Violleta
Entro no seu luxuoso carro, e ele dá a volta para o lado do motorista, saindo do prédio, fico olhando a paisagem para não ficar mais nervosa do que estou, tudo fica em total silêncio, não me contendo com tamanha curiosidade. Carlota havia sido muito paciente comigo, me ensinou várias coisas sobre a organização da secretaria de Ferrari e até então não foi nada tão complicado que me fizesse ficar nervosa como estava agora ao lado de meu chefe.
Encaro pelo canto dos olhos o seu maxilar travado enquanto olha para a estrada. Nunca em minha vida conheci alguém tão agradável aos olhos. Sou madura o suficiente para não confundir as coisas, tenho certeza absoluta que um homem como ele jamais teria olhos para uma garota como eu. Enquanto ele dirigia carros esportivos, eu era espremida no transporte público. Enquanto ele deveria dormir com várias mulheres, eu estava descobrindo agora como era realmente estar perto de alguém do sexo masculino. Era enervante, mas instigante.
Olho disfarçadamente para as suas mãos em volta do volante, ele o aperta com um pouco de força, deixando à mostra as suas veias. Por um momento imagino qual seria a textura delas na pele… Como seria ser afagada por aquelas mãos… Elas são tão grandes... Oh, céus o que estou pensando? Isso nunca me aconteceu, nunca tive esse tipo de comportamento. Estou me sentindo uma depravada, quase como o homem da banca! Eu tinha de me conter, preciso respeitá-lo. E se ele for casado, ou tiver uma namorada?
Também não vejo resquícios de uma aliança em seu dedo, porém isso não significa que ele não tenha alguma mulher. Uma perfeita encarnação de Apolo como aquela era impossível que estivesse sozinho. Quando chegamos ao restaurante, fico com receio pois está vazio, não há clientes, apenas um garçom, e assim que sentamos na mesa fazemos nosso pedido. Fico sem jeito de comer na frente de alguém tão importante, além do mais, posso sentir seu olhar queimar minha pele, pois desde quando nos sentamos o sr. Ferrari não tira seus olhos de mim, e de repente, fala:
— Não sou de enrolação, então vou direto ao assunto, Srta. Violleta. — Levo um susto quando ouço seu tom de voz bem mais grave que dê horas atrás. — O contrato que você preferiu não ler antes de assinar não era referente a um emprego na firma.
Engasgo com o suco que bebia. Ele deve está caçoando de mim, não está falando sério, visto que ele continue impotente, com ar de poder e confiança, indago:
— Como é?
— Era um contrato de casamento.
Era como se eu tivesse sido pega de surpresa por uma avalanche, e coisas assim eram impossíveis. Minha mente estava em negação.
— O senhor está brincando comigo? — pergunto ainda tentando parecer jovial esperando que não passasse de um absurdo.
— Não, não estou.
— Deve ter algum engano, pois não estou à procura de um casamento, se assinei aqueles documentos foi porque pensei que fossem cláusulas que falavam sobre o emprego, sr. Ferrari — digo pronta para me retirar da mesa, mas ele segura meu pulso com força.
— Você não entendeu, senhorita, mas eu vou lhe explicar melhor... — Ele faz um sinal com a mão, e no mesmo momento vejo, entrar no restaurante, homens fortemente armados. Fico trêmula por não entender o que está acontecendo. — Acho que não fomos formalmente apresentados, e como já tenho sua assinatura posso contar judicialmente com sua… discrição.
Fico estática olhando aqueles homens enormes preencherem o estabelecimento vazio. Onde foi que me meti? O que está havendo?
— Sou Ettore Ferrari.
O nome não me é nem um pouco familiar e ao perceber isso, ele solta um suspiro aborrecido.
— As notícias não chegavam no seu orfanato? — indagou retoricamente.
— Como sabe que eu…?
— Eu sei muito sobre você, Violleta, mas o que me deixa intrigado é, na verdade, não saber nada.
Fecho meus punhos para conter o tremor nas mãos, tudo em volta indica perigo. Quero correr, fugir, mas a porta parece estar do outro lado do mundo com dois cães armados de terno guardando-a. Um dos homens entrega um envelope amarelo para Ettore sobre seu ombro e ele o pega sem deixar de olhar para mim largando-o sobre a mesa.
