"Carter," eu murmuro, o nome saindo como uma ameaça. Meu olhar ainda está fixo em Alex, mas meu corpo se tensiona com a interrupção. "Não tente evitar isso." Meu tom é sombrio, um aviso frio. Ele sabe o que eu sou capaz de fazer. Sabe que, se tentar me impedir, pode ser a merda do próximo."Ele já é um cachorro morto," Carter responde, a voz cheia de desdém. Há algo em suas palavras, no tom casual com que as diz, que me faz hesitar por um segundo. Apenas um segundo."Carter," eu aviso novamente, virando meu rosto para encará-lo de relance. Meu braço tenta se soltar do aperto dele, mas ele não me deixa ir. Tento avançar mais uma vez, minha raiva queimando mais quente a cada segundo. Mas Carter aperta mais forte, seus dedos cravando em meu braço como uma âncora."Ele já era um cachorro antes disso," Carter continua, sem se intimidar. Sua voz é fria, calculada, mas há uma intensidade nos olhos dele que me faz parar. "Há cinco anos, ele já era um cachorro. Ele obedecia ordens. Você acha
"Isso não acabou," murmuro, mais para mim mesmo do que para Carter. Minha voz é um eco baixo, quase engolido pelo silêncio.E eu sei que é verdade. Alex saiu. Mas isso… isso está apenas começando.“Sou obrigado a concordar,” Carter murmura enquanto se abaixa para começar a recolher os cacos de vidro espalhados pelo chão. O som dos pedaços raspando contra o piso ecoa pela cozinha, cortando o silêncio denso que ficou no ar. Por um momento, apenas observo-o, as mãos firmes, cuidadosas, tentando organizar o caos que deixei para trás.Olho ao redor e percebo o quão grotesca é a cena. O sangue, os cacos, a água misturada com os reflexos da luz fria. É feio demais para permitir que a empregada veja isso amanhã de manhã. Feio demais para qualquer pessoa.“Como descobriu?” pergunto, minha voz ainda rouca, os nós dos meus dedos pulsando de dor.“Eu não descobri,” Carter responde, sem erguer os olhos. “Eu tinha um palpite e joguei verde. Alex entregou tudo.”Essa resposta me desconcerta por um s
Encosto a testa contra o vidro frio da janela do jatinho, observando as nuvens que passam lá fora, flutuando como um mar tranquilo. Por um instante, quase consigo me esquecer do que me espera. Quase. Mas a tranquilidade é efêmera. Sei que, quando as rodas tocarem o chão, enfrentarei o inferno.“Algo não faz sentido,” Carter diz, quebrando o silêncio. Sua voz é firme, mas há um tom de inquietação que ele raramente demonstra. “Seu pai tinha motivos para querer afastar Blair da sua vida, mas ele não tinha meios. Digo… como? A quem ele recorreu? Como ele convenceu Alex?”Fecho os olhos por um instante, apertando a ponta do nariz com os dedos, tentando afastar a porra da dor de cabeça que ameaça vir. “Saberei em breve,” murmuro, minha voz mais cansada do que pretendo.Carter se inclina levemente em sua poltrona, como se estivesse mastigando as possibilidades em sua mente. “Alex pode ser um traidor,” ele continua, “mas ele não era barato. Se ele decidiu trair você, foi por um alto preço.”
