— Às vezes a saudade machuca bem mais que um ferimento físico. — Toco meu peito sentindo uma dor profunda dentro de mim. — Sinto muita falta dela, éramos amigas, contávamos tudo uma à outra, mas ela demorou para me falar que estava doente. Eu estava tão ocupada com a faculdade que não prestei atenção que ela sofria. — Pais são superprotetores, talvez, ela não tenha te contado, porque quis te poupar, não estou dizendo que foi certo, mas ela teve o motivo dela — Sei disso, Mainha era muito protetora comigo e Levi, sempre nos colocou em primeiro lugar, por isso não a culpo, Maria. — E não deveria se culpar também. — Eu não consigo. — Sei minha linda. As perdas, normalmente fazem isso, atingem a pessoa em cheio, as fazem se arrepender, desesperar, ficarem depressiva e muitas outras emoções. Lembrar dos bons momentos pode ser uma alternativa interessante para lidar com a dor e a saudade. E a sua autoestima baixa? — O que tem ela? — Mas cedo te elogiei, disse que você é linda, gosto
— Não, não me sinto. — Digo pela primeira vez sentindo o choro me tomar sem controle algum. Os soluços balançavam meu corpo e Maria me abraçou apertado e eu retribui.— Shiii! — Ela disse ainda me abraçando. — Não desanime. Apenas se lembre, Bea, que pode ser uma maratona, não cem metros rasos. — Balancei a cabeça concordando.Ficamos abraçadas por longos minutos até sentir que minhas emoções ficaram controladas. Maria prometeu realizarmos mais sessões e eu aceitei, pois, sei que me fará bem.Quando vimos, já era quase meio-dia, e como o senhor Edward havia dado folga a ela, nós almoçamos, para depois comprar algumas roupas de frio e para o meu dia a dia. Após as compras, eu implorei a Maria para me passar a nota de tudo que foi comprado, mas ela não quis me dar, dizendo ser ordem do senhor Edward.Se ele pensa que pagará pelas minhas roupas está muito enganado. Penso determinada.Para não esquecer, aproveitei para comprar o banquinho, contudo, como achei os banquinhos baixos demais,
As horas passaram rapidamente, eu já havia feito a janta, enquanto a roupa lavava. Após jantar com Levi, o ajudei no dever de casa, depois ele assistiu desenho na sala de estar, enquanto passei as roupas lavadas. Após organizar as roupas do senhor Edward e Felipe no cesto, coloquei no carrinho auxiliar e guardei em seus devidos lugares.O quarto do senhor Felipe era muito parecido com o quarto que eu e Levi ocupamos, claro que a vista da janela dele era mais bonita, enquanto a minha só se via prédios, a dele podia ver algumas poucas árvores. A diferença entre o quarto dele com o meu, eram as cores. A cor cinza era a que mais predominava. As paredes e o teto estavam pintados de cinza-escuro, até os lençóis da cama queen eram cinza-escuro.Agora sei de quem são os lençóis de cama cinza-escuro e claro. Pensei deduzindo que o senhor Felipe é fissurado na cor cinza.Os móveis são cinza-claro. A cabeceira da cama também é uma prateleira, onde havia alguns livros de direito cobertos por capa
Salvador, Bahia! BEATRIZ É noite e o vento forte balançava meus cabelos para todos os lados deixando os meus cachos embaraçados, o suor colava a minha calça, jeans clara e minha blusa, polo ao meu corpo me deixando desconfortável. Caminhei a passos largos pelas ruas do comércio, estava tudo tão silencioso. Alguns carros passavam e meu corpo gelou de medo. O que estou fazendo? Porque eu não dou meia volta? — Porque preciso! —Tento me convencer pela milésima vez. A vida é uma sucessão de escolhas e eu sinto, sinto em meu íntimo que vou me arrepender dessa minha escolha. Ou talvez seja só o medo falando. — Mas agora é tarde! Não dá para retroceder. Se dependesse apenas de mim eu estaria em meu quarto, estudando as matérias atrasadas da faculdade. Pensei, sentindo a tristeza nublar meus pensamentos mais uma vez, mas tão rapidamente surgiu, me obriguei a ignorá-la. Contudo, eu não posso! Não tenho dinheiro para pagar minha faculdade, não tenho dinheiro nem para pegar um
