"Eu sinto tanto, tanto," Mariah levanta as mãos em um gesto falso de inocência. "Eu sinto muito mesmo, mas aquele café estava horrível!"
O olhar de Ethan recai sobre mim, sua expressão carregada de irritação, como se me culpasse pelo incidente.
Dora entra na cozinha, sua presença imponente acentuada pelos olhos azuis penetrantes e pelos fios prateados elegantemente penteados em seu cabelo.
Vestida com um terno sob medida que exala sofisticação, ela anuncia: "Bom dia," seu olhar pousando em mim com uma intensidade inconfundível. "O que é isso? Você está uma bagunça, menina," comenta, sua voz gotejando desdém, me fazendo sentir pequena e insignificante.
"Eu acidentalmente cuspi nela porque o café estava amargo. Eu vou limpar tudo," diz Mariah.
"Não precisa. Alguém cuidará disso depois," Ethan intervém, sua indiferença cortando mais fundo do que qualquer insulto.
"Vá se limpar," Dora me ordena, sua voz cheia de desprezo, "e chame alguém para limpar essa bagunça." Sua ordem reforça meu sentimento de inutilidade, me deixando apenas para obedecer em silêncio.
Eu corro para fora, mas as palavras de Dora me atravessam como facas. "Em três anos, ela não aprendeu a fazer um café decente? Ela não é digna de ser uma Banks, querida."
"Me desculpe pela bagunça, Sra. Banks. Ethan foi tão gentil em me deixar ficar, e olha a bagunça que fiz logo na primeira manhã," a voz de Mariah ecoa com um falso remorso.
"Oh, querida, eu nunca te culparia! Como você poderia saber que o café estava amargo?" A voz de Dora transborda simpatia.
"Eu não poderia," responde Mariah suavemente, suas palavras aumentando o peso da minha humilhação.
"Fique o quanto precisar," Ethan diz, seu tom educado e acolhedor, um contraste claro com seu comportamento habitual comigo. "Estou indo."
"Posso ir com você?" Mariah pergunta.
"Você consegue se arrumar em 15 minutos?" Ethan responde, ainda cortês.
"Claro!" A resposta de Mariah está cheia de entusiasmo, e eu não consigo evitar sentir o peso da minha própria insuficiência em comparação.
Enquanto os passos excitados de Mariah se afastam da cozinha, eu corro para o meu quarto.
Com as mãos trêmulas, tranco a porta atrás de mim e desabo na cama, enquanto as lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Eu sei, maldição, eu sei que traí a confiança deles há três anos. Eu sei que fui uma cobra e que eles não mereciam isso. Eu sei, eu sei. Mas sinto falta do afeto de Dora, da atenção de Ethan. Sinto falta de fazer parte da família.
Deus, ele não consegue ver o meu arrependimento?
Olho para o carro de corrida em miniatura que era para ser o presente de aniversário dele. Enquanto isso, meu telefone toca. Não estou acostumada a receber ligações, especialmente de números desconhecidos, então enxugo minhas lágrimas e atendo.
"Blair Banks," murmuro, minha voz trêmula enquanto luto para conter as lágrimas.
"Sra. Banks..." vem uma voz masculina, pesada com anos de palavras não ditas.
Aquela voz. A voz que eu havia enterrado fundo, apenas para encontrá-la ressurgindo com uma clareza assustadora.
"Drake," sussurro, o nome ficando preso dolorosamente na minha garganta.
Minhas emoções colapsam em silêncio, me deixando incapaz de articular a turbulência dentro de mim.
"Eu sei que prometi não ligar. Você tomou sua decisão, e eu respeito isso. Eu realmente respeito. Mas algo aconteceu."
"Me diga," digo, meu olhar fixo na porta, certificando-me de que ninguém entrou.
"Com a morte de Jean..."
"Eu não quero falar sobre Jean," interrompo bruscamente.
"Blair..." Seu suspiro é pesado, carregado de uma história não dita. "Você acha que eu não me lembro? Você acha que eu esqueci das coisas que você me pediu?"
Eu engulo em seco, "O que há de errado com Jean?"
"Jean era seu pai," ele diz, sua voz firme, mas carregada de amargura. "Eu sei que você ainda carrega esse ódio, mesmo agora que ele se foi. Jean não te deixou nada além de cicatrizes."
"Diga mais alto, Drake!" exijo, minha frustração transbordando.
"Jean te deixou uma fortuna, Blair," ele continua, as palavras tingidas de uma amarga ironia.
