que ainda está fazendo aqui? — perguntou. Esse era outro ponto interessante da nossa relação: eu meio que só a visitava quando precisava de algo — que realmente nem precisava. Ela era a minha irmã mais velha, então era natural que qualquer dúvida maior que eu pudesse responder fosse tratada pelo filtro divino dos irmãos mais velhos. Me fingi de boba. — Quer que eu vá embora? — Não, mas geralmente você só me usa e j**a fora. — Um sorriso passou por meus lábios. — Quer jantar? O Mike fez macarrão com queijo.Eu avaliei a ideia. Sim! Meu estômago gritou. Não. Minha mente decretou. — Não posso. Tenho que responder alguns e-mails, verificar as tarefas que meu chefe pediu que fizesse e organizar a agenda pela terceira vez num único dia — ela fez uma careta. — Que chato. — Pois é. ***Fui direto para casa depois de visitar minha irmã. Ela passou quase meia hora falando sobre Hannah e Maryah. Depois, corri para o metrô e cheguei em casa. Tomei um banho rápido, vesti um roupão e caí na cama, cercada de papéis, notebook e almofadas coloridas — o meu maior segredo desde o colegial. Respondi alguns e-mails, bebi uma caneca de café que preparei assim que cheguei e me aconcheguei debaixo do cobertor. Entrei no site de chat anônimo que descobri há um mês e falei com um estranho por quase uma hora. O Secret People Chat era quase um vício. Meu pai dizia que era errado conversar com estranhos, mas eu não o escutei, porque desde os quinze anos amo bater papo com pessoas desconhecidas. Antigamente, eu costumava m****r bilhetes para colegas de escola e sempre conversávamos por aqueles bilhetes. Isso evoluiu com o passar do tempo, e encontrei chats anônimos na internet. Mas então, no mês passado, quando me peguei no pior momento da minha vida, descobri o Secret People Chat. Era incomum. Único. Eu fui confortada por pessoas que nem conhecia, mas que pareciam estar do meu lado, me apoiando, desde que nasci. Era surreal.Abri o notebook e procurei por alguém. Vi uma bolinha no canto superior. Sr. Bolas Azuis.Sorri, achando engraçado. Eu abri o chat e digitei: Quanto tempo? — A. Perguntei, me referindo à última vez que gozou. As bolinhas começaram a subir e descer. A empolgação característica envolveu meu estômago. Sr. Bolas Azuis. disse: Depende. — Sr. Bolas Azuis.Duas horas antesFiquei olhando a porra de um lustre por quase meia hora. Ele pendia do teto lindamente, indicando as pessoas que pisavam no chão daquele salão eram incrivelmente ricos. Cheguei uma hora adiantado, como sempre, e prestei atenção a cada detalhe do salão luxuoso em que estava. As paredes eram pintadas de branco e em intervalos, paredes de vidro e madeira subiam do chão de mármore, se encontrando no teto alto.Estava esperando o sr. Sheppard, meu chefe. Hoje é definitivamente o dia mais feliz de toda a minha vida. Ele finalmente vai reconhecer que eu sou digno de uma promoção. Em toda a história da Shaffer e Sheppard eu fui o cara que mais levou clientes para a empresa. O sr. Sheppard me garantiu que se eu fisgasse mais um cliente hoje, poderia espalhar para o mundo que seria o novo diretor de marketing. Isso com certeza me deixaria em um patamar mais alto que Alan Patrick, o cara que está concorrendo comigo.Ajeitei-me na cadeira e vi Alan do outro
Meus olhos abriram rapidamente.Olhei em minha volta e vi a cama vazia. Um lapso de memória percorreu meu cérebro e lembrei da noite de ontem. Minha cabeça doía.Aspirina.Saí da cama e fui para o banheiro. Agachei, procurei o maldito pote de aspirina e tomei uma. Levantei. Olhei-me no espelho e ajeitei os cabelos castanhos médios, penteando-os com os dedos para trás. Pisquei para meu reflexo. Eu tinha olheiras enormes debaixo dos olhos.Às oito da manhã, já estava no trabalho, e no trajeto, me preparei para o que iria acontecer assim que eu pusesse os pés no maldito escritório do Sr. Sheppard.Eu respirei fundo, passei no escritório de Alan e bati à porta. Ele atendeu, mostrando o sorriso convencido. Ah… como eu queria quebrar seus dentes!Minha cabeça voltou a doer.— Parabéns — eu disse, colocando a cabeça para dentro. — Foi uma vitória injusta, mas não deixa de ser uma vitória.Ele se sentou e ergueu uma
Ele fechou a porta e eu fiquei boquiaberta.O que ele quis dizer com " talvez bata o recorde"?Estreitando os olhos, voltei para a minha mesa e deixei os papéis e pastas sobre os outros.Respirei fundo.Preciso de café.Acordei super cedo hoje. Mal dormi ontem à noite. Depois que conversei com o Sr. Engraçadinho, o vizinho do lado começou a arrastar os móveis. Eu tentei de todas as formas possíveis pregar os olhos, mas não consegui.Fui para a copa e encontrei Susan, do RH. Ela vestia uma blusa bege e saia cinza. Conversamos algumas vezes. Ela é super legal, e me ensinou a como lidar com o Sr. Cabeça Esquentada. Ela disse que ele rosnava e mostrava os dentes, mas era incapaz de morder — talvez porque tivesse medo de pegar doença?— Uau. Você está destruída — ela disse, quando me aproximei. Respirei fundo. — Precisa urgentemente disso. — Ela passou uma xícara de café por cima do balcão e eu sorri, agradecida.— A
