Enquanto a porta abre e o rosto preocupado de Jena aparece, uma mistura de alívio e terror inunda meus sentidos.
"Sra. Banks!" A voz de Jena carrega alarme, seus olhos arregalados de preocupação.
Mas, mesmo enquanto estendo a mão para ela, a escuridão toma conta da minha visão, me engolindo completamente com seu abraço sufocante.
**
Sentada na sala de estar mal iluminada, dou um gole no chá perfumado que Jena preparou meticulosamente, o calor oferecendo um conforto passageiro em meio à tempestade que se forma.
Ding.
O som ecoa pelo silencioso apartamento quando o elevador chega ao seu destino, sinalizando uma chegada no meio da noite. Com um sobressalto, levanto-me da cadeira, meu coração batendo forte de apreensão, minha mente ainda processando os eventos que ocorreram mais cedo.
Ao sair do elevador, uma figura emerge das sombras, e meu estômago se revira de medo ao reconhecer a expressão arrogante de Mariah.
"Você perdeu esta noite. Foi incrível," ela provoca.
Que vadia!
"Eu não perdi nada. Você me prendeu!" retruco.
"Não me acuse de algo tão sério. Você provavelmente cochilou e esqueceu," ela responde com desdém.
"Eu estava pronta! Você trapaceou!" Avanço, impulsionada por uma onda de emoção crua, meus punhos cerrados em uma tentativa inútil de recuperar algum controle.
*Pá!*
O estalo agudo da mão de Mariah contra minha bochecha reverbera pela sala, deixando uma marca ardente de humilhação que serve como um doloroso lembrete da minha vulnerabilidade nesse jogo distorcido de poder e manipulação.
"Você ousa levantar a voz para mim, sua vadia insolente? Entenda que há uma nova dona deste lugar, e sou eu. Você vai me mostrar o respeito que eu mereço," ela declara, seus olhos brilhando com uma malícia vitoriosa, cada palavra pingando veneno. "Ethan cometeu um erro no passado quando escolheu você, mas eu não vou deixá-lo cometer esse erro novamente."
Levanto minha mão em um gesto inútil de retaliação, alimentada pela raiva fervente e pelo gosto amargo da traição. Mas antes que eu pudesse liberar minha fúria, um aperto forte como um torno prende meu pulso, interrompendo meu movimento.
Ethan.
Ethan defendendo Mariah.
"Não ouse tocá-la!"
Mariah corre para o lado de Ethan, agarrando-o firmemente como se estivesse buscando refúgio de uma tempestade. "Ela queria me bater, Ethan, só porque eu estava pronta na hora certa e ela não..." A voz de Mariah treme com uma falsa emoção, lágrimas brilhando em seus olhos. "Ela acha que estou tentando roubar o lugar dela," ela soluça, suas palavras repletas de melodrama.
"Você é uma mentirosa desgraçada," sibilo, avançando em direção a eles, mas Ethan rapidamente se coloca entre nós, protegendo Mariah da minha fúria.
"Blair, chega!" A voz de Ethan reverbera pela sala, carregada de frustração e advertência. "Mariah é uma amiga, uma convidada, e eu não vou tolerar que você a trate com violência."
"Ethan, ela..." tento protestar, mas o olhar severo de Ethan me silencia.
"Retraia-se!" ele ordena, com um tom que não admite discussão.
O sorriso de Mariah se alarga, seus olhos brilhando de triunfo enquanto ela se deleita com minha situação.
"Imediatamente!" A ordem de Ethan paira no ar como um trovão, a tensão palpável enquanto eu luto para me submeter.
"Eu não vou me desculpar por chamá-la do que ela é: uma prostituta," declaro desafiadora, minha voz trêmula de raiva contida.
Ethan se aproxima com passos decididos, seu olhar perfurando o meu com raiva fervente. À medida que ele se aproxima, eu recuo instintivamente, o peso da sua desaprovação me esmagando como uma força opressiva.
Até onde ele iria para proteger Mariah?
"Por que você tem problemas com todos ao nosso redor? Não percebe que o maior problema é você?" Suas palavras caem como um golpe pesado. "Sempre foi você."
"Nunca fui tratada com tanta grosseria, querido. Blair é maldosa," Mariah intervém, sua voz carregada de desprezo enquanto me lança um olhar gélido.
"Peça desculpas," a voz de Ethan soa baixa e ameaçadora.
Sentindo o peso de sua insatisfação, engulo meu orgulho e digo as palavras que ele espera, embora tenham um gosto amargo em minha boca. "Desculpe, Mariah," sussurro, minha voz mal audível.
Eles se afastam, Ethan conduzindo Mariah em direção às escadas com um aperto firme, porém gentil, em sua mão, me deixando sozinha em um mar de solidão.
"Por quê? Por que você se importa com ela?" grito, as palavras carregadas de uma desesperança que não consigo conter, as lágrimas ameaçando trair o turbilhão dentro de mim.
"Estou cansado, Blair," Ethan responde, sua voz desprovida de qualquer ternura.
