Violleta
Estou dando uma última olhada pela janela do meu quarto. Posso avistar algumas adolescentes a conversar no banco do pátio. Diversas vezes me sentei no mesmo, somente para ter meu momento de silêncio com um bom livro nas mãos. Por ter um jeito mais reservado, sempre encontrei dificuldade em me socializar com as pessoas. Tinha medo de dizer ou fazer algo que pudesse me levar às broncas, brigas ou castigos aqui dentro do orfanato.
Sim. Vivi meus dezoito anos nesse local com paredes escuras, guardada a sete chaves. Nunca pude ir para o lado de fora desses muros e tampouco houve alguma oportunidade para tal ato, como uma curiosidade ou até escapatória. A vigilância sempre foi meticulosa pelas funcionárias e superiores, todas do sexo feminino. De modo algum estive perto de uma presença masculina, sequer imagino a textura da pele ou a fragrância de um perfume diferenciado. Mas idealizo, como todas nós no orfanato, encontrar uma pessoa especial, um amor verdadeiro para a vida inteira que me apresente um mundo novo fora desses muros.
Solto um suspiro ao mirar pela vidraça sentindo o vento frio percorrer meu rosto, me arrepiando. Observo um pássaro distante; alegro-me, pois em minutos estarei livre como ele. A diferença entre nós é que o animalzinho não tem ansiedade ou expectativas de vida, já eu, estou totalmente nervosa pelo que me aguarda além desse casarão velho.
Independentemente do que vier, estou feliz. Esperança é tudo que me alimenta para essa nova etapa de minha existência.
Afasto-me do batente, pegando meu último pertence em cima da cama e guardando em minha pequena maleta com pouquíssimas roupas. Não podia deixar para trás minha única lembrança, a de que um dia tive uma família, que um dia pertenci a algum lugar, que talvez tenha sido querida, ou mesmo indesejada. Nunca saberei ao certo.
Soube pela minha tutora do orfanato, que o homem que me entregou neste local se parecia muito comigo, ao menos lembrava-a como estou atualmente. Talvez fosse um parente — um pai, tio ou irmão mais velho —, o único resquício que tenho é essa manta cor-de-rosa com as letras “II” na extremidade. Podem ser as iniciais de dois nomes, um sobrenome, talvez! Eu sabia que meu sobrenome não era meu realmente, o orfanato dava aos bebês um único nome na falta de documentação, logo, assim como dezenas de crianças naquele lugar, eu era Violleta “Santi”. Um membro de uma família invisível formada por crianças que nunca tiveram direito a um nome, a uma herança de sangue.
Pergunto-me o que levou a essa pessoa a me abandonar em definitivo? Por que não me quiserem? Por que não me cuidaram como uma família normalmente faria?
Sempre senti falta de carinho, atenção e amor. Cresci como uma jovem insegura, carente e medrosa. Talvez pelos traumas que carrego pelo esquecimento de uma família que nunca me buscou ou quis saber de mim.
Porém a partir de hoje tudo isso vai mudar! Viverei uma vida de que fui privada, totalmente liberta, sem limites para meus sonhos com uma nova casa. Fecho o zíper da mala, dando uma última olhada no quarto que foi meu confinamento determinada a não pensar mais nele um dia sequer dali para frente.
— Arrumou tudo, querida? — Viro-me olhando para a senhora Dolores, que parecia ser a única que sentia uma simpatia por mim nesse asilo de crianças e jovens moças.
— Sim. Estou pronta. — Suspiro apreensiva.
Observo-a se aproximar com sua roupa desgastada e cabelo oleoso por trabalhar a anos na cozinha. Ela estende a mão me entregando uma bolsinha. Pego-a abrindo, ficando boquiaberta com o que vejo dentro.
— Meu Deus. Não posso aceitar. — Fecho e lhe entrego, mas sou interrompida no percurso.
