Violleta
Sua expressão fica sombria e fechada. Minha vontade foi de vomitar, confesso. Não deu para negar o nojo que senti com suas segundas intenções comigo. Começo a tremer, recordando de minha infância abandonada. Como queria alguém para me proteger e cuidar. Todavia recordo de que estou sozinha, que não tenho ninguém além de mim mesma. Se quero ser ouvida e respeitada, terei que lutar por meus direitos, demonstrando ser forte, mesmo que no fundo esteja repleta de pavor.
Com minha mão livre, retiro seus dedos sujos de cima de mim e advirto:
— Escute bem. Não sou qualquer mulher para você propor essa depravação. Comprei seu jornal como propôs em troca de uma simples indicação de moradia barata, mas se você não pode me ajudar, vou buscar alguém que possa. Ah, e quem sabe não veja um policial na rua para contar o quão “bem” o senhor trata as mulheres que passam por sua banca. — Na hora seus olhos se arregalam, percebendo que não estou brincando com minha ameaça de denunciá-lo.
— Calma, moça. Não é para tanto! — Franzo a testa em desaprovação. — Está vendo a rua que cruza de trás de você? Pois bem, lá tem uma pensão humilde onde poderão te ajudar.
— Obrigada — digo firmemente e começo a andar. Por dentro, minhas pernas parecem gelatinas e a vontade de chorar é enorme.
Afasto-me indo para o tal albergue. Porventura no caminho vejo uma loja de eletrônicos, compro o celular mais simples e fácil que achei, somente para receber ligações e mensagens, para futuras propostas de emprego. Surpreendo-me com a cortesia da moça que administrava essa casa. Ela hospeda famílias com quartos individuais, tendo que compartilhar os banheiros — que eram poucos — e a cozinha. Com um pequeno acréscimo, teria direito as três refeições diárias.
Não pensando duas vezes, aceitei na mesma hora, pois minhas habilidades culinárias se estendiam apenas até a canja de galinha do orfanato. Ainda que meu dinheiro fosse pouco, contava com minha própria predisposição a encontrar logo um emprego em algum lugar daquele caos urbano. Se todo o tempo livre que eu tiver, puder focar em buscar um trabalho com uma boa remuneração, assim ficará melhor em alcançar meu objetivo.
Escolhi o menor quarto disponível, contendo uma cama de solteiro e uma pequena cômoda. Respiro fundo ao entrar e fecho a porta. Aqui começa minha nova vida, com cortinas furadas e um leve cheiro de poeira.
Sento-me na cama colocando a pequena mala ao meu lado. Abrindo-a, retiro cuidadosamente minha manta e minhas poucas vestimentas, guardando tudo nas gavetas estreitas. Lembro que preciso adquirir pelo menos uns três conjuntos de roupas sociais para entrevistas e início de trabalho, se tiver sorte. Tenho que me misturar com as pessoas que vi mais cedo.
Encaixo a bolsa já vazia debaixo da cama e saboreio meu lanche, feito com tanto carinho pela cozinheira do orfanato. Ele será minha última lembrança daquele lugar. Gostaria de tomar um banho, entretanto nem sabonete tinha comigo, ou produtos de higiene.
— Bom, Violleta, está na hora de fazer umas compras e conhecer a vizinhança — digo em voz alta para mim mesma, me animando com a ideia.
Procurei caminhar nas ruas cautelosamente. Algumas horas apenas na cidade grande e já percebi como as pessoas daqui são imprevisíveis, hora podem ser gentis e prestativas, hora extremamente aproveitadoras e cheias de más intenções. A ruindade não vem estampada na face do ser humano, por isso, todo cuidado é pouco.
Gasto com moderação com coisas que necessitava, passando em algumas lojas de roupas, sapatos, e coisas para o lar. Não resisti e comprei alguns objetos para deixar meu humilde quarto, com cara de meu. Voltando ao albergue, a primeira coisa que faço é tomar um banho demorado, lavando minha pele e alma daquele orfanato. Dei atenção ao meu longo cabelo, lavando-o três vezes, me depilando por completo também.
No meu quarto me distraio decorando-o com os poucos objetos que adquiri. Coloquei um vaso de lírios em cima da cômoda e um tapete de crochê bonito no piso frio. Vi algo na loja que me encantou na mesma hora. Sempre tive medo do escuro, porque no orfanato não deixavam dormir de luz acesa, então vi um pequeno abajur de tomada colorido, com formato de borboleta. Sabia que me ajudaria a ter bons sonhos estando próximo de minha cabeceira.
