As palavras ecoam na minha mente como um sino de funeral, me atormentando até agora. É isso que acontece quando fecho os olhos. É isso que me espera no sono.Chego à porta do escritório e a abro lentamente, como se estivesse passando por um portal para um refúgio. A familiaridade do ambiente me envolve, quase como um abraço frio, mas reconfortante.Minha mesa está exatamente como a deixei: coberta de papéis desorganizados, relatórios inacabados e notas apressadas. As cortinas estão parcialmente fechadas, bloqueando a maior parte da luz do mundo exterior. O espaço é mal iluminado, o ambiente perfeito para alguém como eu.Minha atenção se volta para a mesa de bebidas, onde várias garrafas se alinham para oferecer sua companhia silenciosa. Aqui, no meu escritório, os sonhos não me alcançam. É o único lugar onde me sinto em casa.Caminho até a cadeira atrás da mesa e sento-me, afundando no estofamento enquanto respiro fundo. O cansaço ainda está lá, mas aqui não importa. Aqui, não há espa
Enquanto isso, eu sento com os investidores. Um grupo de homens e mulheres de meia-idade, todos impecavelmente vestidos e com um ar de autoridade. Eles começam a despejar ideias sobre o que o futuro pode reservar, falando sobre números, estratégias e planos de expansão. Eu os escuto, ou pelo menos finjo ouvir, sorrindo e balançando a cabeça, como se suas palavras realmente importassem. A verdade é que eu não me importo nem um pouco.“Estou desenvolvendo uma nova marca de vinho espumante”, diz Cortez, um grande empreendedor alcoólico, em um tom de voz tão entusiasmado que quase me sinto culpado por não demonstrar o menor interesse. “Sabe, não sou novo no ramo. Pensei que poderíamos fazer uma campanha juntos. Algo grande.”Finjo interesse, cruzando os braços e sorrindo, embora minha mente já tenha começado a se afastar da conversa. "No que você estava pensando?", pergunto, meu tom calculado com curiosidade, para não parecer desinteressado.“Algo que você poderia incorporar às corridas,
Eu queria os sorrisos, os gestos, o jeito como ela me olhava com um amor incondicional que eu nunca soube reconhecer até perdê-la.Agora, tudo o que resta são os ecos de algo que já se foi. Todos os meus esforços para preencher esse vazio, todas as distrações e fugas, nada mais são do que tentativas frustradas de não sentir a dor de uma perda irreparável. Porque, no final, o que eu realmente perdi não foi só ela. Foi a chance de ser a pessoa que ela merecia. E é isso que mais me consome."Quase nas nuvens", ouço uma doce voz feminina dizer, sua melodia suave e envolvente cortando o silêncio ao meu redor.Viro a cabeça e olho por cima do ombro, meus olhos caindo sobre uma mulher que se aproxima. Ela tem pernas longas e tonificadas e cabelos grossos e dourados que balançam com o movimento do corpo. Ela se aproxima com confiança, sua taça de vinho delicadamente entre os dedos, seus olhos brilhando na luz suave da festa."O que você disse?", pergunto, minha voz um pouco mais rouca do que
O cabelo laranja, o jeito que ela anda... Eu não sou louca, não estou apenas imaginando coisas. Eu sei o que vi. O que sinto. Minha mente está alerta, desesperada, e a visão daquela mulher ruiva se torna ainda mais real a cada passo que dou.Eu passo rapidamente pelas pessoas, evitando que elas me toquem ou se afastem, sentindo a pressão aumentar em meu peito. O hotel, a festa, tudo se desintegra ao meu redor enquanto meu foco está unicamente na figura à minha frente. O elevador está na minha frente, mas demora mais de um segundo para abrir, e minha impaciência me faz tomar outra decisão. Não há tempo.Decido subir as escadas.O som dos meus passos ecoa nos corredores vazios enquanto eu subo quatro degraus de uma vez, meu corpo em movimento frenético, a adrenalina me empurrando para frente. Cada batida do meu coração soa como um tambor na minha cabeça, e a sensação de que estou prestes a descobrir algo, ou alguém, é mais forte do que qualquer medo ou dúvida que eu tenha.Preciso vê-la
