Violleta
Ettore sobe pessoalmente comigo ao apartamento e somos escoltados por dois homens de preto até a porta descascada do meu dormitório. Percebo o olhar enfadado dele pela mobília simples e até mesmo sobre as coisas que comprei com tanto apreço para fazer daquele pequeno quarto um lar.
— Você vai esquecer desse buraco de ratos tão rápido quanto pisou aqui — comenta esparramado sobre uma cadeira frágil que quase sumia por seu tamanho. Apenas devolvi o dito com um olhar fuzilante ao passo que enfiava meus poucos pertences na mesma mala que trouxe.
Olho rapidamente pela janela e penso se seria bem-sucedida se pulasse dela e corresse o mais rápido que pudesse para qualquer lugar. Talvez de volta para o orfanato, ou para baixo de qualquer ponte da cidade onde pudesse me misturar aos mendigos até que Ettore Ferrari esquecesse de minha existência.
— Eu não sou uma espiã — digo em voz alta, mais para mim.
— Claro que não é — responde ele, mas vejo o lapso de descrença em seu olhar.
Quando tudo já está pronto saímos do apartamento, Ettore mais uma vez me j**a dentro do carro, durante o caminho para o destino que me aguarda, já pensei várias vezes, em abrir a porta e me j**ar para ver se tinha alguma chance de escapar, mas quando me lembro dos homens armados, logo esse pensamento cai por terra. Se não morresse com a queda, seria com uma bala na cabeça.
Olhando a paisagem com lágrimas nos olhos, mal pude perceber que tínhamos chegado tão longe da cidade, estamos em um lugar cheio de árvores, de longe posso ver um lago, entramos em uma trilha de pedras com flores bonitas, mais à frente consigo ver um grande portão, com um muro extremamente alto, com cabines e homens armados, quando chegamos mais perto os portões são abertos, e quando passamos pelas muralhas de concreto, posso contemplar um lindo jardim com flores de todos os tipos, bem no centro tem um linda fonte jorrando água, tudo se completa com a linda mansão.
— Vai descer ou vai querer que eu te tire daí? — Mal pude perceber que o carro já tinha estacionado.
— Tenho minhas próprias pernas! — digo saindo do carro. Ettore me olha feio, mas não diz nada, um dos homens pega minha pequena bolsa, enquanto ele vai na frente, me deixando para trás. Outro capanga de terno me segura fortemente pelo braço, me conduzindo para o interior da casa.
Não consigo parar de admirar a beleza desse lugar, se fosse em outras circunstâncias, com toda certeza, ficaria muito feliz por conhecer um lugar tão bonito como esse, a linda mansão e seu encantado jardim. Porém só conseguia pensar se aquela casa seria minha gaiola de ouro ou meu matadouro.
Ettore abre a porta, e quando passo por ela fico morta de vergonha, pois vejo pessoas que devem ser sua família, todos me olhando. Há uma menina de cabelos escuros que parece ter a mesma idade que a minha, também um rapaz muito bonito que se parece muito com Ettore, provavelmente seu irmão, e a mulher loira e mais velha deve ser sua mãe, em um canto mais afastado, vejo um homem bebendo alguma coisa. O formato do rosto é idêntico ao de Ettore, como uma versão mais velha e experiente dele, com certeza é seu pai.
— Olá, me chamo Bianca, sou a irmã mais nova de Ettore! — A menina vem até mim se apresenta, mas não falo nada. Ela está sorrindo gentil, enquanto eu estou prestes a desmaiar de medo. — É um imenso prazer conhecê-la.
Não consigo responder.
— Olá querida, sou Sandra, a mãe de Ettore, aquele ali é Pietro, irmão dele, e ali no canto, é Domenico, o pai. — A senhora diz, enquanto aponta para cada um. Fico pensando se todos são doidos, ou se não sabem que estou aqui contra minha vontade. — Parece que finalmente acertou na escolha, querido, ela é realmente muito agradável aos olhos.
Sua expressão não muda. Está carrancudo, fechado. Encaro a todos num pedido silencioso de ajuda, mas nenhum deles parece entender, e se o fazem, ignoram com perfeição.
— Vamos Violleta, terá a vida toda para conhecer a famiglia, vou lhe mostrar onde vai ficar.
— Querido — chama a mãe —, se quer fazer isso logo, teremos que resolver as festividades. Não podemos casar o herdeiro e não contar a ninguém…
— Mais tarde, mamma.
Não tenho tempo de contestar, Ettore agarra o meu braço, me puxando rumo às escadas, todos ficam olhando a cena, mas ninguém diz uma palavra! Passamos por vários corredores até chegar em uma porta dupla, poderia facilmente me perder aqui, quando passo por elas há mais um corredor, e no final dele, Ettore abre uma porta me jogando em cima da cama no centro do cômodo.
Era enorme e macia, coberta por seda e tecidos finos, mas me senti como um saco de batatas, literalmente largado sobre eles.
— Na primeira oportunidade que eu tiver, eu fujo. Quando você desviar o olhar, eu não vou mais estar aqui. — Atrevo-me a dizer, mas assim que termino de falar, Ettore me agarra pelo pescoço, levando-me até a parede, apertando com toda força, me deixando sem ar.