Com pouco, tudo ficou perfeito para mim, deixando agradável e aconchegante esse pequeno retângulo que chamarei de lar pelo tempo que for necessário.
DUAS SEMANAS DEPOIS...
Os dias vão passando e meu nervosismo de achar um emprego também.
Aquele jornal que comprei do homem da banca não me trouxe sorte, e todos os outros dias igualmente. Estava gastando um dinheiro que não podia e isso estava começando a me preocupar. Folheava os classificados quase com agressividade, e curiosamente me interessei na coluna de pessoas desaparecidas. Imaginei minha própria foto estampando um daqueles jornais amarelados e baratos, e cheguei a cogitar em procurar meus pais biológicos, mas refleti melhor e desisti. Eles não me quiseram quando eu era apenas um bebê, não iriam me querer agora.
De volta ao que importava, tinha feito um bom currículo, com informações objetivas e minha foto no canto superior esquerdo, como padrão. Porém, o destino não queria sorrir para mim. Custei em entender o que estava fazendo de errado. Compreendi que no mundo tecnológico, os empregos e até currículos eram feitos todos virtualmente, presencial seria somente na entrevista. Aquele mundo era muito diferente da isolada cidadezinha do orfanato onde tudo o que existia era a igreja e as quitandas.
Dessa forma, descobri a Lan House. Pagava alguns centavos por hora, enviando não somente meu currículo como também buscando mais empregos pela internet. Sempre tinha vagas interessantes e a maioria pedia experiência na área. Mesmo assim, eu encaminhava esperançosa por alguma resposta positiva.
Meu celular não recebeu uma única ligação nessas duas semanas. Minha distração para não surtar ou entrar em depressão, foi ler novos livros que comprei num sebo perto de casa, e outras horas, um único joguinho eletrônico que tinha no celular. Estava realmente planejando buscar um emprego como balconista ou empregada doméstica, por não pedir prática ou graduação maior que a minha.
Deitada na cama, com meu livro em mãos, me marca uma citação que não sai do meu pensamento.
“No fundo é como te quero.
No fundo é onde você vive.
Me envolva em suas pernas,
Me afogue no seu beijo.
Me guarde dentro de você.
Me deixe ver sua alma.
Eu sou um monstro sem você,
Quando estou no fundo, você me torna inteiro.”
— Leisa Rayven.
Que palavras lindas, fortes e contraditórias.
De repente me assusto com o toque do aparelho telefônico. Ele vibra em cima da cômoda. Meu coração quase sai pela boca de emoção e euforia. Por favor, Deus, que seja uma ótima notícia… Levanto-me apressada da cama, mas acabo escorregando no tapete, caindo de bunda no chão.
— Ai! — reclamo, apalpando meu bumbum dolorido. Mesmo com o desconforto, agarro o celular e atendo confiante. — Alô?
— Senhorita Violleta Santi? — Escuto uma voz feminina suave do outro lado da linha.
— Sim, sou eu — confirmo.
— Sou Carlota. Trabalho nos Recursos Humanos, na empresa Ferrari. — Nossa, eu lembro dessa candidatura, prédio bonito no centro e mulheres de salto alto. — Você nos encaminhou seu currículo para a vaga de secretária e o nosso presidente está precisando urgente de uma moça com suas qualificações. Você está disponível para esse cargo?
Como não estaria? Estou desesperada para trabalhar e ter uma renda! Espera, será que minhas qualificações seria meu curso simples ou minha foto ilustrada?
— Com toda certeza, estou — digo animada, com um sorriso entre os lábios. Eu precisava focar no que era importante: ter o que comer na próxima semana.
— Pode comparecer amanhã na empresa pelas oito da manhã? Falaremos sobre sua carga horária, benefícios e documentações.
— Estarei sem falta.
— Ótimo. Enviarei o endereço por mensagem de texto ao seu celular.
— Tudo bem.
— Perfeito.
— Obrigada. — Desligo dando pulinhos de felicidade.
Não acredito! Estou tão feliz. Antes tarde do que nunca. Valeu a pena esperar.