— Você não tem sobrenome, não tem raízes… Tem o nome comum de um orfanato no meio do nada e quer que eu acredite que chegou até aqui por coincidência?
— O senhor me trouxe aqui para me humilhar?
— Quieta, eu não terminei. — Ele me corta sem nenhuma delicadeza. — Você não tem para onde voltar, e não tem o que perder. Sabe o que isso parece, menina?
— Sei sim, que estou desesperada, mas a julgar pelo circo armado aqui chego à conclusão de que nenhum desespero no mundo vale isso! Passar bem, sr. Ferrari, seja lá quem você for! — Levanto-me pronta para ir embora e nunca mais chegar perto dele, meu corpo inteiro vibra de adrenalina e terror, e tudo isso se intensifica quando dois dos homens me agarram e me forçam a sentar novamente na cadeira. Sinto as lágrimas ameaçarem cair, minha garganta arder.
— Você não tem nada além dessa sua m*****a beleza, Violetta — sussurrou ele. — Você sendo ou não espiã da Camorra, dos sicilianos ou da polícia, eu vou me aproveitar disso. Se for dos Petrov, ah, será o começo do seu fim.
Ele falava comigo como se eu fizesse alguma ideia do que ele estava se referindo, como se eu soubesse do que se trata!
— Camorra? Petrov? Mas do que é que você está falando?!
Ele apenas se recostou à cadeira tirando um grosso charuto do bolso, acendendo-o sem a menor pressa sob meu olhar aterrorizado e confuso. A fumaça subiu sinuosa entre nós, e senti um frio em minha barriga quando vi a escuridão em seu olhar, percebi que apesar de não saber do que aquilo se tratava, eu estava na presença de um homem extremamente perigoso.
— Sou Ettore Ferrari, como já disse. — Mais fumaça subiu. — Bem-vinda à ‘Ndrangheta, bella mia.
Dio mio, o que está acontecendo?
Imediatamente fico de pé novamente, meu corpo reagindo inconsciente para se preservar, e todos apontam suas armas para mim. Ettore, com um pequeno aceno, pede para irem baixando. Ele se levanta, e se aproxima de mim só então evidenciando o quanto era grande. Seu dedo pousa sobre minha face, seus olhos percorrem meu rosto com raiva e apreciação misturados, sinto minhas pernas fraquejarem. Sem muita paciência, e com brutalidade me puxa pelos cabelos. Fico em choque, totalmente imóvel com a respiração dele soprando sobre minha boca e a dor na raiz dos fios. Um homem não deveria tratar uma mulher com tal agressividade. Solto gemidos de dor, quando o seu aperto aumenta.
— Agora mesmo vamos passar pelo seu apartamento, para pegar alguns pertences que você queira levar. — Sua voz era calma, mas todo o conjunto daquela situação a fazia ficar ainda mais assustadora. — Hoje mesmo você se muda para minha casa.
Ainda com sua mão em volta do meu cabelo, saí me arrastando para fora do restaurante me jogando dentro do carro sem cuidado algum, fazendo-me bater a cabeça na porta do carro, como se eu fosse um saco de lixo sem importância.
Sem conseguir mais segurar o choro — que até agora estava guardado —, deixei que saísse de uma vez. O silêncio dentro do carro só era quebrado por meus soluços e tudo o que eu queria era que alguma coisa magicamente acontecesse que me possibilitasse de fugir dali.
— Poupe suas lágrimas, você ainda nem viu nada, querida. Aconselho que você guarde isso para depois. — Para o meu desespero ele prontifica.
Lembro-me perfeitamente das palavras da cozinheira do orfanato, seu último conselho como um aviso sutil.
“Sua beleza sem cautela pode acabar sendo sua ruína, querida”.
Fico sem conseguir acreditar na realidade dos fatos, estou sendo levada contra minha vontade, e mesmo estando tão pouco tempo com esse ser diabólico, posso afirmar que meu pesadelo apenas começou.