— Ah é? — ameaça ele. — O que você acha que vai acontecer se você tentar fugir? Hein? Você acha que vão te dar um tiro na cara e acabou por aí? Você deveria saber que assim que tentar sair daqui sem a minha permissão, sua morte vai começar e vai durar por muito, muito tempo.
Arranho seu braço numa tentativa de que ele me solte, mas é em vão, pois ele aperta com mais força. Meus pés estão suspensos do chão, estou sufocando e minhas lágrimas molham sua mão, mas Ettore parece não se importar, e apenas quando estou perto de perder a consciência ele me solta, e sem forças, caio no chão. Ele me puxa pelo cabelo, encostando a boca em meu ouvido e falando:
— Se por acaso ousar me contrariar de novo será o seu fim, está me ouvindo? — Não tenho forças para responder, então apenas balanço minha cabeça, confirmando sua pergunta. — Muito bem, não foi tão difícil, agora você vai ficar aqui sem sair desse quarto, assim a ragazza pensa nas consequências da sua afronta.
Ele me larga, e mais uma vez vou de encontro ao chão frio. Sem ter forças para caminhar, vou me arrastando até a cama, pego o travesseiro e me aconchego nele. Meu pescoço dói, ainda posso sentir suas mãos em volta, me apertando. Não foi assim que as imaginei sobre mim.
Entre as lágrimas e soluços, fecho meus olhos, para fugir deste terrível pesadelo, mas, quando abro novamente, caio na triste realidade. Isso aqui não é um pesadelo, é muito pior, estou no inferno sem ao menos merecer estar nele.
Ettore FerrariQuando optei em escolher uma mulher fora dos costumes da máfia, já tinha em mente o trabalho que teria, mas, gosto de inovar. Devo confessar que fiquei impressionado com a sua teimosia, e coragem em me enfrentar daquele jeito. Violleta… A garota sem sobrenome, dona de uma beleza perigosa, mas isso não muda em nada. Mesmo se ela não for útil para mim, ainda vai continuar sendo uma boa boceta para enterrar um filho. Não obstante, ela continua sendo praticamente uma selvagem, o que torna mais divertido ainda amansar a fera, nem que para isso ela saia ferida. Isso eu sei fazer bem.Desço as escadas, todos ainda continuam na sala me esperando.— Quero um jantar de noivado amanhã mesmo, vou apresentar Violleta para os demais, por ora, quero que avise somente quem precisa saber, o restante só é necessário no dia do casamento, daqui uma semana! — Digo para Pietro, enquanto vou até o bar, me servir do meu whisky. — Figlio mio, você não acha que está indo rápido demais? Digo, Vi
Ettore Ferrari Quando chego em casa apenas os soldados estão perambulando, fazendo a guarda. Entro no quarto e percebo que Violleta continua na mesma posição de antes, mas que mulherzinha fraca, não fiz nada demais para permanecer feito uma múmia nessa cama. Fico na dúvida se devo acordá-la para comer algo, não deveria.Aproximo-me da cama fitando seu rosto, a sua respiração está leve, até parece um anjo dormindo. Passeio meu olhar entre as suas curvas, claramente é uma garota ao qual roubarei a sua pureza, e inocência. Vou corrompê-la, e sujar a sua alma, uma vez que tocá-la não terá mais volta, será sempre minha.Meu olhar focar na brecha do seu vestido, ela está deitada de lado assim consigo vê a cor da sua calcinha, branca... Pergunto-me se ela ainda é virgem e apenas pensar que sim faz meu pau babar dentro da cueca. Rapidamente uma ereção se forma. Droga! Não vou acordá-la, está decidido!Entro no banheiro para tomar outro banho com mais calma, depois volto para o quarto, entro
VIOLLETAAcordo com os raios de sol entrando no quarto, a claridade faz com que eu desperte ficando sentada sobre a cama, que só agora percebi o quanto é confortável. Olho para os lados, e fico aliviada por não ver nem sinal do tal mafioso, ainda não caiu totalmente minha ficha de que fui sequestrada, e enganada. Como fui burra, Dio mio, ele se aproveitou de minha ingenuidade, eu deveria ter lido a droga do contrato agora me ferrei. Como será de minha vida agora, com esse maluco ao meu lado?Meu corpo está dolorido, minha cabeça está latejando, resultado das agressões de ontem e minha barriga ronca de fome. Nunca tive contado com um homem antes, e o primeiro que tive foi terrível, diabólico. Nunca fui agredida em minha vida, e só de lembrar o que passei na noite de ontem nas mãos daquele ser maligno, meu corpo estremece. Com cuidado me levanto, sinto algumas partes de meu corpo estalarem. Vou até a sacada onde posso ver o sol nascendo no horizonte, e além das margens do lago, uma lin