"É seu aniversário. Eu comprei um presente, e você nem mesmo abriu," protesto, o peso da decepção pesado em meu peito, cada palavra um doloroso lembrete de nosso vínculo rompido.
"As coisas não precisam ser difíceis e dramáticas," ele responde cansado, sua exaustão palpável. "Se você está muito estressada, pegue o jato. Vá em uma viagem."
"Eu não preciso de uma viagem," retruco, a amargura em minha voz traindo a profundidade da minha angústia.
"E o que você precisa?" O olhar de Ethan encontra o meu, mas está nublado pela distância. Seus dedos entrelaçados com os de Mariah, um cruel lembrete do abismo que agora nos separa.
Enquanto ele retira o telefone do bolso interno do paletó, uma onda de desespero me invade. Ele vai fazer uma transferência bancária ou ligar para um de seus funcionários para me atender, percebo com o coração afundando.
A indiferença de Ethan é palpável, uma amarga verdade que não posso mais negar. A realização me atinge como um martelo, destruindo as ilusões que abracei por tanto tempo.
Ele não me ama. Ele não se importa comigo.
Eu lutei muito pelo perdão dele. Mas ele nunca quis me perdoar. Todo esse tempo, ele estava focado na vingança. Ethan queria me trair, me machucar e me ver sangrar. Assim como eu fiz com ele.
E por que eu deveria continuar a derramar meu amor e cuidado em alguém que não me oferece nada em troca?
A resposta é clara: eu não deveria.
Liberto-me das correntes da obrigação que me prendem a Ethan Banks. Eu não lhe devo nada, nem meu amor, nem minha lealdade, nem minha devoção!
"Um divórcio," digo as palavras que eu deveria ter dito há muito tempo.
Caminho até o elevador e pressiono o botão. Ethan não acredita em mim, permanecendo imóvel nas escadas. Enquanto isso, Mariah sorri atrás dele.Ethan não percebe que eu estava lhe dando o maior presente de aniversário possível: um caminho claro para seguir em frente com Mariah.Com um movimento brutal da minha mão, arranco o anel do meu dedo, lançando-o impiedosamente ao chão, onde cai com um estalo agudo."Não ouse deixar este apartamento," Ethan murmura, sua voz tensa de urgência, enquanto desce as escadas.Mas é tarde demais.Ao entrar no elevador e pressionar o botão para o andar térreo, Ethan corre em minha direção, seus olhos suplicantes, sua voz quebrando de desespero enquanto grita: "Blair!""Adeus," eu silencio os lábios.E as portas se fecham antes que ele possa me alcançar, cortando seu pedido angustiado e me deixando sozinha no silêncio sufocante de nosso casamento destruído.Os punhos de Ethan batem contra a robusta porta de aço, uma tentativa fútil de impedir minha parti
Beep.Beep.Beep.Acordo na cama do hospital. O ambiente branco, limpo e quente é muito melhor do que a rua onde desmaiei de dor. Apenas o leve cheiro de antisséptico paira no ar, um lembrete constante de onde estou e do que me trouxe até aqui.A camisola do hospital cai solta sobre meu corpo, seu tecido branco impecável sentindo-se frio e clínico contra minha pele. Não posso deixar de me sentir exposta, vulnerável, como se a vestimenta frágil fosse uma metáfora para meu estado atual.Abaixo das camadas finas, hematomas florescem como flores escuras.Enquanto olho ao redor do quarto, meus olhos se fixam nas duas figuras diante de mim. O médico, com seu jaleco branco e um comportamento tranquilizador, exala um ar de profissionalismo. Ao lado dele está um homem em um terno escuro, sua expressão indecifrável, mas de alguma forma reconfortante.Drake..."Olá. Estou feliz que você acordou. Você consegue falar?" a voz do médico é suave, sua preocupação evidente enquanto ele se aproxima. Ele
Meus olhos se alargam em descrença.Grávida?"Não, isso não pode ser verdade," eu ofego, as palavras escapando de meus lábios com uma mistura de choque e incredulidade.Uma risada incrédula escapa de mim, preenchendo a sala estéril do hospital com um eco oco que reflete o vazio que sinto por dentro.A absurdidade da situação me atinge como uma onda avassaladora, esmagando-me com força implacável. Como eu, Blair Banks, poderia me encontrar em uma situação tão surreal? É como se eu tivesse sido lançada nas profundezas mais sombrias de um pesadelo.E para aumentar o tormento, como esse ser que cresce dentro de mim pode ser meio Ethan, o homem que me traiu, me humilhou e tentou acabar com a minha vida?O médico acena com compreensão, sua expressão suavizando-se com compaixão enquanto fala: "Uma criança pode ser uma surpresa, mas Deus sabe como essas surpresas podem nos curar."Posso realmente encontrar cura e redenção?"Você pode nos dar um momento, doutor?" A voz de Drake é calma, mas fi
