Lucian...
Não sei por que apenas o toque de Isabel me enfurece; odeio sua mania de controle. Deixei-a sozinha e fui abraçar Alma antes de me trancar no escritório. Passo a maior parte do tempo sozinho, refletindo sobre minha medíocre vida.
Há muito tempo não venho aqui; apenas envio um de meus betas e, às vezes, Alma vem se certificar de que tudo está em ordem. Mas agora me vi obrigado a comparecer na m*****a cerimônia que minha amada companheira organizou às minhas costas.
Bufei.
Caminhei até a mesa onde havia algumas bebidas, peguei uma garrafa transparente com o líquido dourado e o despejei sobre o cálice que segurava. Me aproximei da porta de vidro da varanda e passei a encarar o nada.
Suspirei, fechando os olhos.
O rosto da bela dama veio em meus pensamentos, fazendo-me acalmar.
"Quem será você?"
Algo dentro de mim se interessa muito em saber quem ela é. Devo estar maluco; como posso ter interesse na vida de uma mulher que nunca vi antes? Eu não sei, mas não vou descansar até descobrir absolutamente tudo sobre ela. Talvez seja apenas uma curiosidade ou uma pequena atração momentânea.
"Atração momentânea."
Duvido que seja; nunca tive isso antes.
_____ Pensando em mim?
Revirei os olhos quando identifiquei de quem pertencia aquela voz.
Olhei de relance e vi Isabel parada a poucos metros de mim com seus braços cruzados. Os cabelos negros estavam jogados somente em um de seus ombros, e seus olhos verdes me encaravam com cautela.
_____ O que quer, Isabel?
Perguntei, dando um gole na bebida que segurava.
_____ Conversar sobre um assunto que está me incomodando.
Sua voz saiu como se estivesse dando uma ordem.
"Eu mereço."
____ E o que seria esse assunto?
Não estava muito interessado em saber; só queria me livrar dela, e quanto mais rápido ela falasse, mais rápido isso aconteceria.
_____ Lídia é o problema.
Me virei para fitá-la, vendo sua postura firme vacilar à medida que me aproximava.
____ Qual o problema com ela?- Levemente ergui uma sobrancelha.
Isabel me encarava como se ainda estivesse inventando uma história qualquer para me falar.
____ É que ela...
____ Ela o quê, Isabel? Dá para falar de uma vez?
Parei bem próximo a ela.
____ Ela não é digna de sua confiança, é isso.
Sorri com sarcasmo e perguntei:
_____ Por que não?... Lídia nunca demonstrou ser alguém que não merecesse minha confiança.
____ Meu amor, ela é uma bruxa.
Revirei os olhos.
____ Idaí?
_____ Uma bruxa não está à altura de um cargo tão importante na vida de ninguém, então eu não quero ela aqui, simples assim. - Ela colocou as mãos na cintura.
Aquele gesto fez uma nostalgia me invadir.
"Estranho."
Sorri sem humor.
_____ Sabe, Isabel. - me aproximei de seu rosto - como supremo, detenho a plena autoridade para cuidadosamente escolher minha equipe. Está insinuando que não sou capaz de fazer escolhas criteriosas e acertadas?
____ Não é isso, meu lobo. - Ela passa os braços sobre meu pescoço, mas eu os tiro tão rápido quanto foram postos.
____ O que é então? - A essa altura já estava totalmente irritado.
Ela pensou um pouco, parecia procurar as palavras certas ou então era só medo. Cheguei a pensar que ela não falaria mais nada, mas de repente ela ergueu o queixo e falou:
_____ Ela pode vazar informações importantes para nossos inimigos. Por acaso esqueceu que as bruxas são responsáveis pelas maiores guerras que já aconteceram na história dos sobrenaturais?
_____ Não generalize, Isabel; que preconceito idiota. - Deixo minha raiva transparecer em minha voz - Por acaso esqueceu de quem você é filha?
Faço questão de lembrá-la de que ela é filha de um caçador, uma das maiores ameaças que nossa espécie já enfrentou, mas que matei no mesmo dia em que a encontrei prestes a ser morta por ele.
_____ Não!- Ela fala firme - Mas aquele verme está morto, e eu sou sua companheira. Jamais trairia você nem o nosso povo.
Não via verdade em suas palavras.
_____ É bom que não! Ao contrário, você faria companhia ao seu pai seja lá onde ele estiver.- Rosno - Agora me faça o favor de sair daqui.
_____ Ainda não terminei o que falava.
Ignorei totalmente o que ouvi.