Contente, separo minha roupa e sapatos para amanhã, o mais próximo do que vi quando visitei a sede da empresa mesmo sem grandes sucessos. Desço para jantar, contando a novidade para quem estava na mesa de refeições me acompanhando. Todos se alegraram com a notícia.
Conto os minutos para logo amanhecer, ansiosa para saber o que me aguarda.
Ettore FerrariCorro eufórico para pegar meus sapatos e colocá-los. Irei visitar a filha dos Petrov. Faz alguns meses que quero conhecê-la, preciso estar bem apresentável. Mamma dá os últimos ajustes em minha gravata, deixando-me elegante e bonito, como sempre cochicha ao meu ouvido. Todos entramos dentro do carro com os “soldados” logo atrás, escoltando-nos em carros separados. Eles sempre estão em alerta, prontos para proteger a família de qualquer perigo iminente.Olho pela a janela e vejo a neve caindo, dando o início ao inverno rigoroso da cidade. Gosto dessa estação do ano, imaginando que em breve poderia brincar nela, como uma criança normal faria, esquecendo assim o fardo que carrego com meu sobrenome “Ferrari”. Depois de alguns minutos finalmente o carro estaciona, e enfim, todos descemos. O sr. Petrov está na porta principal nos esperando, cumprimentando educadamente papà e mamma, com beijo no rosto e abraço apertado. Nossas famílias são muito unidas, e o carinho é enorme
Ettore FerrariCascittuni de merda… Com desprezo olho para o corpo sem vida diante de meus pés, queria informações e quando as consegui, não tive muito trabalho para degolá-lo, roubando o restante de sua medíocre vida. O desgraçado era um dos poucos soldati que sobraram do massacre de poucas horas atrás. Ultimamente estou tendo bastante prejuízo com os chineses, mas esses elos podres da Cosa Nostra sempre rendiam bons informantes, aqueles cães sicilianos não tinham respeito. Dessa vez roubaram um contêiner abastecido com um arsenal avaliado em dois milhões de euros numa emboscada. Agora que sei onde estão, não perderei mais tempo em recuperar o que é meu.— Junte os soldati. Quero aquele contêiner no porto em poucas horas — digo para meu irmão Pietro, que também é meu braço direito dentro da organização.Dirijo-me até a sala onde se encontram os armamentos, pego minha Glock posicionando-a na minha cintura. Depois seguro la mia bellezza preferita — um rifle com ferrolho de alvo anti-m
ViolletaQuando termino de acertar tudo naquela tarde, saio para um passeio na empresa para conhecer melhor o ambiente onde trabalharei. Optei por não ler o contrato, pois não estava em condições de reclamar ou exigir alguma coisa, estou precisando do dinheiro o quanto antes, caso contrário serei despejada ou pior.Estou muito cansada, Carlota não deu trégua me fazendo andar por horas, mostrando cada canto dessa empresa. Por último, o sr. Ferrari me convidou para almoçar para falar sobre os termos que continham no contrato, me senti envergonhada por ter mostrado meu total desespero para a vaga de emprego, desse modo ele pensaria que estou desesperada, mas, é exatamente esse o caso, eu estou mesmo.Na manhã seguinte, antes mesmo do despertador tocar, quando o sol ainda não mostrava os seus primeiros raios, me levantei ansiosa com a bendita entrevista. Queria impressionar o meu possível chefe, mas isso seria imprevisível por ser minha primeira vez, então nem sei ao certo o que fazer ou
ViolletaEntro no seu luxuoso carro, e ele dá a volta para o lado do motorista, saindo do prédio, fico olhando a paisagem para não ficar mais nervosa do que estou, tudo fica em total silêncio, não me contendo com tamanha curiosidade. Carlota havia sido muito paciente comigo, me ensinou várias coisas sobre a organização da secretaria de Ferrari e até então não foi nada tão complicado que me fizesse ficar nervosa como estava agora ao lado de meu chefe. Encaro pelo canto dos olhos o seu maxilar travado enquanto olha para a estrada. Nunca em minha vida conheci alguém tão agradável aos olhos. Sou madura o suficiente para não confundir as coisas, tenho certeza absoluta que um homem como ele jamais teria olhos para uma garota como eu. Enquanto ele dirigia carros esportivos, eu era espremida no transporte público. Enquanto ele deveria dormir com várias mulheres, eu estava descobrindo agora como era realmente estar perto de alguém do sexo masculino. Era enervante, mas instigante.Olho disfarç