Eu rio, um som áspero e vazio. "Você quer que eu fique com o dinheiro sujo dele?"
"Ambos sabemos que não era dinheiro sujo. Ele foi um monstro para você, sim, mas sua riqueza não foi mal adquirida. Foi a única coisa que ele te deu."
"Você passou três anos me evitando, e agora liga para falar de Jean. Eu esperava mais de você."
"Se você quer deixar essa fortuna apodrecer nas contas de Jean, fique à vontade. Mas saiba disso, Blair, acho que você está cometendo um grande erro."
"Eu não me importo com sua opinião.""Sim, você se importa," ele insiste, sua voz firme. "E você vai desligar esse telefone e reconsiderar a herança que te foi dada. Pense nisso, Blair. Me ligue mais tarde."**"Ethan Banks foi visto beijando a modelo Mariah Donovan. O casal está de volta?"Leio repetidamente a notícia, cada palavra cortando mais fundo do que a anterior, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto a cada olhar. As revistas e sites de fofoca já espalharam a notícia sobre Ethan e Mariah, o relacionamento deles estampado para todos verem.Parece que a única pessoa que não sabia era eu.Retoco cuidadosamente minha maquiagem, o rímel passando pelos meus cílios pela terceira vez nesta noite. Parada diante do espelho, espero o inevitável, o evento iminente da noite: a festa de aniversário de Ethan.Com o coração pesado, dou uma última olhada em mim mesma no espelho, tentando mascarar a dor com uma fachada de compostura. O peso da traição recai pesadamente sobre meus ombros enquan
"Se o Ethan realmente te desejasse, ele teria me largado. Três anos atrás, ele teria pedido a sua mão.""É isso que você acredita?" ela provoca, seu olhar penetrante enquanto ela diminui a distância entre nós. "É por isso que você finge não ver quando eu entro na cama dele? Ou quando eu uso as malditas roupas dele?" Seu sorriso se alarga, desafiador em seus olhos. "Sabe, o Ethan até me convidou para viajar com ele na próxima semana. Imagine isso, querida, nós dois tomando vinho na Itália por 15 gloriosos dias," ela continua, suas palavras como punhais direcionados ao meu coração. "Exatamente como nos velhos tempos.""Então, parece que você já tem o que quer. Ele é todo seu," retruco, minha voz fria como gelo.Ao olhar para Mariah, uma onda de repulsa toma conta de mim. Apesar de sua aparência deslumbrante, há algo vazio em sua beleza, algo que parece fabricado e insincero. Cada movimento que ela faz parece calculado, cada palavra que fala carregada de segundas intenções. É como se ela
Enquanto a porta abre e o rosto preocupado de Jena aparece, uma mistura de alívio e terror inunda meus sentidos."Sra. Banks!" A voz de Jena carrega alarme, seus olhos arregalados de preocupação.Mas, mesmo enquanto estendo a mão para ela, a escuridão toma conta da minha visão, me engolindo completamente com seu abraço sufocante.**Sentada na sala de estar mal iluminada, dou um gole no chá perfumado que Jena preparou meticulosamente, o calor oferecendo um conforto passageiro em meio à tempestade que se forma.Ding.O som ecoa pelo silencioso apartamento quando o elevador chega ao seu destino, sinalizando uma chegada no meio da noite. Com um sobressalto, levanto-me da cadeira, meu coração batendo forte de apreensão, minha mente ainda processando os eventos que ocorreram mais cedo.Ao sair do elevador, uma figura emerge das sombras, e meu estômago se revira de medo ao reconhecer a expressão arrogante de Mariah."Você perdeu esta noite. Foi incrível," ela provoca.Que vadia!"Eu não per
Caminho até o elevador e pressiono o botão. Ethan não acredita em mim, permanecendo imóvel nas escadas. Enquanto isso, Mariah sorri atrás dele.Ethan não percebe que eu estava lhe dando o maior presente de aniversário possível: um caminho claro para seguir em frente com Mariah.Com um movimento brutal da minha mão, arranco o anel do meu dedo, lançando-o impiedosamente ao chão, onde cai com um estalo agudo."Não ouse deixar este apartamento," Ethan murmura, sua voz tensa de urgência, enquanto desce as escadas.Mas é tarde demais.Ao entrar no elevador e pressionar o botão para o andar térreo, Ethan corre em minha direção, seus olhos suplicantes, sua voz quebrando de desespero enquanto grita: "Blair!""Adeus," eu silencio os lábios.E as portas se fecham antes que ele possa me alcançar, cortando seu pedido angustiado e me deixando sozinha no silêncio sufocante de nosso casamento destruído.Os punhos de Ethan batem contra a robusta porta de aço, uma tentativa fútil de impedir minha parti