VIOLLETAOlho no espelho a obra-prima que Bianca fez em mim, mas não consigo sorrir, minha vida está desmoronando a cada instante que passo nessa casa. Nem o vestido deslumbrante, ou as joias que brilham no meu pescoço, fazem-me esquecer da nebulosa realidade que estou vivendo.— Sei que é difícil, Violleta, mas pelo menos tente sorrir um pouco quando estiver lá em baixo, para não passar uma má impressão, Ettore pode querer castigá-la por isso. — Ela diz, me alertando, e por saber que Bianca tem razão, decido que vou tentar parecer um pouco melhor, pois não vou aguentar mais uma agressão tal como a do outro dia.— Encontrei roupas no quarto, roupas femininas — começo. — A quem elas pertencem?— Ora, a você, é claro! Ettore comprou todas antes da sua chegada para que ficasse bem abastecida.— Pelo modo como me tratou, não duvidei que pertencessem a alguma esposa anterior que não “sorriu do jeito que ele quer” — digo amarga e Bianca baixa o olhar, quase penso que ela se solidariza com m
Ettore FerrariQuandoo pude contemplá-la descendo as escadas, eu percebi que realmente havia feito uma excelente escolha. Violleta seria totalmente minha, sem restrições, viveria nesse mundo obscuro que a máfia carrega, e principalmente na escuridão que habita em mim e logo me daria um herdeiro forte com olhos tão ferozes quanto os dela.Mas, claro que não deixaria de falar alguma gracinha e não menti quando disse que antes de qualquer coisa, não pensaria duas vezes em vê-la diluída em um barril de ácido. Todavia percebi essa noite que jamais permitiria que Violleta saísse do meu poder. Ela pensava que eu já havia sido casado, criou uma história obscura na própria mente em que sou um assassino de esposas, pensei que era um bom jeito de começar a assustá-la e a própria já me dava boas ideias de como fazer isso. Eu quis rir quando ela disse aquilo. Nenhuma mulher estava à altura de ser minha esposa, muito mais ter o sepultamento digno de um barril de ácido. Era menos pior que o que fazí
Ettore FerrariAssim que chego na sede, Pietro já está com sua típica cara de bunda. — Você não pensou mesmo que ela não fosse tentar fugir, pensou? Dê uma chance para a menina! — Você sabe que não tem essa de "chance", não se preocupe, não vou matá-la, pelo menos ainda não! Ainda tenho que socar um filho nela antes que não tenha utilidade.— Per Dio, Ettore, a garota não fez nada além do esperado! — justificou meu irmão.— Não seja mulherzinha, porra! Comporte-se como homem, Pietro! Quando tiver uma mulher vai deixar ela pisar nas suas bolas assim, caralho? Entro na sala de “cirurgia”, de cara já vejo Violleta em pânico quando me vê passando pela a porta. Ela está sentada em uma cadeira com suas mãos e pés amarrados, seus olhos azuis, agora escurecidos pelo medo, estão grudados em mim. Confesso que o medo que evapora de seus poros me dá tesão e adrenalina para o que vem acontecer logo em seguida. Pego uma cadeira e me sento em sua frente. — Você acabou com minha diversão, sa
VIOLLETA.Abro meus olhos lentamente, me levanto e fico sentada na cama, minha cabeça lateja com o movimento precipitado, sinto uma forte ardência na minha nuca. Meus seios doem e quando abro a blusa vejo que estão enfaixados. As lágrimas descem com as lembranças que vêm de uma vez só do que tinha acontecido horas atrás, aquele monstro me marcou como um animal, sem se importar com minha dor ou mesmo minha fragilidade. Na minha cabeça tudo iria sair na mais perfeita condição, todos estavam em seus devidos quartos, só precisava conseguir pular aquele muro, mas sou baixa demais. Não sei onde estava com a cabeça, nunca conseguiria fazer aquilo, aquele muro é para manter quem está fora longe, e quem está dentro seguro, mas eu precisava tentar alguma coisa para sair desse pesadelo. Errei drasticamente e agora sentia as consequências disso. Daria tudo para não ter saído daquele orfanato, tudo!Esqueço minhas lamentações quando vejo Sandra sair do banheiro.— Eu sinto muito, querida. — Ela s
VIOLLETA.Acordo com batidas na porta, fico esperando, mas não ouço mais nada então acho que a pessoa pode ter ido embora. Devagar, estico minhas pernas, e meus braços para me espreguiçar e me levanto indo para o banheiro, tomo meu banho com cuidado, para não molhar minha nuca. Quando saio levo um susto ao ver Sandra sentada na cama.— Mi scusi se a assustei, eu vim refazer o curativo!— Eu que estava distraída. Depois que Sandra refaz meu curativo descemos juntas para tomar o café da manhã, quando chego na cozinha todos estão sentados nos seus devidos lugares, assim que me sento Ettore se levanta. — Quando terminar vá ao meu escritório! — Diz, me olhando, depois se vira para o irmão e diz: — Mostre a ela onde fica, Pietro!Ele apenas assente, não parece nada feliz e não é o único.Fico apreensiva, porém, tentando não demonstrar isso, continuo a tomar meu café em silêncio, sem me importar com os olhares que o pai de Ettore me lança. Ele até agora não me dirigiu uma única palavra,