O silêncio de George é ensurdecedor. Seus olhos me encaram com aquela intensidade cortante que ele sempre teve, o olhar de um homem que sobreviveu a guerras corporativas e políticas familiares. Mas dessa vez, não há arrogância, apenas a sombra de uma verdade que ele sabe que não pode esconder.Eu me adianto, minha voz subindo, cada palavra um ataque direto. “Você contou.”Ele não responde. Não precisa. A confirmação está no seu silêncio.Filho da puta.“Por quê?” continuo, minha voz tremendo de raiva e decepção. “Eu deixei de ser seu filho quando decidi não seguir seus fodidos caminhos criminosos? Foi isso, George?”Ele recosta-se novamente na cadeira, e pela primeira vez desde que cheguei, parece menor. Como se estivesse carregando o peso de uma história que ele evitou enfrentar por muito tempo. “Não é tão simples assim,” ele finalmente diz, mas a resposta é vazia, insuficiente.“Explique então,” exijo, minha voz um misto de desprezo e dor. “Porque para mim, parece bem simples. Você
18 anos antes...Eu amo bolo de chocolate. Hoje a mamãe decidiu que faria um bolo para mim, e ela faz os melhores bolos do mundo. Estamos na cozinha de casa, e já posso sentir o cheiro do bolo quando a mamãe retira a forma do forno. Ela a coloca sobre a mesa, e agora vamos decorar. Esta é a melhor parte.Eu pego a calda de chocolate e derramo sobre nosso bolo. Ele está lindo. Mal posso esperar para comer. Mamãe me ajuda a espalhar a calda com uma espátula, e então acho que o trabalho acabou.- "Terminamos?" ela pergunta.- "Sim, mamãe"- "Ficou lindo. Parabéns, meu amor"- "Obrigada"Olho para minha mãe. Ela está muito bonita hoje. Seu vestido azul é igualzinho ao meu, até as flores na barra. Nós sempre vestimos roupas iguais, talvez seja por isso que as pessoas dizem que somos parecidas. Eu amo me parecer com ela.- "Vamos colocar alguns morangos?"- "Sim! Eu vou pegar" digo.- "Está bem. Obrigada"Morangos são muito gostosos. Às vezes alguns são azedos, e destes eu não gosto. Corro a
E então eu corro para meu quarto. Corro tão rápido que fico cansada. Eu sei o que vai acontecer. Meu pai vai bater na mamãe, ou gritar muito com ela. Mas amanhã tudo ficará bem. Ele vai acordar melhor e vai se desculpar. Por isso oro para Deus trazer o amanhã mais rápido.- "Porra! Olhe o que você me fez fazer. Eu tento ser paciente, Bloon, mas você sempre me desobedece" ouço ele dizer.- "Eu saí apenas para comprar morangos" mamãe explica.É a verdade, eu juro. Nós saímos bem cedo, e compramos lindos morangos para decorar o bolo. A mamãe não foi uma má pessoa. O papai está errado. Mas ele nunca deixa ela falar, muito menos eu.- "Eu não permiti!"- "Me desculpe, Jean. Eu fiz um bolo para você"- "Esta merda?"Ouço um barulho muito alto, e sei que o papai derrubou tudo que estava sobre a mesa. Talvez tenha derrubado o bolo também. Ele não quer provar hoje, mas talvez amanhã queira. Talvez eu e a mamãe possamos fazer outro bolo juntas, um bolo de baunilha.- "Vai chamar atenção da vizin
POV BLAIR"Eu acho que gosto mais de morangos do que de uvas", comenta Miguel, com uma careta quase cômica de desgosto enquanto empurra as uvas no prato para longe, como se fossem venenosas. Seus olhos castanhos brilhavam com a sinceridade de quem não sabe disfarçar suas opiniões, especialmente quando se trata de comida."Eu também", diz Drake, com um sorriso travesso. Antes que eu pudesse prever o movimento, ele rouba um pedaço de morango do prato de Miguel. Meu filho protesta com um grito indignado, mas logo a situação se dissolve em risadas.A risada deles é contagiante, ecoando pela cozinha e enchendo o espaço com uma leveza que eu não sentia há dias. É um momento simples, quase banal, mas exatamente por isso tão precioso.Então, a campainha toca. Meu corpo reage antes que minha mente acompanhe. Corro para a porta, sentindo o coração pulsar com uma mistura de expectativa e nervosismo. Ao abrir, lá está Ethan.Ele está parado ali, na soleira da porta, com as mãos nos bolsos da ca
Eu sei disso enquanto encaro Ethan, que permanece parado, confuso, mas paciente, com aquele olhar que sempre parece querer entender mais do que eu estou disposta a oferecer. Ficamos ali, no corredor estreito e pouco iluminado do prédio, com a porta do apartamento me separando não apenas de Miguel, mas da verdade que deveria ter contado.Não consigo deixá-lo entrar. Não tenho coragem de permitir que ele olhe para dentro, para a bagunça que escondi por tanto tempo. Não é apenas o apartamento. É tudo. A vida que construí sem ele. As escolhas que fiz. Miguel.Ethan me observa, percebendo algo, talvez, no meu nervosismo, no modo como cruzo os braços como se precisasse de uma barreira. "Está tudo bem?" ele pergunta, a preocupação evidente em sua voz.Está? Não. Não está. Mas não consigo dizer isso a ele. Então, apenas aceno com a E, por um segundo, o silêncio entre nós se estende como uma ponte frágil sobre um abismo, carregado de tudo o que ainda não foi dito. É um silêncio que parece ter