ViolletaEttore sobe pessoalmente comigo ao apartamento e somos escoltados por dois homens de preto até a porta descascada do meu dormitório. Percebo o olhar enfadado dele pela mobília simples e até mesmo sobre as coisas que comprei com tanto apreço para fazer daquele pequeno quarto um lar.— Você vai esquecer desse buraco de ratos tão rápido quanto pisou aqui — comenta esparramado sobre uma cadeira frágil que quase sumia por seu tamanho. Apenas devolvi o dito com um olhar fuzilante ao passo que enfiava meus poucos pertences na mesma mala que trouxe.Olho rapidamente pela janela e penso se seria bem-sucedida se pulasse dela e corresse o mais rápido que pudesse para qualquer lugar. Talvez de volta para o orfanato, ou para baixo de qualquer ponte da cidade onde pudesse me misturar aos mendigos até que Ettore Ferrari esquecesse de minha existência.— Eu não sou uma espiã — digo em voz alta, mais para mim.— Claro que não é — responde ele, mas vejo o lapso de descrença em seu olhar.Quand
Ettore FerrariQuando optei em escolher uma mulher fora dos costumes da máfia, já tinha em mente o trabalho que teria, mas, gosto de inovar. Devo confessar que fiquei impressionado com a sua teimosia, e coragem em me enfrentar daquele jeito. Violleta… A garota sem sobrenome, dona de uma beleza perigosa, mas isso não muda em nada. Mesmo se ela não for útil para mim, ainda vai continuar sendo uma boa boceta para enterrar um filho. Não obstante, ela continua sendo praticamente uma selvagem, o que torna mais divertido ainda amansar a fera, nem que para isso ela saia ferida. Isso eu sei fazer bem.Desço as escadas, todos ainda continuam na sala me esperando.— Quero um jantar de noivado amanhã mesmo, vou apresentar Violleta para os demais, por ora, quero que avise somente quem precisa saber, o restante só é necessário no dia do casamento, daqui uma semana! — Digo para Pietro, enquanto vou até o bar, me servir do meu whisky. — Figlio mio, você não acha que está indo rápido demais? Digo, Vi
Ettore Ferrari Quando chego em casa apenas os soldados estão perambulando, fazendo a guarda. Entro no quarto e percebo que Violleta continua na mesma posição de antes, mas que mulherzinha fraca, não fiz nada demais para permanecer feito uma múmia nessa cama. Fico na dúvida se devo acordá-la para comer algo, não deveria.Aproximo-me da cama fitando seu rosto, a sua respiração está leve, até parece um anjo dormindo. Passeio meu olhar entre as suas curvas, claramente é uma garota ao qual roubarei a sua pureza, e inocência. Vou corrompê-la, e sujar a sua alma, uma vez que tocá-la não terá mais volta, será sempre minha.Meu olhar focar na brecha do seu vestido, ela está deitada de lado assim consigo vê a cor da sua calcinha, branca... Pergunto-me se ela ainda é virgem e apenas pensar que sim faz meu pau babar dentro da cueca. Rapidamente uma ereção se forma. Droga! Não vou acordá-la, está decidido!Entro no banheiro para tomar outro banho com mais calma, depois volto para o quarto, entro
VIOLLETAAcordo com os raios de sol entrando no quarto, a claridade faz com que eu desperte ficando sentada sobre a cama, que só agora percebi o quanto é confortável. Olho para os lados, e fico aliviada por não ver nem sinal do tal mafioso, ainda não caiu totalmente minha ficha de que fui sequestrada, e enganada. Como fui burra, Dio mio, ele se aproveitou de minha ingenuidade, eu deveria ter lido a droga do contrato agora me ferrei. Como será de minha vida agora, com esse maluco ao meu lado?Meu corpo está dolorido, minha cabeça está latejando, resultado das agressões de ontem e minha barriga ronca de fome. Nunca tive contado com um homem antes, e o primeiro que tive foi terrível, diabólico. Nunca fui agredida em minha vida, e só de lembrar o que passei na noite de ontem nas mãos daquele ser maligno, meu corpo estremece. Com cuidado me levanto, sinto algumas partes de meu corpo estalarem. Vou até a sacada onde posso ver o sol nascendo no horizonte, e além das margens do lago, uma lin
