Então, finalmente, Alex levanta a cabeça, os olhos agora cheios de algo que não consigo ler. Mas a palavra que ele diz faz o ar escapar dos meus pulmões, como se a vida tivesse me sido arrancada de dentro. “Ela sofreu um acidente, senhor,” ele diz, a voz baixa e controlada, mas a tensão em suas palavras é inegável. “Atropelamento. Ela deu entrada no hospital.”As palavras batem contra mim como um soco no estômago, uma força brutal que me faz perder o equilíbrio. O mundo ao meu redor começa a girar lentamente. Eu não consigo processar o que ouvi. Atropelamento? Blair... no hospital?Minhas mãos tremem, as chaves caem do meu aperto, mas meu corpo está paralisado. Não consigo fazer nada além de olhar para Alex, esperando que ele me diga que é mentira, que é uma piada. Mas o olhar dele, cheio de pesar, não deixa margem para dúvida. Eu sei que ele não está mentindo.Sem palavras, sem mais nada, me viro e corro em direção à saída. O som dos meus passos é abafado pela batida acelerada do me
É estranho, como uma memória antiga que volta com uma intensidade quase palpável. Durante nosso casamento, mesmo nos dias em que fingia odiá-la, eu sentia isso. Eu chegava em casa, cansado e de alma pesada, mas sempre havia algo que me fazia sentir que eu ainda tinha um lugar no mundo. Era ela. Era o olhar dela, sempre sereno, sempre acolhedor. Era o som dos passos dela no corredor, tão suaves, mas com uma força que me dava segurança. Eu sempre a esperava, como se fosse a única coisa que importasse. Cada vez que o elevador parava no andar, a ansiedade que se acumulava em meu peito não era de medo, mas de expectativa. O coração batia mais forte só de saber que ela estava ali, esperando por mim, que eu estava voltando para ela.Mesmo quando tudo ao nosso redor parecia desmoronar, mesmo quando eu queria acreditar que a raiva e o ódio eram tudo o que sentíamos, a verdade era que ela sempre foi a âncora que me impedia de me perder completamente. Eu podia odiá-la, mas não conseguia me af
Sem pensar, me viro, e antes que ela tenha tempo de reagir, puxo seu corpo para o meu. Minhas mãos a envolvem com uma força quase desesperada, fechando meus braços ao redor dela, apertando-a contra mim como se fosse a única coisa que ainda me conectasse à realidade. Eu a sinto pequena em meus braços, tão frágil, tão vulnerável. E ela não resiste. Não se afasta. Em vez disso, ela se deixa ir, apoiando a cabeça no meu peito, permitindo que o peso da dor que a consumia encontre algum tipo de alívio no momento.O choro dela se intensifica, e eu posso sentir cada tremor que passa por seu corpo, cada suspiro entrecortado, cada soluço que escapa de seus lábios. Ela está quebrada, e não posso fazer nada para apagar o que aconteceu. Mas, nesse momento, posso apenas estar ali para ela.“Ethan…” Blair murmura, a voz dela quase inaudível, um sussurro de dor que só posso ouvir porque ela está tão perto de mim.Eu fecho os olhos, sentindo meu próprio peito apertar com a emoção que transborda de m
“E naquela noite,” continuo, minha voz mais baixa, marcada pela raiva que começa a se formar em meu peito, “ele decidiu sozinho tirar você da minha vida. Ele achou que isso era a coisa certa. E depois, ele me assistiu definhar. Ele sabia que eu estava no fundo do poço porque tinha perdido você. E, mesmo assim, ele escolheu, dia após dia, se calar, fingir que foi um acidente, e não um crime que ele cometeu.” Sinto a raiva crescer mais dentro de mim, como um fogo que queima lentamente, mas constantemente.Blair estende a mão e, de maneira quase instintiva, acaricia meu joelho. O toque dela, suave e reconfortante, é a única coisa que ainda me mantém ancorado à realidade. Mas, ao mesmo tempo, é como se ela me puxasse de volta para um lugar que eu não consigo escapar. Eu coloco minha mão sobre a dela, sentindo sua pele quente e pequena contra a minha, buscando alguma calma que, por mais que tente, não consigo encontrar.“Eu não sei o que vou fazer quando ver ele,” admito, a raiva tomando