O meu novo chefe saiu mais cedo do trabalho para um compromisso. Eu consegui sair às oito, depois de remarcar reuniões e responder alguns e-mails e organizar documentos. O cara era uma máquina! Em menos de uma semana, tinha conseguido trazer uma conta super importante para a empresa. Susan estava certa. Abby também. Se eu conseguisse superar as outras secretárias, iria garantir o emprego. Aturar Chase não era tão difícil, apesar de ser bastante irritante de vez em quando.Quando cheguei em casa, pedi uma pizza e Brad apareceu, pedindo para usar o banheiro. Eu disse que não tinha problema. Cinco minutos depois, ele saiu enrolado numa toalha e eu olhei sua bunda sob o tecido. Até que não era tão mal… ele agradeceu e foi embora.O cara com quem eu bati papo ontem, o Sr. Bolas Azuis, mandou uma mensagem:Sr. Bolas Azuis: Como foi o dia?Eu achei estranho ele perguntar isso. Fiquei pensando nele o resto da noite, quando me enviou a primeira mensa
***Eu acordei animada. Fiz ioga e descobri que não sou tão boa nisso. O resultado foi uma dor quase insuportável nas costas. Devo ter dado um jeito ao fazer uma posição de modo errado. A animação ainda me tomava. Às oito em ponto, estava na Shaffer & Sheppard, cantarolando "Shape of You" de Ed Sheeran. Quando sentei-me à minha mesa, tirei os fones de ouvido e levantei a cabeça para ver se Chase já havia chegado. Para a minha surpresa, a resposta era que sim. Em todos os dias em que trabalhei, ele nunca havia chegado tão cedo. Imaginei que estivesse aprontando algo. Talvez estivesse escolhendo a próxima vítima.O interfone da minha mesa tocou. Eu atendi.— Sr. Ward? — Perguntei.— Venha até minha sala.Eu levantei e me dirigi até seu escritório no final do corredor. A luz estava acesa, por isso que percebi que estava ali dentro. Bati à porta. Ele mandou eu entrar. Vestia um terno azul escuro, que de algum jeito realçava o olhar acinze
Susan me chamou para almoçar num restaurante italiano perto do trabalho, e apesar de eu não conhecer o restaurante, notei que ficava perto do Pet's Cute Shop, o pet shop da minha irmã. Ela quase caiu para trás quando eu contei que Chase Ward tirou o terno na minha frente, e eu pude apreciar o monumento debaixo da beca elegante. Ele era realmente uma delícia. Durante o trajeto, me lembrei de Chase abrindo cada botão; parecia um espetáculo. Cada botão aberto, cada centímetro de pele exposta, um arrepio percorria meu corpo. Eu fiquei enrijecida diante dele, sem palavras. Ele estava certo. Eu havia amado a visão, e era agradecida por isso.Quando chegamos no restaurante, ela agarrou o meu braço e apontou para uma mesa no canto, dizendo que era a melhor opção. Ela foi na frente e eu a segui. Puxei uma cadeira pesada de madeira e ela se sentou à minha frente, desenhando o maior sorriso que podia com os lábios. Susan era legal. Assim que pus os pés na Shaffer & Shepp
A reunião com o sr. O'Donnell não tinha nem começado e eu já achava que iria destruir Alan Patrick, o Sr. Coceira Persistente. O cara estava do meu lado, e enfiou " discretamente" a mão dentro da cueca, ajeitou o Alan Junior e retirou, levando-a até o nariz. Franzi o cenho, enojado e ele olhou para mim, dando de ombros.Tive que trocar de terno antes de vir, porque minha secretária atrapalhada derramou café em mim. Mas então, o sr. Sheppard me chamou para a sua sala logo depois que mandei Adele ir lavar o paletó.O sr. Sheppard havia marcado no Perfetto, um restaurante italiano perto do prédio da agência. Como ninguém de lá poderia saber do nosso envolvimento e das campanhas das quais trabalhamos fora da agência, não avisamos nada a nossas secretárias. As campanhas, apresentações e tudo o que envolve a competição para a vaga de diretor de marketing ocupa muito tempo e dedicação, dessa forma, Conrad saberia o quão responsáveis e comprometidos somos.—
Eram quase cinco da tarde quando cheguei no hospital. Eu olhei ao meu redor e vi os corredores frios, o chão parecia estar oscilando sob meus pés e tinha quase certeza de que, em algum momento, eu iria desabar. Voltei a atenção para o vidro que me permitia ver meu pai. Ele estava deitado no leito. Os aparelhos o mantinham respirando, e a minha própria respiração parecia pesada, como se eu estivesse me afogando. Levei a mão até o vidro. Toquei-o. Meus olhos passaram pelo quarto branco, o leito, os aparelhos, uma cadeira do lado da cama. Vi Kathryn sentada lá, massageando a têmpora. Quando ela percebeu que eu estava a observando, me olhou de canto e sorriu timidamente. Eu suspirei, o vidro embaçou.Me dirigi à porta e abri, entrando no quarto. Enfiei as mãos nos bolsos e me aproximei. Meus olhos caminharam até ele na cama. Parecia rel