Chase

Meus olhos abriram rapidamente. 

Olhei em minha volta e vi a cama vazia. Um lapso de memória percorreu meu cérebro e lembrei da noite de ontem. Minha cabeça doía. 

Aspirina. 

Saí da cama e fui para o banheiro. Agachei, procurei o maldito pote de aspirina e tomei uma. Levantei. Olhei-me no espelho e ajeitei os cabelos castanhos médios, penteando-os com os dedos para trás. Pisquei para meu reflexo. Eu tinha olheiras enormes debaixo dos olhos. 

Às oito da manhã, já estava no trabalho, e no trajeto, me preparei para o que iria acontecer assim que eu pusesse os pés no maldito escritório do Sr. Sheppard. 

Eu respirei fundo, passei no escritório de Alan e bati à porta. Ele atendeu, mostrando o sorriso convencido. Ah… como eu queria quebrar seus dentes! 

Minha cabeça voltou a doer. 

— Parabéns — eu disse, colocando a cabeça para dentro. — Foi uma vitória injusta, mas não deixa de ser uma vitória. 

Ele se sentou e ergueu uma sobrancelha. 

Babaca! 

— Eu aprendi com o melhor — ele disse. Eu sorri, entrei na sala e andei até sua mesa. O mogno dava um ar rústico ao ambiente. Apoiei meus  braços sobre a mesa e inclinei-me na sua direção. 

— Fico feliz que reconheça — disse, encarando-o. Meus olhos percorreram o terno preto com uma horrorosa gravata vermelha e pousaram na cara de bocó de Alan. — Aproveite. Vai ser por pouco tempo. 

Virei, ajeitei o blazer e respirei, andando até a porta. 

— Tchauzinho, filhote. 

Fechei a porta com um baque forte. 

Agora era hora de enfrentar a fera. 

Me dirigi até o escritório do Sr. Sheppard e bati à porta. Ele mandou entrar e eu abri a porta lentamente, verificando se não havia ninguém por lá além dele. Então, entrei. 

— Olá, Chase — ele disse. — Você sabe o motivo de estar aqui, não é?  

Eu fiz que sim. 

É claro que eu sabia. Eu trabalhava todos os dias da minha vida para conseguir subir os degraus. Assim que me formei, quando nenhuma agência de publicidade queria contratar um cara inexperiente, eu encontrei apoio na Shaffer & Sheppard. Bom, na verdade, eu conheci o Sr. Shaffer, irmão do Sr. Sheppard. O Sr. Shaffer era um homem bondoso e gentil. Ele fundou a Shaffer e Sheppard do zero, ao contrário do irmão, que era um visionário. Eu trabalhei como garçom num evento e ofereci a última taça de bebida para ele, antes de dizer como a campanha em que estavam trabalhando era péssima. Eu saía com a secretária de um dos gerentes de conta e isso me permitiu uma vasta possibilidade de informações fresquinhas. 

Ele apontou para uma das cadeiras acolchoadas de visitantes e eu sentei, cruzando as pernas. 

— Sobre quem ganhou o cliente. — Disse. Ele fez que sim e eu respirei fundo, como se a simples menção significasse um peso maior do que eu poderia carregar. 

Conrad Sheppard é um homem sem igual. Ele não se engana tão fácil, mas leva a sério o ditado " matar ou morrer" e acredita que não existem injustiças, apenas oportunidades — não importa de quem você vai ter que furar o olho para consegui-la. Eu o admiro, porque é inabalável. Quando o irmão morreu, todos ficaram inseguros sobre como ele iria lidar com o luto, afinal, os dois eram inseparáveis. Mas para a surpresa de todos, ele não se deixou abalar. 

Minha motivação era acordar todos os dias e parecer um pouco com ele, mesmo que meu interior estivesse quebrado, tinha que parecer inabalável. 

Ergui um pouco o queixo e o vi pegar os óculos de armação preta. Ele pegou alguns papéis e olhou por cima deles na minha direção. 

— Você sabe que eu não sou a favor do favoritismo, não é?  — Eu fiz que sim. — E que apesar dos esforços, sempre existem contratempos. Mas, eu percebi que você é excepcional. Você nunca se cansa e sua ganância é o poder que lhe precede. Eu gosto disso em você, Chase. Sem dúvidas seria o novo diretor de marketing, se esta vaga estivesse disponível. — Ele sorriu, se inclinando sobre a mesa. Pousou os papéis e entrelaçou os dedos. 

Foi um teste. 

Foi um teste! 

Arregalei os olhos e segurei o queixo, talvez com receio de que desabasse na frente dele. 

— A esta altura você já pode concluir qual a minha intenção. 

— Avaliar qual é o melhor?  

Ele assentiu. 

— Pretendo demitir quem não estiver lá. E isso inclui você, se não se destacar. Ao final, quem ganhar a próxima etapa, vence a disputa. 

Eu sorri, vitorioso. 

Chupa essa manga, Alan Patrick. 

Estendi a mão e ele apertou. Eu levantei e andei na direção da porta. 

— E Chase? — Ele disse. Virei na sua direção. — Tente descansar um pouco. Quem sabe uma boa noite de sono o ajude com essas olheiras. 

Assenti mais uma vez e me encaminhei para a minha sala. Encontrei a nova secretária apanhando alguma coisa no chão, desesperada. 

Só me faltava essa… 

Aproximei-me e notei a saia preta e justa abraçando a bunda. Nada mal. Passei por ela e pigarreei, chamando sua atenção. 

— Sr. Ward — ela levantou a cabeça e pegou uma das pastas, colocando-a no topo da pilha que carregava. — Bom dia. 

Os cabelos loiros emolduravam o rosto bonito. Ela era até que bonita. Vestindo um blazer vermelho e saia preta, com sapatos de salto, era sexy. As mechas do cabelo caíam do coque bagunçado. 

Qual é o nome dela, mesmo? 

— Bom dia, Adele. 

— Annelise. 

— Annelise — experimentei. — Há quanto tempo trabalha para mim, Adele? — perguntei, enfiando uma mão no bolso. 

Ela levantou, me lançando um olhar crítico, como se estivesse me julgando. 

— Há duas semanas e meia. 

— Hum. Espero que se dedique — eu disse, virei e entrei no escritório, completando: — talvez bata o recorde. 

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