— Por favor, Violleta. Aceite minhas economias, você está indo para um mundo novo e precisará estar preparada. — Sem perceber deixo lágrimas caírem. Ela sempre demonstrou ser muito carinhosa comigo, sempre fui sua protegida quando outras jovens vinham me bater ou caçoar. — Eu tenho uma casa e um emprego, e a vida lá fora não é nada fácil. Não é muito, mas te ajudará a se manter, até arrumar um trabalho na área qual fez seu curso de secretariado no ano passado.
— Tem certeza de que não te fará falta? — Estou constrangida com seu ato de bondade. Não quero atrapalhar ou prejudicar ninguém.
Ela segura minhas mãos que ficam unidas com as suas.
— Tenho. Economize o máximo que puder e busque algum imóvel no centro, onde se têm as melhores chances para um bom emprego. — Aceno com a cabeça. — Tome cuidado com homens aproveitadores, você é muito inocente ainda, Violleta. E sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida.
— Um dia, eu vou te recompensar por isso. Eu prometo — digo, mesmo sem saber o que o futuro me reserva.
— Viva bem, Violleta — diz a mulher com comoção em seus olhos cansados. — E nunca mais pense neste lugar.
Escuto atentamente seus conselhos e me despeço com um abraço e beijo terno em seu rosto rechonchudo, sem antes, receber também um lanche para a viagem. Não tenho palavras para expressar toda a minha gratidão. Eu certamente não pensaria mais naquele orfanato, não o visitaria nem passaria perto dele, mas nunca esqueceria aquela senhora e minha dívida para com ela.
Consegui chegar ao centro da cidade com sorte e um pouco de ajuda. Pensei que me perderia no percurso, porém foi bem mais fácil que previ. Bastou somente uma orientação da senhora que estava comigo no ponto de ônibus para descer em uma das ruas mais movimentadas. Confesso me senti um peixe fora d’água com esse tumultuado fluxo de pessoas, maioria vestidas de social, bem apresentadas. Sinto-me envergonhada com meu simples vestido floral soltinho até os joelhos e as sapatilhas desgastadas.
De esquina observo uma banca de jornal e me aproximo para pedir mais informações.
— Boa tarde! O senhor poderia me ajudar? — Encaro um homem acima do peso, nos seus quase quarenta anos, bebendo seu refrigerante diet, em cima de um banquinho que quase nem cabe seu traseiro.
— O que quer, garota?
— Estou meio desorientada. Poderia me indicar um local barato pela região para que possa me acomodar? Um hotel, uma pensão, talvez.
— Isso depende. Vai comprar algo na minha banca?
Nossa! Essa é minha primeira experiência na rua de que realmente ninguém faz algo de graça para outra pessoa, tudo em base de troca de favores, nada diferente do que via no orfanato. Por um instante quis que a cidade fosse composta apenas por senhorinhas solícitas como a que encontrei no ônibus, mas como preciso dessa informação, separo alguns trocados para comprar algo de sua banca, bem empoeirada por sinal.
Olho à minha volta e vejo alguns jornais.
— Vou querer um periódico de empregos.
O homem bufa percebendo que não conseguirá uma boa venda comigo. Após me entregar o jornal e eu pagar por ele, aguardo pacientemente sua resposta sobre minha pergunta. Levo um susto quando sinto seu toque inesperado em minha mão, pegando-a e acariciando de um jeito nojento. Senti repulsa na hora. Encaro seus olhos para suas explicações.
— O que uma moça tão bonita faz sozinha numa cidade grande? Se quiser posso te levar para minha casa, bem na minha cama. O que acha?
— Quero que responda minha pergunta — digo enfática.