VIOLLETAOlho no espelho a obra-prima que Bianca fez em mim, mas não consigo sorrir, minha vida está desmoronando a cada instante que passo nessa casa. Nem o vestido deslumbrante, ou as joias que brilham no meu pescoço, fazem-me esquecer da nebulosa realidade que estou vivendo.— Sei que é difícil, Violleta, mas pelo menos tente sorrir um pouco quando estiver lá em baixo, para não passar uma má impressão, Ettore pode querer castigá-la por isso. — Ela diz, me alertando, e por saber que Bianca tem razão, decido que vou tentar parecer um pouco melhor, pois não vou aguentar mais uma agressão tal como a do outro dia.— Encontrei roupas no quarto, roupas femininas — começo. — A quem elas pertencem?— Ora, a você, é claro! Ettore comprou todas antes da sua chegada para que ficasse bem abastecida.— Pelo modo como me tratou, não duvidei que pertencessem a alguma esposa anterior que não “sorriu do jeito que ele quer” — digo amarga e Bianca baixa o olhar, quase penso que ela se solidariza com m
Ettore FerrariQuandoo pude contemplá-la descendo as escadas, eu percebi que realmente havia feito uma excelente escolha. Violleta seria totalmente minha, sem restrições, viveria nesse mundo obscuro que a máfia carrega, e principalmente na escuridão que habita em mim e logo me daria um herdeiro forte com olhos tão ferozes quanto os dela.Mas, claro que não deixaria de falar alguma gracinha e não menti quando disse que antes de qualquer coisa, não pensaria duas vezes em vê-la diluída em um barril de ácido. Todavia percebi essa noite que jamais permitiria que Violleta saísse do meu poder. Ela pensava que eu já havia sido casado, criou uma história obscura na própria mente em que sou um assassino de esposas, pensei que era um bom jeito de começar a assustá-la e a própria já me dava boas ideias de como fazer isso. Eu quis rir quando ela disse aquilo. Nenhuma mulher estava à altura de ser minha esposa, muito mais ter o sepultamento digno de um barril de ácido. Era menos pior que o que fazí
Ettore FerrariAssim que chego na sede, Pietro já está com sua típica cara de bunda. — Você não pensou mesmo que ela não fosse tentar fugir, pensou? Dê uma chance para a menina! — Você sabe que não tem essa de "chance", não se preocupe, não vou matá-la, pelo menos ainda não! Ainda tenho que socar um filho nela antes que não tenha utilidade.— Per Dio, Ettore, a garota não fez nada além do esperado! — justificou meu irmão.— Não seja mulherzinha, porra! Comporte-se como homem, Pietro! Quando tiver uma mulher vai deixar ela pisar nas suas bolas assim, caralho? Entro na sala de “cirurgia”, de cara já vejo Violleta em pânico quando me vê passando pela a porta. Ela está sentada em uma cadeira com suas mãos e pés amarrados, seus olhos azuis, agora escurecidos pelo medo, estão grudados em mim. Confesso que o medo que evapora de seus poros me dá tesão e adrenalina para o que vem acontecer logo em seguida. Pego uma cadeira e me sento em sua frente. — Você acabou com minha diversão, sa
VIOLLETA.Abro meus olhos lentamente, me levanto e fico sentada na cama, minha cabeça lateja com o movimento precipitado, sinto uma forte ardência na minha nuca. Meus seios doem e quando abro a blusa vejo que estão enfaixados. As lágrimas descem com as lembranças que vêm de uma vez só do que tinha acontecido horas atrás, aquele monstro me marcou como um animal, sem se importar com minha dor ou mesmo minha fragilidade. Na minha cabeça tudo iria sair na mais perfeita condição, todos estavam em seus devidos quartos, só precisava conseguir pular aquele muro, mas sou baixa demais. Não sei onde estava com a cabeça, nunca conseguiria fazer aquilo, aquele muro é para manter quem está fora longe, e quem está dentro seguro, mas eu precisava tentar alguma coisa para sair desse pesadelo. Errei drasticamente e agora sentia as consequências disso. Daria tudo para não ter saído daquele orfanato, tudo!Esqueço minhas lamentações quando vejo Sandra sair do banheiro.— Eu sinto muito, querida. — Ela s