____ Lídia! - Chamei pela bruxa em tom elevado.
Isabel me olhou incrédula e saiu pisando duro do escritório. Ouvi ela gritar com alguém do lado de fora; até pensei em ir até lá, mas o assunto que tinha a tratar agora era muito mais importante, e nem se quisesse conseguiria deixar para depois.
_____ Chamou, chefia? - Perguntou Lídia com seu jeito bem humorado de sempre. Ela é uma das pessoas em quem mais confio depois de Romeu e Felipe.
_____ Chamei, sente-se.
Fiz a volta na mesa e me sentei na cadeira giratória.
__ O que houve? - Ela questionou intrigada.
__ Quero que descubra algo de meu interesse. - Disse sério.
Lídia era mestre em descobrir qualquer coisa em curto tempo; por isso, sua colaboração na alcatéia é de extrema importância. Ela é mais conhecida como a bruxa rastreadora.
__ O que é?
__ Quero que descubra tudo sobre a vida de uma mulher que vi hoje.
A vi pegar uma folha e uma caneta.
__ Qual o nome? - Ela estava atenta a cada palavra proferida por mim.
__ Eu não sei.
Confusão era o que seu olhar transmitia.
__ É exatamente o que quero que você também descubra. - Continuei.
__ Me fala as características dela, assim poderá ser mais fácil a identificar.
Respirei fundo e trouxe a bela dama para os meus pensamentos, visualizei cada traço de seu corpo para logo começar a narrá-lo para a mulher que segurava o riso à minha frente.
Fechei os olhos.
__ Seus cabelos são brancos como a neve, sua pele é alva e delicada, seus olhos são tão azuis que podem hipnotizar, seu sorriso é o mais lindo que já vi...
__ Certo, Certo. - ela me interrompe- Isso é suficiente! Essas características não são comuns e podem facilitar meu trabalho. Vou começar a vasculhar cada canto dessa alcatéia agora mesmo, acho que já sei por onde começar.
Lídia se levantou com pressa e saiu quase correndo, deixando a porta do escritório aberta. Sabia bem o que ela pensou e por isso não me perguntou nada. Para ela, qualquer pessoa é melhor que Isabel.
Sorrio ao lembrar da mulher misteriosa que despertou minha curiosidade apenas com um olhar. Porém, logo minha alegria se vai ao lembrar que a cerimônia é amanhã, e terei que apresentar Isabel como minha luna suprema.
__ Maldição.
(...)
Aurora...
Encostei meu rosto na madeira do estábulo, onde havia acabado de guardar meu cavalo. Passei a refletir sobre o que poderia significar a visão que tive mais cedo e qual seria sua ligação com o assassinato de minha mãe, ou... com minha origem! Deixei as lágrimas que embassavam minha visão caírem, algumas escorregavam até o final de meu rosto indo de encontro ao chão de barro avermelhado.
...
Não sei quanto tempo havia se passado, mas sei que foi muito, pois com o canto do olho vi que já era noite. As cigarras já faziam seu canto dentro da densa floresta, e as luzes amareladas do estábulo já estavam acessas. Em poucos minutos, viriam os lobos que faziam a ronda, e como não queria encontrar e nem dar explicações a ninguém, saí dali com passos vacilantes indo em direção a minha casa.
Suspirei. Sentia uma exaustão imensa na alma.
A noite estava fria, mais que o normal. Olhei para o céu e o vi avermelhado, avisando que logo teríamos chuva. Todo o cenário ao redor caiu muito bem para meu estado deprimente; sentia um vazio por dentro, algo que nunca havia sentido antes, como se toda minha alma estivesse dilacerada.
"O que é isso?"
Fechei os olhos tentando amenizar o que sentia. A lembrança do homem que vi mais cedo surgiu em minha mente, me causando calafrios, mas não por medo; é algo que não sabia explicar... é como se ele me atraísse de alguma forma.
Despertei quando ouvi murmúrios alterados vindo de dentro de casa; eu sabia que era por minha causa, mas não consegui me sentir culpada. Sabia que teria que dar uma explicação e não fugiria dessa responsabilidade.
Vi quando a porta se abriu, e meu pai veio correndo em minha direção.
__ Filha! O que aconteceu?
Ele parecia tão aflito.
__ Muitas coisas. - Respondi, mas não olhei em seus olhos.
Pensei que ele me daria uma bronca, mas fui surpreendida por um abraço caloroso. Demorei um pouco para retribuir; meu pai parecia aliviado em me ver ali, mas ao mesmo tempo demonstrava preocupação com seus gestos.
Olhei de relance para a porta e vi Vanessa e Lucinda abraçadas uma na outra; as duas estavam chorando.