ViolletaSua expressão fica sombria e fechada. Minha vontade foi de vomitar, confesso. Não deu para negar o nojo que senti com suas segundas intenções comigo. Começo a tremer, recordando de minha infância abandonada. Como queria alguém para me proteger e cuidar. Todavia recordo de que estou sozinha, que não tenho ninguém além de mim mesma. Se quero ser ouvida e respeitada, terei que lutar por meus direitos, demonstrando ser forte, mesmo que no fundo esteja repleta de pavor.Com minha mão livre, retiro seus dedos sujos de cima de mim e advirto:— Escute bem. Não sou qualquer mulher para você propor essa depravação. Comprei seu jornal como propôs em troca de uma simples indicação de moradia barata, mas se você não pode me ajudar, vou buscar alguém que possa. Ah, e quem sabe não veja um policial na rua para contar o quão “bem” o senhor trata as mulheres que passam por sua banca. — Na hora seus olhos se arregalam, percebendo que não estou brincando com minha ameaça de denunciá-lo.— Calma
Ettore FerrariCorro eufórico para pegar meus sapatos e colocá-los. Irei visitar a filha dos Petrov. Faz alguns meses que quero conhecê-la, preciso estar bem apresentável. Mamma dá os últimos ajustes em minha gravata, deixando-me elegante e bonito, como sempre cochicha ao meu ouvido. Todos entramos dentro do carro com os “soldados” logo atrás, escoltando-nos em carros separados. Eles sempre estão em alerta, prontos para proteger a família de qualquer perigo iminente.Olho pela a janela e vejo a neve caindo, dando o início ao inverno rigoroso da cidade. Gosto dessa estação do ano, imaginando que em breve poderia brincar nela, como uma criança normal faria, esquecendo assim o fardo que carrego com meu sobrenome “Ferrari”. Depois de alguns minutos finalmente o carro estaciona, e enfim, todos descemos. O sr. Petrov está na porta principal nos esperando, cumprimentando educadamente papà e mamma, com beijo no rosto e abraço apertado. Nossas famílias são muito unidas, e o carinho é enorme
Ettore FerrariCascittuni de merda… Com desprezo olho para o corpo sem vida diante de meus pés, queria informações e quando as consegui, não tive muito trabalho para degolá-lo, roubando o restante de sua medíocre vida. O desgraçado era um dos poucos soldati que sobraram do massacre de poucas horas atrás. Ultimamente estou tendo bastante prejuízo com os chineses, mas esses elos podres da Cosa Nostra sempre rendiam bons informantes, aqueles cães sicilianos não tinham respeito. Dessa vez roubaram um contêiner abastecido com um arsenal avaliado em dois milhões de euros numa emboscada. Agora que sei onde estão, não perderei mais tempo em recuperar o que é meu.— Junte os soldati. Quero aquele contêiner no porto em poucas horas — digo para meu irmão Pietro, que também é meu braço direito dentro da organização.Dirijo-me até a sala onde se encontram os armamentos, pego minha Glock posicionando-a na minha cintura. Depois seguro la mia bellezza preferita — um rifle com ferrolho de alvo anti-m
ViolletaQuando termino de acertar tudo naquela tarde, saio para um passeio na empresa para conhecer melhor o ambiente onde trabalharei. Optei por não ler o contrato, pois não estava em condições de reclamar ou exigir alguma coisa, estou precisando do dinheiro o quanto antes, caso contrário serei despejada ou pior.Estou muito cansada, Carlota não deu trégua me fazendo andar por horas, mostrando cada canto dessa empresa. Por último, o sr. Ferrari me convidou para almoçar para falar sobre os termos que continham no contrato, me senti envergonhada por ter mostrado meu total desespero para a vaga de emprego, desse modo ele pensaria que estou desesperada, mas, é exatamente esse o caso, eu estou mesmo.Na manhã seguinte, antes mesmo do despertador tocar, quando o sol ainda não mostrava os seus primeiros raios, me levantei ansiosa com a bendita entrevista. Queria impressionar o meu possível chefe, mas isso seria imprevisível por ser minha primeira vez, então nem sei ao certo o que fazer ou