Estaciono o carro na garagem, o motor já em silêncio, mas a escuridão ali dentro parece mais densa, mais opressiva, à medida que fico alguns segundos apenas encarando aquele vazio. Não sinto raiva de Alex, nem frustração. Sinto, apenas, o peso do vazio. Se eu soubesse, se eu tivesse ao menos desconfiado que Blair estava viva todo esse tempo, eu não teria me perdido nesse abismo de álcool e drogas. Eu teria lutado contra a tormenta que me consumiu, tomado decisões diferentes. Mas, como sempre, o destino parece brincar com a gente, e eu nunca vi as cartas que estavam sobre a mesa.A atmosfera dentro do carro parece impregnada com o cheiro dela, como se de alguma forma ela ainda estivesse aqui, tão próxima, tão tangível. Fecho os olhos e me deixo invadir pela memória de ter Blair nos meus braços. Abraçar. Confortar. Naqueles momentos, ela não era apenas uma mulher em minha vida, mas a única coisa que eu ainda acreditava valer a pena. Naqueles anos passados, quando eu era um homem queb
“Sim, senhor, e eu…” Alex começa a dizer, mas minha paciência já não existe. Interrompo-o antes que ele termine, antes que ele possa começar com alguma desculpa, alguma ladainha que só vai alimentar minha fúria.Dou um passo à frente, minha visão turva, não pela escuridão ao redor, mas pela raiva que começa a ferver dentro de mim, crescendo como uma onda imparável. Cinco anos. Cinco anos de dor, de vazio, de noites afogadas em álcool, de momentos tão baixos que eu sequer me reconhecia. Cinco anos em que estive sozinho. Poora, Alex estava lá, sempre lá, mas nunca fez nada para ajudar. E Blair… Ela esteve em algum lugar, escondida, fugindo, temendo algo. Temendo a mim. Isso me corrói mais do que qualquer coisa.Minha mente é tomada por pensamentos fodidos e sombrios, e quando percebo, meus dedos já agarraram Alex pelo colarinho do terno. Seus olhos se arregalam, talvez surpresos, talvez assustados. Pela primeira vez, ele não parece imperturbável, e isso só alimenta minha fúria. Segu
Alex ainda não diz nada. Seus lábios estão rachados, sua pele cortada, o sangue manchando sua expressão neutra, mas ele permanece em silêncio, como se esperasse por isso, como se soubesse que um dia isso aconteceria.Eu deveria parar. Uma parte de mim sabe disso, uma parte distante e enterrada, que sussurra que já foi longe demais. Mas a fúria é mais forte. Ela é um rio em cheia, e eu estou sendo levado pela corrente, incapaz de nadar contra ela.Minha respiração é um rugido em meus ouvidos, pesada, descontrolada, enquanto olho para Alex, o sangue dele cobrindo meus punhos, a camisa, escorrendo até o chão. Ele está desfigurado agora, os lábios partidos, o nariz provavelmente quebrado, um olho já começando a inchar e escurecer. Contudo, ele ainda me encara, mesmo assim, como se me desafiasse. Como se quisesse dizer algo, mas soubesse que eu não deixaria.E, por um momento, eu hesito. Não porque me sinto culpado — não há espaço para culpa no meio dessa fúria cega — mas porque vejo algo
"Carter," eu murmuro, o nome saindo como uma ameaça. Meu olhar ainda está fixo em Alex, mas meu corpo se tensiona com a interrupção. "Não tente evitar isso." Meu tom é sombrio, um aviso frio. Ele sabe o que eu sou capaz de fazer. Sabe que, se tentar me impedir, pode ser a merda do próximo."Ele já é um cachorro morto," Carter responde, a voz cheia de desdém. Há algo em suas palavras, no tom casual com que as diz, que me faz hesitar por um segundo. Apenas um segundo."Carter," eu aviso novamente, virando meu rosto para encará-lo de relance. Meu braço tenta se soltar do aperto dele, mas ele não me deixa ir. Tento avançar mais uma vez, minha raiva queimando mais quente a cada segundo. Mas Carter aperta mais forte, seus dedos cravando em meu braço como uma âncora."Ele já era um cachorro antes disso," Carter continua, sem se intimidar. Sua voz é fria, calculada, mas há uma intensidade nos olhos dele que me faz parar. "Há cinco anos, ele já era um cachorro. Ele obedecia ordens. Você acha