Eu sei disso agora.Era eu, mais uma vez, com o álcool no organismo, confundindo os fantasmas do passado com a realidade do presente. Eu que a vi, eu que queria vê-la, desesperado demais para aceitar que ela se foi.Eu lentamente levanto minha cabeça, sentindo o peso do mundo em meus ombros, e vejo Carter me encarando. Seus olhos estão cheios de uma mistura de preocupação, frustração e algo que beira o cansaço. Ele me viu em muitas fases, ele me ajudou em momentos de fracasso, mas desta vez, o silêncio entre nós está mais pesado do que nunca.“Estou no meu limite,” eu sussurro, minha voz falhando, como se as palavras estivessem presas na minha garganta. Eu olho para o chão, meus dedos começando a mexer nos botões de cima da minha camisa, tentando encontrar algo para fazer, algo para me ocupar. “Eu tentei sobreviver sem ela, Carter, mas eu nunca consegui. Eu nunca conseguirei.”A confissão sai como um suspiro, um peso que carrego há tanto tempo e que agora, finalmente, me dá a sensação
Ou é meu coração que para. Por um instante, tudo o que sei, tudo o que vivi, parece desaparecer numa névoa. O ar fica denso, e meu peito aperta, como se eu não conseguisse respirar. Minhas mãos começam a tremer, e com um esforço imenso, eu me levanto lentamente. Cada movimento é pesado, como se eu estivesse em uma realidade paralela, tentando me segurar em algo sólido.Carter também se levanta, mas não olha para mim. Seus olhos estão desviados, como se soubesse que o que acabou de dizer não pode ser desfeito. Como se as palavras fossem agora uma marca irreversível. Eu o encaro, atordoada, tentando entender o que ele acabou de dizer.“Perdoe-me”, ele diz, e é a primeira vez que vejo uma rachadura em sua fachada impenetrável. Há algo vulnerável em sua voz, algo que parece me atingir mais forte do que qualquer palavra poderia.Ele sabe o que isso significa para mim. Ele sabe que se isso for verdade, minha vida inteira, todos os anos de sofrimento e perda, terão sido uma mentira.“Você…”
Ele tenta proteger o rosto com as mãos, mas os golpes são rápidos, implacáveis. Não me importo com a dor. Não me importo com a culpa. O que importa é que ele me fez acreditar que Blair estava morta, que ela nunca mais voltaria. E eu caí nessa mentira. Eu me afastei, me deixei afundar em um poço sem fundo, enquanto ele sabia de tudo, e não fez nada.Quando finalmente paro, meu corpo está ofegante, minhas mãos tremendo com o impacto. Olho para Carter, que está no chão, com o rosto inchado e sangue escorrendo dos lábios.Ele não se move.Ele não diz nada.Ele fica ali parado, me encarando com um olhar de tristeza e arrependimento.“Eu... eu sabia”, ele diz, com a voz fraca.Não respondo, não tenho palavras. A raiva que me consumia antes desaparece, e em seu lugar surge um vazio profundo, como se o mundo tivesse perdido todo o significado. Fico de pé, olhando para Carter no chão. Cada respiração parece mais forte, mais pesada.O que eu faço agora?Sinto meu corpo enfraquecer. Minhas perna
Ele respira fundo, e sua expressão endurece, mas seus olhos revelam um arrependimento que eu nunca vi antes. "Não há perdão para o que você fez, Banks", ele diz, sua voz baixa, mas firme.Meu peito parece estar queimando de dentro para fora, uma agonia surda que me sufoca. Eu quero gritar. Eu quero rugir e fazer o mundo sentir o que estou sentindo, mas tudo o que posso fazer é chorar. Um choro pesado e silencioso que se derrama no espaço entre nós como um abismo crescente.Então ele diz isso. A coisa que corta tudo. "Você tentou matá-la."O mundo para. Tempo, espaço, tudo ao meu redor desaparece. Apenas essas palavras ecoam, ressoando como trovões nos cantos da minha mente.Meus olhos se erguem para os dele, fixos, incrédulos. "O quê?" Minha voz é quase um gemido, um fio de ar perdido no vazio.Carter hesita. Por um segundo, vejo o peso de sua decisão em seu rosto. Ele passa a mão pelo cabelo, exausto. “O carro que atingiu Blair naquela noite… era *seu* carro.”Sinto como se tivesse l