ViolletaEntro no seu luxuoso carro, e ele dá a volta para o lado do motorista, saindo do prédio, fico olhando a paisagem para não ficar mais nervosa do que estou, tudo fica em total silêncio, não me contendo com tamanha curiosidade. Carlota havia sido muito paciente comigo, me ensinou várias coisas sobre a organização da secretaria de Ferrari e até então não foi nada tão complicado que me fizesse ficar nervosa como estava agora ao lado de meu chefe. Encaro pelo canto dos olhos o seu maxilar travado enquanto olha para a estrada. Nunca em minha vida conheci alguém tão agradável aos olhos. Sou madura o suficiente para não confundir as coisas, tenho certeza absoluta que um homem como ele jamais teria olhos para uma garota como eu. Enquanto ele dirigia carros esportivos, eu era espremida no transporte público. Enquanto ele deveria dormir com várias mulheres, eu estava descobrindo agora como era realmente estar perto de alguém do sexo masculino. Era enervante, mas instigante.Olho disfarç
ViolletaEttore sobe pessoalmente comigo ao apartamento e somos escoltados por dois homens de preto até a porta descascada do meu dormitório. Percebo o olhar enfadado dele pela mobília simples e até mesmo sobre as coisas que comprei com tanto apreço para fazer daquele pequeno quarto um lar.— Você vai esquecer desse buraco de ratos tão rápido quanto pisou aqui — comenta esparramado sobre uma cadeira frágil que quase sumia por seu tamanho. Apenas devolvi o dito com um olhar fuzilante ao passo que enfiava meus poucos pertences na mesma mala que trouxe.Olho rapidamente pela janela e penso se seria bem-sucedida se pulasse dela e corresse o mais rápido que pudesse para qualquer lugar. Talvez de volta para o orfanato, ou para baixo de qualquer ponte da cidade onde pudesse me misturar aos mendigos até que Ettore Ferrari esquecesse de minha existência.— Eu não sou uma espiã — digo em voz alta, mais para mim.— Claro que não é — responde ele, mas vejo o lapso de descrença em seu olhar.Quand
Ettore FerrariQuando optei em escolher uma mulher fora dos costumes da máfia, já tinha em mente o trabalho que teria, mas, gosto de inovar. Devo confessar que fiquei impressionado com a sua teimosia, e coragem em me enfrentar daquele jeito. Violleta… A garota sem sobrenome, dona de uma beleza perigosa, mas isso não muda em nada. Mesmo se ela não for útil para mim, ainda vai continuar sendo uma boa boceta para enterrar um filho. Não obstante, ela continua sendo praticamente uma selvagem, o que torna mais divertido ainda amansar a fera, nem que para isso ela saia ferida. Isso eu sei fazer bem.Desço as escadas, todos ainda continuam na sala me esperando.— Quero um jantar de noivado amanhã mesmo, vou apresentar Violleta para os demais, por ora, quero que avise somente quem precisa saber, o restante só é necessário no dia do casamento, daqui uma semana! — Digo para Pietro, enquanto vou até o bar, me servir do meu whisky. — Figlio mio, você não acha que está indo rápido demais? Digo, Vi
Ettore Ferrari Quando chego em casa apenas os soldados estão perambulando, fazendo a guarda. Entro no quarto e percebo que Violleta continua na mesma posição de antes, mas que mulherzinha fraca, não fiz nada demais para permanecer feito uma múmia nessa cama. Fico na dúvida se devo acordá-la para comer algo, não deveria.Aproximo-me da cama fitando seu rosto, a sua respiração está leve, até parece um anjo dormindo. Passeio meu olhar entre as suas curvas, claramente é uma garota ao qual roubarei a sua pureza, e inocência. Vou corrompê-la, e sujar a sua alma, uma vez que tocá-la não terá mais volta, será sempre minha.Meu olhar focar na brecha do seu vestido, ela está deitada de lado assim consigo vê a cor da sua calcinha, branca... Pergunto-me se ela ainda é virgem e apenas pensar que sim faz meu pau babar dentro da cueca. Rapidamente uma ereção se forma. Droga! Não vou acordá-la, está decidido!Entro no banheiro para tomar outro banho com mais calma, depois volto para o quarto, entro