ViolletaEttore sobe pessoalmente comigo ao apartamento e somos escoltados por dois homens de preto até a porta descascada do meu dormitório. Percebo o olhar enfadado dele pela mobília simples e até mesmo sobre as coisas que comprei com tanto apreço para fazer daquele pequeno quarto um lar.— Você vai esquecer desse buraco de ratos tão rápido quanto pisou aqui — comenta esparramado sobre uma cadeira frágil que quase sumia por seu tamanho. Apenas devolvi o dito com um olhar fuzilante ao passo que enfiava meus poucos pertences na mesma mala que trouxe.Olho rapidamente pela janela e penso se seria bem-sucedida se pulasse dela e corresse o mais rápido que pudesse para qualquer lugar. Talvez de volta para o orfanato, ou para baixo de qualquer ponte da cidade onde pudesse me misturar aos mendigos até que Ettore Ferrari esquecesse de minha existência.— Eu não sou uma espiã — digo em voz alta, mais para mim.— Claro que não é — responde ele, mas vejo o lapso de descrença em seu olhar.Quand
Ettore FerrariQuando optei em escolher uma mulher fora dos costumes da máfia, já tinha em mente o trabalho que teria, mas, gosto de inovar. Devo confessar que fiquei impressionado com a sua teimosia, e coragem em me enfrentar daquele jeito. Violleta… A garota sem sobrenome, dona de uma beleza perigosa, mas isso não muda em nada. Mesmo se ela não for útil para mim, ainda vai continuar sendo uma boa boceta para enterrar um filho. Não obstante, ela continua sendo praticamente uma selvagem, o que torna mais divertido ainda amansar a fera, nem que para isso ela saia ferida. Isso eu sei fazer bem.Desço as escadas, todos ainda continuam na sala me esperando.— Quero um jantar de noivado amanhã mesmo, vou apresentar Violleta para os demais, por ora, quero que avise somente quem precisa saber, o restante só é necessário no dia do casamento, daqui uma semana! — Digo para Pietro, enquanto vou até o bar, me servir do meu whisky. — Figlio mio, você não acha que está indo rápido demais? Digo, Vi
Ettore Ferrari Quando chego em casa apenas os soldados estão perambulando, fazendo a guarda. Entro no quarto e percebo que Violleta continua na mesma posição de antes, mas que mulherzinha fraca, não fiz nada demais para permanecer feito uma múmia nessa cama. Fico na dúvida se devo acordá-la para comer algo, não deveria.Aproximo-me da cama fitando seu rosto, a sua respiração está leve, até parece um anjo dormindo. Passeio meu olhar entre as suas curvas, claramente é uma garota ao qual roubarei a sua pureza, e inocência. Vou corrompê-la, e sujar a sua alma, uma vez que tocá-la não terá mais volta, será sempre minha.Meu olhar focar na brecha do seu vestido, ela está deitada de lado assim consigo vê a cor da sua calcinha, branca... Pergunto-me se ela ainda é virgem e apenas pensar que sim faz meu pau babar dentro da cueca. Rapidamente uma ereção se forma. Droga! Não vou acordá-la, está decidido!Entro no banheiro para tomar outro banho com mais calma, depois volto para o quarto, entro
VIOLLETAAcordo com os raios de sol entrando no quarto, a claridade faz com que eu desperte ficando sentada sobre a cama, que só agora percebi o quanto é confortável. Olho para os lados, e fico aliviada por não ver nem sinal do tal mafioso, ainda não caiu totalmente minha ficha de que fui sequestrada, e enganada. Como fui burra, Dio mio, ele se aproveitou de minha ingenuidade, eu deveria ter lido a droga do contrato agora me ferrei. Como será de minha vida agora, com esse maluco ao meu lado?Meu corpo está dolorido, minha cabeça está latejando, resultado das agressões de ontem e minha barriga ronca de fome. Nunca tive contado com um homem antes, e o primeiro que tive foi terrível, diabólico. Nunca fui agredida em minha vida, e só de lembrar o que passei na noite de ontem nas mãos daquele ser maligno, meu corpo estremece. Com cuidado me levanto, sinto algumas partes de meu corpo estalarem. Vou até a sacada onde posso ver o sol nascendo no horizonte, e além das margens do lago, uma lin