Beep.Beep.Beep.Acordo na cama do hospital. O ambiente branco, limpo e quente é muito melhor do que a rua onde desmaiei de dor. Apenas o leve cheiro de antisséptico paira no ar, um lembrete constante de onde estou e do que me trouxe até aqui.A camisola do hospital cai solta sobre meu corpo, seu tecido branco impecável sentindo-se frio e clínico contra minha pele. Não posso deixar de me sentir exposta, vulnerável, como se a vestimenta frágil fosse uma metáfora para meu estado atual.Abaixo das camadas finas, hematomas florescem como flores escuras.Enquanto olho ao redor do quarto, meus olhos se fixam nas duas figuras diante de mim. O médico, com seu jaleco branco e um comportamento tranquilizador, exala um ar de profissionalismo. Ao lado dele está um homem em um terno escuro, sua expressão indecifrável, mas de alguma forma reconfortante.Drake..."Olá. Estou feliz que você acordou. Você consegue falar?" a voz do médico é suave, sua preocupação evidente enquanto ele se aproxima. Ele
Meus olhos se alargam em descrença.Grávida?"Não, isso não pode ser verdade," eu ofego, as palavras escapando de meus lábios com uma mistura de choque e incredulidade.Uma risada incrédula escapa de mim, preenchendo a sala estéril do hospital com um eco oco que reflete o vazio que sinto por dentro.A absurdidade da situação me atinge como uma onda avassaladora, esmagando-me com força implacável. Como eu, Blair Banks, poderia me encontrar em uma situação tão surreal? É como se eu tivesse sido lançada nas profundezas mais sombrias de um pesadelo.E para aumentar o tormento, como esse ser que cresce dentro de mim pode ser meio Ethan, o homem que me traiu, me humilhou e tentou acabar com a minha vida?O médico acena com compreensão, sua expressão suavizando-se com compaixão enquanto fala: "Uma criança pode ser uma surpresa, mas Deus sabe como essas surpresas podem nos curar."Posso realmente encontrar cura e redenção?"Você pode nos dar um momento, doutor?" A voz de Drake é calma, mas fi
4 ANOS ANTESEra uma manhã conturbada na Las Vegas downtown, assim como todas as outras. Os arranha-céus sempre acordados na cidade que nunca dorme exalavam dinheiro e poder. Aquele era um lugar onde as pessoas jamais se sentiriam em casa, no entanto, também não teriam vontade de sair dali.Ainda era muito cedo para o restante do mundo, mas não para a ambição dos cassinos e clubes que abriam as portas e mostravam ao público o melhor da vida; o prazer. Os prédios elegantes ao longo da avenida dispunham de escritórios, boates e residências. A mistura eclética era o que caracterizava a cidade do pecado, sua vastidão e amor pela novidade. O tédio jamais se instalaria em Vegas.Dentre os incontáveis prazeres na cidade do pecado, os departamentos policiais também não descansavam. Os telefones tocavam incansavelmente na delegacia, principalmente nas manhãs de sábado.E no meio do furacão que o departamento mostrava ser, Blair Collins caminhava pela recepção. Ela estava deslocada naquele ambi
Um homem adentrou a sala do inspetor, levando consigo algumas pastas. Ele olhou para a ruiva instintivamente, e levou alguns segundos a analisando, mais do que seria ético. Seu nome era Colton, um agente operacional.- "Bom dia, Colton. Me diga que trouxe boas novidades" Spencer disse, recostando-se em sua cadeira.- "Eu trouxe os relatórios que você pediu"- "Deixe comigo. Esta é Blair Collins, nossa mais nova colega de trabalho"Colton manteve os olhos na mulher por alguns segundos, e então sorriu. Ele gostou da simpatia que o rosto angelical e bonito dela expressava.- "Seja bem-vinda, Blair"- "Obrigada, Colton"Colton deixou as pastas sobre a mesa do inspetor e abandonou a sala. Spencer abriu os relatórios sem muita expectativa, pois sabia que nenhum de seus casos eram resolvidos com facilidade. Blair não entendeu aquela movimentação, e ficou confusa quanto a sua presença naquela sala.- "Sim, eu investiguei sua vida. Eu sei que morou na Filadélfia, e sei que foi uma ótima funcio