4 ANOS ANTESEra uma manhã conturbada na Las Vegas downtown, assim como todas as outras. Os arranha-céus sempre acordados na cidade que nunca dorme exalavam dinheiro e poder. Aquele era um lugar onde as pessoas jamais se sentiriam em casa, no entanto, também não teriam vontade de sair dali.Ainda era muito cedo para o restante do mundo, mas não para a ambição dos cassinos e clubes que abriam as portas e mostravam ao público o melhor da vida; o prazer. Os prédios elegantes ao longo da avenida dispunham de escritórios, boates e residências. A mistura eclética era o que caracterizava a cidade do pecado, sua vastidão e amor pela novidade. O tédio jamais se instalaria em Vegas.Dentre os incontáveis prazeres na cidade do pecado, os departamentos policiais também não descansavam. Os telefones tocavam incansavelmente na delegacia, principalmente nas manhãs de sábado.E no meio do furacão que o departamento mostrava ser, Blair Collins caminhava pela recepção. Ela estava deslocada naquele ambi
Um homem adentrou a sala do inspetor, levando consigo algumas pastas. Ele olhou para a ruiva instintivamente, e levou alguns segundos a analisando, mais do que seria ético. Seu nome era Colton, um agente operacional.- "Bom dia, Colton. Me diga que trouxe boas novidades" Spencer disse, recostando-se em sua cadeira.- "Eu trouxe os relatórios que você pediu"- "Deixe comigo. Esta é Blair Collins, nossa mais nova colega de trabalho"Colton manteve os olhos na mulher por alguns segundos, e então sorriu. Ele gostou da simpatia que o rosto angelical e bonito dela expressava.- "Seja bem-vinda, Blair"- "Obrigada, Colton"Colton deixou as pastas sobre a mesa do inspetor e abandonou a sala. Spencer abriu os relatórios sem muita expectativa, pois sabia que nenhum de seus casos eram resolvidos com facilidade. Blair não entendeu aquela movimentação, e ficou confusa quanto a sua presença naquela sala.- "Sim, eu investiguei sua vida. Eu sei que morou na Filadélfia, e sei que foi uma ótima funcio
Blair Collins era uma mulher exuberante. Os longos fios ruivos em contraste com a pele clara lhe deixavam afrodisíaca, diferente de qualquer outra mulher. Os olhos azuis como o mar das Maldivas eram um atrativo, chamavam e clamavam por atenção. As pessoas se perguntavam se ela podia ser tão bonita e, sim, podia. Era impossível olhar uma única vez para ela, pois seus detalhes convidavam para uma avaliação.Ao chegar no luxuoso hotel Bellagio, localizado na Strip, a limusine parou em frente ao carpete vermelho estendido diante da construção que mais parecia ser um palácio. O hotel inspirado na Itália seria sede do evento organizado para prestigiar Jean Keanu Collins pela direção de seu último filme, sucesso de bilheteria.As luzes embaçaram a vista de Blair. Os holofotes voltados para a frente do prédio lhe davam o ar que somente uma construção em Las Vegas teria. Também haviam dezenas de fotógrafos para prestigiar o mais novo querido da América, Jean. Contudo, os seguranças do local ga
O dinheiro de seu pai falava mais alto, comprava o amor daquelas pessoas e, no fundo, se soubessem quem ele realmente era, não ligariam. Uma coisa a se aprender sobre Vegas era que o poder estava acima de tudo.- "Mas estamos aqui agora, e surtar não seria bom" o amigo alertou.Drake carregava uma áurea tranquila que sempre fizera Blair buscar conforto nele. Sua beleza exterior era um colírio para a vista, contudo, não era apenas o olhar esverdeado ou o cabelo castanho dourado que encantavam ela. Eram seu amor e generosidade.- "Eu odeio a..." ela começou, porém foi obrigada a interromper-se quando um homem se aproximou.Ele usava um terno azulado e máscara da mesma cor, e isso combinava perfeitamente com seus olhos claros. Seus passos eram graciosos, mas não negavam o quão inflado o ego do homem poderia ser.- "Olá" sua voz era melódica, lembrava um bom locutor de rádio.- "Oi" Blair não se importou em parecer indelicada, ou pouco interessada.Já era ruim suficiente ter que fingir ao
Mas, para sua surpresa e desconforto, não estava vazia. Uma loira estava encostada na parede, segurando uma taça com líquido borbulhante. Ela estava livre de seu vestido, usando apenas uma lingerie proporcional para o corpo magro, uma máscara escura e saltos agulha. Do outro lado do quarto, desatando o nó da gravata borboleta, um homem se aproximava da loira.Blair entendeu o que estava pestes a acontecer e se apressou para fechar a porta e abandonar o andar.Ela torceu para que não tivessem notado sua presença, mas decidiu não permanecer para tirar a prova real. Blair correu para o elevador tão rápido quanto seus saltos permitiam e teclou o painel de maneira nervosa, dando-se por vencida. Aquele não seria o momento ideal para fazer um intervalo antes de encarar a perfeita vida de Jean Collins.Blair retirou a máscara de seu rosto ao terminar de teclar o painel. Era sua maneira simplista de demonstrar para si mesma que não precisava fingir, não naquele instante.Contudo, por uma obra