__ Vem. Me conte o que aconteceu.
Fui guiada por ele para dentro de casa.
...
Me sentei no largo sofá de couro. Vanessa sentou-se ao meu lado e me abraçou com força.
__ O que houve com você, querida? - Perguntou Lucinda olhando atentamente para minhas mãos cobertas pelo sangue seco; seu semblante também estava aflito.
Suspirei antes de começar a falar o que vivenciei enquanto estive no mausoléu.
"A noite vai ser longa."
(...)
...Contei sobre a visão que tive durante minha visita ao mausoléu. Meu pai disse que não sabia da ligação que isso poderia ter com a morte da minha mãe, e isso não me surpreendeu, pois eu já esperava por isso. Seja o que for, está se revelando aos poucos, como se fosse um enigma, mas a questão é: qual a finalidade disso? Talvez seja algo que eu não vou gostar de saber._____ Não vai tocar na comida? - Vanessa me olhava com reprovação.Olhei para a cama ao lado da minha, onde minha amiga estava saboreando um pedaço generoso de bolo de chocolate. Por insistência de Lucinda, viemos jantar no quarto, pois nos sentiríamos mais à vontade depois da tarde difícil que todos passamos. Ela não errou na sugestão, mas a verdade é que meu apetite não havia aparecido ainda._____ Não estou com fome. - Respondi, olhando para o prato repleto de carne e legumes._____ Aurora.Vanessa colocou o prato que segurava sobre o criado-mudo._____ Eu sei que está passando por um momento difícil, mas... você tem
Aurora...Abri os olhos quando senti algo frio em minha testa, minha visão estava embaçada e só consegui ver a silhueta de duas pessoas. Aos poucos, fui me recuperando e vi que ao meu lado estavam Vanessa e Lucinda vestidas formalmente."Já é dia?"Olhei para fora e vi que o sol já raiava, e os pássaros cantavam animadamente entre os galhos das árvores.__ Como se sente? - Vanessa sentou-se ao meu lado, deixando seus cabelos negros roçarem a pele do meu braço.__ Está doendo alguma coisa, querida? - Perguntou Lucinda.Demorei um pouco para respondê-las, estava tentando identificar qualquer incômodo em meu corpo, mas não encontrei. Pelo contrário, estava me sentindo muito bem; seria estranho se eu já não soubesse o motivo daquilo."Dom da cura"__ Estou bem e não sinto nada. - Sentei na cama - Já estão de saída?__ Que bom - Vanessa falou desconfiada, provavelmente pensou que eu estava omitindo o que sentia - e sim, estamos de saída. Mas, se quiser, fico aqui com você sem problema algum
Lucian...Cumprimentava todas as comitivas presentes; alguns olhavam torto para Isabel, talvez pela forma vulgar dela andar e se vestir.___ Poderia melhorar essa sua carranca? - Ela estava irritada.Ignorei totalmente e me sentei em um dos tronos. Romeu, Felipe e Lídia ficaram de pé ao meu lado, Alma se misturou entre os convidados, e Isabel sentou-se no trono ao meu lado. Ainda estava fumegante pela informação que Lídia me deu mais cedo.____ Supremo, já faz um tempo que os convidados chegaram, não seria melhor dar início à apresentação de sua luna? Você sabe, todas as alcateias reunidas, um assassino à solta, pode ser arriscado.____ Comece.____ Sim, senhor.O ancião começou a falar e ganhou a atenção de todos, ou quase todos, já que alguns estavam totalmente indiferentes e concentrados em suas próprias conversas.____ Não deveríamos estar nos apresentando ao nosso povo? - Questionou Isabel.____ Eles já me conhecem.Ela revirou os olhos e se levantou, pegando o microfone da mão do
Lucian...___ Essa mulher me tira do sério!___ Calma, filho. - Alma tentava me acalmar, porém suas tentativas eram falhas.Ao sair daquele lugar, tive que me conter para não matar Isabel. Quando chegamos em casa, ela agiu como se nada tivesse acontecido e foi para seus aposentos. Pro seu bem, foi o melhor que ela fez.____ Ela chamar todo mundo de imprestável foi o cúmulo do absurdo. - Felipe se jogou no sofá rindo feito uma hiena.____ Ela é muito sem noção. - Lídia revirou os olhos, mostrando seu descontentamento com Isabel.____ O dia hoje foi muito estressante e agora temos um problema muito mais importante para resolver do que ficar falando de Isabel. - Digo.____ Qual é mesmo?- Perguntou Felipe.Lídia deu um tapa em sua cabeça.___ Ai, ruiva. - Ele resmunga.Alma sorri dos dois.____ O problema é a volta do assassino; algo me diz que dessa vez ele tem um alvo específico. - Ela diz.___ Acho que ele sempre teve. - Diz Felipe...Ouço a conversa em silêncio até sentir falta de uma