Os seguranças à minha frente usavam a típica farda social, calça, blazer, sapatos, gravatas na cor preta e camisa social branca. Pareciam seguros e altivos. Estava claro estarem acostumados com as mulheres que vem aqui em busca de trabalho. — Ciências Sociais? — Perguntei-lhe. — Isso! — Falta pouco para ela terminar, senhor! Hum! Os senhores podem ver se está tudo certo? — Ah, sim! O pedido de Lourdes é uma ordem para mim. — O entusiasta disse caminhando novamente até a sua mesa, abre um caderno, olha por um instante e depois volta a olhar para mim. — Aqui! Ana Beatriz, uma diária como camareira, oito horas de relógio. — Sim! — Ligarei para, Cláudia, ela que resolve essas coisas. Enquanto ele ligava para senhora Cláudia, o rapaz que me atendeu não tirava os olhos de mim, eu não sabia para onde olhar. — Você daria uma bela de uma puta. — Ele diz como se estivesse me elogiando. Fingir que não ouvir. Troglodita. Meu coração voltou a bater forte e eu fiquei com raiva d
Demorou um pouco até eu encontrar a sala que o segurança havia falado. Virei à esquerda, logo encontrei o corredor largo que ele disse, seguir reto, mas o corredor parecia que não tinha fim. — Puta que pariu. — Esbravejei baixo parando por alguns segundos. Minhas pernas queimavam de um jeito absurdo. — Como trabalharei às 08h00 de relógio assim? Trabalhando. Penso. —Você não tem escolha, Ana Beatriz! Você não tem escolha. — Murmurei. Mesmo não querendo, o ressentimento estava lá em minha voz. Eu não me arrependo de ter deixado meus planos ou a mim mesmo de lado pelo meu irmão, Levi. Longe disso, ele não tem culpa. Mas, não consigo deixar de ficar triste por tudo que estamos vivendo. Respiro profundamente com um pesar no peito e volto a caminhar, sentindo como se estivesse levando o mundo nas costas. Após andar por quase cinco minutos, cheguei em frente a duas salas. Isso ele não me contou. Olhei para a sala da esquerda e estava escrito novamente em letras de imprensa
— Entre! — Ela avisou com um sorriso na voz. Provavelmente rindo de mim por dentro. A porta se abriu e ela olhou em direção à mesma. — Diga Carla. — Olho em direção a porta. A mulher por nome Carla parecia estar cansada e assustada. Ela aparentava ser um pouco mais velha que a senhora Cláudia, seu cabelo loiro estava cortado em chanel, ela não parecia se importar com roupas, usava calças, jeans surrada e uma blusa de malha na cor preta, com alças tão finas que poderiam se partir a qualquer momento, e um decote tão aberto que deixavam metade de seus seios amostra. Encarei a tal da Carla por alguns segundos, a cumprimentei com um sorriso e voltei a olhar para frente. Constrangida, foquei os meus olhos em dona Cláudia outra vez. — Senhora, ele chegou e quer falar com a senhora. — Ao ouvir as palavras o sorriso da senhora Cláudia morreu na hora. Uma coisa que sou boa é ler as expressões das pessoas, seja lá quem for esse cara a deixou bastante aborrecida. — Agora? — Sim! Com
— Porque não tinha essa opção de curso quando concorri a bolsa pelo Sisu. E como uma pessoa que nem tem condições em comprar roupas decentes fará moda? Questionei-me em pensamento. Quero ser uma “design”, ditar a moda, criar roupas que todos queiram usar, mas parece um sonho tão grande para mim. Sim, eu poderia começar costurando, colocando meus desenhos em prática, mas tecido está caro, eu não tenho condições e Mainha nunca tinha o suficiente, então deixei esse sonho de lado. — Ah! Você fez pelo Enem. — Sim, não tenho condições de pagar uma faculdade. — Digo com pesar. — Entendo! — Ela fica em silêncio e eu me sinto no dever de quebrar o silêncio constrangedor que se formou entre nós. — Eu e Lourdes fazemos... Quero dizer, fazíamos a aula de saúde pública juntas, no início eu e ela nos sentíamos deslocadas, ela por ser a mais velha e eu por ser a única negra cotista na sala. Nós meio que criamos uma proximidade e ficamos amigas. Ela só me contou ser uma… — Calo-me sem s