Lucian...Depois de sair daquele hospital, retornei a minha casa e fui confrontado com milhares de perguntas, às quais nem me dei ao trabalho de responder. Dirigi-me diretamente ao meu escritório e apanhei uma garrafa de uísque, virando-a de uma vez na boca.A bebida descia como um calmante cuja validade expirara; de nada adiantou, eu me encontrava na mesma situação ou até pior do que antes.Joguei-me no sofá do escritório, que ficava de frente para a grande janela de vidro. As luzes estavam apagadas; a única iluminação provinha da enorme lua cheia. Coloquei o braço sob a testa e fechei os olhos, imaginando Aurora em meus braços."Essa mulher me faz perder o controle com uma facilidade surpreendente.""Por que ela atrai tanto a minha atenção?"Seu jeito de andar e falar me deixa rendido aos seus pés, pronto para servi-la. Nunca me senti tão atraído por ninguém, mas Aurora, apenas com um olhar, despertou em mim o sentimento mais possessivo que um lobo poderia ter. Ela entrou em meu cami
Lucian...Sentia meu corpo com uma dormência terrível; pensei que estivesse em uma masmorra, preso por correntes, mas não, aquilo era só uma sensação horrível. Me dei conta disso quando acordei com os raios de sol que penetravam as cortinas escuras do meu quarto, refletindo sobre meu rosto.Demorei um pouco para perceber que não estava sozinho. Olhei um pouco para baixo e vi Isabel abraçada em mim.____ Mas o quê? .... Isabel?... Sai.A tirei de cima de mim.____ Ai meu amor, isso é jeito de acordar sua companheira? - Ela resmungou, ainda de olhos fechados.Levantei rápido da cama.____ O que aconteceu aqui?Ela abriu os olhos para me analisar.____ Não se faça de desentendido, não depois da noite maravilhosa que tivemos. - Havia malícia em sua voz.Olhei sério para ela.Ela bufou.___ Você não se lembra?___ Não! Fale de uma vez. O que aconteceu aqui?____ Você foi no meu quarto, nos beijamos, e você me trouxe pra cá, fazendo juras de amor, depois me fez completamente sua como nunca a
Aurora...Quando chegamos em casa, já era quase duas da tarde. O táxi teve um problema no caminho, mas o tempo de espera foi suficiente para contar à minha amiga o que ela já sabia sobre o adormecer da minha loba. Ela disse que conseguiria uma forma de me ajudar, o que foi gentil, porém, ninguém poderia fazer nada por mim. Já sei como fazer isso; só preciso encontrar meu companheiro. Até lá, só posso usar meus dons de bruxa e algumas vantagens da loba. Essa é minha realidade no momento.____ Aurora, enquanto estive em sua casa na alcatéia, observei umas coisas. - Disse Vanessa, chegando na cozinha onde eu estava preparando algo para comermos.____ Que coisas?. - Questionei, observando-a secar os cabelos com uma toalha, suas mãos fazendo movimentos frenéticos.Cortava algumas batatas sobre a tábua, o barulho da faca as dilacerando ecoava por toda a cozinha.Virei de costas para pegar alguns temperos especiais dentro do armário.____ Fiquei observando aquelas fotos nos corredores e vi
...O sol já havia nascido há um bom tempo, e eu permanecia imóvel desde que Lucian saiu. Comecei a sentir uma dor no pescoço antes de me obrigar a levantar. Corri até o banheiro para tomar uma ducha fria, sentindo a necessidade de ter as mãos daquele lobisomem em meu corpo novamente."Eu o quê?""Eu não disse isso.""Lucian é seu supremo, Aurora, e nada mais."Respirei fundo, tentando fazer o sentimento desaparecer, mas foi tão inútil quanto enxugar água com uma toalha. Ao perceber que não haveria jeito para o que estava sentindo, fechei os olhos e passei a pensar em outro assunto que me tirava a paz."Meus irmãos."Ainda tentava me acostumar com a ideia. Eles não têm culpa das irresponsabilidades de nossa mãe."Deveria eu escutar Vanessa e deixar o clã cuidar deles?""Ou deveria eu mesma protegê-los?"No fundo, eu sabia que estariam mais seguros junto à nossa família, mas dentro de mim, quero tê-los por perto, afinal, são meus irmãos.____ O que eu faço? O que faço?- Perguntava para